– Não acham isso suspeito? - Wilbur apareceu ao lado do Soluço, trazendo as garotas consigo. Logo todos nós estávamos reunidos novamente.

– Ah, claro Wil. É um crime muito grave pegar um livro da biblioteca - respondeu Merida, irônica.

– Eu concordo com o Wilbur. - protestei a arrogância da garota ruiva - Por que ele pegaria justo o nosso livro? E em apenas algumas horas antes de nós?

– Olha... - Peri fez um gesto com o dedo indicador, chamando a atenção de todos - tenho uma versão bem lógica, talvez sirva para alguma coisa. Bem, ontem o... - a garota apontou para Soluço, movimentando o dedo para cima e para baixo. Peri parecia querer lembrar o nome dele. O menino, irritado, sussurrou o nome e bufou. Logo Periwikle continuou a compartilhar seu pensamento: - ...Soluço! Obrigada. Ontem o Soluço enfrentou o Sr. D, explicou o que sabia sobre a cidade. Pelo nervoso e a expressão do nosso professor, bom, talvez ele não soubesse sobre o que o nosso amigo aqui disse. Se eu fosse uma professora de história viria a uma biblioteca e procuraria um livro com o assunto para absorver a informação. O Sr. D. pode ter vindo aqui para procurar um bom livro com alguma lenda da cidade.

– E como chegou nessa conclusão? - perguntei - Quero dizer, você leu alguma parte do livro? Como sabia que era algo relacionado a história da cidade?

– Sim, eu li. Sempre leio uma parte do livro enquanto estou ou cadastrando um nome ou salvando os dados da entrega.

– Sua amiga está certa, Jack. - Rapunzel sorriu - Também me lembro que o Soluço disse que o nome do livro era o mesmo da cidade. Talvez fosse mesmo um livro sobre curiosidades dela.

– Sim - Soluço confirmou - Estava em uma estante junto dos livros de curiosidades, foi aonde peguei o livro sobre a areia negra. Aquela categoria não parece ser muito visitada, estava impecável, arrumada. Talvez seja por isso que ele nunca tenha sido pego.

– Caso encerrado? - perguntou Rapunzel.

Não – disse, determinado enquanto cerrava os punhos -, não está, mas podemos distrair um pouco. Divirtam-se, se é que isso é possível em uma biblioteca.

Todos se entreolharam, logo dando de ombros - Principalmente Periwinkle, que pareceu dar mais importância ao jogo de paciência que estava aberto na tela do seu computador. Eles se afastavam sem a emoção da curiosidade de saber o que eu ainda tinha em mente. Na verdade, apenas um membro do grupo ficou ao meu lado, olhou nos meus olhos e perguntou:

– Por que não estaria encerrado, Jack? - esta era a Violeta.

De costas ao balcão guiei a minha mão sobre o mesmo, pegando a corrente de bronze. Levantei na direção dos nossos olhos, observando o pingente balançar de um lado para o outro. Vivi abaixou minha mão e ergueu uma sobrancelha. Logo guardei a corrente no bolso da calça e respondi:

– A moça da foto. A Peri confirmou que era ela na capa. Isso nós não concluímos. Isso e acredito que muita coisa.

Violeta franziu o nariz.

– Por que está tão apegado a isso?

– Não sei - suspirei.

Vivi confirmou com a cabeça, mordeu o lábio inferior e se afastou. Tuuudo bem.

Não tive a noção de quanto tempo passou depois que sentei na mesa onde o meu grupo estava reunido. Sorri ao ver que todos estavam lendo livros de mesmos gêneros: Mistério, suspense e investigação. Soluço, Violeta e Wil estavam lendo os típicos livros do detetive mais conhecido do mundo: Sherlock Holmes. Meri segurava um livro cujo nome era 7° céu. Já ouvi falar da sequência, graças à Tyler que leu um deles: 6° Alvo. Rapunzel tinha um livro de capa amarelada nas mãos, onde uma garota - não! uma boneca - ocupava a capa. Semicerrando os olhos encontrando o título do livro: Maldosas, Pretty little liars. E eu? Bom, acabei rendendo-me ao mesmo livro do chato do meu irmão.

