Minha

Boatos, rumores, fofocas e outros sinônimos.


“Quinn, o que você tem a dizer sobre os rumores sobre o fim da sua relação com Rachel Berry?”

“Quinn, é verdade que você está processando Rachel para ficar com o apartamento em New York?”

“Quinn, quando você e Michael Miller vão assumir que estão juntos?”

“Quinn, aquele foi o primeiro beijo entre vocês?”

“Quinn, o que sua ex-namorada falou quando viu as fotos?”

Os flashes de inúmeras máquinas fotográficas pipocavam feixes de luz nos olhos de Quinn, enquanto ela se deixava guiar por seus guarda-costas por entre a confusão de paparazzi e reportes que a impedia de sair do restaurante.

‘Sem comentários. Calada. Não dê atenção. Não podemos arriscar mais um escândalo as vésperas do Oscar!’ As instruções de seu agente de relações públicas tinham sido claras, e ela desde então tentava segui-las. No entanto, a cada dia que passava, o número de fotógrafos, cinegrafistas, fofocas e declarações anônimas, só aumentava. Quinn tentou disfarçar sua fúria mordendo o lábio e cantarolando em sua mente. ‘Wallace querido, você vai ter que arrumar outra estratégia logo logo, ou você vai acabar conhecendo a scary Quinn...’

A atriz sentiu um de seus guarda-costas pressiona-la mais junto de si. Aparentemente, um dos repórteres estava tentando mostrar serviço, forçando seu caminho até ela.

“Quinn, o que você tem a dizer sobre as últimas fotos de Rachel Berry e Elise Scott?”

‘Você é uma das mais fortes candidatas nominadas ao Oscar, Quinn Fabray. Controle-se.’, ela mordeu o lábio inferior com mais força, num lembrete mudo e que não deveria responder as provocações.

Um outro segurança colocou o braço entre ela e a multidão que a cercava, tentando impedir que o repórter avançasse mais.

Só restavam mais alguns metros até o carro.

“Você acha que o que aconteceu na festa promocional do elenco de DREAMS, foi uma espécie vingança por suas fotos com Michael?”

‘Conte até mil, Quinn. Oscar. Oscar. Oscar.’, Os dedos dela apertaram a alça de sua bolsa.

“Michael está sendo um consolo para o seu coração partido, Quinn?”

‘...04...30...86...Conceal… Don’t fell… Put on a show…’

Os flashes continuavam disparando, a deixando quase cega.

“E sobre as fotos desta manhã que mostraram Rachel saindo do Raven Hotel em NYC, acompanhada de Elise Scott? Elas dormiram juntas, Quinn? Isso te afeta?”

‘Foda-se o Oscar.’

“Deixe-me esclarecer uma coisa...”, Quinn levantou o dedo na direção do fotografo, mas foi interrompida por um braço musculoso que literalmente, a içou por entre a multidão. Dois segundos depois, ela estava dentro do carro, longe dos flashes, perguntas, e bem longe do infeliz que seria o alvo de todo o stress e raiva incubados dentro de sua alma nos últimos dias.

“Desculpe senhorita Fabray, mas parecia que a situação ia sair do controle.”, Jake um de seus guarda costas mais próximos se encarregou de se desculpar pelo grupo.

Quinn fechou os olhos, tentando diminuir a irritação.

“Tudo bem, Jake. E-Eu... só não aguento mais isso tudo.”

Os paparazzi se aglomeraram em volta do carro, batendo fotos e acenando, propositalmente atrasando a partida do veículo. Parecia que a única saída seria chamar a polícia para dispersar o tumulto. Então, alguém gritou “Michael!”, defronte ao mesmo restaurante que a atriz havia acabado de sair. A multidão de fotógrafos liberou o carro, que levava Quinn, para se reunir em volta do galã, e o carro que levava a atriz acelerou, finalmente podendo ir embora.

“Michael, alguma declaração sobre seu romance com Quinn Fabray?”

O rapaz sorria para as câmeras, enquanto sua segurança abria caminho pela calçada.

“Olá Jonas, como vai a família?” Michael perguntou a um dos fotógrafos.

“Tudo maravilhoso, Mike! Principalmente, depois daquela foto maravilhosa que você autorizou que eu tirasse na semana passada! O site me pagou muito bem pela foto exclusiva do novo visual de Michael Miller. Finalmente consegui pagar a hipoteca, obrigada!”

“Fico feliz em ajudar, Jonas. Você é uma boa pessoa.”, respondeu ele sorrindo satisfeito, cumprimentando o paparazzi com um tapinha amigável no ombro.

Os fotógrafos continuavam a chamar e a fazer perguntas, alguns fãs conseguiram passar pela barreira da segurança e o ator posava para fotos junto com eles.

“Michael, por favor. Todos estão esperando por uma declaração oficial!”, um dos fotógrafos gritou.

Uma das fãs deu um beijo na bochecha do ator, e ele autografou a camisa dela em seguida.

“O que posso dizer? Quinn Fabray é a mulher mais adorável que já conheci.”

Os seguranças decidiram apressar a passagem do ator e voltaram a abrir caminho por entre a multidão. Michael ajustou seu óculos escuros e puxou seu celular do bolso de sua calça jeans, digitando rapidamente o número que desejava.

Há alguns quarteirões dali, o celular de Quinn começou a tocar, sem pestanejar ela enfiou a mão dentro de sua bolsa. Ao identificar o número que brilhava no visor, um enorme sorriso brotou em sua face. Jake soube que aquela era sua deixa para deixá-la sozinha, o guarda-costas subiu o vidro que separava a cabine do motorista do banco de trás do carro, dando total privacidade a atriz.

...

HÁ APROXIMADAMENTE DOIS MESES E MEIO.

Quinn entrou em seu quarto correndo, ela sabia que Rachel estava logo atrás, e não queria despejar na morena toda a raiva e frustação que estavam borbulhando dentro dela, mas quando uma mão suave tocou seu ombro ela não conseguiu evitar e girou nos calcanhares furiosa.

“Me deixe em paz! Você e aquela mulher!”, disparou com arrogância cuspindo as palavras como se elas lhe dessem nojo. “Como você pode? Você não faz ideia do que eu passei! De tudo que ela me fez... e agora... Agora você quer que eu tenha compaixão? Ele está escrevendo um livro, Rachel! Um livro sobre mim! E ela acha que vir aqui me alertar vai fazer com que eu esqueça tudo? Depois de tanto tempo, ela aparece e diz que quer me proteger? Que atitude de merda é essa?!”

“Eu só acho que todos merecem uma segunda chance, Quinn. Ela disse que se arrepende...”

Quinn gargalhou, suas feições se contorcendo ainda mais por causa da raiva.

“Se arrepende? Pouco me interessa se ela está arrependida! Eu a odeio! Ela foi uma mãe omissa e bêbada! Uma maldita viciada que não se importava com o mal que estava fazendo a própria filha! A única preocupação dela sempre foi garantir que o estoque de whisky estivesse em dia. Essa mulher não merece...”

A expressão de dor no rosto de Rachel fez com que ela parasse. ‘Oh Deus.’

