Minguante

Once I Called You Brother


Jung ainda está tentando assimilar as coisas.

Já faz algumas semanas desde que ele se juntou a Hae Soo e seu décimo-terceiro irmão no plano maluco de se esconder para que as pessoas no palácio não descubram seu bebê. Mas toda vez que ele a vê com sua barriga evidente, ele sente que a está vendo pela primeira vez.

Eles não se viam há um tempo. Sua última memória era de quando ele deixou os aposentos de sua mãe e ela lhe ofereceu algumas palavras de conforto. Ela estava tão magra e aflita daquela vez que o contraste com essa Soo fofa e animada é desconcertante. Sim, ela está fofa e animada, e Jung não quer pensar no que a gravidez dela implica, então ele não vai.

Mas ele parece não conseguir desviar o olhar dela.

Soo está sentada mais à frente dele, na soleira da varanda, desfrutando do sol quente da tarde. Suas pernas estão esticadas e suas saias esparramadas deixam sua barriga ainda mais proeminente, enquanto ela balança os pés – ela sempre reclama sobre seus pés – e canta baixinho para si mesma com os olhos fechados.

O fato dela estar tão espantosamente linda não ajuda muito. E ela ficar tão feliz quando faz carinho na sua barriga também não. Uma vez ela disse que ele devia esquecê-la, que era o único jeito dele parar de se magoar, mas ele não acha que possa fazer isso.

Soo parece sentir seu olhar intenso, uma vez que ela abre seus olhos e imediatamente encontra os dele, seu sorriso suave crescendo e ficando mais brilhante.

— Jung-nim! — Ela exclama como se eles não se vissem há décadas, — Você está aí.

Ele sabe que ela não tem maldade alguma em suas palavras. Mas Jung se sente um pouco inútil por ficar sentado sem fazer nada depois de ser chamado para ajudar na pequena casa, então ele se apressa para justificar sua presença.

— Hyungnim disse que eu não posso me aproximar da comida, — ele reclama, desviando o olhar de seu sorriso cegante, — Fui expulso da cozinha.

— Parece que eles não ensinam a cozinhar no exército, — ela provoca e ele olha para ela, sentindo o rosto corar.

— Eu sei cozinhar. Especialmente se for minha caça. Ele só está sendo irritante.

Quando ele menciona a palavra caça, seu rosto parece brilhar um pouco menos, e ele se encolhe com medo de ter dito coisa demais.

— Desculpa ter feito você ir para a floresta, — ela diz e ele finalmente entende que ela está se sentindo mal por fazê-lo passar a manhã inteira caçando comida, só porque ela tinha reclamado estar desejando comer algo que não fosse raízes e folhas.

— Não se desculpe, — ele diz sincera e honestamente. Ele já testemunhou o que Hae Soo é capaz de fazer quando fica muito estressada, e ele não quer ver a cena de novo só porque não tem carne na casa, — Você está carregando um pequeno dentro de você, não é mesmo?

A verdade é que Jung teria ido caçar mesmo que ela não estivesse grávida. E quando ela curva a cabeça de leve com um sorriso suave, ele sabe que ela sabe disso também.

— Obrigada. Antes a gente só podia comer vegetais e o que quer que Baek Ah-nim achasse na vila mais próxima. Senti saudades de carne fresca. Ai, — ela se sobressalta, seu rosto se contorcendo em dor, mas então ela ri e acaricia uma parte de sua barriga, — E parece que outra pessoa também sentiu.

Soo não está mais falando com ele. Ela está falando com o bebê dentro dela, e sua expressão muda num instante. Jung se sente constrangido vendo-a assim, então ele tenta trazer a atenção de Soo para si de novo.

— Dói muito quando o bebê chuta?

— Não muito, — ela dá de ombros ao olhar de volta para ele, suas mãos ainda na barriga, — Só incomoda um pouco. Mas às vezes vem do nada e me assusta. — Soo pára a explicação e faz uma cara que indica, como ele já aprendeu, que ela está prestes a tirá-lo de sua zona de conforto, — Aqui, me dá sua mão.

Jung está fora do alcance dela, mas ele ainda põe os braços para trás de si, seus olhos arregalados e sua cabeça sacudindo vigorosamente.

— Não precisa, eu estou bem.

— Está tudo bem, Jung-nim, — ela sorri e faz bico ao mesmo tempo, seu braço estendido, esperando a mão dele se esticar à dela, — É só sua sobrinha ou seu sobrinho querendo dizer oi.

E porque ele não pode nunca lhe negar nada, ele se aproxima, dando sua mão para ela, e deixando-a colocar no mesmo lugar que ela estava acariciando há alguns segundos. Primeiro, nada acontece. Ele levanta uma sobrancelha e está prestes a perguntar o que é que ele devia sentir, quando algo o chuta e ele arfa de surpresa.

— Isso foi ele?

— O pequeno está pedindo comida, — ela diz e ri quando faz que sim animada com a cabeça, falando com Jung e com o bebê, — E ele não vai se aquietar até conseguir o que quer.

— Ele sempre faz isso quando está com fome?

— E também quando ouve a voz de So-nim.

Essa nova informação sobre o bebê ainda não nascido o deixa tão maravilhado que ele nem tem tempo de se incomodar com a menção do nome de seu quarto irmão.

— Ele ouve?

— Sim. Ele está te ouvindo agora, aliás. Diga alguma coisa.

