Missed You

Navegando pelos céus


Eragon estava no seu palácio, vagueava pelos corredores tão abstraído do mundo que nem reparava nos aprendizes que passavam por ele e o cumprimentavam. Quando chegou ao seu quarto deitou-se na cama, pensativo.

Sentia-se melancólico, sozinho, com saudades… Faltavam duas semanas para o seu vigésimo aniversário e apenas conseguia pensar em Roran, Katrina, na sua sobrinha de quatro anos, Ismira, Murtagh e Nasuada, mas a única pessoa que não dava descanso ao seu coração e à sua mente era Arya. Só agora percebia verdadeiramente a falta que sentia dela… Se ao menos a pudesse ver…

Pegou numa cadeira levou-a para junto da janela e afundou-se nela enquanto observava o mundo exterior pela pequena abertura, tentando afastar os pensamentos que o afligiam. Uma figura indistinta atravessou a sua vista, “Um pássaro…”, pensou, mesmo assim era estranho. Estando numa ilha repleta de dragões não estava habituado a ver animais, poucos eram os que se aventuravam a viver na natureza, correndo o risco de serem devorados por eles, até as aves mudaram as suas rotas migratórias para evitar o local…

Passado pouco tempo a estranha figura passou novamente em frente dos seus olhos, desta vez mais perto e ao focar a sua atenção nela Eragon finalmente percebeu o que era. O objeto voador continuou a descer e aproximar-se de Eragon até que poisou nas suas mãos.

Agora conseguia distinguir cada traço do irreconhecível barco de erva que Arya tinha feito, quando regressavam para os Varden depois da sua demanda para matar os Raza’c e salvar Katrina. Uma pontada de dor arrebatou o seu coração quando viu o barco mágico. Lembrou-se de cada detalhes da jornada que percorrera com Arya… Como ele a amava… Controlou-se e afastou todos os pensamentos que se dirigiam a ela. Não podia deixá-los ficar. Resistiu à tentação de pensar nela, caso contrário acabaria apoderado pela saudade e pelo desespero. De qualquer forma foi bom voltar a ver o barco então decidiu guardá-lo.

Levou o barco até à mesinha de cabeceira e guardou-o na primeira gaveta. Sentou-se na cama. Sem se aperceber, todos os sentimentos que nutria por Arya assaltaram-no, e quando deu consigo estava a fazer um fairth de Arya. Observou atentamente a sua obra, reparando em cada detalhe. Era lindo, mais bonito do que qualquer um dos outros que fizera em Alagaesia, mas nesta, Arya parecia-lhe distante. Queria quebrar o retrato mas não conseguiu. De todas as vezes que tentara desfazer-se da magnífica figura ele arrependia-se e as palavras da língua antiga silenciavam-se na sua boca. Procurou a mente de Saphira mas não a conseguiu encontrar, “Deve estar a voar com os seus aprendizes”, deixou de procurar a mente da sua companheira de pensamento e focou-se na gaveta da mesinha.

Lágrimas de dor escorreram do seu rosto e Eragon pegou na pintura e no barco e levou-os para junta da janela, preparando-se para lhes lançar um feitiço que os fizesse voar sobre o mar até ao Du Weldenvarden, para junto da sua amada quando algo aconteceu.

Na proa do barco, anteriormente vazia, estava agora um pergaminho dourado enrolado numa magnífica fita carmesim escrita a dourado com hieróglifos élficos e cunhado com a insígnia da família real dos elfos. Admirado Eragon poisou o barco e a pintura e abriu o pergaminho cor de ouro.

Ao desenrolar a folha delicada Eragon percebeu imediatamente quem era a remetente, Arya. “Ela lembra-se de mim…”. As palavras ressoavam na sua cabeça enquanto lia a escrita cuidada da rainha dos elfos.

“Olá Eragon, Aniquilador de Reis,

Desculpa não ter voltado a comunicar contigo mas os afazeres de rainha ocupam-me muito tempo. Fírnen está bem, com saudades de Saphira, mas bem. Sei que fazes anos em breve e não poderia passar sem te dar os parabéns. Como não sei a localização da ilha onde ensinas os cavaleiros e dragões tive de lançar um feitiço para enviar este barco até ti com a minha mensagem. Não sei se te lembras mas é o velho barco de erva que fiz quando estávamos de volta para os Varden, depois de matares os Raza’c. Lancei-lhe um feitiço para o proteger de tudo e todos para chegar a ti são e salvo, se lês isto agora resultou. Mas vou direta ao assunto. Fírnen está muito grande, quase tanto como Glaerd, eu tento ensiná-lo mas já nada posso fazer por ele, por isso te pergunto Eragon: aceitas um convite para passar um tempo no meio da floresta do Du Weldenvarden comigo e Fírnen para nos instruíres todo o teu saber? Sei que será difícil abandonares a ilha mas peço-te por favor que tentes encontrar uma forma de vires encontrar-te connosco.