“Rachel... eu...”, a raiva se desfez e o peso de suas palavras a atingiu com toda força. “Rachel, me perdoe... eu não quis...”

A morena abaixou a cabeça e sentou-se na cama. Quinn se ajoelhou na sua frente com lágrimas nos olhos.

“Rachel, amor... eu não queria...”

“Quinn...” a morena fez um sinal para que ela não dissesse mais nada. Ela tomou as mãos de sua amada entre as suas e apesar de se sentir magoada por todo o ódio que as palavras de Quinn provocaram nela, ela tentou focar que todo aquele sentimento era direcionado a Judy Fabray, e que ela e seu vício, nunca haviam sido responsáveis pela dor que havia se enraizado na alma da garota a sua frente.

“Ouvir você falar assim, me magoa profundamente...”

“Oh Rachel, amor... eu não tinha a intenção...”, as lágrimas escorriam pela face da loira, Rachel esticou uma das mãos e limpou algumas delas.

“Não estou magoada com você, amor. Estou magoada comigo... Tudo o que você disse podia muito bem ter sido dito por meus pais, minha mãe ou mesmo por Jesse... eu perdi tantas pessoas pelo caminho, Quinn. Eu causei nessas pessoas, a mesma dor que sua mãe causou em você...”

Quinn sentiu o nó se formando em sua garganta. ‘Ela podia facilmente está se referindo indiretamente a Elise.’

“...Eu mal posso imaginar o tipo de dor que você sentiu e que ainda sente, mas eu quero que você saiba que eu estou aqui para você. Eu sempre estarei aqui, Quinn.”

Quinn tentou lutar mais uma vez contra as lágrimas que se formavam em seus olhos, mas foi uma luta perdida. Por quê? Será que ela nunca teria seu final feliz?

A visita de sua mãe desenterrou sentimentos que Quinn pensou estarem muito bem enterrados nas profundezas de sua alma. Só agora era como se tudo aquilo estivesse sendo revivido dentro dela. A gravidez, seu pai a expulsando de casa, a inercia de sua mãe, o aborto, o abandono, a solidão, a desesperança...

Quinn também quase se entregou ao álcool, mas a imagem de seus pais segurando copos de whisky, enquanto encenavam uma vida perfeita, fez com que ela se reerguesse.

‘Não. Quinn Fabray não vai sucumbir a isso. Não a esse vício.’, ela lembrava de ter decidido depois de cair exausta no chão frio e duro, num beco no centro de Lima. Ela estava com fome e carregava uma garrafa de whisky que ela tinha roubado da cozinha de um restaurante. Naquele dia, depois de jogar a garrafa contra a parede do beco, ela se escondeu no sótão do Teatro Municipal, já que ela não tinha mais nenhum lugar para ir. Quinn não fazia ideia na época, mas aquela decisão foi o passo inicial para o início de sua trajetória como atriz, o passo inicial que a levou ao encontro de Rachel.

E agora, apareciam Elise e sua mãe... e elas traziam consigo todos aqueles sentimentos conflitantes, toda aquela raiva e insegurança. O medo que se apoderou de todo seu ser se refletia em olhos, e Quinn sabia muito bem que o medo nunca trouxera à tona o seu melhor... a HBIC era um perfeito exemplo disso... e o que ela mais temia era reverter a essa HBIC persona novamente, porque a primeira que cairia em suas garras seria Rachel...

“Calma meu amor, vai ficar tudo bem. Nós vamos superar isso tudo.”, Rachel tentava consolar a loira, que se aninhava em seu colo, enquanto seu corpo sacudia entre lágrimas.

...

DIAS ATUAIS – INÍCIO DA NOITE NYC

“Onde coloco isso?”, Elise colocou as sacolas de compras lotada com os ingredientes para o jantar em cima da mesa da cozinha, finalmente podendo descansar os braços.

“Tenho que admitir que fiquei surpresa por encontrar uma delicatessen totalmente vegana no Brooklin. Já é difícil encontrar uma loja exclusiva em Manhattan! Sabia que eles fazem entregas à domicilio?”, a ruiva continuou falando enquanto caminhava em direção a sala. Ela havia se contentado em deixar as compras em cima da mesa, até finalmente ter uma resposta da dona da casa.

‘Onde diabos ela se meteu agora?’, Elise se perguntou impaciente.

“Michele, se você ainda estiver mofando na cama, eu vou chutar seu traseiro tão forte que você vai diminuir mais um metro e vai virar oficialmente um smurf!”

Já irritada, ela resolveu seguir diretamente para quarto da garota, abrindo a porta de uma vez.

“Eu avisei a você que estava vindo, é inaceitável...”, Elise calou-se no mesmo instante que seus olhos se depararam com a visão da morena, parada no meio do quarto, recém saída do banho e trajando somente uma toalha branca curtíssima que mal cobria seu corpo.

Depois do incidente no hotel, as duas haviam estabelecido um ‘tratado de paz temporário’, o que implicava uma convivência saudável que segundo Michele, incluía jantares amigáveis uma vez por semana. Elise até tentou boicotar a programação estabelecida pela morena, mas a garota demonstrou ser extremamente habilidosa em manipula-la a fazer exatamente o que ela queria. Não que Elise estivesse inclinada a admitir isso.

Hoje era noite vegana e elas haviam combinado, – entenda-se como: Michele estipulara, - que a ruiva deveria fazer o jantar. Como Elise ainda estava ‘morando’ no hotel, elas resolveram - mais uma vez entenda-se por: Michele resolveu e Elise não conseguiu persuadi-la ao contrário, - que dessa vez usariam a cozinha da casa da morena. Então, depois de ensaiarem durante quase todo o sábado, Michele entregou uma cópia das chaves de seu apartamento para Elise, dizendo que ficasse a vontade para entrar porque ela queria ter tempo para tirar um cochilo.

Elise fez questão de exterminar de sua mente a sensação estranha que percorreu seu corpo, ao segurar em suas mãos as chaves do apartamento de sua colega de elenco. Enterrando em algum lugar, bem no fundo de sua alma, a curiosidade repentina e insana de saber como era Michele em sua a versão bela adormecida. ‘Espere um momento. Bela adormecida? De onde raios veio isso?’

Há semanas, Elise ignorava algumas sensações estranhas e curiosidades sem fundamento sobre sua colega de elenco. Ela repetia para si mesma que ser rejeitada tão cruelmente por sua estrela a havia fragilizado de tal maneira, que ela estava apenas confundindo seus sentimentos em relação a sua colega.

‘Michele e Rachel eram um tantinho parecidas afinal de contas.’ Até mesmo algumas revistas haviam confundido as duas recentemente em algumas ocasiões. Como nesta manhã, por exemplo. Michele que era adepta a acordar inumanamente cedo, e havia desenvolvido, após o firmamento do tratado de paz entre elas, o péssimo hábito de literalmente derrubar Elise da cama, todas as manhãs nos últimos dois meses. As desculpas variavam com o passar dos dias:

‘Você tem aparecido nos ensaios com uma cara de sono!’; ‘Sabia que acordar cedo faz bem para o seu metabolismo?’ ‘Se você não dormisse tanto, nós poderíamos incluir uma corrida matinal no Central Park como uma de nossas atividades!’; ‘Elise, deixe de resmungar feito uma velha! Encare isso como um laboratório! Nossas personagem precisam estar emocionalmente conectadas!!!’.

