Sentir a luz do sol lhe irritava profundamente, ainda mais naqueles dias em que ela era omnifulgente, ocupando os lugares mais confortáveis da casa.

Poucas vezes buscava por lugares novos para ficar. Sentia constantes comichões na nuca com a incerteza daqueles ambientes tão abstratos quanto seus desenhos e pinturas espalhados.

Excepcionalmente, pediria para que sua mãe lhe mostrasse um lugar pouco ensolarado, mas que pudesse enxergar tudo. Direcionando-se aos quadros, seu olhar percebeu a imagem de um ser com pés enormes próximo a um cacto. Acima, um sol minúsculo. Miguel paralisou, encarando aquela forma pequenina como que se quisesse comunicá-lo algo.