Um abraço da tua amiga Arya”

“Sim, claro que vou minha querida!”, foi a primeira reação de Eragon quando acabou de ler a carta enviada pela sua amada, mas rapidamente a razão tomou o lugar do desejo e o sorriso que brilhava na sua cara transformou-se numa cara insípida e sem qualquer tipo de sentimento ou brilho. “Não posso partir. Tenho a meu cargo demasiados cavaleiros e dragões, seria irresponsável fazê-lo.”

“Fazer o quê pequenino?”. A voz de Saphira ecoou na mente de Eragon e rapidamente ele partilhou todas as memórias que tinha desde que entrara no quarto. Saphira parecia perturbada. “Pequenino…”

“Eu sei… Seria irresponsável partir e deixar tudo o que construímos para trás…”

“Não era isso que eu ia dizer… Lembras-te de como te sentistes por Arya ter escolhido a razão quando decidiu ficar em Alagaesia? Talvez devêssemos ir. Arya é a única cavaleira que pode ajudar Nasuada caso ela seja atacada, tal como os elfos e todas as outras criaturas de Alagaesia, já que Murtagh decidiu isolar-se de todos com Thorn. Se houver algum conflito será a ela que todos procurarão. Lembras-te de como sofreste por não conseguires ajudar os outros por falta de saber? Agora já não tens esse obstáculo mas não queres partir para apoiar quem te solicitou ajuda? Acho que devemos partir. Os elfos poderão manter a ordem nos cavaleiros porque nenhum possui ainda faculdades que lhe permita vencer-lhes. Pensa, o teu aniversário é só daqui a duas semanas, não gostarias de o passar na companhia daqueles que amas verdadeiramente?”

Eragon pensou no assunto. Antes de acabar o seu raciocínio Saphira voltou a interrompê-lo.

“E depois há o Fírnen… Sabes como sinto saudades dele...”. Era verdade. Já por várias Eragon sentira a saudade de Saphira, quando partilhavam o pensamento.

“Está bem. Viajaremos então para Alagaesia! ”. O “Obrigada” enviado pela mente de Saphira fez Eragon vacilar. Aquela palavra era realmente sentida, Saphira estava realmente agradecida.

Sem dar tempo para mais conversa Eragon deixou a mente de Saphira, que radiava alegria, saiu do quarto e foi procurar os elfos para os pôr a par da situação.

Encontrou Blodhgarm no corredor da entrada e dirigiram-se ao escritório de Eragon. Todos os pormenores foram ditos, nada ficou por esclarecer. Eragon informou Blodhgarm de tudo o que precisava para continuar o treino dos aprendizes e por fim avisou-o que lavaria consigo três alunos. O elfo agradeceu a confiança que Eragon depositara nele e abandonou a sala para mandar preparar provisões para Eragon, Saphira e os três aprendizes e dragões que iam com eles.

Antes de ir avisar os alunos Eragon foi ao seu quarto e procurou a mente de Saphira dizendo:

Já está tudo preparado, vou agora falar com os três alunos que nos acompanharão.”. Respondeu alegre.

“Partamos então! Para quê esperar?”

“Calma”. Respondeu Eragon.

”Ainda tenho de falar com os alunos e preparar as nossas provisões. É um longo caminho.”

Saphira ficou desiludida, arrependeu-se de ter aceite o pedido de Eragon ara levar os alunos consigo. De qualquer forma não respondeu, era necessário, e foi caçar enquanto Eragon partia para avisar os alunos.

Eragon mandou chamar os seus acompanhantes: Armitha, uma elfa, acompanhada do dragão castanho, Jura; Omith, um anão, acompanhado pelo dragão laranja, Mirenel (o primeiro dragão fêmea a chocar depois de Saphira); e Chlaus, um rapaz, acompanhado pelo dragão, Roslarb.

Depois de deixar os alunos Eragon regressou, apressado, para o seu quarto. Pegou numa pena e numa folha cor de prata e começou a escrever uma carta direcionada a Arya:

“Querida Arya,

Eu e Saphira aceitamos a tua oferta de regresso e partimos hoje mesmo a caminho de Alagaesia acompanhados por mais três aprendizes e dragões. Não sabemos ao certo quanto tempo durará a nossa estadia mas ficaremos pelo menos um ano.

Até ao nosso encontro,

Eragon”

Pegou no barco de erva e lançou um feitiço num murmúrio tão baixo que era impossível distinguir as palavras da língua antiga que proferia. Quando acabou o barco dançou nas suas mãos e começou a voar, janela fora e até ao horizonte. Eragon ficou a observá-lo até desaparecer e depois arrumou num pequeno saco a sua roupa alguns livros e o fairth de Arya que fizera pouca horas antes. Quando acabou foi deitar-se e caiu no sono lúcido a que já se tinha habituado e passou as horas seguintes a sonhar com o amanhecer