Era tão irritante que chegava a ser bonitinho...e isso estava deixando a ruiva maluca, porque agora todos os sites e revistas de fofocas estavam confundindo Michele com Rachel e as fotos das duas estavam circulando em vários meios de mídia. Elise ainda não tinha certeza do tamanho da confusão que isso podia causar, mas até então, sua estrela não havia se manifestado.

Elise puxou uma grande quantidade de ar pela boca, ela estava prendendo a respiração e nem ao menos havia se dado conta disso. Era impossível despregar os olhos da garota que estava de costas, a mais ou menos um metro e meio de distância dela, e que ignorava completamente a presença da outra garota em seu quarto.

Michele usava fones de ouvidos e cantarolava baixinho enquanto procurava em seu armário algo confortável para vestir. Os olhos esverdeados não resistiram e percorreram de maneira predadora, as curvas daquelas pernas torneadas, subindo pelo manto alvo e felpudo que malmente escondia o corpo dela, os ombros nus e molhados, a nuca delicada por onde algumas gotas d’água deslizavam sinuosamente pela pele um pouco bronzeada, os cabelos castanhos, ainda úmidos presos num coque mal feito, que deixava vários fios soltos caindo ondulados de uma maneira desordenada e absolutamente sexy.

Ela era perfeita.

Elise sacudiu a cabeça e arregalou os olhos.

‘No que raios você está pensando, Scott? Saia daqui agora.’

Mas a ruiva só conseguiu se mover, quando o barulho estridente da campainha ecoou por todo o apartamento, fazendo com que Michele pulasse de susto quase deixando a toalha cair.

“Deus! Elise! Que susto!”, Michele agarrou a toalha que pendia frouxa sobre seu corpo. “Faz quanto tempo que você está ai parada?”

“Tem alguém tocando a campainha! Quer fazer o favor de se vestir, Bergman!”, disparou a ruiva furiosa, saindo do quarto.

Michele franziu o cenho confusa. O que ela havia feito para que ela ficasse tão irritada de repente?

Elise praticamente trotou até a porta de entrada, seu coração batia descompassado em seu peito e sua cabeça estava superpovoada com visões de Michele praticamente nua em sua frente. ‘Não faça isso, Scott. Não confunda as coisas, ela não é Rachel! Você ama Rachel. Sempre amou e sempre vai amar.’

A campainha tocou mais uma vez e a irritação da ruiva aumentou. Ela girou a maçaneta e puxou a porta, pronta para berrar uma boa quantidade de insultos a quem quer que estivesse do outro lado, afim de descarregar toda aquela tensão que havia tomado conta dela. O que ela não esperava, era que toda aquela frustação acabasse se quadruplicando ao constatar quem estava aguardando do outro lado.

“O que diabos você está fazendo aqui?”, ela berrou.

Finn piscou algumas vezes, visivelmente surpreso por vê-la.

“Eu que pergunto, o que você está fazendo no apartamento da minha namorada, Scott?!”

...

Quinn deslizou o polegar sobre a tela para destravar o celular.

“Eu quero fazer amor com você num local público e divulgar as fotos no Instagram.”, ela choramingou no mesmo instante que atendeu a ligação. Do outro lado da linha podia-se ouvir Rachel rindo alto.

“Acho que esse é o tipo de escândalo que seu RP quer evitar, meu amor.”

“Mas eles continuam inventando rumores horríveis sobre nós... e eu odeio ter que bancar a surda-muda.”

Rachel até podia imaginar sua amada fazendo biquinho entanto falava.

“Posso divulgar anonimamente uma gravação de uma de nossas ligações de emergência? Que tal a de ontem à noite? Nós estávamos bem criativas ontem...”, perguntou a loira num tom dengoso.

“Você grava nossas ligações?”

“Não...”

Rachel revirou os olhos, não se deixando convencer pelo o modo como Quinn praticamente cantarolava as palavras inocentemente. A morena tinha certeza absoluta que sua garota tinha aquele sorrisinho sem vergonha plantado no rosto neste exato momento.

‘Droga, essa mulher realmente merece um Oscar.’

A morena limpou a garganta.

“Eu prefiro que não, meu amor. Não quero que o mundo inteiro ouça você gemendo meu nome daquele jeito. Isso é um privilégio meu Quinnie...”

Rach... e se eu pedir por favor?”, Quinn pediu manhosa.

Rachel podia imaginar o beicinho dela, era algo quase palpável mesmo estando separadas por quase um continente. ‘Essa mulher é um perigo!’

“Quinn Fabray, só faltam mais alguns dias para o Oscar, controle-se!”

“Não ligo para o Oscar...”

“Já pude perceber... mas Nigel tem razão, meu amor. Depois do que aconteceu, você precisa cuidar da sua imagem. Por mais que me doa, não posso quebrar a cara daquele imbecil novamente e arriscar um novo escândalo. Além do mais, não quero que você perca outro contrato por causa desse tipo de situação, Quinn.”

Michael Miller e Quinn Fabray eram as estrelas de uma nova produção megalomaníaca da 20th Century Fox. O filme tinha um orçamento de praticamente US$700 milhões. Não é preciso dizer que a pressão em cima do elenco era absurda, mas talvez seja bom ressaltar que a pressão sobre Quinn Fabray conseguia extrapolar todos os níveis imagináveis. Afinal, ela era a estrela em vias de ser consagrada pela Academia, sem mencionar que seu relacionamento com Rachel, não era muito condizente com a estratégia de marketing que o estúdio tinha planejado para a promoção do filme.

Há um pouco mais de dois meses, toda a equipe envolvida na produção estava cumprindo um cronograma de gravações quase interruptas em vários lugares na Califórnia. Apesar da grande maioria das gravações acontecerem nos estúdios, onde os cenários eram 100% digitais, Quinn não havia tido muitas folgas para voltar à NYC. Apesar disso, ela estava animada, o roteiro era incrível e a loira amava estar de volta ao trabalho.

O único ponto negativo era estar longe de Rachel por semanas seguidas.

A morena estava se esforçando o máximo para driblar seus inúmeros compromissos para estar junto de Quinn, em suas raras folgas durante os finais de semana. Só que essas visitas à Los Angeles estavam ficando cada vez mais difíceis, já que a cada dia que passava, a agenda de Rachel transbordava de reuniões ou eventos para promover DREAMS. Sem contar que Tony estava passando por alguns problemas pessoais, e precisou retornar à Índia por algumas semanas, deixando Rachel sozinha para lidar com infinitos compromissos coorporativos, que a morena não tinha mais tanta paciência para resolver.