— Hã... — Jung hesita um pouco, mas então ele se inclina para mais perto do lugar que sua mão toca na barriga de Soo antes de falar, — Oi?

O mesmo chute de antes acerta sua mão, um pouco mais firme. Quase como se a criança estivesse reagindo para o que ele disse e estivesse tentando mostrar que, sim, ele consegue ouvi-lo perfeitamente.

— Forte, não?

— Um bravo lutador. Que nem a mãe.

— E o pai.

O bebê ainda está chutando, mas dessa vez, o rosto de Jung se abate e ele sente um silêncio constrangedor em volta dele.

Ele não quer deixar Soo desconfortável por falar sobre ele. Mas ele não sabe o que dizer sobre o Rei que não seja remotamente negativo, então ele fica quieto. Soo respira fundo, e ele se prepara para ouvir uma bronca e para ela começar a chorar no meio do sermão inspirador. Mas então Baek Ah sai, gritando o mais dramaticamente que pode enquanto carrega uma bandeja com a comida deles, e Jung tira sua mão rapidamente.

— Mil perdões ao pequeno e à mãe gestante! Perdoe-me pela demora da comida.

— Está tudo bem, — Soo ri e abre espaço para ele colocar a comida e os pratos e talheres, — Desculpa por não poder ajudar muito.

— Não se preocupe com isso e vamos comer.

Os três se sentam do lado de fora, já que Soo diz que passar um dia tão lindo do lado de dentro é um desperdício. E quando eles já estão posicionados em volta dos pratos, os talheres e tigelas de arroz na mão, ela inala de vez e os faz parar de comer antes mesmo que comecem.

— Espera. Eu tive uma ideia, — Soo começa a se levantar o mais rápido que pode com sua barriga pesada, — Vocês vão dizer que eu sou louca, mas eu não ligo.

Aparentemente, o hobby de Soo era ter ideias loucas.

Ele e Baek Ah tentam convencê-la, enumerar todas as possibilidades de tudo dar errado, mas ela continua irredutível. E no fim, Jung acaba tendo que carregar uma grande e pesada cesta de comida, Baek Ah precisa ajudar Soo a calçar seus sapatos, e eles a seguem lentamente pela trilha que sobe as rochas. Eles andam até chegar num plano, com a vista das outras montanhas ao redor.

Eles também conseguem ver Songak à distância e Jung imagina se ela quis ir para lá porque estava com saudades de seu quarto irmão.

— Soo-yah, a gente realmente não devia vir tão longe, — Baek Ah reclama e lhe repreende, mas Soo só dá de ombros.

— Está tudo bem. A gente consegue ver a casa daqui, — ela aponta quando começa o lento processo de se sentar pensando alguns quilos a mais, — E se alguém passar, vamos só fingir ser um grupo de irmãos.

— Dois irmãos fazendo companhia à irmã grávida?

Baek Ah ergue uma sobrancelha para ela e Soo pisca, notando a fragilidade de seu plano. Mas antes que eles possam convencê-la a voltar, ela dá de ombros e apresenta uma alternativa.

— Tudo bem, um de vocês finge ser meu marido.

— Pode me deixar fora dessa, — seu irmão guincha em protesto quase que imediatamente, mas se senta fazendo estardalhaço, — Deixe Jung ser seu marido de mentirinha e receber a ira de hyungnim dessa vez.

Jung não diz nada ao se sentar quietamente, suas costas voltadas para a cidade à distância.

— Melhor não, — Soo suspira em derrota depois de um segundo de reflexão, — Se for você, pelo menos eu sei que ele não vai te matar.

Jung está retirando os pratos da cesta, mas seu braço se congela no meio do ar e seus olhos correm para Baek Ah quando Soo faz seu comentário. Ele espera que seu irmão retruque em tom de pirraça, assim ele vai saber que ela não estava falando sério. E quando tudo o que se segue é o silêncio, seus olhos vão para a figura de Soo, que acaricia a barriga placidamente. A visão devia ser o bastante para lhe garantir que ela estava brincando, mas com seu quarto irmão, ele nunca tem certeza.

— Que tipo de piada é essa? — Baek Ah finalmente diz, rindo sem graça, e Jung se sente mais inquieto do que antes.

— Vamos esquecer disso e comer logo, — Soo se esquiva de uma resposta direta, tomando sua tigela e seus talheres na mão casualmente, — Assim as chances de alguém nos ver são menores.

Soo devora a comida quase que imediatamente. Ela morde a carne antes de qualquer outra coisa e sorri animada. Jung continua em silêncio ao colocar na boca algo que ele não sabe ao certo o que é, e seu irmão se recusa a se mover.

— Eu tenho quase certeza que você só veio aqui pra ver a capital.

O comentário do seu décimo-terceiro irmão é só para provocar Hae Soo e ele sabe. Mas saber que Baek Ah também pensou a mesma coisa só o machuca um pouco mais por dentro, e ele continua a comer em silêncio.

— E daí? — A confirmação emburrada dela não o anima também, — Me perdoe por estar grávida e cheia de desejos egoístas.

— Não tem nada de errado em querer vir para cá, tá bom? — Jung ouve o tom de voz do seu irmão passar de provocador para confortante, e depois queimando de indignação, — Você só está tentando me fazer sentir mal.

— Claro que estou.

