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Pisquei uma ou duas vezes para me acostumar com a claridade de novo. Minha cabeça estava doendo; sentia meu corpo inteiro queimar.

E quando abri os olhos por completo, enxerguei roxo.

Literalmente.

“Onde diabos eu estou?” foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça assim que girei para observar o meu redor. Parecia uma espécie de torre, e havia um trono alto e exagerado no centro. O roxo se destacava mais que qualquer outra coisa.

De fato, não era exatamente esse tipo de cenário que eu esperava encontrar depois de morrer, sabe.

“Por falar em morrer...” pensei, e no mesmo minuto milhares de lembranças dos últimos acontecimentos passaram por mim.

Eu. Guerra. Sangue. Terror. Sasuke. Naruto. Penhasco. Mortos. Suicídio.

Ah.

– Que dor de cabeça dos infernos – murmurei, cobrindo-a com a mão em uma tentativa de fazer a dor parar – Quem sabe se eu usar chakra para aliviar.

Tudo bem, vamos fazer isso! Yeah! Inner Sakura gritou no profundo do meu subconsciente, e eu senti-me mais confiante – considerando a situação atual. Mas o desespero me atingiu assim que a milagrosa luz esverdeada não apareceu na minha mão, como deveria.

Será que eu errei alguma coisa? Não. Impossível. Eu sei que fiz os sinais corretos. É como um piloto automático. Será que estou em um genjutsu? Improvável.

Ou será que simplesmente me tornei fraca outra vez?

De qualquer jeito, estou em um lugar estranho, curiosamente viva e com uma dor insuportável na cabeça, além de que meus ninjutsus medicinais não funcionam de maneira alguma.

– Honestamente, eu deveria mandar diminuir esse trono... – ouvi um murmúrio vindo de cima, e logo depois umas duas tossidas elegantes – Bem vinda, Sakura Haruno.

Por algum motivo a voz dele – e o fato de que ele me conhecia – não causou desespero, ou pânico, ou qualquer reação assustada. Tão pouco confortáveis. Era um tom neutro, desgastado, apesar de que um pequeno fiasco de maciez estivesse presente.

“Exatamente como o Sasuke antigo” pensei infeliz.

Lentamente subi meus olhos para o dono dela, e mal pude conter um suspiro.

Com seu cabelo negro mais ou menos na altura do meu, a pele pálida e olhos azuis vazios, o estranho usava um tipo de túnica escura que fazia parecer um vestido. Ele irradiava poder, eu notei, por isso não seria muito inteligente atacá-lo agora. Felizmente, não parecia que o garoto procurava uma luta.

Ele era quanto? Minha idade?

– Onde eu estou? E quem é você?

– Não tenho certeza se essa é a coisa certa a se dizer para alguém que acabou de salvar sua vida – uma menina de cabelo branco que, detalhe, voa, interrompeu antes mesmo que ele pudesse me responder – Acho que um “Obrigado, Yukiteru-sama” teria sido bem melhor.

–SAMA? Quem esse cara pensa que é? Um Deus? Inner rugiu.

– Ora, Murmur, não apareça assim do nada – massageou as têmporas – São dez mil anos desde que fui nomeado Deus, mas nunca consegui me acostumar com suas aparições repentinas, sabe. E certamente a Haruno também não.

Quer dizer que ele é mesmo um Deus?!? E tem mais de dez milhões de anos?!

“Eu morri? Mas espera... essa menina disse que ele havia acabado de salvar minha vida. Então eu não morri, não é? Eu acho. Mas como será que ele fez isso? Será que é algum jutsu de ressureição?” fitei meu reflexo em um dos espelhos roxos “Não há qualquer sinal de jutsus sobre mim. Ah, é mesmo, esse cara é 'Deus'” pensei com um pouco de descrença no final.

Enfim, é melhor ouvir o que esse garoto diz. Ele me salvou; talvez explique o porquê.

– Você deve estar confusa, Sakura Haruno. Não, você não está morta, mas também não está viva. Você está no segundo mundo da sua dimensão.

Atá.

Faz sentido.

– O quê?

– Quando uma pessoa volta no tempo, ela cria imediatamente novos mundos. O mundo em que você estava antes daqui era o primeiro mundo, o original – ele explicou, apontando para uma tela atrás de mim. Mostrava uma imagem do time sete morto à beira de um penhasco.

Eu... tentei ser forte. Juro que tentei. Mas deixei cair uma lágrima. Só uma, porque já havia chorado o suficiente durante esse dias, e prometi que havia me conformado.

Aquele era o fim do time sete e, bem, o que mais eu podia fazer sem meus amigos, pais e entes queridos vivos? Sem um propósito para viver?

