Minha amada stalker

Tenho uma crise de ansiedade e desespero pré-festança de rico


Eu cheguei na escola cedo, por algum tipo de milagre ou coisa parecida. Sabendo que não teria o que fazer até a chegada de algum dos meus amigos eu resolvi ir para a biblioteca dar uma revisada no dever que eu estava com dificuldade ontem e Adrien me ensinou. Depois de uns cinco minutos eu percebi a entrada de outras pessoas: Juleka, que foi para o fundo do lugar com seu celular mandando mensagens para alguém, Max que foi direto para as prateleiras desesperadamente a procura de algum livro, e Nino que vinha distraído com os fones de ouvido em minha direção.

— E aí Mari? – Ele cumprimentou retirando o fone das orelhas – Que bizarro você chegando cedo. – Ele brincou.

— Engraçado, eu também achei. – Confessei. – Ah é, eu queria te perguntar uma coisa Nino. – Eu disse fechando o meu caderno.

— Pode falar.

— Você por acaso conhece os parentes do Adrien? – Eu questionei, essa ideia sobre a família Agreste não saía da minha mente.

— An? Claro, conheço o pai, a mãe, o Félix, mas que raio de pergunta é essa? Você também conhece eles. – Nino respondeu um tanto confuso.

— Não é deles que eu estou falando, eu conheço eles mesmo, eu quero dizer outras pessoas da família dele. Gente que eu não conheço sabe? – Expliquei melhor. – Já que você é o melhor amigo dele e o conhece a mais tempo eu imaginei que conhecesse.

— Ata, sim eu conheço alguns, mas meio que só de vista. Vi uns tios e primos dele uma vez que fui na casa dele já faz um tempo, mas a gente meio que só se cumprimentou mesmo porque o pessoal já estava de saída na hora. – O moreno me contou. – Mas por que você quer saber disso?

— É mais por curiosidade mesmo, eu e Adrien estávamos conversando sobre parentes ontem e eu fiquei me perguntando o que a família dele ia achar de mim. – Eu disse pensativa.

— Eu achei eles simpáticos. – Contou. – Mas talvez só tenham me cumprimentado por educação? Hum, não dá pra se saber sobre uma pessoa só dela te cumprimentar. Acho que essas coisas você devia perguntar para o próprio Adrien.

— É, mas como eu sou namorada dele ele vai certamente dizer que eles vão gostar de mim, e como eles são parentes dele ele certamente dirá que eles são legais. – Eu expliquei o meu raciocínio. – Pelo menos é o que eu imagino.

— Não dá pra saber se não perguntar. Mas acho que você nem devia ficar esquentando a cabeça com isso, quando eu apresentei a Alya para a minha família eles adoraram ela de verdade, e foi a mesma coisa quando ela me apresentou para a família dela. Não acho que vai ser diferente com você.- Nino me confortou sobre o assunto.

— É, talvez você esteja com a razão. – Assim que eu disse isso o sinal começou a tocar indicando que deveríamos nos dirigir para a sala de aula. – E lá vamos nós para a batalha...

Nós subimos para a sala, chegando lá encontramos com Alya que disse que não tinha conseguido nos achar, explicamos para ela que estávamos na biblioteca e conversamos mais um pouco até a professora chegar. Adrien estava atrasado e eu me perguntava o porquê disso. Ele chegou uns dez minutos depois do sinal bater, pediu desculpas pelo atraso para a professora e se sentou no seu devido lugar dizendo baixinho que nos explicaria o atraso durante o recreio.

*

— E então?

— Uh? – Adrien se virou na minha direção quando eu falei. – Foi comigo?

— Dã, com quem mais seria ô Loirice Delicada? – Alya respondeu por mim. – Acordou atrasado ou o que? Você disse que explicaria o motivo de chegar tarde para nós no recreio e o sinal acabou de tocar então já é recreio.

— É verdade, mals aí eu meio que ainda estou dormindo, só que de olhos abertos. – Adrien disse e olhando bem ele estava mesmo com cara de noite mal dormida. – Eu quase não consegui dormir ontem à noite...