— Vamos comer, — Jung murmura para interromper aquela discussão boba.

— Espera. Aquele não é hyungnim?

— Onde? — Soo larga a comida, tentando se erguer de vez ao mesmo tempo em que olha para a direção que Baek Ah estava olhando. Jung nem se dá ao trabalho de se mexer.

— Ah, disfarça, — seu irmão não consegue esconder o sorriso quando fala, — É só uma árvore.

— Você é cruel.

— Você também.

— Eu pensei que ele tinha um cronograma para vir para cá, — Jung diz calmamente, ainda comendo, mas já cansado de ficar fora da conversa. Soo só dá de ombros e volta a comer, Baek Ah faz o mesmo ao seu lado.

— So-nim não acredita em cronogramas.

— É, — Jung faz um muxoxo antes que possa se controlar, — Ele não acredita em quase nada.

O que ele está dizendo machuca, e ele sabe disso. E se ele não soubesse, a expressão de Hae Soo mostraria imediatamente, pois seus olhos caem e seu rosto perde o brilho que tinha antes na casa. Mas antes que ele possa se desculpar, seu irmão mais velho lhe dá uma bronca com uma voz dura.

— Se vai deixar todo mundo sem graça, então é melhor voltar para Chungju.

— Perdão por ser um incômodo, — ele diz sinceramente, olhando para Soo e ainda assim se recusando a abandonar suas crenças, — Mas você sabe o que eu penso.

O sorriso de Soo é triste e seus olhos parecem lhe pedir mil coisas. Seu pedido, no entanto, é bem simples.

— Jung-nim, você pode acreditar em mim?

Ele pode, e não há dúvida quanto a isso. Desde que ela arriscou sua vida e o salvou dos bandidos na floresta, ele jurou ficar sempre ao lado dela. Ela tinha sua total e plena confiança, e todo mundo sabe disso.

— É claro que acredito em você.

— Então acredite em mim quando digo que ele não usurpou a posição dele.

Já isso é uma coisa completamente diferente.

Jung despreza as intrigas que se espreitam pelo palácio. Ele não suporta as pessoas que usam máscaras sobre máscaras e oferecem falsos elogios e sorrisos. E embora ele acredite em Soo, ela é a única naquele lugar que ele estaria disposto a seguir cegamente até o fim do mundo.

Soo é a única que ele estaria disposto a seguir, na verdade.

— Soo-yah, essas coisas são complicadas.

— Você lembra que eu estava lá quando os dois últimos reis morreram? — Ela o interrompe e ele desvia o olhar, já sabendo onde ela quer chegar, — Eu sei o que é um usurpador, Jung-nim. E seu quarto irmão não é um.

— Então vai continuar apoiando ele?

— Que nem você apoiou nosso terceiro irmão, — Baek Ah entra na conversa, aparentemente já terminado com sua refeição, — Estou errado?

Jung não ignora a hostilidade na voz do seu irmão. E ele também se sente afrontado por ser acusado de algo que estava completamente fora de seu controle. Seus olhos chispam de raiva quando ele se justifica com Baek Ah, sua conversa com Hae Soo completamente esquecida.

— Eu não apoiei Yo-hyungnim.

— Você também não tentou impedi-lo. So-hyugnim, por outro lado...

— Tá bom, já chega, vocês dois, — Jung sente um puxão forte na sua orelha quando Soo grita irritada, e é aí que ele percebe que ele e Baek Ah estavam se levantando para um embate físico, e ela puxou as orelhas deles para apartá-los. Ela os solta quando eles voltam para seus lugares, — É assim que as guerras começam no palácio. Brigas inúteis para saber quem é melhor que quem. Baek Ah-nim, não tente fazer Jung-nim se sentir culpado. Jung-nim, não tente fazer So-nim parecer o vilão aqui. Cresçam, vocês dois.

Ele está chocado demais pela explosão de Soo para dizer alguma coisa, e sente envergonhado demais depois de sua fala para poder pensar numa réplica, então ele fica quieto. Na frente dele, Baek Ah parece estar passando pelo mesmo processo e há silêncio entre eles por um tempo.

— Mas ele está mais errado do que eu, — Baek Ah deixa escapar e Jung faz uma careta de ultraje.

— Você só diz isso porque nosso quarto irmão favorece você.

— Ele me favorece porque eu não o trato como um monstro bastardo.

— Bem, é isso que ele é.

A mão que agarra seu colarinho é esperada. Mas o que o surpreende é que quem o puxa pelo hanbok não é seu irmão, que na verdade também parece estar bem chocado, mas Hae Soo, que o faz se virar para ela. Os olhos dela são gélidos e parecem cortar até à alma quando ela o encara, e Jung se pergunta se ela aprendeu a ser tão intimidadora com seu irmão ou se ela sempre foi assustadora assim.

— Eu vou tolerar qualquer coisa que você possa pensar dele, até mesmo sua antipatia por seu irmão, — ela diz lentamente, num tom baixo que o assusta ainda mais, — Mas não vou aceitar que o insulte dessa forma.

Jung faz que sim vividamente.

— Desculpa. Perdoe-me por isso. Eu estava errado.

Soo o solta e suspira quando se reclina, se apoiando em uma pedra atrás de si e fechando os olhos cansados.

— Parem de arranjar briga, — ela diz suavemente e os dois respiram de alívio, mesmo que ela tenha acabado de dar uma bronca neles, — Faz mal pra digestão. E Jung-nim...

