- Certo... Acho que eu quero ouvir isso. – Disse Apolo franzindo o cenho um tanto confuso. Ele fechou a porta atrás de si, e deu um passo na minha direção – O que... Você disse mesmo, Alice?

Parecia que ele não estava acreditando no que eu tinha dito, mas eu ignorei isso e continuei.

- Eu traí você. – Repeti, mas Apolo riu e revirou os olhos – É sério. Eu estou falando a verdade.

- Como assim? – Perguntou ele ainda rindo, mas ao ver que eu estava séria e tensa, ele parou – É... Sério mesmo?

Eu assenti e ele assentiu também. Apolo respirou fundo para tentar se acalmar, e eu fechei os olhos esperando alguma explosão. De qualquer jeito, resolvi continuar.

- Acho melhor falar a verdade para você, porque... – Fui interrompida.

- Foi com o Scott, não foi?! – Exclamou ele com ciúmes e inseguro – Vocês se beijaram de novo, não é?! Eu sempre soube que aquele garoto estava tentando roubar você de mim! Eu vou...!

- Não! – Exclamei – Apolo...!

- Não tenta proteger ele! Você sabe muito bem que...! – Eu o interrompi.

- Não foi o Scott! – Exclamei de repente. Apolo soltou um suspiro.

- Ufa... Ainda bem. Tsc. Eu sabia que não era ele. – Disse um tanto aliviado, mas então olhou para mim com o cenho franzido – Mas... Por que, Alice? Foi alguma coisa que eu fiz? Alguma coisa que eu não fiz? Por que você saiu com outro?

- Por que... – Me detive para responder, mas parte de mim deixou a resposta sair como um raio da minha boca – Por que eu bebi demais em um bar e perdi todo o controle.

Apolo franziu o cenho novamente.

- O que? – Perguntou ele incrédulo –Você não fez isso.

- Fiz. Sinto muito... Mas eu fiz. – Confirmei com a cabeça.

- Espera... Mas quem foi o idiota? O cara com quem você ficou? – Ele estava tentando se controlar, mas podia ver que estava morrendo de raiva.

- Ahm... – Fiquei muda por um tempo. Foi só aí que eu lembrei da presença de Ares na sala. Olhei para trás rapidamente e depois novamente para o Apolo, mas não era para isso ser uma resposta. Entretanto, Apolo entendeu o recado.

- Não. – Negou ele com a cabeça. Apolo riu de raiva – Nunca que a Alice ficaria com um cretino como você.

- Está chamando quem de cretino?! – Perguntou Ares com raiva e avançando, mas eu o empurrei para trás.

- Para! – Falei para ele.

- Na verdade... Tinha que ser você. – Disse ele ainda com raiva – Por que você é o único cara que precisa arrastar alguém para beber até não agüentar mais só para ficar com você. Eu duvido que ela faria isso se estivesse sóbria. Isso é patético, sabe?

- Patético é ver você se achando o tempo todo, para depois ficar inventando desculpas para não se sentir mal por sua namorada ter te dado um chute. – Rebateu Ares.

- Ela não me deu um chute, seu idiota! – Exclamou Apolo com raiva – E mais patético ainda é existir a grande possibilidade de você ter se aproveitado dela á força!

- Sinto te dizer, mas eu não fiz nada que ela não queria. – Sorriu Ares maldoso – Acho que você não é o cara certo para os padrões dela no fim das contas.

- Tsc. E o que vocês fizeram?! Se beijaram?! Grande coisa! Nós dois já fomos mais longe do que isso! – Exclamou Apolo e meu rosto ardeu em vermelho.

- Nós fomos mais longe do que vocês foram. Isso eu posso afirmar. – Rebateu Ares com um sorriso triunfante, mas de repente ele sumiu. Os olhos dele se estreitaram para Apolo, e Apolo para ele.

Os dois entenderam que tinham ido na mesma distância, por assim dizer, e não foi nada bom.

- Vocês... Vocês dois...?! – Apolo riu de extrema raiva.

