Destinos cruzados

Capítulo 4

Eragon acordou com um leve bater na porta do seu quarto. Levantou-se ainda a tentar lembrar-se de onde estava e do que acontecera na noite anterior. Quando finalmente chegou a uma conclusão, alcançou a porta e abriu-a. À sua frente estava Arya e docemente ela disse.

“Bom dia, Eragon.”

Felicidade e um enorme sorriso brilhavam no seu rosto. Eragon reparou na diferença de comportamento de Arya desde que quase se beijaram na noite anterior. Esse pensamento alegrava-o pois, levava-o a pensar que existia uma possibilidade, ainda que reduzida, de Arya o amar.

“Bom dia.”

“Já é quase hora do almoço e os teus aprendizes esperam-te lá em baixo.”

“Obrigado por me chamares. Podes dizer-lhes que têm o dia livre para explorar Ellesméra?”

“Claro. Espero por ti no pátio, para o almoço.”

Antes de Eragon ter tempo de lhe agradecer, Arya sorriu-lhe e saiu. Agora Eragon estava definitivamente surpreso com a elfa. Não a conseguia reconhecer. Sem nenhuma explicação Arya ficara muito mais descontraída, era mais fácil perceber o que sentia e pensava, não deixando que o seu antigo mistério desaparecesse. Era bom pensar que Arya poderia amá-lo como ele a amava.

Foi até à casa de banho e arranjou-se. Desta vez vestiu uma camisa preta e umas calças de couro, embainhou a sua espada de lâmina azul, Brisingr, e foi ter com Arya ao pátio onde iam almoçar. Quando chegou à zona ampla que marcava o local de encontro para o almoço Eragon reparou pela primeira vez nesse dia de como Arya estava elegante. Vestindo um vestido vermelho e o cabelo apanhado num rabo-de-cavalo, Arya punha a mesa calmamente. O vestido esvoaçava ao sabor dos seus movimentos contínuos de entradas e saídas da cozinha, de onde trazia os pratos, talheres e copos para compor a mesa. Aproximou-se da elfa e disse:

“Queres ajuda?”

Arya sobressaltou-se quando ele falou, e ele percebeu que ela não tinha notado que ele chegara.

“Se te ofereces a ajudar agradeço.”

Dito isto dirigiram-se ambos até à cozinha para ir buscar o que faltava para completar a mesa.

Quando terminaram de pôr a mesa ambos se sentaram para começar a almoçar. Eragon procurou a mente de Saphira mas como não conseguiu, então parou. Começaram a comer, ou melhor, ele começou a comer, Arya apenas o olhava. Só passados alguns segundos Eragon se apercebeu disso então parou repentinamente e perguntou:

“O que se passa? Ainda não tocas-te na comida.”

A sua voz soava preocupada. A elfa olhou-o com os seus lindos olhos verdes e perguntou-lhe:

“Sentiste a minha falta?”

“Como?”

“Sentiste a minha falta quando partiste?”

A expressão alegre de Eragon murchou. A pergunta de Arya entristeceu-o. Não gostava de se recordar da saudade que sentiu da sua casa e da família e amigos, muito menos de Arya, durante os anos que estivera ausente. Com uma voz quase inaudível respondeu-lhe:

“Vou buscar uma coisa…”

Levantou-se e foi até ao seu quarto, deixando Arya sozinha, entregue aos seus pensamentos. Entrou e dirigiu-se ao saco onde guardara o fairth, agarrou-o e voltou para junto da elfa. Sentou-se na mesa e entregou-lho. Desta vez foi a expressão de Arya que mudou. Demonstrou um turbilhão de emoções só com a face. Elas eram surpresa, alegria, tristeza, admiração…

“Quando o fizeste?”

“Há alguns dias na ilha… É um de muitos mais que fiz de ti e da minha família e amigos”

“Tu… ainda me amas?”

“Pensei que o nosso quase beijo de ontem tivesse esclarecido as dúvidas acerca desse assunto… Mas tu… Ias correspondê-lo! Porquê?

Eragon encarou-a com os seus olhos castanhos a brilhar. Ela olhava a mesa com ar pensativo e um pouco alarmado. Ele acertara em cheio no seu ponto fraco. Ela respondeu-lhe ainda mais inaudivelmente do que ele anteriormente falara.

“Porque… Nem eu posso esconder os meus sentimentos para sempre…”

Eragon estava nas nuvens. Arya acabara de se declarar a ele. Ele conseguira, conquistara o seu coração…

Levantou-se e dirigiu-se a ela pronto para beijá-la. Ela levantou-se também e abraçou-o. Um segundo depois estavam já a beijar-se. O beijo foi longo, durou até perderem por completo o fôlego. Quando separaram o beijo ficaram a olhar-se, sorrindo, ainda abraçados um ao outro. Pouco tempo depois os dragões aterraram, voltando a assustá-los, que tal como na noite anterior não se aperceberam da chegada deles. “Mas que sensação de dejá vu…”, pensou Eragon, o seu sorriso abriu ligeiramente. Ambos os casais se olhavam e por fim Fírnen comentou para que todos o ouvissem:

“Parece que nos atrasámos Saphira. Não conseguimos pará-los.”

“Concordo.”

Os olhos de Eragon e Arya cruzaram-se num vislumbre rápido e depois Eragon disse:

“Não podem falar muito… Vocês os dois exalam fogo de tanto gostarem um do outro.”

“Vocês estão para o mesmo.”, respondeu Saphira.

“E se fossemos dar um passeio?”

Sugeriu Eragon enquanto montava Saphira. Arya montou Fírnen e voaram juntos até anoitecer.