Então ele explicou que com os parentes hospedados na sua casa as coisas tinham ficado bem agitadas, seus tios tinham três filhos: uma garota de 19 anos, um menininho de 7 anos e um bebê de uns poucos meses. A sua prima passara a noite toda no telefone conversando com o namorado, o garotinho ficou pulando na cama, gritando e rindo muito alto e o pequeno neném chorou o tempo todo por que estava com dor de barriga ou algo do tipo.

- Enfim, eu amo eles, mas podiam ser um pouco mais silenciosos... Tantos quartos de hospedes e meus pais os colocam logo nos mais próximos do meu quarto... – O de olhos verdes choramingou. – Eu só consegui dormir umas quatro horas da manhã! E em resumo é por isso que eu acordei tarde hoje.

— Caramba, a sua casa deve estar uma bagunça cara. – Alya disse balançando a cabeça como quem sabe do que está falando. – Você tem sorte de ter empregados, quando minhas irmãs espalham os brinquedos ou quebram alguma coisa quem tem que resolver tudo sou eu, geralmente.

— Ah é, ainda tem esses malditos brinquedos! Hoje de manhã eu tropecei em um carrinho e quase, quase caí da escada. – Adrien resmungou novamente.

— Caramba, que difícil, eu sei como é ter que aturar crianças pequenas... – Eu falei me lembrando da pequena Manon, a menininha de quem eu cuidava ás vezes quando estava fazendo uns trampos de babá. – Eu acho cansativo ficar com elas por uma tarde, imagina as coitadas das mães que tem que cuidar delas 24 horas por dia?

— Não é? – Adrien disse. – Cara, será que eu era tão difícil de aturar quando era menor?

— Sinceramente? Você tem cara de quem era uma peste. – Alya disse.

— Verdade, deve ter dado trabalho pra cacete pra sua família. – Nino concordou rindo. – Eu que não queria ser teu pai! Imagina que dó, cria um moleque a vida toda pra crescer e ser assim que nem você é.

— Ah, muito obrigada Senhor-Tiro-Nota-Ruim-Em-Artes, seus pais devem se orgulhar tanto de você! – Adrien sorriu de canto sarcasticamente. Eu e Alya nos entreolhamos e começamos a rir lembrando do devido fato.

— AAAH! Calem as bocas, isso aconteceu no fundamental! Nunca vão esquecer? E eu nunca devia ter te contado seu loiro de farmácia aspirante Gisele Bündchen! – Nino falou só fazendo nós rirmos mais ainda, no fim até ele riu.

Todo esse falatório sobre ser pai de quem e não sei mais o que acabou me lembrando duma coisa, ou melhor, de alguém.

- Ah, e como é que o seu irmão está? Digo, em relação a toda essa coisa de um monte de criança na sua casa, eu imagino que ele não goste muito. – Eu perguntei a Adrien assim que paramos de rir.

— Ah, você sabe que eu nem ando vendo ele muito esses dias? Só fica o tempo todo saindo com a Bridg, não que isso seja um problema pra mim, a casa anda cheio o suficiente... – Adrien comentou dando de ombros.

— Entendi. – Eu falei. – Acho que agora ele vai sair mais ainda, já que a casa tá tão cheia, ele não deve ter paciência pra esse tipo de coisa.

— Pois é. – Adrien revirou os olhos. – Mas, mudando completamente de assunto, me diga o que foi que você trouxe da padaria hoje hein meu amor?

Com essa frase Nino e Alya também se viraram na minha direção na hora como se fossem cachorros esfomeados que sentem cheiro de comida. Eu não pude deixar de rir do seu desespero.

— Eu já disse que assim vocês vão acabar falindo os meus pais? – Eu perguntei.

— Já. Cadê o rango?- Alya falou quase pulando nas minhas mãos quando eu peguei uma sacola de papel.

- Se acalmem criaturas. – Eu falei. – Olha, eu quero que vocês sejam sinceros quanto ao que vão provar agora! Fui eu que fiz e quero saber o que vocês acham de verdade! – Entreguei para eles a sacola.

— Ah? Uma Tupperware? Foi você que fez por acaso? Tá muito bonita! – Nino falou brincando.

— Está DENTRO da Tupperware engraçadinho. – Eu fiz uma careta.

Eles abriram o pote e encararam o conteúdo como se estivessem vendo algo de outro planeta, eu não conseguia saber se isso era bom ou ruim.

— BOLO!- Eles gritaram em uníssono e partiram para cima do doce.