- Vocês...?! – Ares engoliu o resto da frase.

- Eu mato você! – Berraram os dois juntos e um pulou no pescoço do outro. Eu tive que chegar para o lado, evitando ser acertada por um belo soco. Ares socou Apolo no olho direito no mesmo momento em que Apolo acertou Ares no olho direito.

Os dois começaram a se bater com raiva, e eu arregalei os olhos para a cena.

- Parem com isso. Parem! – Exclamei tentando separá-los, mas eles brigavam com tanta vontade, que dava até medo.

- Nunca mais toque nela! – Exclamou Apolo chutando Ares – Ela é minha!

- Era sua! Agora ela é minha! – Exclamou ele de volta, retribuindo o chute.

- Minha! – Exclamou Apolo com raiva.

- Minha! – Exclamou de volta.

Um agarrou a gola da camisa do outro e saíram girando e se batendo até o corredor do hotel. Que vergonha, pensei antes de sair correndo atrás deles.

De um lado do corredor estava Apolo tomando fôlego, e do outro estava Ares. No meio do corredor, um pouco mais para frente, estavam Hades, Luh e Juh, suas filhas. Elas olharam para Ares e Apolo, e depois se entreolharam.

- Eu cuido do Apolo. – Disse Luh.

- Eu cuido do Ares. – Disse Juh.

- Eu cuido das duas! Parem com isso agora! – Exigiu Hades com raiva. Ares e Apolo olharam para elas, franziram o cenho, mas resolveram ignorar e continuar a briga.

Hades levou as duas para longe da briga, logo depois de dar um leve aceno para mim. Retribui envergonhada e sem saber o que fazer. Quando o corredor estava vazio novamente, eu consegui separá-los.

- Parem! Chega disso! – Exclamei ofegante.

- Você é um miserável! – Exclamou Apolo com raiva para Ares.

- Você é um perdedor! – Rebateu ele.

- Você não ganhou nada! – Disse Apolo – Vocês nem mesmo gostam um do outro, sua idiota! Só teve aquela noite, e acabou!

- Acabou entre vocês dois, ou ainda não notou que está sobrando?! – Retrucou Ares, o que fez Apolo quase avançar novamente.

- Por favor, chega! – Pedi empurrando-o para trás novamente.

- Isso! Escuta ela, perdedor! Está te salvando de uma bela surra! – Provocou Ares. Tive que empurrar Apolo de volta, e Ares também.

- Você também levou uma surra, idiota! – Exclamei para ele.

- Viu?! Idiota. É a prova que ela não gosta de você! – Exclamou Apolo.

- Ela gosta mais de mim, do que de você, lesado! – Protestou ele com raiva – E agora ela é minha!

- Ela nunca vai ser sua! – Exclamou Apolo. Eles estavam bem perto um do outro discutindo, quando os dois apontaram para mim ao mesmo tempo e disseram – Pergunte á ela então!

Só que ao “apontar” eles acertaram a minha testa com uma força enorme. Os dois ao mesmo tempo, o que me fez ser lançada para trás com força. A minha sorte é que tinha uma parede logo do meu lado. Eu me encostei nela e vi tudo na minha frente triplicado.

- Alice! – Exclamaram os dois, e foi a ultima coisa que eu lembro antes de apagar completamente.

Abri meus olhos com uma terrível dor de cabeça, e vi que estava em um quarto diferente. Não era o do hotel. Era bem grande também, mas as paredes eram amarelas e o chão era de carpete branco. Eu me coloquei sentada na cama, e franzi o cenho para frente.

- Bom dia, amor. – Disse alguém do meu lado. Apolo me abraçou e começou a beijar o meu pescoço com vontade – Como vai você, minha linda?

- Apolo? – Perguntei olhando para ele. O Deus do Sol estava dormindo aparentemente do meu lado, e sem camisa. Aquilo me prendeu a atenção durante um tempo, mas então eu lembrei do que tinha feito – Apolo, eu sinto muito. Não queria...