— O quê?

— Por favor, tente entender seu irmão. — Não há raiva ou irritação na voz dela, apenas um pedido honesto e sincero, — Eu não peço que seja amigo dele. Só tente vê-lo sem o preconceito que sua mãe e seu irmão criaram em você.

Antes que Jung possa dizer algo, Baek Ah interrompe em voz alta.

— Espera. Aquele não é hyungnim?

— Não vou cair nessa de novo.

— Não, Soo-yah, — Jung diz, seguindo com os olhos a figura para a qual seu irmão está apontando, — Dessa vez é ele mesmo.

E antes que ele perceba, Hae Soo está de pé, todo o cansaço saindo de seu corpo quando ela começa a acenar com a mão lá no alto e gritar de pura alegria e deleite.

— So-nim!

O Rei, vindo de cavalo e acabando de passar pela trilha que eles seguiram para subir a pequena ladeira, pára quando ela o chama e desmonta quando a vê indo animada na sua direção. Jung não consegue ver o rosto dele, mas ele não duvida que o homem esteja sorrindo, mesmo que isso seja difícil para ele imaginar.

— Ei, você vai cair, — Baek Ah grita atrás dela, ainda sem se mover, e ela faz cena de estar andando devagar, apesar de ainda estar correndo descuidada para o homem lá embaixo.

Jung os observa. Ele não queria, mas ele não consegue desviar o olhar.

Ele observa de longe quando Soo pula no pescoço do seu irmão e ele envolve seus braços na cintura dela para que ela não caia.

Eles parecem felizes. Quando eles se viram e voltam para a casa, caminhando lado a lado, com So puxando o cavalo pelas rédeas, eles formam uma imagem serena. Suas roupas simples de disfarces de plebeus os fazem parecer um casal de camponeses indo para casa.

Ele continua observando, até que a visão se torna excruciante demais para suportar.

— Vamos, hyungnim, — ele começa a se levantar, mas Baek Ah não se mexe.

— Dê um momento a eles. Eles não se veem há um tempo. — Seu irmão se reclina, fechando os olhos antes de continuar a falar, — E eles têm muita coisa para conversar. Eles estão com um filho prestes a nascer.

Jung segue o exemplo de seu irmão e fica à vontade no seu lugar. Mas seu cenho franze em descontentamento.

— Não podemos ser parte da conversa?

— Nós não sabemos de toda a história deles. Como vamos poder dar conselhos?

Isso é uma surpresa para Jung, que sempre costumava ver os três juntos desde que Soo vivia na casa de seu oitavo irmão.

— Eu achei que você era amigo deles desde o começo.

Mas Baek Ah só dá de ombros antes de esclarecer.

— Quando eu comecei a andar com Soo e hyungnim, eles já tinham um passado.

Ele tenta imaginar So e Soo se conhecendo quando Soo ainda era uma garotinha explosiva e animada, que falava tudo o que dava na telha, e seu irmão era um rapaz caladão e assustador, que se recusava a olhar para as pessoas e encarava friamente aqueles que ousavam invadir seu espaço pessoal. E quando Jung tenta imaginar duas pessoas com personalidades tão contraditórias se tornando amigos, ele percebe que quando So foi à floresta para salvar ele e Soo dos bandidos, eles já tinham alguma coisa entre eles.

— Como que eles se conheceram, pra começo de conversa? Eu sempre achei que eles se odiavam.

— Era o que todo mundo achava dela e Eun-hyugnim também, — Baek Ah retruca e Jung não tem como argumentar, — É o que eu estou te falando, não sabemos tudo da história deles. Nós nem sabemos como eles se conheceram e como se apaixonaram.

Jung olha de volta para a pequena casa à distância e pensa em voz alta.

— Uma questão de estar na hora certa e no lugar certo, talvez?

— Eu acho que não. Ela tinha outra pessoa antes deles ficarem juntos.

Nesse caso, ela já amava outra pessoa quando ele confessou seus sentimentos. Ela já amava outra pessoa quando ele se apaixonou por ela. Jung já sabe quem é essa pessoa e isso não facilita as coisas para ele.

— Então eu acho que nunca houve esperança para mim.

A confissão sai com facilidade. Ele estava reprimindo esses sentimentos negativos, sem falar nada sobre seu coração partido desde que chegou ali e descobriu a gravidez de Soo. E agora, é mais fácil para ele se abrir e desabafar do que se sentar fazendo birra e deixar que suas mágoas o irritem e o amargurem.

Seu irmão parece entender isso, apesar de ficar chocado e desnorteado pela natureza de seus sentimentos. Baek Ah se senta lentamente, como se Jung pudesse se distanciar a qualquer momento, e ele esteja com medo de fazer ou dizer algo errado. Mas então seu olhar suaviza e ela fala num tom confidente.

— Ela sabe?

— Eu falei para ela, — ele acena com a cabeça, mas seus olhos continuam perdidos, — Mas para ela eu sempre fui um irmão mais novo, então não importa.

— É por isso que você se opõe tanto ao nosso quarto irmão?

— Acha que eu sou mesquinho assim?

— Eu acho que você está com ciúmes, e isso é esperado. Eu também não apreciei nosso oitavo irmão quando ele se casou com Myung Hee-nui.

