Não pude evitar rir da careta de Éponine enquanto eu dava a volta no carro para ajudá-la a sair.
Ela havia quebrado o braço esquerdo e por isso ele estava imobilizado com gesso da mão até dois palmos acima do cotovelo. Isso limitava muito seus movimentos e apesar de tentar levar na esportiva me sentia muito mal pois sabia que aquilo era culpa minha, bem, ela me impediu de ser atropelado e acabou sendo atingida em meu lugar.
Éponine Thenardiér era uma criança praticamente, tinha apenas 17 anos e já morava de certo modo sozinha, ela dividia o apartamento com a única amiga que tinha, Musichetta. Mas ela era legal, inteligente, leal, corajosa e muito bonita, com seus cabelos escuros e ondulados, os olhos escuros com uma brilho dourado neles, pele bronzeada e sem imperfeições, lábios cheios, dentes branquinhos e retos e covinhas nas bochechas, que particularmente acho que é a coisa mais linda sobre ela.
Nós entramos no prédio e fomos rumo as escadas, já que não tínhamos um elevador, e seguimos os cinco lances em silêncio. Meu apartamento ficava ao lado do dela, mas resolvi instalá-la antes de seguir pra casa, foi horrível ver aquela menina independente não conseguir abrir a própria porta então tomei a chave de sua mão e ela bufou. Um fato que precisam saber, Éponine Jondrette Thenardiér era canhota, e orgulhosa e mesmo com o braço esquerdo quebrado não iria baixar a guarda.
- obrigada. - ela resmungou enquanto entrava.
- nossa, cuidado, do jeito que você tá me agradecendo eu posso cair mortinho e pelo que parece você vai me pisotear. - ela revirou os olhos mas riu seguindo para a cozinha e abrindo o chapéu do ursinho de louça, que na verdade era um porta remédios, e tirou de lá um frasco de analgésicos, ela tentou por alguns minutos abri-lo e sem paciência atravessei a sala e a cozinha tomando o frasco de sua mão o abrindo, ela estendeu a mão boa para mim mas a ignorei e peguei um copo de água e quando o enchi, coloquei o comprimido entre os lábios dela e a contragosto ela o engoliu junto com a agua que tomou de minhas mãos.
- esta com fome? Posso preparar algo para você comer. - ela sorriu grata mas negou.
- eu preciso de um banho, - Éponine apontou para si mesma que tinha um curativo pequeno na testa, o queixo um pouco ralado e o jeans rasgado na altura do joelho. - mas o senhor pode ficar a vontade.
A vi encaminhar-se para o banheiro e a ouvi gemer de dor.
- precisa de ajuda, 'Ponine? - perguntei próximo a porta do banheiro.
- na verdade eu acho que preciso sim. - ela parecia resignada quando abriu a porta. O rosto vermelho. - não consigo tirar minhas roupas.
Senti o sangue fugir do meu rosto, mas mesmo assim entrei no banheiro branco e salmão que tinha muitas coisas femininas como maquiagem, cremes e uma infinidade de coisas pra cabelo e olhei embaraçado para minha amiga.
Ela ainda tentou mais uma vez tirar a calça com uma mão só mas não deu certo e pedindo desculpas me encaminhei até ela e como o botão e o zíper já estavam abertos apenas puxei o jeans justo para baixo, para isso tive de me ajoelhar na frente dela, e para apoiar-se ela colocou a mão boa sobre meu ombro. Enquanto a ajudava a passar os pés para fora da calça não pude deixar de notar as belas pernas que Éponine tem, coxas firmes e bronzeadas em pernas longas, eu não deveria ficar olhando mesmo assim não pude deixar de sorrir para a tatuagem em volta de seu tornozelo direito, 24601------ , havíamos feito juntos quando eu completei 18 anos, claro que ela era menor de idade mas o tatuador era um amigo do pai dela então...
Evitando olhar para o rosto dela, passei a trabalhar na sua blusa de lã grossa e folgada, como ela era mais maleável foi mais ou menos fácil de tirar. Agora não pude evitar olhar, Éponine usava apenas uma calcinha pequena preta e sutiã roxo e parecia extremamente envergonhada, embora ela fosse facilmente a visão mais bonita que já tive nessa vida. Ela ficou de costas para mim e puxou o cabelo sobre o ombro e entendi que ela queria que eu lhe tirasse o sutiã, não foi rápido porque aquele fecho era dos infernos e praticamente impossível de abrir.