— É um bolo de chocolate, com um recheio de morangos, ganache de chocolate e- Ok, eu acho que vocês só querem comer mesmo. – Eu sorri ao ver eles devorarem o bolo com tanta vontade, peguei um pedaço para mim também.

— Ai meu Deus, isso tá muito bom! – O loiro disse emocionado. – Mari meu amor se case comigo logo senão eu vou me casar com esse bolo! – Ele fingiu secar uma lágrima.

- Olha que eu fico com ciúmes de verdade!

— É, você não pode se casar com o bolo! Eu vou me casar com o bolo! Eu amo ele mais! Ele é perfeito para mim! – Alya falou de forma competitiva.

— De jeito nenhum! – Nino protestou. – O bolo é meu! Ele me ama muito mais!

E então meus amigos, totalmente normais, começaram uma verdadeira guerra para descobrir quem seria o parceiro mais apropriado para o bolo. Depois de argumentar muito, perguntar a opinião de alguns amigos e brigar bastante eles concluíram que deveriam pedir a mão do bolo em casamento para a mãe dele, no caso eu.

— Ahhh, eu adoraria entrar no meio da sua discussão bizarra e tals, mas tem uma coisinha que vocês ainda não notaram: vocês estão pedindo a mão de que bolo em casamento?

Assim que eles encararam o pote para mostrar que se referiam ao bolo nele notaram que já não tinha mais nada lá, eles já tinham comido tudo. Um suspiro coletivo foi executado.

— Pronto, o problemão de vocês está resolvido. – Eu disse calmamente. – De nada.

— Estraga prazeres... – A morena reclamou ajeitando os óculos.

— Olha que eu não trago mais coisa nenhuma pra vocês comerem!

— Ok, já parei. – Alya levantou as mãos como quem diz que se rende e nesse momento o sinal tocou.

— Beleza cambada, bora lá estudar! Virar gente, arranjar um futuro na vida. – Eu disse já saindo em direção a tão indesejada aula.

*

“Ei você não me contou se ia vir ou não?” Durante a aula Adrien me passou um bilhetinho, eu fiquei o encarando sem entender por um tempo e logo o escrevi uma resposta questionando sobre o que raios ele estava falando.

“Mas como assim você não sabe do que eu estou falando? A Bridg não te avisou?” foi a resposta dele.

“Não, o que é? Aconteceu alguma coisa?” eu rabisquei rapidamente atrás do papel e entreguei para ele, mas antes que ele pudesse me dar alguma resposta a professora se virou na nossa direção nos encarando diretamente de forma séria, sem ela ter que dizer nada nós já entendemos que o melhor seria conversar depois.

Durante a Educação Física eu resolvi questionar Adrien sobre o assunto que ele estava tentando me contar na sala.

— Bom, sabe quando os meus pais me chamaram ontem para ver os meus parentes meus tios me contaram que vão estar organizando um evento, um tipo de comemoração chique pela colaboração entre a empresa do meu tio com a marca de roupas do meu pai. Uma festa social cheia de atores, modelos, empresários E gente da minha família! Não é maravilhoso uma oportunidade assim tão rápida de você poder conseguir conhecer eles? Eu pedi a Bridg para avisar você e os seus pais, mas ela anda tão avoada esses dias que deve ter esquecido mesmo... – Adrien foi explicando e a cada palavra eu sentia uma coisa crescer dentro de mim, uma mistura de ansiedade e pavor.

— Espera, espera, espera, espera! – Eu disse sacudindo as mãos freneticamente. – Você quer dizer que está me chamando para outro baile de gala chique assim do nada? Que eu vou ficar no mesmo ambiente que um bando de famoso e gente ricaça e ainda por cima vou conhecer a sua família assim do nada? Você está fazendo uma piada não é, diga que é isso...

— Eu tô falando sério! Vai ser perfeito! – Ele sorriu empolgado.

— NÃO! NÃO VAI SER NADA PERFEITO! –Eu acabei gritando sem nem perceber, todos na sala me olharam como se eu fosse uma extraterrestre e eu fiquei morrendo de vergonha, logo abaixei o tom de voz o máximo que pude e tentei falar com mais delicadeza ao notar que o sorriso de Adrien tinha sumido totalmente. – O-o q-que eu estou querendo dizer é que eu acho que não estou nem um pouco pronta pra isso... Eu não vou saber o que fazer em um lugar assim!