— Eu nunca achei que Soo fosse gostar de mim. Pelo menos, não como eu gosto dela, — Jung ainda se lembra de quando sua falecida cunhada disse para ele ter fé, mas sua esperança de estar com seu primeiro amor morreu com ela, — Eu só não queria que ela ficasse com ele.

— É o homem que ela ama. E é o seu irmão, — seu irmão diz, e diferente das broncas anteriores, há um leve tom de consolação na sua voz, — Se você criar brigas desnecessárias, só vai magoá-la.

— Nós temos que conversar, — Soo diz assim que a porta se fecha atrás deles, indo diretamente para os problemas assim que eles têm privacidade total, mas So abana a cabeça.

— Agora não.

— So-nim...

— Num instante, eu prometo. — Seu tom suave dissipa a ansiedade dela, e ela não resiste quando ele a puxa para se sentar na cama e depois se ajoelha à sua frente, apoiando sua cabeça no colo dela para poder beijar sua barriga e acariciá-la suavemente.

— Você acha que é menino ou menina? — Ele olha para ela com olhos questionadores e ela dá de ombros.

— Não pensei muito nisso, — ela responde sorrindo, — Eu estava ocupada demais planejando coisas pelas suas costas.

— Então no que pensou o tempo todo que esteve aqui?

— Nomes, — ela responde alegre à sua pergunta de censura, — Eu também costurei algumas roupas.

— Você melhorou pelo menos um pouco nisso?

— Você vai se surpreender.

Ele realmente vai e ela sabe. Nem Go Hajin nem Hae Soo tiveram experiência com costura antes, exceto por aquele travesseiro que ela agora evitava se lembrar. Então, suas primeiras tentativas de fazer pequenos hanboks não foram tão bem-sucedidas quanto ela esperava. Mas depois de alguns dias de prática, ela conseguiu desenvolver uma nova habilidade e aprimorá-la até se tornar uma expert.

So sorri com a convicção na sua voz e então olha de volta para sua barriga agora quieta.

— Eu acho que alguém está mais calmo hoje.

— Eu acho que alguém acha que sua voz é relaxante, — ela responde, colocando uma mão sobre a dele, — O pequeno estava fazendo bagunça a manhã toda, mas agora ele se acalmou.

— Eu também estava com saudade. De vocês dois.

— Como vai o palácio?

— Você não quer falar sobre o palácio.

— Como vai você?

— Eu não quero falar sobre mim.

— Que pena, — ela faz bico, mas de bom humor, — Eu amo ouvir sobre você.

Ele ri e se levanta para beijá-la direito e profundamente, suas mãos segurando seu rosto e seus dedos roçando na sua nuca. Mas antes que eles se percam e acabem indo longe demais, ele se afasta. Ele se senta ao seu lado na cama, suas costas se apoiando na amurada quando ele a puxa para seu peito, toma uma de suas mãos na sua, entrelaçando os seus dedos.

— Pronto, — ele diz, respirando fundo, — Agora podemos conversar.

Soo respira fundo também, se preparando para o que ela tem certeza que vai ser uma conversa dura e dolorosa que elas já haviam evitado por tempo demais.

— Primeiro, — ela enumera firmemente, uma vez que é melhor decidir uma coisa antes da outra, ao invés de ficar conversando sobre todas elas ao mesmo tempo, — Você acha mesmo que o novo tratamento vai funcionar?

— Eu acho que vale a pena tentar, — ele diz sem muita certeza, mas sua voz tem a mesma convicção de quando ele lhe contara que o médico tinha encontrado algo em sua pesquisa, — Qual o pior que poderia acontecer?

— Você não está só tomando saídas desesperadas, está?

— Eu definitivamente estou tomando saídas desesperadas, — o desamparo é evidente na sua voz e no seu toque, — É a única coisa que posso fazer.

— Mas isso vai mudar alguma coisa?

— Por que você está sendo tão teimosa com algo que poderia te salvar?

— O médico nunca disse nada sobre me salvar.

— Ter mais tempo é melhor do que morrer logo depois do parto, não é?

— Eu não quero falsas esperanças

Ela não quer que ele pense que tudo está bem e que eles vão ficar felizes para sempre, só para vê-lo desmoronar mais uma vez depois que a ilusão se quebrar.

— Isso não vai afetar o resto, — ele diz ansioso, aparentemente sabendo o que ela teme que aconteça, — Eu só quero saber que fiz tudo o que podia. — Ele aperta a mão dela com força e ela olha nos seus olhos. Ele está só tomando saídas desesperadas, de fato, mas só para não ficar louco de assisti-la lentamente minguar até desaparecer.

Soo não tem como tirar isso dele, então ela concorda com a cabeça.

— Tudo bem, então.

— Obrigado, — ele diz numa voz baixa, mas seu alívio é evidente no jeito que ele solta o fôlego como se tivesse tirado um fardo pesado dos ombros. Então ele respira fundo mais uma vez e é a vez dele enumerar o próximo assunto, — Você já contou seu plano pra Jung?

Ela faz uma careta e ele ri, já sabendo a resposta. No entanto, ela se apressa para se justificar e não ter que levar bronca.

— Eu ainda estou tentando fazer ele te aceitar.

— Então pode desistir da ajuda dele.

— Vai dar certo, — ela continua positiva apesar da atitude dele, — E além do mais, você me disse para não fazer nada antes de falar com você.

— Achei que já tinha se decidido.

