Sentada na beirada da cama que ocupou durante toda a adolescência, Alix observava o seu eu mais jovem ali adormecido, tão tranquilo, tão sereno, um sono que a muito não tinha, sem nenhum conhecimento do que a esperava, ela ajeita o cabelo da menor e ao fazer isso, ela repassou em sua cabeça uma série de memórias daquela época.

Às vezes em que ela e Nathaniel brincaram ali;

Que trocaram confidencias;

Seu tempo de escola;

Suas festas de pijama;

Seu aniversario onde ganhou seu relógio;

A corrida onde ela foi feita akumatizada;

Se tornando mais responsável;

Às vezes em que ela ajudou os heróis a derrotar um akuma;

O tempo que recebeu seu miraculous..

Seu primeiro encontro com Luka e ... tudo que veio depois,
Através de todas essas lembranças felizes, está em particular veio causar-lhe uma sombra em sua mente.

Ela havia vivido solitária por tanto tempo, sem realmente viver, ao que ela quase se esqueceu desse período inocente de sua vida.
Período em que seu eu mais novo, ainda estava perfeitamente imersa em sua inocência e pequenas coisas do dia a dia, a adolescente a sua frente nunca havia sofrido mais do que:

Uma queda com patins

Um osso quebrado

Uma derrota para Kim

Uma nota ruim

Uma desilusão amorosa

Ela ainda não tinha experimentado sua primeira dor de cabeça, as falhas catastróficas da viagem no tempo, às noites de pesadelos, o silencio opressor e muito menos a série de emoções negativas que oprimiam infinitamente um viajante do tempo.

Ela tinha sorte pela inocência em que vivia ainda, ela passa a mão na cabeça do seu eu mais jovem e diz com os olhos cheios de lagrimas:

"Eu sinto muito."

Ela se sentia uma idosa, não que ela parecesse muito mais velha do que seu eu mais novo ela estava no auge de seus vinte e três anos físicos, apenas ... o que quer que seu corpo dissesse, ela estava se sentindo velha, não fisicamente mas mentalmente exausta, ela se sentia com centenas de anos e isso inevitavelmente refletia em sua vida.

Ela diz num tom triste e de arrependimento:

“Me desculpe!” – sua versão mais jovem pergunta ainda sonolenta:

"Desculpa-la pelo quê?" - seu eu mais velho responde num tom melancólico:

“Ter desperdiçado nossa vida... eu ... se eu não tivesse aceitado o miraculos do coelho, tudo o que aconteceu conosco nunca teria acontecido, eu não teria vivido este tempo, e eu sei bem que tive que fazer, não há muita escolha que o bem-estar do mundo dependia do meu consentimento, mas ... mesmo assim eu me culpo, sabe ... principalmente quando vejo você hoje, cheio de vida e potencial, um mundo de possibilidades a sua frente, infelizmente não posso deixar de imaginar o que teria mudado, o que teríamos feito, se eu tivesse me recusado a pegar meu relógio, onde estaríamos hoje... ”

A versão mais jovem de si a encarava com olhos do tamanho de duas orbes azuis gigantes diante dessa afirmação, ela simplesmente não sabia o que dizer.

Desculpa-la? Mas pelo que? Como ela poderia dizer uma coisa dessas se ela nem sabia do que a garota a sua frente estava falando? Se, como ela alegou, ela realmente arruinou a vida delas, então seria errado aceitar o miraulous? Essa foi à coisa certa a fazer? Porque ela veio até aqui? Era inevitável? .

Ela olha para o seu eu mais velho, seu semblante era cansado, como se não dormia a dias e parecia que ela já sabia disso, já sabia a resposta, mas isso não a confortava, de jeito nenhum, essa conversa só a confundiu e a deixou curiosa.
Então tudo que ela conseguiu fazer foi expressar seus pensamentos que estavam totalmente confusos:

“Eu ... eu não sei o que dizer sobre isso... O futuro é tão ruim assim? ” e ela lhe disse num tom suave:

“Na verdade não ... temos amigos maravilhosos os quais podemos contar sempre pra qualquer coisa ... uma família linda e amorosa, um namorado adorável ... não sei o que seria de nós sem ele... mas toda a minha existência em si é complicada... Ter que proteger o tempo-espaço ... é uma tarefa mentalmente exaustiva. Eu ... eu continuo vendo as pessoas que amo morrendo.“ - apesar de todo o esforço visível que ela fez para terminar a frase, as lágrimas vieram-lhe aos olhos e os soluços começaram a apertar sua garganta – “Vejo Paris destruída de varias formas diferentes, e principalmente durante o pior fim do mundo. Eu ... eu vejo coisas que não posso mudar. É tão injusto, sabe? Porque ser a ultima chance se não vou poder fazer nada para impedir... ” - então, quando a última palavra foi dita, ela começou a chorar compulsivamente.