Assim que lembrei de algo completamente importante levantei da mesa, fazendo a cadeira ranger. Segui para o balcão onde Peri estava e descansei o meu braço na madeira rústica.

– Que horas são?

– A hora que eu deveria estar arrumando a mochila para ir para casa. - grunhiu Peri, fazendo beicinho com os lábios - Uma hora. Ou o trânsito está um inferno, algo impossível aqui nessa cidade, ou a minha mãe está pedindo relatório completo com o médico.

– Não sei quem está sofrendo mais: Você ou a Tinker Bell. - caçoei, fazendo com que Periwinkle ironizasse um riso.

Muito engraçado, Jack.

– Eu sei. - respondi, superior - Ei Peri, posso pedir um favor? - a garota assentiu - Quando o Sr. Devalos devolver o livro, guarda ele pra mim?

– Ah, claro.

– Valeu! E, Ah! - empurrei o livro que estava lendo na direção dela - Vou levar. Até que é... interessante.

Peri sorriu desconfiada enquanto cadastrava o livro em meu nome. Quando ela terminou me despedi, aproximando-me do restante de adolescentes que estavam sentados na mesa redonda.

– Eu vou indo, até amanhã.

Logo peguei minha mochila que estava encostada na cadeira, encaixei o livro sobre o braço direito e segui para a escada da biblioteca.

•••

Um novo dia e os pássaros já me cumprimentam com seus cantos. Não sou uma princesa para conversar com eles, mas... tá. Estava na rua a caminho do colégio. Desta vez a cidade não se mantinha tão fria de costume, posso considerar razoável, já que não precisava usar moletom e sim apenas uma camiseta.

Recebi um torpedo do Wilbur pedindo para que eu corresse pra a escola. O mais rápido possível!, disse ele. Há minutos que tento raciocinar o que diabos aconteceu, mas não dá sem ao menos uma evidência. Quero dizer... não dava para raciocinar sem ao menos uma evidência.

Três viaturas da policia local e um carro preto atravessaram a rua, quase cantando pneus. Corri até a próxima esquina e vi que eles seguiam para a direção do colégio. Quando cheguei no mesmo, encontrei mais dois carros brancos e azulados, com sirenes ligadas, estacionados de qualquer jeito no gramado do prédio.

Alunos ocupavam a rua e calçada. Uma faixa amarela onde estava escrita "Perímetro sob investigação da polícia, não ultrapasse" ocupada a porta dupla da entrada. Um homem de cabelos castanhos enrolados, camisa social branca e uma calça preta bem passada, segurava um bloco de anotações enquanto, pelo que percebi, conversava com a diretora Lucy. Estava interrogando-a, talvez? Os olhos verdes daquele homem eram inconfundíveis. Aquele era o detetive David Campbell, e se há um detetive em algum lugar, bom, coisa boa é que não é.

Tentei infringir, despercebido, a faixa de não ultrapasse, mas um policial segurou o meu ombro, e nada educado, mandou que eu me afastasse. Perguntei então a uma garota da sala do meu irmão, Bridget, o que estava acontecendo. Logo desisti de receber a informação da menina, foi quando avistei duas cabeleiras morenas que estavam entre o gramado, perto de uma das viaturas da policia.

Segui para a direção deles, e quando Violeta notou minha presença abraçou-me, fazendo com que Wil enrugasse o cenho.

– Jack! Você está bem.

– S-Sim, acabei de chegar, o quê houve?

– Não sabemos - Violeta respondeu, me largando. Seu rosto estava enrubescido. Sorri a ela com o acontecido.

– Onde estão os outros? - perguntei.

Violeta apontou para uma direção. Segui meus olhos para a área que seu dedo apontava e logo identifiquei uma juba descabelada - que só podia ser da Merida -, e uma loira de cabelos impecáveis.

Ah Soluço, que susto! – logo ouvi um grito do Wil. Sua mão estava no coração e ele arfava. Soluço havia surgido do nada ao nosso lado.