Mesmo assim, há um pouco mais de duas semanas que Rachel havia conseguido uma brecha em meio ao caos de reuniões, e voou para Califórnia por dois dias, desembarcando em Sacramento para em seguida seguir até uma charmosa cidadezinha chamada Yozemite Village, onde estavam sendo filmadas algumas cenas externas do longa. Elas aproveitaram todo o tempo que tinham para ficar juntas. Rachel ficou fascinada com a paisagem selvagem do local e Quinn fez questão de mostrar a morena as belezas naturais do parque florestal, onde eles estavam gravando há alguns dias. Depois dessa visita, elas só puderam se falar por whatsapp, email, telefone, sms, dumbsctuck, nos momentos que tinham uma folga.

Uma semana depois, numa bela tarde de outono, Rachel recebeu uma ligação de Jake, um dos guarda-costas de Quinn, dizendo que a loira estava completamente descontrolada e que era de suma importância que ela fosse à LA. Sem esperar por mais explicações, Rachel jogou tudo para cima e fretou um taxi aéreo.

Imagine sua surpresa ao ser bombardeada, logo na saída do aeroporto, por várias fotos de sua namorada beijando seu colega de elenco – AKA par romântico na ficção, Michael Miller, numa das mais badaladas boates de Los Angeles.

Rachel passou como um foguete pela recepção do escritório de Nigel, a tempo de ouvir a comoção dentro da sala do empresário.

“Eu não me importo! Que se dane! Eu vou agora para NY e vou me jogar aos pés dela! Ela não pode acreditar nesse lixo, Nigel! Deus, o que eu vou fazer? Eu vou perde-la!”

“Quinn, tente se acalmar...”

Nesse instante Rachel invadiu o escritório, os olhos de Nigel se arregalaram e Quinn girou nos calcanhares assustada, ficando frente à frente com a morena.

Rachel não se importou com a expressão de desespero, nem com os olhos meio inchados por causa do choro, nem mesmo reparou a respiração acelerada, ou que ela tremia enquanto balbuciava palavras incoerentes. A morena foi até ela e a tomou em seus braços, a beijando possessivamente. Quando elas se separaram, Rachel a encarou firmemente a apertando ainda mais junto ao seu corpo.

“O que eu realmente quero fazer é esbofetear esse infeliz, por ele ter te agarrado, expondo você dessa maneira, mas isso provavelmente só vai piorar a situação. Então vou ter que me contentar em processar esse maldito por assédio.”

Quinn não conseguiu mais sustentar o corpo e se afundou no abraço dela. Foi preciso que Nigel ajudasse Rachel a segura-la, guiando as duas para o sofá.

Quinn se agarrava a morena, sentada no seu colo, chorando e soluçando. Ela ainda não acreditava que Rachel não estava furiosa com ela. ‘Quer dizer, como ela pode ter percebido, que o que a foto mostrava, não era o que tinha na verdade acontecido?’

“Como você soube?” Nigel olhava para a morena curioso. “Até Quinn me explicar o que ocorreu na verdade, minha primeira impressão foi que...”

“Quinn me ama, Nigel. Chame de convencimento, mas eu sei que ela não me trairia. Mas se isso não for suficiente para você, a postura dela nessa foto já me disse tudo o que aconteceu.”

Vendo a confusão no rosto dele, a morena continuou.

“Ele a segurou pela cintura e pela nuca... e ela tinha os braços presos junto ao peito dele. Ela está visivelmente tensa, o tórax e ombros encolhidos, como se ela tentasse se afastar... e a sobrancelha dela... Bem, ela só faz isso com a sobrancelha quando está irritada... muito irritada.”

Quinn levantou o rosto para olha-la nos olhos. Rachel tomou seu rosto entre as mãos e a beijou novamente.

“Eu já disse a você que estarei sempre ao seu lado e que vamos enfrentar tudo o que vier... Eu vou proteger você... Estou aqui e não vou a lugar nenhum, meu amor.”

Quinn enterrou o rosto no peito de Rachel, lembrando das tantas vezes, desde a visita de Judy Fabray, que a morena reafirmou o amor que sentia por ela.

“Eu te amo, Rach.”

Infelizmente, o estúdio e todos os executivos não ficaram muito inclinados a ‘defender a honra’ de Quinn e manchar a imagem de perfeito galã de Michael. Segundo os diretores, o romance entre eles era a estratégia de promoção do filme. O único problema foi que somente Michael parecia ter sido informado. Três produtores executivos conduziram uma reunião de mais de cinco horas, onde Nigel, Quinn e Rachel, - que participou por insistência de Quinn, - se viram de mãos atadas perante o estúdio.

Chegou um ponto onde Quinn perdeu toda a compostura e começou a berrar dentro da sala, dizendo que ela não aceitaria trabalhar dessa maneira e que jamais ela fingiria estar com Michael somente para promover um filme. Nigel tentou amenizar o comportamento dela, defendendo sua opinião, mas evidenciando que a atitude precipitada dos executivos e de Michael acabara por denegrir a imagem de Quinn. Mais uma vez, os executivos não se deixaram convencer. Principalmente porque o número de acessos, marcações, menções e tags que levaram o nome da atriz, do ator e do filme, pareceram triplicar desde o instante que as fotos foram publicadas. Quinn ameaçou abandonar as filmagens e foi nesse momento que o estúdio literalmente esfregou na cara deles algumas, das várias cláusulas contratuais presentes no contrato dela.

A loira se retirou da sala naquele instante e Rachel a seguiu. Foi quase impossível acompanha-la, e a morena teve que praticamente correr para segurar Quinn quando ambas avistaram Michael caminhando na direção delas com os braços erguidos, dizendo ‘Hey, Quinn. Desculpe, não foi nada pessoal...’

Oh, Rachel nem mesmo soube como, ela só percebeu que tinha esmurrado o rapaz quando um flash, disparando há poucos metros de distância, a trouxe de volta a realidade. Jake conseguiu tirar ambas garotas do alcance da lente do paparazzi, mas o estrago já estava feito. Todos os programas e sites de fofocas deram destaque ao ataque de fúria, daí em diante os boatos só aumentaram.

‘Rachel Berry e Quinn Fabray se separam após traição.’

A audiência foi tão grande, que mais uma vez os executivos se aproveitaram da situação para alimentar os rumores, que Quinn e Michael haviam se deixado levar pelo amor entre suas personagens no filme.

E por mais que Quinn desejasse, ela estava proibida por contrato, de contestar ou falar a respeito de qualquer assunto que envolvesse a produção do filme, sem antes receber o aval dos produtores executivos.

O resultado disso tudo?

Quinn perdeu um contrato para um outro filme que faria pela Fox, porque os executivos acharam que ela era muito emotiva e destemperada. E como se não fosse o suficiente, corria a boca pequena, que o escândalo estava ameaçando a indicação da atriz a tão sonhada estatueta dourada.

Nigel tentou ponderar a situação, explicando a Quinn e a Rachel, que a atriz não era obrigada a aceitar fingir um relacionamento com ninguém, mas ela não podia de maneira alguma expor a grande mídia o que na verdade havia acontecido. Ela também não precisava se afastar de Rachel, nem ao menos esconder seu relacionamento com a morena.

O empresário conseguiu negociar uma folga de alguns dias para Quinn, já que Michael e seu belíssimo olho roxo, incapacitava as gravações, e agendou vários eventos e entrevistas para que a atriz tivesse a chance de minimizar os estragos que tanta exposição negativa, poderiam estar causando a sua imagem.