— Não é que eu não queira que você fique com nosso bebê, — Soo choraminga e se move para olhar para ele. Suas mãos envolvem seu pescoço e seu rosto, tentando fazê-lo desviar os olhos do chão e olhar para ela, — E não é que eu não confie em você ou que eu ache que você seria um pai ruim, por favor...

— Eu sei, — ele murmura, mas não a tranquiliza.

— So-nim, olhe para mim.

— Eu não estou com raiva, — ele responde suavemente, tirando as mãos dela e segurando-as juntas nas dele, mas ainda não olha para ela, — Só em conflito.

Soo hesita então, tentando entender porque ele parece tão abatido de repente, quando ela percebe.

— Então você pensou no assunto.

— Mas não cheguei a conclusões agradáveis, — So diz com um meneio da cabeça e então ergue os olhos para os dela, — Uma vez você me disse que só você pode decidir como viver sua vida, lembra?

Ela se lembra. Foi quando ela pensou que ficaria bem no palácio e quando o objetivo principal dela era o de ser aceito pela mãe.

— Isso foi há muito tempo atrás.

— Mas eu duvido que quando você disse aquilo você tivesse pensado que sua vida acabaria assim.

Ela não pensou. Mas aquilo não importava mais.

— Ninguém nunca pensa.

— Se você pudesse voltar no tempo... Estou falando sério, não ria, — ele cutuca sua costela e belisca a mão dela quando ela faz uma careta engraçada, — Se você pudesse voltar no tempo, o que você mudaria na sua vida?

Essa era, surpreendentemente, uma pergunta fácil para ela. Não só porque ela já tinha experiência em viagens no tempo, mas porque ela tinha se perguntado aquilo tantas vezes que a resposta já estava na ponta da língua.

— Eu salvaria vidas. Eu não repetiria os mesmos erros, — Soo não precisa elaborar e dizer quais vidas ela salvaria e quais erros ela evitaria. Ele já sabe disso tudo, — E você?

— Eu te sequestraria e fugiria de Songak.

A resposta simples e direta dele a faz rir.

— E se eu te odiasse por causa disso?

— Você nunca me odiaria, — ele argumenta com um tom de quem fala o óbvio, — Você me daria um sermão sobre não roubar coisas só porque eu as quero, mas logo se apaixonaria por mim. E assim, nós não repetiríamos os mesmos erros, e vidas seriam salvas.

— Onde nós iríamos morar?

— Bem aqui. Nessa coisa que Baek Ah chama de casa.

— Essa casa é perfeitamente aceitável.

— E assim sua vida não iria ser arruinada depois de me conhecer.

— Não foi sua culpa.

— Foi do palácio. Eu sei, — ele explica por conta própria antes dela, — Você odeia aquele lugar. Eu odeio também. Ele tomou coisas demais da gente e nos fez quem somos hoje. — So pausa então, levanta uma mão para afastar uma mecha de cabelo do rosto dela e a deixa pousada sobre o seu queixo. Ele olha para ela com olhos tristes e um sorriso amargo, segurando-a cuidadosamente, como se ela fosse quebrar a qualquer momento, — Se eu pudesse voltar no tempo, não importa o quê, eu iria te tirar daquele lugar e nós encontraríamos nossa felicidade em outro canto.

— So-nim...

— Eu não posso te deixar.

Ela tenta sorrir, mas só faz uma careta de dor.

— E eu não posso te deixar também.

— Eu não quero ter o mesmo arrependimento com esse bebê, — So diz, sua mão se movendo para a barriga dela, — Daqui a alguns anos, eu não quero ficar pensando que teria sido melhor não levar meu filho para o palácio. Eu não quero que mais ninguém que eu amo sofra comigo.

Ele não precisa dizer mais nada para ela entender. Então ela só o abraça, seus braços se envolvem no seu pescoço e o trazem para perto.

— Eu iria até o fim do mundo com você.

— Eu sei.

— Obrigada, — ela sussurra levemente, tentando ignorar as lágrimas, — Eu te amo.

— Eu sei disso também.

Jung sai bruscamente da casa antes mesmo de terminar de comer. Ele não liga para os gritos atrás dele que o chamam, ele não liga para nada. Ele marcha na direção do vento da noite, sem direção em mente, desde que seja para longe dessa loucura. Então ele pára, congela na sombra da casa de Baek Ah. Porque mesmo que seja loucura, ele não pode voltar atrás na sua palavra.

Há um movimento atrás dele e ele se vira para ver seu quarto irmão, de alguma forma com a aparência tranquila e régia em suas roupas de plebeu, caminhando até chegar ao seu lado. Seu rosto sem expressão só irrita Jung ainda mais e ele explode.

— Você não tem como concordar com isso!

So não parece se incomodar ao responder friamente.

— Eu já concordei.

— Então você ficou louco também! — Jung joga as mãos no ar, cheio de exasperação e frustração com as pessoas em volta dele, — Não me diga que Baek Ah-hyungnim também concorda com isso.

— Baek Ah sabe que não é bom julgar as ações dos outros.

Ele está desnorteado. Completamente horrorizado com as decisões que o homem à sua frente continua a fazer, com o tom de voz casual que ele usa para falar de sua própria família e das pessoas que ama. Sua frieza que uma vez o impressionava quando criança, agora apenas demonstra o quão privado de senso comum e discernimento seu quarto irmão realmente é.