Todos nós nos entreolhamos. Vivi abriu a boca, talvez para fazer uma pergunta, e Soluço a interrompeu, indo direto ao ponto:

– Rapunzel e eu chegamos cedo ao colégio. Decidimos ir para a sala e assim foi feito. Ficamos de bobeira enquanto conversávamos, e logo a Merida chegou. De repente a Punzie decidiu me deixar de lado para mexer no cabelo da Meri. Ela cismou em fazer um penteado no cabelo dela! Então a arrastou para o banheiro. Fiquei sozinho, desenhando, e quando voltaram a ruiva estava, por algum milagre, com um rabo de cavalo alto - ele inspirou, deixando todos com dúvida - Logo chegou mais dois alunos, um casal de namorados para ser específico.

– E aí vocês ficaram de vela, e por raiva, tacaram fogo na sala de aula? - Wil zombou, recebendo em seguida uma bela cotovelada de Vivi.

– Não! - o garoto moreno revirou os olhos - Eles nos ignoraram e foram para o fundo da sala, e... bom, vocês podem imaginar a cena constrangedora, a qual não vou descrever. Um homem chegou na sala e disse querer falar com a garota, que afirmou ser Grace. Ela respondeu que não, disse que não o conhecia e pediu para que fosse embora. O homem pareceu não perceber a presença do namorado da Grace, ou a nossa, eu acho, e a agarrou pelo pulso, bruscamente, dizendo "você vem comigo". Ela começou a chamar o garoto, Mark. Rapunzel implorou para que nós saíssemos para pedir ajuda. Eu concordei, mas quando voltamos Grace não estava mais lá, nem ela, nem o homem. E o seu namorado... bom, não sabemos ao certo o que aconteceu, mas seja o que foi, acabou em morte.

– Meu deus - Violeta apoiou o braço no ombro do Wilbur.

– Merida, Punzie e eu agora teremos que depor na delegacia - Soluço terminou -, o detetive Campbell quer falar conosco.

Concordei com Soluço e logo percebi que o garoto sorria. Me perguntei qual era o motivo do riso repentino, mas a resposta estava na mão de dedos largos que tocou meu ombro.

– Olá Jack - David Campbell largou meu ombro e estendeu seu braço em cumprimento -, bom vê-lo novamente.

– Digo o mesmo. - respondi ao seu cumprimento, apertando sua mão, brevemente - Gostaria de detalhes. Tenho esse direito?

– Poucos. Apenas direi porque seu pai trabalhou comigo. Seria interessante compartilhar alguma sabedoria com você, parece lhe interessar - Campbell sorriu. Ele olhou ao meu redor, encontrando olhos curiosos. Todos - até as garotas que estavam longe, minutos atrás. Se aproximaram com ele, talvez? - pareciam curiosos com o que David tinha a dizer - Ouvi pouco da versão de seus amigos. Sequestro e homicídio. Com certeza a morte não estava nos planos do nosso homem. Pelo que noto ele queria sair despercebido, mas sequestrar uma pessoa a cada dia da semana não é completamente discreto, principalmente crianças.

– E o que causou a morte do garoto? - Wilbur perguntou, fazendo com que o detetive erguesse uma sobrancelha.

– Já não posso compartilhar isso, meu jovem. - respondeu ele - Apenas digo que esse é o terceiro desaparecimento que recebo neste começo de semana. Cada dia uma vítima, uma garota, e pelo que parece é o mesmo homem. Foi o que eu disse antes. - Campbell limpou a garganta, apertando o bloquinho de notas que estava em sua outra mão - Agora preciso roubar seus amigos por mais ou menos uma hora.

– Tudo bem.

– Ótimo! - ele apoiou novamente sua mão em meu ombro - Darei cinco minutos para terminarem o assunto que interrompi. Soluço, Merida e Rapunzel, quando acabarem me encontrem perto do meu carro, é aquele preto - ele apontou na direção das viaturas, onde encontrava o destaque do negro de seu carro - Esperarei por vocês lá, iremos direto para ao departamento da cidade.

– Uma última pergunta - Wilbur chamou a atenção de David, antes que o mesmo se afastasse.

– Sim?

– O colégio será fechado?

– Querendo fugir dos estudos, garoto? - Campbell riu - Sim, será. Em tempo ilimitado, acredito - E assim se afastou, deixando Wil com um sorriso vitorioso.

– Podem ir - afirmei à Soluço, Rapunzel e Merida - Apenas um aviso: Não digam nada sobre o que estamos tentando descobrir.