Miguel

Caravaggio


Miguel estava vis-à-vis com aquela mulher. Em verdade, mais parecia uma górgona: alta, os cabelos enormes e ondulados, as rugas quase escondendo os olhos. Aquela que se dizia professora de artes no ensino médio.

Sobreviveu a todo tipo de provação na pré-escola. Sofreu infortúnios ainda piores em seu ensino fundamental… mas nunca se sentiu tão insultado como agora. Os braços lutando contra a vontade de envolver o corpo. A sala inteira em silêncio. A górgona com o sulfite quase amassado em mãos.

Certamente o garoto, agora um secundarista, tinha motivos para o protesto; todos passavam pela sua mente naquele instante.