Sua versão mais jovem não sabia o que fazer ao certo, era estranho se ver chorando por algo que ela nem sabia ao certo, então deu uns tapinhas desajeitado no ombro dela em um gesto desesperado de consolo, mas isso não mudou o choro compulsivo do seu eu mais velho o que há apavorou um pouco, ainda sem saber o que dizer, ela só podia esperar que o outro se acalmasse e aproveitar para se acalmar também, essa conversa lhe arrepiou até os ossos.

Ela esperava há meses o dia em que receberia seu miraculous, ansiava por isso, treinou cada musculo, cada célula do seu corpo pra isso, e tão repentinamente saber que seria apenas uma fonte de infelicidade para ela foi opressor.

Depois de se acalmar o suficiente para poder fazer frases compreensíveis, o seu eu mais velho retomou a conversa dizendo algo inesperado:

“Na próxima semana ... mais precisamente na quinta-feira, às vinte e três horas e cinquenta e oito minutos ... Ladybug virá e lhe pedira auxilio e lhe dará o seu miraculous.” – mesmo vendo o olhar atordoado que seu mais novo estava dando lhe dando, ela continuou:

"Deixo-lhe a escolha. Você tem livre arbítrio para quando chegar a hora, você pode aceitar nosso miraculous ou recusá-lo. A decisão é sua. Não vou culpa-la se quiser mudar os rumos. " – e essa declaração perturbou ainda mais seu eu mais jovem, seu eu mais velho deveria ter percebido esse dilema interno, considerando tudo o que foi dito durante a explanação dela sobre o futuro incerto, seu eu mais novo ainda não havia considerado a questão até esse momento, na verdade, essa conversa parecia toda surreal para ela, se sentia como se estivesse sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo.

Ela tinha imaginado o momento em que Ladybug lhe confiaria seu relógio, ela vivenciou em sua mente isso milhões de vezes, de formas diferentes, isto desde seu primeiro encontro com seu eu mais velho do futuro, não passava um dia sem que ela pensasse a respeito disso, na verdade ansiava por isto, mas agora já não tinha certeza.

Não tinha certeza de que decisão tomaria quando chegasse a hora certa, as palavras da versão mais velha só a confundira, quebrou suas crenças, e ela não tinha ideia do que faria.

Pegar o relógio para proteger o tempo- espaço e resumir sua existência em uma vida de infortúnios, ou recusar deliberadamente suas responsabilidades e correr o risco de que o mundo passe pelas piores catástrofes, sem um guardião para protegê-lo?

Ela pergunta com certa cautela: “Quantos anos estamos?

Seu eu mais velho responde: “Vinte e três!”

Vendo a expressão no rosto de seu mais jovem ela diz:

“Você não precisa me dar sua resposta, isto é entre você e somente você. Você ainda tem alguns dias para pensar, achei que deveria avisar para que você saiba o que estará fazendo e quanto vai ser duro quando chegar a hora.”

Então ela se levantou da cama em um gesto rápido pega o objeto de toda a sua explanação, determinada a se transformar para voltar ao seu tempo. Mas antes que ela pudesse se vestir com sua roupa de super-heroína, seu eu mais jovem agarrou seu braço para segurá-la e perguntou num tom de medo:

"Ei...ei espera! No meu lugar ... o que ... o que você faria? "

Seu eu mais velho pareceu refletir por um momento antes de suspirar e confessar:

“Eu sou você Mini-me. Então, eu também não tenho ideia do que farei. Eu mesmo estou apavorado com o resultado desta conversa, e o que ela pode mudar e com o dilema que virá depois disso. Você tem nosso destino em suas mãos, mini-eu, faça a escolha sabia, ouça seu coração. ” – e com isso ela se transformou, abriu sua toca e pulou nela deixando a jovem à beira de uma crise existencial.

Nos dias subsequentes, Alix não conseguiu fazer nada direito, estudar, comer ou dormir era coisas sem importancia diante do dilema interno que ela estava sofrendo, seus amigos perceberam que ela mudou, mas ela não poderia falar com eles, como ela mesma disse isso era entre ela e somente ela, os dias passaram rapidamente e ela realmente não sabia qual decisão iria tomar, aquela conversa tinha sido intensa, seu eu mais velho quis lhe alertar de algo, mas o que?

O grande dia chegou e Ladybug apareceu e lhe estendeu seu miraculou, ela excitou por um momento, Ladybug aguardou, pois sabia que aquela decisão exigiria que ela abdicasse da sua vida para se responsabilizar por outras.

E ela se lembrou do que seu eu mais velho lhe disse: “Temos amigos os quais podemos contar ... uma família linda e amorosa, um namorado adorável ... não sei o que seria de nós sem ele...”

Se ela tinha alguém em quem confiar então por isso valeria a pena lutar, determinada ela aceita a sua missão, ela pega seu miraculous e ela sabe que por mais dura que fosse sua existência ela iria ter alguém com quem poderia contar, disso ela tinha certeza. E quando ela se transformou pela primeira vez ela teve certeza de ter feito a escolha certa.