Ele colocou seu dedo indicador sobre meu lábio com delicadeza e sorriu para mim gentil.

- Está tudo bem. Não tem problema mesmo. Eu vou fazer o café da manhã hoje. – Disse ele calmamente. Franzi o cenho sem entender do que ele estava falando, mas assim que eu ia perguntar a porta do quarto se abriu.

- Mamãe! Papai! Olha o haicai que eu fiz! – Exclamou um garotinho de cabelos loiros e olhos castanhos correndo até a nossa cama. Ele pulou encima dela e começou a pular de animação. Devia ter mais ou menos uns 6 anos.

- Mamãe? – Repeti sem entender. Olhei para Apolo sem entender, mas para ela aquilo parecia completamente natural. O garotinho falou o haicai (que era tão ruim quanto qualquer haicai no mundo), e abriu um largo sorriso.

- Muito bom, filho! Está ficando tão bom quanto o papai! – Elogiou ele. Meu queixo caiu – A mamãe também deve ter gostado muito.

- O que?! Apolo, eu não tenho filhos! – Falei sem acreditar, mas ele só riu jovial como se fosse uma piada. Ia protestar, mas um barulho terrível de violino invadiu o quarto. Estremeci de nervoso e tampei os ouvidos – O que...?!

- Papai! Eu não consigo! – Choramingou uma garotinha loira de olhos castanhos. Devia ter uns 8 anos no máximo, um pouco mais velha do que o irmão – Não sou boa!

- Você é ótima, filhinha. Só que você puxou os dons artísticos da mamãe. Mas não é nada que não possa ser melhorado. Lembre-se... Todos podem ser artistas. – Disse Apolo incentivando ela. Não... Aquilo não estava acontecendo.

- Apolo, eu vou te dar um soco. O que é isso?! – Exclamei sem entender.

- Ah, eu esqueci que você não gosta quando os nossos filhos fazem muito barulho logo de manhã. – Comentou ele, e meus olhos se arregalaram.

- Que?! Não tem essa história de “nossos filhos”! Eu não tenho filhos! – Exclamei incrédula, mas eles todos riram.

- Acho que a mamãe está passando por um dia difícil. Que tal vocês cantarem um pouco para ela? – Sugeriu ele com um sorriso. Eles começaram a cantar “Have you ever seen the rain”, e eu senti minha cabeça doer ainda mais. Que loucura era aquela?!

Levantei da cama ignorando todos eles e a bati com força. Imediatamente a música parou. Pude notar que estava no corredor da minha casa. Bem... A casa que eu dividia com o Ares.

Abri a porta do quarto novamente só para conferir, mas o quarto não era nem o mesmo. Ele tinha paredes vermelhas cor de sangue, e uma cama enorme com um lençol com milhares de desenhos de mapas de guerra. Era o quarto de Ares, provavelmente.

Desci as escadas sem entender o que estava acontecendo, quando quase fui atropelada por duas crianças correndo.

- O controle é meu, Cherie! – Exclamou um garoto de mais ou menos 10 anos. Ele era forte para a idade dele. O nome que ele tinha dito era da garota que lutava inutilmente para tentar pegar o controle dele. Cherie... A cantora de The Runaways.

- Ryan, devolve! – Exigiu ela com raiva chutando ele.

- Vem pegar, lesada! – Disse ele suspendendo o controle no ar. Cherie olhou para mim com raiva.

- Mamãããããããããe! – Era uma voz estridente e irritante – Manda o Ryan devolver o controle! É a minha vez de ver TV!

- Vai chorar para a mamãe, é? Pirralha! – Zombou Ryan, e depois olhou para mim – Mãe, manda a Cherie ficar quieta! Ela é muito chata!

Ah Meu Deus, eu estava vendo duas miniaturas de mim e do Ares brigando. Aquilo não ia acabar bem, e isso só se tornou mais aparente para mim quando Ares saiu da cozinha e fuzilou os dois com um olhar repreendedor.