— É o seu filho, — Jung argumenta, tentando enfiar algum juízo na cabeça dele, — Vocês dois estão falando sobre se separar do seu filho, como se aquele bebê não fosse nada para vocês.

— Não, — So interrompe seu argumento com uma voz afiada. — É porque aquele bebê é tudo para nós.

— Até parece!

Ele desiste de fazer seu quarto irmão desistir dessa loucura e volta para seu plano inicial de ficar do lado de fora até decidir o que fazer. Ele vira as costas para o Rei e para a casa atrás deles, tentando esquecer o novo pedido de Hae Soo e ignorar a promessa que ele fez de ficar ao lado dela não importa o quê.

— Você sabe por que eu voltei para o palácio? — So fala para ele, claramente indiferente ao seu pedido de ficar sozinho, — Porque eu queria uma família. Sabe o que eu ganhei?

— O trono.

— Um tapa na cara, — ele corrige com um estalo, seu tom frio mostrando um pouco de dureza, — Olhe bem, nós temos a mesma mãe e você nem consegue conversar comigo sem tremer de raiva.

— Isso é por causa das suas escolhas.

— Não. É por causa do trono, — So caminha em torno dele até que Jung não tenha escolha senão olhar diretamente para ele, — Talvez, se tivéssemos nos encontrado em outro lugar, sob circunstâncias diferentes, nós pudéssemos nos dar bem. Talvez eu não fosse deixado de lado pela nossa mãe e tivesse crescido com nosso terceiro irmão. Talvez muitos de nós não tivessem morrido se não vivêssemos naquele maldito lugar.

— Está dizendo que tem medo de ser um pai negligente? Como nosso pai foi?

— Estou dizendo que o palácio corrompe até mesmo os inocentes, — ele retruca rapidamente e então pausa, respirando fundo e de forma errática, seus olhos começando a mostrar uma tristeza oculta que ele nunca vira antes, — Eu não me importo com o que possa acontecer comigo. Mas Hae Soo nunca causou mal a ninguém, e olhe como ela está agora. Os joelhos dela ainda doem por causa da tortura, o coração dela está prestes a parar de bater. E eu não suporto ver isso. Me mata por dentro.

Jung já viu algumas das crises de dor de Soo, e elas sempre pareciam dilacerar um pouco o seu coração. Ele não tem como entender como foi para o seu irmão todos esses meses, mas ele consegue entender a origem da condição dela e ele sabe qual é a solução.

— Você só precisa libertá-la.

A sugestão dele é um sussurro entrecortado, mas parece causar mais danos no Rei do que qualquer outra lâmina poderia. Sua cabeça pende baixa e sua postura firme se torna frágil e delicada demais para ser o corpo de um guerreiro. Ele é um homem esmagado e abatido que não tem para onde ir.

— Esse era meu objetivo antes. Mas para onde um pássaro com a asa quebrada poderia ir? Eu só posso cuidar dela, até que chegue a hora, — So cerra os olhos e sacode a cabeça, como se estivesse tentando apagar alguma coisa de sua mente, e então respira fundo antes de continuar, — É por isso que eu também quero confiar meu filho a você. Para viver uma vida livre, sem preocupações. Para viver a vida que eu falhei em dar a ela. Vou sacrificar o que resta do meu coração para que nosso bebê não cresça e se torne uma vítima cicatrizada, ou uma serpente manipuladora.

So não precisa dizer nomes. Eles dois sabem a quem ele se refere só pelas descrições, e Jung não tem como negar ou argumentar nada do que ele disse.

Se Jung tivesse filhos, de jeito nenhum ele os criaria num lugar como aquele. Ele mesmo só conseguiu sair de lá vivo por causa do casulo que sua mãe construiu em volta dele, protegendo-o dos rivais do clã, e do casamento do seu irmão lhe servindo de escudo.

Acho que todas as serpentes manipuladoras foram vítimas cicatrizadas uma vez.

— Foi com essa fala que ela te convenceu?

— Na verdade, ela só conseguiu me convencer depois de uma discussão longa e acalorada. Baek Ah correu o risco de viver na cozinha para sempre, — ele sorri um pouco, achando graça na sua tentativa de humor, — Essa fala foi eu quem criei. Eu estava sozinho no palácio, então tinha muito tempo para pensar.

— Mas por que eu? Baek Ah-hyungnim poderia ajudar vocês com isso.

— Baek Ah se recusa a ficar parado num lugar só. Ele vai acabar virando um músico nômade um dia desses, eu já disse.

— Então é porque eu sou mais estável.

— E porque Hae Soo confia em você.

Jung pisca confuso, sem saber como reagir a isso.

— Mas você não.

— Nós nunca nos conhecemos direito, não é mesmo? — E sua resposta surpreende Jung mais uma vez, já que ele está falando sobre deixar o filho sob os cuidados de um praticamente desconhecido, — Eu confio no julgamento dela, e se ela diz que você pode fazer o trabalho, isso é o bastante para mim. Apesar de tudo o que aconteceu entre a gente, você tem um bom coração, Jung-ah.

— É, você só precisa aprender a abri-lo para mais pessoas.

So e Jung se viram para ver o intruso, e veem seu décimo-terceiro irmão na varanda, sorrindo cautelosamente, como se estivesse com medo de descer e ver o que está acontecendo entre eles.

— Desde quando está aí?