Mas Rachel tinha inúmeros compromisso inadiáveis em NYC, e sua ausência acabou sendo interpretada como a confirmação do termino do relacionamento entre elas.

‘Os RP se negam a falar sobre o assunto, mas fontes seguras garantem que Quinn Fabray e Rachel Berry, já não são mais um casal... E, comentam que a atriz é vista com frequência no set de filmagem, na companhia de seu par amoroso no filme, o ator Michael Miller. Parece que mais um romance brotou nos bastidores!’

O que nos leva ao começo da tarde de hoje à Los Angeles, no Araya’s Place, um renomado restaurante com conceito Vegan Thai, na Beverly Grove em West Hollywood, onde Quinn gostava de almoçar.

Os executivos do estúdio acabaram forjando mais um ‘encontro furtivo’ entre ela e Michael, enviando o ator para o mesmo lugar, dando dicas a vários sites e paparazzi para aguardarem por eles do lado de fora do restaurante.

Quinn ficou furiosa quando percebeu a armação e deixou o local imediatamente.

“Rach, eu só queria estar junto de você... Eu estou me sentindo presa aqui... Já não consigo fingir. Tenho vontade de surrar a cara dele! Vai ser a pior atuação da minha vida! Um fiasco!”

“Onde você está agora?”

Quinn não entendeu exatamente o motivo da pergunta, mas respondeu assim mesmo.

“No carro? Estou voltando para o hotel, as gravações foram suspensas até terça, mas eu tenho entrevistas e dois eventos que preciso ir. Wallace continua me enfiando nesses coquetéis e festas pré-Oscar... Por quê?”

“Desculpe por não poder estar com você. Também preciso estar presente em vários eventos pré-lançamento da peça. Nunca pensei que fosse tão difícil montar uma peça na Broadway...Mas eu liguei para te dar uma boa notícia.”

“Você publicou fotos eróticas de nós duas, em uma de nossas noites de amor insano?”

Mais uma vez, podia-se ouvir Rachel gargalhar do outro lado da linha.

“Não meu amor, não quero causar um AVC precoce no Nigel.”

O carro estacionou na entrada do hotel onde Quinn estava hospedada e logo em seguida, Jake já abria a porta para a atriz, que saiu do veículo ainda com o celular no ouvido.

“Então quer dizer que você tem guardadas fotos de nossas noites de amor, senhorita Berry?”

“O quê?! Não! Quinn!!!”

Dessa vez foi a vez da loira gargalhar. Do outro lado da linha, Rachel suspirou profundamente.

“Sabe, esse seu lado pervertido é um tanto desconcertante as vezes... mas eu te amo mesmo assim.”

Quinn entrou no saguão do hotel.

“Chegou no hotel?”

“Sim...Estou na recepção. Era para eu dar de cara com um pacote gigante com um daqueles laços enormes ou algo parecido?”, ela perguntou olhando ao redor.

“Acho que ele não iria gostar muito de ter um lacinho vermelho no pescoço...”

Foi então que ela avistou Hiram Berry caminhando em sua direção.

“Oh. Meu. Deus. Rachel... O que seu pai faz aqui?”

...

“Lise? Quem é?” Michele apareceu na sala, ainda tentando secar os cabelos com uma toalha, vestida confortavelmente com um suéter de tricô cor de rosa, de decote canoa, com uma enorme coruja bordada na frente e o short de malha mais curto que Elise já vira um dia.

A morena congelou no meio da sala, ao se deparar com Finn e Elise praticamente rosnando um para o outro.

“Finn? O quê?”, mas a garota não teve tempo de continuar. Finn estava visivelmente irritado com a presença da ruiva, e disparou contra a morena.

“Eu que pergunto, Michele. O que ela faz aqui?”

“Não é da sua conta, Godzilla.”, Elise rebateu e o rapaz fechou a cara.

“Finn, ela é minha convidada. Eu falei a você que encerramos nossas diferenças e que de agora em diante estamos procurando nos dar bem...”

“Sim, você me falou a respeito e eu lembro de ter dito que não achava que era uma boa ideia! Essa garota é uma verdadeira sacana, Michele! Desde o primeiro instante que ela viu você, ela lhe humilhou e eu soube muito bem a confusão que ela fez com Quinn e Rachel! E agora ela está toda inocente, se jogando em você?”

“Finn... você...”

Mas dessa vez, Elise já estava cara a cara com ele, - mesmo que com a óbvia diferença de altura, - ela colocou o dedo quase no meio da cara dele e sibilou entredentes.

“É bom você parar de me insultar, Pé Grande, porque eu sou muito melhor nesse jogo do que você.”

Finn estreitou os olhos na direção dela e grunhiu de volta.

“Até nisso você perde para Quinn, Elise... Ela sempre foi muito mais assustadora que você... Em comparação a ela... você não é nada.”

Se Michele não estivesse prestando atenção, ela não teria percebido o segundo em que o olhar de Elise pareceu refletir o quanto aquelas palavras a haviam atingido.

“FINN HUDSON!!!”, a morena disparou furiosa. “Você não tem o direito de vir na minha casa e insultar minha amiga desse jeito!”

“Michele...” o rapaz tentou se aproximar da morena. Lógico que ele havia percebido que tinha sido grosseiro, mas ele ainda não compreendia muito bem por que a presença de Elise o deixava tão irritado. Era difícil de entender, mas todas as vezes em que eles se encontraram uma sensação estranha pairava no ar. E sempre que Michele falava dela, ou que ele via as fotos delas duas juntas nos tabloides online, - sim porque por mais que muitos dos jornalistas ainda confundissem Michele com Rachel, Finn conseguia muito bem discernir as diferenças entre as duas, - ele não conseguia conter seus ciúmes.

“Quer saber? A culpa é dela!”, ele tentava se justificar perante sua namorada.

“Eu vou embora.”

E no instante seguinte Elise passava por Finn em direção a saída. Michele empurrou Finn de lado e correu atrás dela chamando pela ruiva. A morena só conseguiu alcança-la já quase no meio da rua, tendo que agarrar seu braço para faze-la parar.

“Elise, por favor...”, mas as palavras não saíram. A visão daqueles olhos esverdeados transbordando em tristeza e lágrimas fez seu coração apertar dolorosamente em seu peito. “Lise?”

Elise sacudiu a cabeça, num pedido mudo que ela não continuasse a falar. A ruiva se livrou da mão que a segurava, dando as costas para morena e caminhando a passos rápidos até o outro lado da rua. Michele a viu entrar num taxi na esquina um pouco mais a frente, enquanto enxugava as lágrimas do rosto. Elise não olhou para trás, talvez se ela o tivesse feito, a visão de Michele chorando, olhando em sua direção, também a tivesse petrificado no lugar.

...

“E essa é a favorita de Arthur.”, disse a loira levantando um casaquinho vermelho da linha Chicago Bulls for Babies.

Judy franziu o nariz encarando a roupinha de bebê.