- vou ficar aqui, de costas e se você precisar é só dizer. - eu avisei me dirigindo para a bancada/penteadeira que tinha como eu disse antes um monte de produtos dos quais eu não sabia nem que existiam. Xeretei um pouco e a ouvi gemer de dor novamente e me virei na hora, ela estava sentada na banheira com o braço engessado para fora e apesar da espuma eu ainda pude ter um vislumbre de seus seios antes dela gritar me reprendendo o que me fez me virar novamente.
- monsieur Marius? - dessa vez não me virei apenas pedi que continuasse. - meu cabelo esta sujo de sangue, pode pegar esse shampoo de camomila para mim?
Olhei para os vinte frascos na minha frente e quando achei o bendito shampoo de camomila caminhei até ela que estava encolhida dentro d' agua. Havia um banquinho de madeira debaixo da pia e o peguei o colocando ao lado da banheira e me sentei ignorando seu olhar confuso, usei minhas mãos como concha e passei a molhar lentamente se cabelo longo e quando estava satisfeito apliquei o shampoo e massageei até fazer bastante espuma e repeti o processo de antes para enxaguar. Segui novamente para o balcão atrás do condicionador, voltei rápido e o apliquei novamente massageando e dessa vez penteando com os dedos os fios escuros. Sorri quando a ouvi ronronar.
Depois de enxaguar mais uma vez seu cabelo percebi que ela já estava pronta para sair e peguei a toalha que estava pendurada em um gancho e a segurei pelo braço bom para ajudá-la a levantar.
- olhos aqui em cima monsieur. - ela não piscou enquanto me olhava profundamente, seus olhos eram tão bonitos.
Consegui enrola-la na toalha sem olhar pra baixo e a peguei no colo para tirá-la de vez da água, isso a vez dar um gritinho assustado, mudei meus pensamentos quando a tinha nos braços e resolvi a levar até seu quarto assim. Claro que ela reclamou, alegando que tinha quebrado o braço não a perna mas ignorei.
O quarto dela não era como da maioria das garotas, tinha uma cama de casal pequena e um guarda- roupa marrom vintage, as roupas de cama eram de listras horizontais verdes e creme, nas paredes também creme, havia vários murais repletos de fotos, a maioria minha e dos les amis e Gavroche. A coloquei sobre a cama e voltei para o banheiro pegando uma escova para poder pentear seus cabelos.
- o que vai fazer?
- vou pentear seu cabelo. - respondi me colocando atrás dela.
- não, - ela se afastou. - eu não uso essa escova, ela é para o cabelo da 'Chetta, se eu usar meu cabelo arma.
Eu ri balançando a cabeça e ela olhou pro lado com as bochechas coradas.
- então qual eu devo pegar?
Ela pensou um pouco antes de falar, ainda sem olhar para mim.
- eu uso o pente de madeira, que tem o cabo emborrachado e preciso do leite de pentear, é um frasco azul, com bico borrifador.
Assenti e me encaminhei novamente ao banheiro, lá foi um custo achar o que ela disse já que só de escovas de cabelo tinha umas dez, pra mim todas parecidas, e o tal leite de pentear era um frasco azul claro que dentro parecia ter água.
Quando voltei ao quarto percebi que ela tinha trocado a toalha por um roupão felpudo e tentava secar um pouco os cabelos.
- é isso aqui?
- é, pode deixar que eu faço isso monsieur Marius o senhor já fez muito por mim.
- eu gosto de fazer as coisas pra você 'Ponine.
Sentei atrás dela sem que ela se afastasse dessa vez, e passei a toalha pra terminar de tirar o excesso de água. Ela explicou o que eu tinha de fazer, que consistia de jogar seu cabelo para trás e borrifar o leite de pentear o que fiz e então passei a pentear, o cabelo dela era ainda mais longo molhado, alcançando cerca de um palmo pra baixo da cintura, e macio fazendo com que o pente deslizasse facilmente. Mesmo depois de terminar continuei a correr ora o pente, ora meus dedos por seu cabelo sedoso tudo em silêncio, me levantei e guardei as coisas antes de voltar para me despedir, mas me surpreendi ao encontrá-la chorando.
- hey, o que houve? Me diz 'Ponine, você esta com dor? Quer ir ao hospital? - perguntei começando a entrar em desespero porém ela simplesmente me puxou para um abraço sufocante, mesmo com um braço só, ficamos um bom tempo assim até ela se afastar passando a mão pelo rosto para apagar as lágrimas.
- eu não posso dizer o quão feliz eu estou monsieur, eu agradeço por cuidar de mim e por sempre ter sido tão maravilhoso para mim.
Eu olhei para seus olhos bonitos e ali eu vi o que ela queria dizer.
Sem pensar a puxei para um beijo calmo que quando terminou nos deixou abobalhados e sorrindo.
- vou sempre estar aqui para minha 'Ponine.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.