A resposta é simples: nada. Porque se eu continuasse viva naquele lugar, não estaria vivendo. Eu seria só uma alma vazia, vagando pela terra sem nenhuma razão para sorrir.

Eu percebi que morrer e viver sem um ideal são coisas parecidas. A diferença é que a morte pelo menos te livra da dor de uma existência sem sentido.

– Por que fez isso? – perguntei, recuperando a compostura.

– Eu sei como é o sentimento de perder tudo, inclusive quem você ama... – baixou a cabeça, mas levantou quase no mesmo minuto – ...por isso te darei a oportunidade que eu nunca tive. O que nos leva a minha explicação inicial...

– No seu mundo, ou seja, o primeiro, Tsunade–san, Hinata-san e todos os outros figurantes já estão mortos por culpa de Madara, que também morreu depois de receber o golpe final de Naruto-san e Sasuke-san. Contudo, isso custou a vida de ambos os heróis. E você foi a única sobrevivente da Quarta Grande Guerra. Porém, tudo isso e muito mais nunca aconteceu no segundo mundo, ou seja, onde você está agora. Aqui, ainda é o primeiro dia como genin.

– Ainda não entendi.

– Eu proponho um jogo – disse de repente, me encarando – Se você ganhar, posso fazer com que fique no segundo mundo permanentemente, onde todos ainda estão vivos. Se você perder, bem, você perdeu. Fim de jogo. Mas para ser sincero, os resultados podem variar. É uma coisa que depende do seu desempenho.

– Que tipo de jogo é esse? – arqueei a sobrancelha, mas o Deus somente sorriu.

– Você aceita ou não?

Tudo bem, vamos checar as circunstâncias:

Um garoto com mais de dez milhões de anos de idade, mas que por uma razão que transcende meus conhecimentos mortais continua com a aparência de um adolescente de 18, está fazendo para mim uma oferta que pode melhorar ou piorar minha vida, sendo que esse mesmo garoto se auto-proclama Deus e ainda se recusa a dizer-me que tipo de jogo é esse até que eu aceite – ou não – sua proposta.

Maravilha.

– Você sabe, se disser que não, será como se nunca tivesse estado aqui, e ainda poderá desfrutar do doce prazer de continuar morrendo – ele acrescentou com uma voz falsamente alegre.

O quê...? Que Deus irreverente! Inner rugiu, gritando insultos como insensível ou debochado, e citando algo como “ele está começando a mostrar as garras”

Eu poderia pensar racionalmente, é claro, pois está óbvio que essa é uma das decisões mais importantes da minha vida – e última, quem sabe –, mas essa maldita dor de cabeça não dá sequer uma trégua! Tudo que mais quero agora é estar no meu quarto, na minha caminha confortável, com minhas almofadas coloridas, e confirmar que esses últimos 4 anos foram somente pesadelos.

O deus sorriu sarcasticamente.

– Ótima escolha.

– O quê? C-Como assim? – balbuciei, mas ele ignorou. Então todo o meu corpo se encheu de bolhas brilhantes, e tudo havia escurecido de novo.

Mirai Nikki no Sakura

E não é que funcionou?

A primeira coisa que vi quando abri os olhos foi o teto do meu quarto, e eu quase não consegui acreditar nisso.

Ah.

Espere.

Espere um pouco.

Esse não é o meu quarto. Esse era o meu quarto. O que aconteceu com o quarto que é meu?

Não, não, não, não, não. Isso só pode significar que não foi um sonho. Aquela coisa com deuses e garotas que voam. Eu realmente estou participando de um jogo, e o pior é que não faço ideia do que tenho que fazer.

Respirei profundamente.

Aquele bastardo me mandou de volta sem nem mesmo explicar as regras! Que Irreverente! Argh... pensando bem, vou começar a chamá-lo desse jeito. Yukiteru, o “Deus Irreverente”.

Enfim.

Levantei da cama com uma ansiedade enorme, o que era ridículo, porque eu não sabia o porquê de estar tão ansiosa. Algo ia acontecer hoje... acho. Não entendo. E sempre que tento pensar nisso, ganho uma dor de cabeça como bônus.

Eu não consigo lembrar... minhas últimas memórias são somente o que aconteceu no suposto sonho. Bem, haviam outras coisas mais também, como um garoto solitário chamado Naruto e uma amiga minha, Ino, que deixou de ser minha amiga alguns anos atrás... sei lá a razão. Vai ver é tão insignificante que eu até esqueci.

Melhor parar de pensar sobre isso, pois já posso sentir minha cabeça latejar. Mas vamos lá... hoje teria um evento. Sim, era importante. O que era mesmo?

– SAKURAA – minha mãe berrou do outro lado da porta – ACORDE PARA SE PREPARAR PARA O PRIMEIRO DIA COMO GENIN, MEU BEM.

Era isso! Minha graduação. Como pude esquecer de algo tão importante?