“Eu não posso dizer que gostei, querida. Tenho que admitir que sempre tive uma preferência pelos Lakers.”, ela desviou o olhar para a montanha de roupinhas e acessórios para bebês que Frannie tinha ganho em seu chá de baby, há alguns dias.

“Eu entendo perfeitamente o porque mamãe.”, disse Fran sorrindo timidamente, colocando o casaquinho do Chicago Bulls junto com as outras peças de roupas que deveriam ser lavadas.

Vendo sua mãe inclinar a cabeça em dúvida, a loira mais nova esclareceu.

“Sempre foi o preferido de Quinnie...”

“Oh... eu tinha esquecido disso.”, a mulher respondeu tentando disfarçar o peso que sempre sobrepunha seu coração quando ela pensava em sua filha mais nova.

Frannie a observou por um minuto. Ela sabia que há alguns meses sua mãe havia tentado entrar em contato com sua irmã caçula, mas que o reencontro não havia tido um desfecho muito feliz. Principalmente, por causa do motivo que fez com que Judy finalmente resolvesse intervir em favor de sua filha, fosse avisa-la que o pai delas estava escrevendo uma versão nada agradável da infância e juventude de Lucy Quinn Fabray.

“Nenhum de nós merece que ela nós perdoe, mamãe...”

Judy desviou olhar para encarar a barriga de sete meses de gravidez de sua filha mais velha. Era seu segundo neto... por parte de Fran... dois meninos... Edward e agora Jonathan. Edward tinha três anos... Frannie iria agendar o parto de Jonathan na semana seguinte.

Mas sua primeira neta deveria ter nascido antes disso.

Ela deveria ter sido avó quando Quinn desse a luz a uma garotinha... uma garotinha que morreu mesmo antes de saber o que era a vida... uma garotinha que morreu porque ela não conseguiu ser uma mãe de verdade para a sua garotinha...

“Pare de se culpar...”, Fran sempre soube dizer quando a mente de sua mãe se perdia em pensamentos, e mais que tudo ela sabia que na maioria das vezes, Judy se perdia em sua mente se culpando pelo que havia acontecido com sua irmã.

“Eu devia ter feito algo...Frannie... eu fui uma mãe terrível. E não ouse contestar isso, querida.”, ela acrescentou quando viu que sua filha queria argumentar. “Sua irmã era só uma menina e eu estava perdida no fundo de uma garrafa... completamente afogada numa vida sem proposito para conseguir me impor perante seu pai.”

“Mas agora você mudou. Eu sei que Quinnie talvez nunca vá perdoar nenhum de nós por termos sido incapazes de estar ao lado dela quando ela mais precisou, mas o importante é que agora... mesmo distante, você pode finalmente fazer algo que vai protege-la dele... E eu me orgulho muito por isso, mamãe...”

Judy limpou as lágrimas que escorriam por sua face. Sua filha tinha razão. Ela havia falhado com Quinn, mas dessa vez, mesmo que sua filha mais nova não soubesse, ela seria aquela que iria protege-la.

...

O Eleven Madison Park é um dos melhores restaurantes do mundo e um dos mais caros da cidade. Localizado exatamente no número 11 da Madison Avenue em NYC, tem uma fila de espera para reserva de no mínimo um mês, se você tiver sorte. Mas para alguns clientes VIP’s, o Eleven concede algumas regalias, e para Jesse St. James o privilégio de ter suas reservas confirmadas para esta noite se devia ao prestigiado VIPcard de Rachel Berry. E por essa razão, ele desfrutava de um dos melhores menus da cidade junto com alguns dos mais influentes executivos da Broadway.

Discretamente, Jesse olhou para o visor de seu relógio. Rachel estava muito atrasada. De qualquer forma, ele não estava contando que ela conseguisse chegar a tempo. Afinal de contas ela o avisou de uma reunião do conselho que ela estaria obrigada a comparecer, agora que seu fiel escudeiro precisou tirar férias para resolver um problema familiar na Índia.

E talvez fosse a providência divina operando, porque o tema recorrente na mesa girava em torno de um assunto que certamente desagradaria a morena.

“Diga-nos St. James, o que acha de nossa proposta?”, um dos homens quis saber.

“É seguro apostar que depois do que evidenciamos nos últimos meses, um boato desse tipo iria despertar um interesse gigantesco da mídia.”, comentou outro executivo.

“É seguro afirmar que a senhorita Scott não se oporia... Já checamos com seu relações públicas, e ele concorda que um leve rumor seria inofensivo.”, defendeu o terceiro homem à mesa.

Jesse engoliu seco, buscando apoio em sua taça de vinho.

“Eu não sei exatamente qual seria a opinião da senhorita Berry, senhores. Temos que considerar sua opinião, afinal ela é quem está pagando por todas as contas.”, Jesse tentou soar despretensioso, até mesmo incluindo uma leve risada no meio de seu pequeno discurso.

“Ah, St. James! Seria a perfeita situação para ela.”, um deles concluiu.

“Exatamente. Um boato que extinguiria os outros que veem rondando o relacionamento dela com a senhorita Fabray.”, o outro acrescentou.

Jesse tomou mais um gole de seu vinho.

“Temos que considerar que a co-estrela da senhorita Scott pode não...”

“Não há motivos para preocupação, Jesse.”, o terceiro homem interrompeu. “Temos total confiança em você para lidar com essa situação.”

Mais uma vez, Jesse se viu no meio de um fogo cruzado entre estratégias de poder e jogos de marketing entre importantes figuras do show business. Sem outra alternativa, ele propôs um brinde, erguendo sua taça numa prece silenciosa para que amanhã, quando Rachel soubesse do que estava para acontecer, ela não acabasse com a vida dele.

...

Quinn deu uma risada nervosa, ela ainda não havia superado o vexame de seu último encontro com os pais da morena. ‘Oh Deus, não me faça parecer uma idiota de novo.’

Hiram se aproximou a envolvendo num abraço terno, para depois puxar o celular da mão dela.

“Olá baby girl, acho que sua amada Quinn está em choque com a perspectiva de passar alguns dias sozinha com um de seus futuros sogros.”

O homem entregou o aparelho de volta à ela, ainda em tempo da loira ouvir Rachel mandando seu pai se comportar e parar de ‘curtir com a cara de Quinn’.

“Rachel, sou eu... Acho que eu preciso desligar agora e me preparar para fazer papel de boba na frente de seu pai... de novo.”

“Relaxe, meu amor. Você vai adorar o que ele tem a dizer... mas tente não cair muito nas piadas dele, e se ele aprontar muito com você, me avise que eu coloco ele na linha! Eu te amo, Quinn. Tchau.”

“Eu também te amo...bye.”

Hiram a encarava com um sorriso travesso. Quinn engoliu seco.

“Então...” ela tentou começar.