— Mas você já esteve em um lugar assim antes! Lembra da festa na minha casa? - Adrien falou e se aproximou do meu ouvido. – Eu posso te garantir que foi maravilhoso estar com você daquela vez... Por que eu adoro jogar videogame!

— Eu sei muito bem que não está se referindo a isso senhor Adrien Agreste, mas vou fingir que sim. – Eu ri de canto como ele por um momento curto, mas logo voltei ao nervosismo anterior. – Mas não vai ser a mesma coisa daquele dia! Eu não era sua namorada naquela época e não ia ser apresentada assim para os seus parentes me avaliarem!

— Você está nervosa por causa disso? – Ele perguntou abismado. – Ah, Mari não tem motivo nenhum para você ficar assim! Meus parentes não vão estar lá pra te avaliar como se fosse apropriada ou não! Eles vão só te conhecer, e eles são legais, não vai dar nada de errado!

— E-eu não s-sei... – Eu gaguejei sem saber o que pensar nem o que falar.

— Nós voltamos mesmo para o estagio em que você só gagueja quando conversa comigo? Não que eu vá reclamar já que você fica fofa demais assim. – Ele brincou tentando melhorar o meu humor. – Olha, eu te garanto que não importa o que for, eu vou estar lá com você ok? A sua irmã se dá super bem nesse tipo de situação, vai ver é só você pedir uns conselhos pra ela também!

— É... Talvez você esteja certo. – Eu concluí. Me lembrei de como fiquei impressionada ao ver toda a postura e classe da minha irmã na festa para homenagear o inicio oficial do namoro dela com Félix, ela estava maravilhosa e parecia uma verdadeira dama, quase como se já fosse a Senhora Bridgitte Agreste. Nesse quesito eu não poderia ter uma melhor professora de etiqueta que ela. – Eu vou pedir ajuda da minha irmã!

— E?

— E vou contar com a sua presença lá para me ajudar, claro.

— Assim está ótimo, obrigado.

Assim que terminamos nossa conversa eu fiquei me sentindo um pouco melhor. A professora Olivier demorou mais do que o costume para chegar na nossa classe e eu só reparei isso na hora que ela atrapalhadamente derrubou vários livros ao entrar na sala.

— Ah... Que... coisa. – Ela pareceu se autocensurar. – Alguma boa alma pode vir me ajudar, por favor? – Ela pediu agachando para pegar os livros, Adrien foi ao seu encontro e fez uma piada sobre a situação a ajudando, por algum motivo a professora não deu uma risada escandalosa como de costume, ela riu baixo, quase que com desanimo. – Obrigada Adrien, pode distribuir os livros para mim? – Ela pediu se sentando na sua mesa. – Espero que não se importem em fazer leitura individual hoje, eu tenho que resolver um... Assunto. Vocês se incomodam de eu fazer uma ligação? Obrigada. – Ela saiu da sala assim que nós concordamos com ela. Pude ouvir uns ruídos atrás da porta, mas para mim eram indecifráveis já que além de baixos eram em português.

— Gente do céu o que é que está acontecendo com essa mulher? – Alya perguntou bem alto para que todos escutassem.

— Será que ela teve outra briga como namorado? Eu espero que não, eles são tão fofinhos juntos. – Rose comentou.

— Não parece ter sido isso. – Juleka acrescentou baixo. – Ela não estava nervosa, parecia mais... Cansada?

— Ah cara, tomara que não seja nada sério! Imagina se, sei lá, ela estiver com uma doença ou coisa assim? Eu não quero que a Alice saia da escola! Ela é tipo a melhor professora! – Kim comentou em tom de desespero.

— Aí que horror Kim, vira essa boca pra lá! – Eu falei.

— Por que a gente não só espera ela chegar e pergunta de uma vez? Vocês gostam de complicar as coisas! – Nath falou algo pela primeira vez hoje.

— Complicar as coisas é o dever de todo adolescente. – Alya disse empinando o nariz. – E eu acredito que se perguntarmos ela vai só mudar de assunto. – Acrescentou. – Ahh, Adrien o que raios você está fazendo?