— Hã? Desde agora. Eu não gosto de ouvir a conversa dos outros, — Baek Ah dá de ombros e se aproxima deles, — Soo ficou preocupada porque vocês estavam demorando demais. Ela estava com medo de vocês estarem começando uma briga, então eu disse para ela se acalmar e que eu vinha checar vocês dois.

— Você é parte disso, não é? Foi por isso que me trouxe para cá, — Jung estreita os olhos em suspeita quando Baek Ah chega perto o bastante para ouvi-lo murmurando, — Esse tempo todo vocês dois estavam tramando isso.

— Hyungnim é inocente, — a lealdade de seu décimo-terceiro irmão para com o Rei nunca vacila, — Eu sou o único cúmplice de Soo. — Baek Ah suspira, e Jung já conhece bem seu irmão para entender que ele está juntando suas forças para fazer algo difícil. Mas não tem como ele se preparar para as palavras que saem de sua boca, — Hae Soo não vai viver muito.

— Se você...

— Não paramos de procurar, — Baek Ah o interrompe mais uma vez, — Mas temos que aceitar como as coisas são, senão vamos mesmo enlouquecer.

— Ainda assim...

— Mesmo que eu encontre uma cura milagrosa para ela, ela ainda não vai viver mais que uma década, — So entra na conversa de novo depois de um tempo em silêncio, — Isso quer dizer que, no melhor cenário, nosso filho vai ter dez ou nove anos quando ela falecer.

— Isso são dez que ele vai viver com vocês dois, — Jung vê a necessidade de apontar o óbvio, — E depois ele vai ter você, não vai?

— Esse não é o ponto.

— Você está aqui, você vê ela todos os dias, — Baek Ah argumenta em voz alta e num tom exasperado, como se Jung fosse o tolo da conversa, — Acha mesmo que ela vai viver dez anos?

— Por que está sendo tão pessimista?

— Pare de reclamar.

— Pare de agir como se ela fosse morrer amanhã.

— Ela não vai. Mas ainda assim, não vai demorar. Não está vendo que Soo...

— …está ouvindo vocês?

Os três congelam, e então eles se viram tão rapidamente que seria engraçado se não fosse a situação. Soo, não entanto, não parece se incomodar pelo debate acalorado deles e ri de suas reações.

Ela está de pé onde o seu décimo-terceiro irmão estava quando se intrometeu alguns momentos antes. Mas ao invés de retomar e alongar a discussão de antes, Jung desvia o olhar. Baek Ah também não se incomoda em terminar sua fala. Ele olha para baixo e fala baixinho.

— Desculpa.

— É melhor você não ficar aqui fora, — So reclama, indo até ela e colocando as mãos em seus ombros, tentando fazê-la se virar e voltar para dentro.

— Está tudo bem. Aqui fora está agradável, — ela argumenta, afastando as mãos dele, e então olhando em volta para observar seus rostos, — Mas a comida está esfriando, então vamos entrar. — Hae Soo olha em volta, analisando seus semblantes e suas posturas. Ele sente seu olhar minucioso invadir sua alma e seu coração, antes que ela fale no tom de voz suave e materno, que sempre parece apaziguá-lo e convencê-lo, — Jung-nim, vai se juntar a nós?

Vai nos ajudar?

Vai se juntar a nós nesse plano insano, ridículo e perigoso?

Ele nunca teve uma escolha. A vida de Soo já era parte da dele, e ele já estava muito ligado a ela para simplesmente ir embora desse jeito. Ele não podia ignorar o pedido dela e voltar para Chungju como se nada tivesse acontecido.

Não depois que ela pediu a ajuda dele tão desesperadamente.

— Vou concordar em pensar no caso, — ele abre a porta de uma possibilidade relutantemente, mas ainda se recusa a entrar nisso às cegas. Ele não quer alimentar seus sentimentos negativos e acabar como uma das pessoas que seu irmão não quer por perto do filho deles, — Mas você precisa responder às minhas perguntas. Todas. Honestamente. E respostas vagas não valem.

O Rei olha para ele, mais uma vez indiferente e altivo. Mas antes que possa responder, Soo responde no seu lugar.

— Ele vai, — ela diz vibrante e surpreende todos os presentes.

— O quê? — Os três homens falam ao mesmo tempo, chocados, e a risada de Soo parece deixar a situação mais estranha.

— Vamos, — ela segura o braço de So e o puxa com ela para dentro da casa, — Eu estou faminta. Isso não é bom para o bebê.

— Soo-yah... — Ele ouve seu irmão reclamar quando eles vão caminhando para fora de sua vista e ele sente que ganhou alguma coisa.

Jung olha fixamente para Baek Ah, que aparentemente está se divertindo com a mudança súbita de eventos, e volta para dentro, mesmo que não tenha intenção de comer. Ele vai esclarecer algumas dúvidas e chegar a uma conclusão definitiva, ele vai analisar tudo com a mentalidade crítica de um general e tomar suas próprias decisões. E depois disso, nada que Soo ou Baek Ah dissessem poderia mudar sua cabeça.

— Você vai ver que So-hyungnim é uma ótima pessoa, Jung-ah. E eu não estou dizendo isso por causa de Hae Soo ou do bebê.

— É o que veremos, — Jung argumenta, sem olhar para trás. E sem nem tentar entender por quê Baek Ah está sorrindo tanto.