- Se os dois não calarem a boca agora mesmo, vão levar uma bela surra! – Exclamou ele, e os dois pararam – Agora vão se matar lá fora! Sua mãe e eu temos que conversar um pouco.

Os dois saíram correndo e deixaram o controle encima da mesa de centro. Arregalei os olhos não acreditando, e depois olhei para Ares só para notar que ele sorria para mim malicioso.

- Senti sua falta, amor. – Disse ele beliscando a minha bunda – Agora seja boazinha e vai fazer o meu almoço. Estou morrendo de fome.

Ares passou direto para o sofá, e eu tive vontade de chutá-lo com toda a minha força. Ele olhou para mim e pareceu se lembrar de uma coisa.

- Ah! E pendura a minha jaqueta para mim. – Ele jogou-a em mim, e depois se espreguiçou no sofá – Anda! Vai fazer o seu trabalho. Meu almoço não vai para o prato sozinho, benzinho.

- O que você pensa que eu sou, seu...?! – Minha voz falhou de tanta raiva. Ares olhou para mim e sorriu.

- Ah, já sei. Você deve estar com saudades de mim, não é? – Disse ele se levantando. Ares agarrou minha cintura e me puxou para perto dele – Quer um beijinho, é isso? Ou prefere uma massagem para relaxar antes do almoço?

- Prefiro que você me solte! – Ele não ouviu e eu tentei me livrar inutilmente. Ares chegava cada vez mais perto para um beijo, enquanto eu tentava me esquivar - Não! Argh! Isso não pode estar acontecendo!

- Nós nos casamos, temos filhos, e nos amamos. Como não pode acontecer?

- Casamos?! – Repeti incrédula e fechei os olhos – Não!

- Não! – Exclamei abrindo os olhos. Minha cabeça doeu muito com isso, mas eu me mantive de olhos abertos para ver onde estava. Era o quarto do hotel. O doce, lindo e perfeito quarto do hotel. Respirei fundo ofegante, e passei minha mão pela testa – Um pesadelo... Só isso. Nada de... Filhos. Nada de... Maridos...

Olhei para o lado e lá estavam Ares e Apolo me encarando com atenção. Arregalei os olhos com medo.

- Não... Não! Vocês não...! – Eles franziram o cenho para mim.

- Alice, você está bem? – Perguntou Apolo passando a mão pela minha testa – Sabe? Depois que o Ares te acertou, deve estar doendo bastante.

- Você acertou ela seu mentiroso. – Corrigiu ele com raiva – Por isso que deve estar doendo.

- A culpa foi toda sua! Quem mandou ficar com a minha garota?! – Irritou-se Apolo.

- Minha garota, otário. – Rebateu ele.

- Fora. – Disse e eles olharam para mim sem entender – Eu preciso respirar e me recompor, e quero os dois fora daqui agora! Saiam!

Eles não se moveram, por isso comecei a bater neles com o travesseiro. Não era grande coisa, mas os dois saíram do quarto rapidinho, e eu deixei minha cabeça afundar no travesseiro. Que pesadelo...

Levei alguns minutos para me recompor e ver que tudo aquilo não passou só de uma ilusão do meu cérebro. Ok... Eu não estava casada, nem tinha filhos. Estava no meio de uma conversa com o Apolo, e ainda não tinha dito nem metade do que realmente queria.

Levantei cambaleante. Meu corpo ainda sentia os traumas do pesadelo, quando abri a porta com a mão trêmula e olhei do corredor para a sala. Apolo estava sentado no sofá e ao seu lado Ares. Os dois estava um de costas para o outro como duas crianças que simplesmente não se entendiam, e volta e meia resmungavam coisas um para o outro.

- A-Apolo. – Chamei e ele olhou para o corredor. Ares também, mas não disse nada – Eu... Ainda tenho que falar com você.

Ele assentiu com um suspiro e foi até mim. Ares ia se levantar, mas lancei um olhar repreendedor para ele, que com um resmungo se sentou novamente. Ia ser uma longa noite...