Eu me virei na direção que os outros encaravam. Adrien parecia estar tentando escutar atrás da porta.

— Xiu! Eu quero entender o que ela diz! É difícil com vocês fazendo tanto barulho, o francês e o português embolam na minha cabeça... – assim que ele disse isso todos se calaram e passaram a prestar atenção nele. – Pelo que eu estou escutando parece ter alguma coisa a ver com o Brasil... A família dela... Ajuda... Casamento?

— Olha só meus amadinhos se vocês queriam saber era só perguntar, ok? - A professora abriu a porta revirando os olhos. – Vocês não são os mais discretos quando querem falar da vida do outro. – Ela olhos feio para Adrien estava ali em pé e ele deu um sorriso amarelo e voltou para o seu lugar. – Vão ler os livros tá bem? – Ela resmungou deitando a cabeça sobre a mesa.

... A sala ficou em silencio por um momento até que Alix se dispôs a falar por todos nós.

— Você não vai contar o que está acontecendo?

— Não.

— Você está bem? – Nino perguntou agora.

— Sim.

— Tem certeza? – Agora foi a vez de Ivan.

— NÃO EU ESTOU HORRÍVEL DE CANSADA! – Ela desabafou. – Me socorram, eu não aguento mais viveeeeer... Disse dramaticamente.

- Wow, calma! Conte o que aconteceu. – Adrien pediu.

— Eu estou ajudando a cuidar do casamento da minha irmã... Meus pais pediram para fazer a cerimônia no Brasil, por que a maioria dos nossos parentes mora lá. Nossa, vocês tem ideia de como é difícil organizar essas coisas? Ainda mais sendo em outro país... Ter que mexer com aluguel de um salão de festas, decoração, contratar um DJ para a festa, reservar igreja e um monte de outras coisas... Eu não vou querer me casar tão cedo depois disso tudo! – Ela nos contou.

— Cara, é só isso? – Nino perguntou.

— Como só isso? Eu tô morrendo de cansaço aqui meu filho... – A professora resmungou ajeitando os óculos.

— Quer dizer, não é grande coisa comparando com o que imaginamos aqui... Durante nosso debate teve até quem sugerisse que você estava doente e que ia sair da escola. – Max disse encarando diretamente o amigo Kim que deu de ombros. – Francamente isso não é algo que desejaríamos ver.

— Ok, adolescentes tem uma imaginação fértil, no mínimo. – Alice conseguiu sorrir de leve. – Mas não está de tudo errado, eu vou mesmo ter que sair da escola por um curto período de tempo.

— O QUE? – A turma toda, sem exceção de um aluno sequer, gritou desesperado.

— Nossa calma gente, é só o tempo de eu fazer uma viagem para o Brasil, terminar de organizar as coisas do casamento, ver o casamento, participar da festa, e alguns dias depois viajar de volta para cá. – Ela explicou apoiando-se sobre a mão para deitar na mesa novamente. – Vai ser bem cansativo, talvez algo em torno de duas ou três semanas? Não sei ao certo, eu estou cansada até para pensar. Mas está tudo bem, vou deixar todo o conteúdo para a professora substituta passar para vocês. Não tem com o que se preocupar. Eu vou partir em viagem amanhã então essa vai ser a minha ultima aula aqui durante um tempo está bem? Eu quero voltar e ver a turma organizadinha do jeito que eu sempre deixo, sem bagunça ok? – Ela disse a ultima parte bem ironicamente.

Nós nos levantamos e fomos direto para ela, a abraçamos e começamos a falar que íamos sentir saudades, que queríamos ver fotos da viagem, e alguém pediu para ela trazer um coco da Bahia. Nada mais do que uma breve despedida normal de alunos com a sua professora querida. (N/A R. dos Fantasmas: Quase tão tocante quanto o relacionamento da professora Helena com a turma do Carrossel :v Ok, parei, deixa eu sair e ir tomar meus remédios~).

*

— Bridg minha irmã favorita. – Eu cantarolei assim que cheguei em casa e a vi lá na sala.

— Primeiro: Eu sou sua única irmã. Segundo: O que você quer? Só me chama assim pra pedir favor. – Minha amadíssima irmã resmungou se revirando no sofá para se sentar.