“Então...minha filha falou o motivo de minha visita, Quinn?” ele provocou e Quinn só sacudiu a cabeça negando. Ela estava nervosa demais para falar. ‘Oh Deus, aquele vaso, não podia ser realmente ‘o vaso de porcelana’ original, não é mesmo?’ Quinn franziu o cenho tentando organizar as duas imagens em sua mente. Ela havia feito isso algumas vezes, depois de Rachel ter deixado escapar que o vaso que ela esbarrou, e acidentalmente derrubou escada a baixo durante seu primeiro encontro com os pais da morena, era um vaso Ming original. As fotos que ela viu no google do vaso de porcelana feito no século 14, no período Hongwu da dinastia Ming, AKA o vaso de porcelana com valor estimado de 10,9 milhões, eram assustadoramente semelhantes com os pedacinhos de estilhaçados no piso da sala de estar. ‘Quinn, pelo amor de Deus, relaxe. Papai o usava para esconder biscoitos!’, era o que Rachel repetia, todas as vezes que ela falava sobre o assunto.

“Interessante. Parece que Rachel finalmente aprendeu a manter alguns segredos...”, Quinn piscou algumas vezes voltando a realidade e dando de cara com grandes e brincalhões olhos castanhos.

“Permita que eu divague um pouco, Quinn.”

Hiram a tomou carinhosamente pelo braço, a conduzindo a um lugar mais reservado.

“Histórias de amor acabam sendo bastante apelativas junto ao público, mas sabe o que a audiência realmente gosta?” Ele olhou para ela buscando por uma resposta.

“Conflito? Superação?”, ela articulou as palavras timidamente e viu um brilho diferente tomar conta do olhar dele.

“Isso. Exatamente isso.” Eles tinham saído do saguão e agora estavam numa área reservada próxima ao bar do hotel, Hiram puxou para ela uma cadeira de uma das mesas junto a uma grande janela de vidro que dava vista a piscina. Quinn agradeceu a gentileza e sentou-se.

“O romance é só um detalhe, Quinn. Sabe o que é realmente faz com que a história de Romeu e Julieta seja tão apelativa?”

Ela piscou mais algumas vezes. Estava difícil entender o sentido daquela conversa.

“O ódio entre os Montéquio e os Capuleto?”, ela perguntou. Literatura sempre havia sido a sua matéria favorita na escola, apesar de se sentir extremamente segura quando sua resposta, a sensação de estar sendo sabatinada por seu ‘pretenso futuro sogro’, fez com que toda sua confiança quanto sua expertise no assunto desaparecesse momentaneamente.

“Exatamente! O herói é aquele que passa por inúmeras provações, e nem sempre o destino lhe sorrir. Se você prestar atenção, a grande maioria deles luta por um ideal e muitas vezes no final da jornada não encontra o seu final feliz. O sacrifício é sempre algo presente, é sempre algo necessário.” o olhar dele pareceu brilhar ainda mais. Hiram se inclinava sobre a mesa, seu olhar maroto praticamente delatava o quanto ele estava entusiasmado com a conversa. Ele a olhava como se fosse revelar o maior segredo da terra, e a loira não resistiu à vontade de se aproximar também.

Os dois estavam praticamente cara a cara quando o homem sussurrou.

“Nós vamos matá-lo.”

“O quê?!”, Quinn se afastou de uma vez, quase caindo da cadeira. Ela teve que se controlar para não gritar de volta. Hiram ria baixinho, visivelmente satisfeito por ter conseguido uma reação tão dramática. Quinn o encarava de queixo caído. ‘Rachel definitivamente tinha a quem puxar.’

“Quinnie querida, eu estou falando de Ethan.” Ele atestou com um sorriso, como se fosse obvio a quem ele estivesse se referindo.

Franzindo o cenho confusa a mente da loira demorou um pouco para ligar os pontos. ‘Ethan? Quem diabos é Ethan... Oh, Ethan!

“O nome da personagem de Michael no filme é Ethan... Mas como você pode...?” O sorriso dele cresceu. “Oh meu Deus! Você? Quer dizer que a Blueberry?”

Hiram abriu os braços e Quinn correu para abraça-lo.

“Sim, minha querida. Nós agora somos os donos do filme. Já reescrevemos o roteiro, e vai ser uma história incrível! Uma heroína cujo o coração foi dilacerado por aquele quem ela pensou que a amava, e que agora vai enfrentar tudo e todos para reerguer seu povo e liberta-lo da tirania desse falsário! Vai ser um sucesso! Você vai colecionar Oscar’s!”

‘Ah, como eu quero ver a cara de Michael quando ficar sabendo disso’, pensou a loira sorrindo maquiavelicamente.

...

ALGUNS DIAS DEPOIS - NYC

Jesse estava sorridente. Rachel havia sido misericordiosa e não havia tido um ataque de fúria ou decidido esquarteja-lo. A morena estava mais preocupada em liberar sua agenda para poder estar ao lado de Quinn na semana da premiação do Oscar. Aparentemente Nigel estava exigindo que as duas comparecessem em vários eventos e pré premiação juntas. Então, quando a primeira edição de New York Theater Magazine, chegou com uma matéria sobre DREAMS, que sutilmente relatava a ‘indiscutível e adorável sintonia’ entre Elise Scott e a novata Michele Bergman, Rachel nem ao menos suspeitou da mensagem que as entrelinhas do texto trazia.

Quer dizer, honestamente, nem tudo eram flores. Quisera ele que a reação de suas duas co-estrelas tivesse sido tão boa quanto a da morena.

Bem, Michele não era exatamente o problema. A morena havia ficado em silêncio após ler a reportagem, enquanto Elise praticamente surtou. A ruiva sacudia a revista na cara dele, perguntando se ‘aquilo significava exatamente o que ela havia entendido que significava’.

Finn também não ajudou. No mesmo dia, ele apareceu no teatro, com a revista em mãos, perguntando a Michele ‘há quanto tempo ela o traia com Elise?!’. A morena ficou vermelha escarlate de raiva e a discussão que aconteceu no camarim pode ser ouvida por todos os bastidores.

‘Você já olhou com atenção essas fotos de vocês duas, Michele?’, ele disse apontando para uma das fotos onde Elise abraçava Michele por trás, deixando seu queixo apoiado no ombro da morena. As duas sorriam afetuosamente para a câmera.

‘É a personagem, Finn! Esse é o jeito que a personagem dela deve se sentir!’

‘Eu não estou falando dela, Michele. Estou falando de você.’

‘O quê?...’

‘O jeito como você a olha, o jeito como você a abraça. A maneira como você parece grudar nela quando vocês estão juntas! Você não consegue tirar os olhos dela, nem por um instante.’

‘Isso é loucura... você está imaginando algo que não existe... Nós somos amigas.’

‘Eu não estou falando só dessas fotos, Michele. Eu estou falando daquela outra noite quando eu cheguei de surpresa. E quando paro para pensar, de todas as vezes que eu vi vocês duas juntas! Você estava interpretando em todas essas vezes?’

Finn passou a acompanhar Michele nos ensaios. Ele ficava no camarim na maior parte do tempo, mas durante os intervalos e pausas, ele sempre estava ao lado da morena. E ao final do dia, acompanhava a garota para casa sem ao menos dar-lhe a chance de se despedir.

Elise parecia ter revertido a sua persona de ‘diva do gelo’. Não haviam mais manhãs sendo empurrada para fora da cama por Michele berrando maluquices no celular, ou almoços juntas explorando os restaurantes e Deli’s aos arredores do teatro. Muito menos caminhadas ao final da tarde pela 7th avenue, até o carrinho de sorvete na West Drive do Central Park.

