Mikaella

Tomando Providências


- Bom dia, senhores. – disse Mikaella ao entrar na biblioteca onde dois seguranças a aguardavam.

- Senhorita Parllazzo. – disseram em uníssimo.

Ambos se curvaram educadamente enquanto a moça atravessava a sala até a mesa central, encostando-se na ponta dela com elegância e pedindo que sentassem nas cadeiras próximas.

- Marcos Barison e Louí Perrin. – disse a jovem olhando os dois homens a sua frente. Tão parecidos e tão diferentes ao mesmo tempo. Ambos deviam ter quase quarenta anos e uma postura rígida de seguranças, mas enquanto Barison era italiano nato com longos cabelos negros e pele amorenada, Perrin era um francês mais esguio de pele clara e cabelos castanhos de corte perfeito. – Obrigado por terem vindo.

- Foi um prazer, senhorita, mas o que poderia ser tão urgente e tão sigiloso a ponto de pedires que nem seu pai tome conhecimento? – perguntou o italiano com uma voz grossa, mas um pouco divertida.

- Bem, eu vou direto ao ponto. Tenho razões para crer que meus pais poderão estar em constante perigo a partir de agora. Deixe-me terminar. – disse ela quando percebeu que Barison iria questionar – A única coisa que sei é que papa parece não ter querido participar de um negócio suspeito e acabou prejudicando um homem perigoso. Por vingança, no mês passado, quando eu estava num cruzeiro em Cocobey, houve uma tentativa de me seqüestrar.

- Senhorita! – disse o italiano se levantando e encarando-a preocupado e Perrin se retesou, mas não falou nada – Isso é muito sério. Temos de avisar o senhor Parllazzo e a polícia.

- Não. – falou Mikaella com calma – Eu preferi não meter a polícia no meio porque a imprensa poderia entender errado e criar problemas para o papa e agora não há como provar nada que aconteceu. Entretanto, eu soube que outros estão se movimentando e meus pais podem estar em perigo.

- Mas isso é ridí...

- Como a senhorita ficou sabendo? – Perrin calmamente interrompeu o italiano.

- Eu mesma estou investigando isso, mas preciso que meus pais estejam seguros para poder me concentrar e é aí que vocês entram. Quero que tripliquem a guarda, eles não devem estar sozinhos em nenhum momento. Cada hotel, reunião, jantar ou desfile deve ser segurado, não importa. Se eles dispensarem a segurança, vocês não obedecerão. Eles não sabem nada sobre isso, então, se for necessário, devem ficar a paisano sem que eles percebam. Contratem mais pessoal, mas somente de alta confiança e deixem a guarda direta para vocês mesmos. Os senhores trabalham para família Parllazzo a mais tempo do que me lembro e só confio em vocês para protegê-los.

Os dois seguranças olhavam a moça chocados. Conheciam a pequena mimada desde que nascera e nunca a tinham visto com esta seriedade e determinação. Seus olhos refletiam autoridade, mesmo com a aparência de dondoca e algo parecia realmente preocupá-la.

-Seus salários serão dobrados, mas a diferença será paga por minha conta pessoal, não a do meu pai, assim como qualquer outro gasto extra que precisarem. E... Ah sim. – disse ela pegando alguns papéis na mesa que continham alguns planos de segurança e quadro de pessoal e entregou a eles – Estes foram planejados por Fiona e Romanov, espero que sejam úteis.

Ambos se entreolharam quando ouviram o nome do comandante russo. Era de pouco conhecimento público que a jovem Parllazzo treinava com o estrangeiro, mas é claro que os seguranças sabiam. Após darem uma olhada nos documentos e perceberem quão bem feitos eram, o francês ergueu a cabeça para questioná-la.

- Não vejo o quadro de guarda-costas da senhorita.

- Vocês não devem se preocupar com isso, já foi resolvido. Posso contar com seus serviços? – concluiu ela.

- Isso não é certo, senhorita. Pretende realmente manter isso em segredo?

- Por quanto tempo?

Barison e Perrin argumentaram e Mikaella hesitou por um segundo. Não haveria prazo. Não até ela ser capaz de resolver-se com Vega ou quem mandasse nele. Mas Milky disse que o próximo torneio seria dentro de cinco meses, então, talvez ela encontrasse alguma informação.

- Pelo menos pelo próximo semestre. E, Marcos, entendo que você é mais leal ao meu pai do que é à sua esposa, mas...

- Senhorita! – exclamou o italiano envergonhado.

- Não estou lhe condenando nem nada. Só quero pedir que não conte a ele. – continuou ela seriamente e virou-se para o francês – O mesmo vale para você Louí, com exceção da parte da esposa é claro. Não quero minha mãe preocupada.

O francês deu um pequeno sorriso, mas logo ficou sério novamente.

- Tem certeza disso, senhorita?

- Tenho. E peço que confiem em mim, por favor.

Os seguranças hesitaram novamente e se entreolharam incertos. Mikaella percebeu que podia falhar em convencê-los e achou melhor não arriscar.

- Por favoooor. – murmurou ela manhosa e sorriu com delicadeza – Só dessa vez. Confiem em mim.

Barison olhou a jovem fascinado por um instante e pareceu perder o foco com a visão da jovem, enquanto Perrin olhou-a seriamente e revirou os olhos em seguida suspirando.

- Tudo bem, mas com uma condição. – disse o francês e Mikaella esperou que continuasse – A senhorita terá que prometer que irá nos avisar se algo ruim acontecer. Seu pai nos matará se descobrir que permitimos que a senhorita corresse perigo.

- Certo. Eu prometo. – disse a jovem rapidamente sem nenhuma intenção de cumprir e o francês torceu o canto da boca reprovador.

- A senhorita Parllazzo já é bem grandinha Louí. Ela vai se cuidar. – disse o italiano dano um sorriso cúmplice para ela

- Obrigada.

Após mais algumas argumentações, finalmente o francês foi convencido e em cima da hora. Quando ambos estavam se retirando, Fiona entrou na biblioteca.

- Miky, esta atrasada para o treino.

- Oh droga! Bem, senhores, tenham um bom dia.

Ambos acenaram com educação e afastaram-se rapidamente deixando uma Mikaella apressada quase correr até o ginásio da mansão com Fiona a seu lado.

- Espero não incomodar Miky, mas é obre sua festa de aniversário.

- Humrum, o que tem ela? – disse ela sem parar.

- Queria saber se pretende chamar mais alguém para festa.

- Não é suficiente toda a alta sociedade francesa e italiana que meus pais sempre chamam? Ainda quer mais? – resmungou Mikaella se lembrando de antigas festas sempre sem graça.

- Bem, dessa vez pode ter mais justiça na festa. – disse Fiona segurando um riso.

Mikaella parou de repente e olhou sua dama de companhia com incredulidade.

- Que piada mais infame, Fiona! Passou muito tempo com aquele empresário.

- E então? Eu mando os convites e as passagens? – disse ela ignorando o sarcasmo da jovem com um pequeno sorriso.

- Sim.

Fiona sorriu ainda mais e voltou a andar, mas parou ao perceber a inércia de Mikaella e virou-se para ela que estava hesitante e perdida em pensamentos.

- Algum problema, senhorita?

Mikaella pareceu sair dos pensamentos e olhou Fiona com um sorrido que ela já conhecia. Um sorriso de “vou aprontar”.

- Não. Só quero que adicione mais um convidado à lista.

- E quem seria, senhorita?

- Anthonio Barakk.