Isso é suspeito, pensando bem. Eu voltei ao passado. Deveria lembrar da minha graduação porque, bem, era minha graduação. E existem coisas que parecem estar completamente apagadas da minha cabeça agora. Minha memória está confusa... isso é anormal. Eu sempre fui boa em memorização.

E inteligente. A melhor da classe em termos intelectuais. Eu lia bastante. Foi uma das razões para virar uma médica-nin. No entanto, porque eu não lembro do momento em que virei médica-nin? De quem me tornou uma?

– Há algo de errado com minha mente. Mas, no caso, Inner me avisaria – murmurei, me olhando no espelho. Estou pronta para sair, só preciso escovar meu cabelo..

.

.

.

Por que diabos meu cabelo está tão grande?

Mirai Nikki no Sakura

– Por que você apagou as memórias dela, Yukiteru-kun? – uma menina de aparentemente 13 anos perguntou ao mais velho.

– Não seria justo com os outros jogadores, Mogi. Ela teria vantagem demais – respondeu pacientemente.

Mogi suspirou, pondo as mãos atrás da cabeça em um gesto despreocupado.

– Fico imaginando quando você escolherá os outros donos de diário...

– Ah, mas isso não é tarefa minha – ele sorriu – Vou deixar com você.

– Hã? Eu? – a garota parecia atordoada – E a Murmur?

– Ela tem uma missão especial em outro lugar – acenou em descaso. “Parece que a mente da Primeira é mais forte do que pensei”

Mirai Nikki no Sakura

Sakura resolveu usar uma roupa mais adequada para treinamentos. Ela lembrava de como era irritante usar aquele vestido vermelho, pois além de comprometer sua flexibilidade e agilidade, ainda tornava difícil saltar em longas distâncias.

– O que é isso? – encarou horrorizada o seu próprio guarda roupa, que estava cheio de quimonos, saltos e maquiagem exagerada para uma menina de doze anos – Que tipo de kunoichi tem uma coisa dessas no guarda roupa ao invés de armas e roupas leves?

Mesmo à contragosto, Sakura colocou o vestido vermelho mesmo, decidindo comprar roupas adequadas mais tarde.

Um barulho de sino ecoou pelo quarto infantil, e a menina virou seu rosto para ver um caderninho rosa muito familiar repousando nos seus lençóis.

– Isso acabou de apitar? – pegou o objeto, e assim que o fez uma enxurrada de memórias passou pela sua cabeça. Ela piscou, reconhecendo o seu próprio diário – O... o que foi isso? Há alguns segundos...

Dingee – o barulho chamou de novo. A menina resolveu abri-lo.

Hello, Sakura Haruno

Aqui quem fala é o Deus Yukiteru, e não se assuste se mais mensagens aparecerem de repente nesse diário, porque faz parte do jogo. Wharever, eu liguei para avisar que haverá uma reunião com todos os outros jogadores hoje, 20:00 da noite. Não se atrase, porque causará más impressões para você ;)

– Como foi que esse cara virou Deus mesmo? – se perguntou antes de sair para a Academia.

Mirai Nikki no Sakura

Sakura estava atrasada porque passou o caminho inteiro distraída com coisas relacionadas ao jogo. Por isso, quando pisou na Academia, todos os olhos se voltaram para ela. Corando, fez seu caminho de cabeça baixa, e somente levantou-a para localizar algum assento vago.

Por algum motivo, esse assento ficava do lado de um garoto loiro com berrantes roupas alaranjadas.

“Naruto” esse nome veio de repente, e ela reconheceu como um dos seus amigos do primeiro mundo. Mas é curioso como só o assento ao lado dele não foi ocupado. Ele parecia ser gente boa, então porque ninguém sentou ao seu lado?

Ela não se lembrava.

– Oi, Sakura-chan! Aqui! – Naruto balançou as mãos exageradamente para chamar sua atenção, e Sakura notou quando todos começaram a murmurar coisas horríveis sobre o loiro. Mas ele não notou, ou pelo menos fingiu não notar, e continuou acenando para ela.

– Yo Naruto – sorriu simples, e sentou ao seu lado esquerdo. Então ela percebeu uma presença atrás de Naruto, e um frio estranho percorreu sua espinha.

Era um moreno de pele clara e olhos ônix, que usava uma camisa azul escura com um tipo de leque na parte de trás. “Um símbolo de clã” supôs. O menino era particularmente bonito, mas causava nela uma sensação estranha no peito e sua dor de cabeça começou a reaparecer assim que ele cravou os olhos nela.

Naruto percebeu a troca de olhares entre os dois.

“Os olhos dela dizem tudo...” pensou irritado, subindo na mesa e fitando o Uchiha com ódio. Sasuke desviou o olhar de Sakura e encarou o rival com a mesma intensidade.