— Olha só que esperta. Direto ao assunto? – Eu me sentei ao lado dela. – Eu quero que você me ensine a ser tão elegante quanto você é em uma festa da família Agreste! – Eu disse segurando as mãos dela como se eu estivesse fazendo uma suplica.

— Ah é mesmo! A festa! Adrien me pediu para avisar! Eu esqueci totalmente, desculpa. – Ela falou espantada por não ter lembrado, Adrien tinha razão ao dizer que ela estava avoada.

— Bridg você está legal? Você parece meio perdida em pensamentos ou alguma coisa assim, sua cabeça está nas nuvens. – Eu falei preocupada.

— Não é nada demais... É só o Félix, toda vez que eu estou perto dele eu sinto como se ele fosse notar alguma coisa, penso que ele pode descobrir a qualquer momento! – Ela me explicou fadigada, talvez eu não fosse a única com problemas em relação ao namorado afinal...

— Sobre isso... Você não acha melhor contar de uma vez? Talvez você possa se sentir melhor sobre tudo isso se resolver o problema pela raiz. – Eu coloquei a mão no ombro dela. – Sei que sou a pior pessoa pra te dizer isso, parece até hipocrisia. Mas eu penso que talvez seja bem melhor para vocês TRÊS.

— E-eu... – Ela não conseguiu responder, eu acho que a peguei desprevenida com isso e consegui fazer ela pensar de verdade no assunto que tanto queria evitar. – Eu vou pensar... Mas não vamos adiantar as coisas! Deixamos isso para depois está bem?

— Até quando você pretende deixar isso para depois mulher? Você não vai ficar assim magrinha para sempre! – Eu falei fazendo cara séria, acho que já disse isso uma vez mas em certos momentos eu consigo ser bem mais “irmã mais velha” do que a Bridg.*

— Vamos parar de falar da minha vida para falar da sua! – Ela mudou o assunto. – Se eu não me engano você precisa de ajuda não é? Chegou aqui falando alguma coisa sobre eu te dar um help com... Elegância? – Ela perguntou meio confusa com meu pedido anterior.

— É... – Eu só consegui confirmar começando a ficar envergonhada com meu pedido estranho. – Eu queria aprender a ser como você, agir como você e falar como você! Quer dizer, não o tempo todo, geralmente você é uma pateta, mas quando quer você consegue ser mesmo incrível! Como quando estávamos na festa oficializando o inicio do seu namoro, você estava tão chique! Era como se já soubesse como agir perto de toda aquela gente rica, eu no seu lugar seria um fracasso total! Por favor, me ensine a ser como você! – Ao terminar eu já estava sem fôlego de tanto falar.

— Ah, Marinette. Você não tem que ser como eu. – Minha irmã pegou nos meus ombros me encarando diretamente. – Você tem que ser somente você.

— ...

— ...

— Caramba você pareceu um daqueles programas de televisão de autoajuda que ninguém quer ver... – Eu falei depois de um tempo que nós ficamos nos encarando.

— Aí nossa eu só tentei ser uma boa irmã mais velha, ok? Eu sei muito bem que você me acha uma pateta, só me deixe te falar alguma coisa assim e ser levada a serio uma vez na vida! – Ela me deu um tapa na testa e resmungou.

— Me desculpe se eu não consigo te levar a sério quando você fala como uma personagem de filme clichê sobre dar a volta por cima ou sei lá o que! – Falei sarcasticamente.

— Você não pode só entender de uma vez que personalidade não é uma coisa que se aprende? – Ela falou.

— Como assim?

— Quando eu estou em um lugar como aquele eu simplesmente tento ser como eu seria em qualquer outra festa. Conversar, ser simpática, cumprimentar, ser gentil, isso tudo é claro com quem mereça esse tratamento. Tento olhar todos como pessoas, e não como ricaços, e espero que eles me encarem da mesma forma. Você me entendeu? – Minha irmã explicou de uma forma que estranhamente fazia sentido demais. – Afinal Félix não gosta de mim por ser elegante como todas as outras garotinhas no mundo das celebridades, ele gosta mesmo de eu ser diferente delas. Imagino que o mesmo sirva bem para você. Eu não espero que você aprenda isso logo de cara, é algo que se nota com um pouco mais de tempo, eu sei o que digo e quando você perceber que eu estou certa não se esqueça de agradecer.