Jesse fingia que não entendia o mal humor da ruiva, mas nas últimas semanas, quiçá no último mês, ele havia percebido que na verdade, a implicância de Elise com Michele, sempre lembrou muito o jeito como a ruiva (na época loira), implicava com Rachel. Talvez, Elise ainda não tivesse percebido, mas ela sempre estava buscando algo para se aproximar da morena e isso acontecia desde o momento em que as duas haviam se encontrado.

Surpreendentemente a Finn-patrulha, não havia dado o ar de sua graça no teatro hoje. Michele havia chegado calada e até agora não havia comentado nada sobre a ausência do namorado/encosto. Depois de passar suas cenas com a morena, Jesse achou pertinente aproveitar que para repassar algumas cenas românticas entre elas. Não que a dinâmica delas tivesse que ser apurada, o que ele na verdade pretendia era aproveitar toda a tensão que ambas estavam sentindo nos últimos dias para tentar uma nova opção para o primeiro beijo das personagens na peça.

“Então, a o roteiro diz que Lana está frustrada e desesperada com a possibilidade de perder Kathleen para Thomas e decide arriscar tudo e a puxa pelo braço, e a beija. Kathleen fica imóvel e depois assiste Lana sair sem dizer uma palavra.”, Jesse recitou assumindo seu papel de diretor. “Mas hoje, eu queria tentar algo mais forte...”

Elise ergueu a sobrancelha e Michele levantou os olhos do roteiro que tinha em mãos, para encara-lo.

“Kathleen, é muito passiva nessa cena... e há algum tempo eu estou pensando em mudar um pouco as coisas.”

“Você resolveu mudar o roteiro? Agora?”, Elise deu um passo para frente colocando as mãos na cintura.

“Não. Apenas decidi que Kathleen precisa tomar uma atitude. Ela está muito apagada nessa cena, e esse comportamento não condiz com sua personalidade.”

“E o que você quer que ela faça? Lana não merece que Kathleen retorne seus sentimentos! Ela é uma egoísta, imatura e até onde se sabe, indigna de confiança! Kathleen não confia nela, muito menos...”

“Eu acho que Jesse tem razão...”, a voz de Michele se sobressaiu. “Kathleen tem uma personalidade forte, mesmo aparentando ser delicada e frágil. Ela tem medo de tudo aquilo que ela sabe que sente, mas apesar de não ter coragem para admitir, ela deveria se permitir...se deixaria levar.”

Elise travou o queixo, olhando estarrecida para a morena.

O roteiro básico da trama contava a história de Kathleen, uma garota do interior disposta a realizar seus sonhos de cantar nos palcos da Broadway em NYC. No meio do caminho, ela acaba se envolvendo com Thomas, um rapaz rico e de bom caráter que sonha em ser escritor. É Thomas que apresenta Kathleen à Lana, prima do mocinho, e que apesar de possuir uma reputação de conquistadora, sonha em encontrar seu grande amor. A princípio Lana se aproxima de Kathleen por causa de uma aposta feita com um de seus amigos, mas por ironia do destino, ela se apaixona verdadeiramente. E a situação só se complica ainda mais quando Thomas pede Kathleen em casamento. Indecisa entre suas duas paixões, Kathleen acaba confessando seus sentimentos ao mesmo amigo que fizera a aposta com Lana, que se aproveita da situação para afastar as duas e ganhar a aposta, dizendo a Kathleen que os sentimentos de Lana não são sinceros e que ela deve levar em frente seu casamento, depois, ele diz a Lana que Kathleen está grávida de seu primo. O primeiro e único beijo entre elas acontece nesse momento, e a cena terminava com Lana abrindo mão de seu amor por Kathleen e embarcando para o exterior. Nessa cena, Kathleen percebe que seu amor por Lana é mais forte que o sentimento que ela tem por Thomas, mas a garota não tem forças para segui-la, já que pensa que Lana não retribui seus sentimentos.

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“Nunca entendi porque ela não foi atrás dela...”, divagou Michele. “Kathleen é impetuosa e teimosa demais para ter desistido assim tão fácil.”

“E é por isso que resolvemos apimentar um pouco essa relação...”, Shelby Corcoran subiu no palco, caminhando na direção deles. “Jesse teve uma ideia brilhante que fara que DREAMS seja uma das produções mais marcantes já produzida pela Broadway.”

Elise arregalou os olhos para a mulher.

“Eu não acredito...”

“Olá Elise. Já faz muito tempo, não é mesmo?”, Shelby a abraçou carinhosamente, sobre o olhar atento de Michele que a observava com visível curiosidade. A morena mais velha percebeu o olhar da jovem atriz e se afastou de Elise, estendendo uma das mãos.

“Você deve ser a tão famosa, Michele Bergman. Eu sou Shelby Corcoran, fui professora e treinadora vocal de Jesse e de Lise.”, Shelby sentiu o aperto de mão de Michele tornar-se um pouco mais forte quando ela usou o apelido carinhoso para se referir a Elise, e sorriu abertamente.

“Jesse fala muito bem de você. Estou muito ansiosa para ouvir a voz, que de acordo com ele, rivaliza até com a minha...”

Michele estreitou os olhos por um milissegundo, mas Shelby percebeu. ‘Oh, isso vai ser divertido’, a morena mais velha pensou.

“Muito bem, garotas.”, Jesse abraçou Michele com um dos braços, puxando a morena para junto de si. Shelby deu alguns passos para o lado e se posicionou junto a Elise.

Michele travou o queixo e Jesse sorriu.

“Acho que podemos retomar o ensaio.”, concluiu.

...

Judy Fabray espiava pela fresta da porta do escritório de seu esposo, enquanto ele conversava com alguém que representava a editora que estava negociando os direitos do livro que Russel queria publicar.

Em um dos cantos do quarto, um programa televisivo falava sobre os artistas que participariam da cerimônia do Oscar para alguns dias, a reportagem seguia anunciando Quinn Fabray como a predileta para ganhar a estatueta de melhor atriz.

Russel desligou o telefone, se voltando para a televisão. Sua expressão facial era de puro escarnio.

“Em breve toda essa idolatria direcionada a essa pecadora vai acabar.”, ele recitou para o vazio ao seu redor.

Judy se afastou sem fazer ruído algum. Ela havia ouvido nitidamente quando ele repetiu a data e horário da festa de lançamento e teve a certeza de que essa era a hora de tomar alguma providência contra essa loucura.

A senhora Fabray se dirigiu até a porta de saída, apanhando sua bolsa e as chaves do carro no caminho. Ela suspirou segurando firmemente a alça da bolsa, caminhando até a garagem. Quinze minutos depois ela estacionava o carro em frente aos a sede dos correios de Lima. Ela tirou um pequeno envelope de dentro da bolsa, sua mente repetia incessantemente as palavras de apoio de Frannie. ‘Você consegue, mamãe. Você conseguiu se impor antes, lembra?’

Judy respirou fundo e despachou o pequeno envelope. Naquele pen drive jazia sua última esperança de ser uma boa mãe para Quinn.