– Saia – ele disse, frio. Mas Naruto não se moveu.

De repente, um garoto que sentava na frente de Sasuke mexeu o cotovelo e bateu em Naruto sem querer, fazendo o loiro cair para frente.

Silêncio.

Toda a academia estava acelerando seus cérebros para compreender o fato que estava bem na frente deles:

Naruto Uzumaki e Sasuke Uchiha estavam se beijando!

Imediatamente os dois rapazes saltaram para longe do outro, agarrando a língua como se estivessem contaminadas.

– Eu vou te matar, Naruto – Sasuke prometeu.

Enquanto muitos (muitas) xingavam Naruto de todos os palavrões possíveis por roubarem “o seu primeiro beijo com o Sasuke-kun”, Sakura observava o desenrolar da situação com um brilho de nostalgia. Era um déjà vu.

– Aah, minha língua está apodrecendo!

Com o passar dos segundos, esse brilho foi mudando de um sorriso pequeno para gargalhadas altas e incontroláveis. Ela tentava parar de rir, mas a careta espantada dos meninos passava pela sua mente de novo e as risadas recomeçavam.

Já Sasuke não achou tão engraçado assim, e bastou um olhar seu cheio de juras de morte em direção à menina para que ela parasse na hora.

O alvoroço do acidente cessou apenas quando Iruka entrou para anunciar os times. Ele explicou que seriam formadas equipes de três genins, sempre com um jonin-sensei, ou ninja de elite.

“Mais três pessoas?” bufou “Que perda de tempo”

“Qualquer um menos o Sasuke!”

– ...e agora o time sete: Naruto Uzumaki...

O loiro sorriu, excitado.

– ...Sakura Haruno...

Sakura deu um leve sobressalto ao ouvir seu nome sendo chamado. Ela olhou para o companheiro laranja, que sorria para ela.

“É o destino!” ele pensou apaixonadamente.

– ...e Sasuke Uchiha.

“DESTINO DESGRAÇADO!” Naruto levantou indignado: – Iruka-sensei! Por que um ninja tão incrível como eu tem que ficar na mesma equipe que esse idiota?

Iruka encarou o aluno sem expressão.

– As notas de Sasuke foram as melhores, e as suas as piores. Acharam que equilibraria o time se colocássemos notas ruins com notas boas.

– Contente-se, dobe – Sasuke murmurou parecendo igualmente insatisfeito.

Sakura suspirou “Esse deve ser o Sasuke que sempre falaram na rua” franziu o cenho “Que garoto esquisito”

Mirai Nikki no Sakura

O time sete estava esperando seu sensei pacientemente, pelo menos no caso de Sakura. Ela tem lembranças vagas sobre ele. Sabia apenas que seu nome era Kakashi e que usava uma máscara para cobrir a parte inferior do rosto.

– Ele está atrasado – Naruto informou o óbvio quando colocou a cabeça do lado de fora da porta para visualizar o corredor.

– Apenas sente-se, Naruto – Sakura disse irritada, mas resolveu não falar mais nada. A dor de cabeça retornou de repente, e quanto mais perto do moreno rabugento, pior ficava. Tomou um comprimido para dor – havia trazido um prevendo que isso aconteceria – e fechou os olhos por alguns segundos.

– O que você está fazendo, seu dobe?

– Não é óbvio, Sasuke-teme? – riu maleficamente – Isso que dá chegar atrasado!

– Nosso professor é um ninja de elite. Você acha mesmo que alguém como ele vai cair em um truque tão idiota? – Sasuke zombou e ela teve uma breve noção sobre o que estava acontecendo no mundo exterior.

Sakura abriu os olhos a tempo de avistar uma mão ao redor da porta e assistiu em silêncio enquanto o apagador caía sobre a cabeça de Kakashi Hatake.

– Hmm, minha primeira impressão sobre vocês é... – o jonin anunciou – Eu não gosto de nenhum de vocês, idiotas.

Sasuke revirou os olhos e Sakura observou, com decepção, Naruto continuar a rir.

Kakashi então conduziu os genins para uma parte fora da academia alguns degraus no topo de um prédio com vista para a vila. Lá, ele fez com que os três sentassem um ao lado do outro.

Naruto não queria ficar perto de Sasuke, e Sasuke não queria nem mesmo respirar o mesmo ar que Naruto. Por isso Sakura decidiu ficar entre os dois e assim evitar conflitos.

Com os três posicionados, o Hatake iniciou:

– Vamos começar com as apresentações.

Notas:

* “Deus irreverente”, o modo como Sakura chama Yukiteru, é uma referência ao modo como Kanade chama outro Deus no anime Ore no Nounai Sentakushi ga, Gakuen Love Comedy, ou abreviadamente Noucome.