A manhã começou quente e ensolarada em Síndria como sempre. As ondas lavavam suavemente a costa da ilha onde Sinbad fundou seu país. Parecia um dia típico, mas algo nada usual ocorria no palácio real.

— Onde está Ja’Far? — Questionou Sinbad já apreensivo com a ausência de seu braço direito na mesa de café da manhã.

— Eu também estou achando estranho isso. Geralmente ele acorda cedo e corre pra tomar o café e depois se afunda na papelada. Quer que eu vá verificar? — Perguntou Hinahoho.

— Não se incomode, eu mesmo vou. Agora fiquei preocupado. Ele mesmo combinou de tomarmos café junto com você para adiantar a discussão sobre o novo acordo comercial com Imuchakk. Talvez ele esteja doente ou algo assim.

Ao chegar no quarto de Ja’Far a porta estava destrancada como sempre. Ele e Sinbad combinavam de deixar os quartos destrancados para se encontrarem na calada da noite. Sinbad adentrou o recinto silenciosamente e encontrou seu jovem amante ainda dormindo.

— Ele deve ter passado a noite revisando esses contratos. — Disse Sinbad enquanto via uma pilha de papéis na escrivaninha. — Ja’far… Ja’Far… Você perdeu a hora…

— Já vou Jorge… Peraí… — Uma voz mais feminina que o normal era emitida pelo general de Síndria enquanto acordava.

— Ah… Quem é Jorge? — Indagou Sinbad em um misto de ciúme e curiosidade.

Ja’Far esfregou os olhos. Sua visão ainda estava um pouco turva por ter acordado naquele momento.

— Deixa de brincadeira, Jorge. É muito cedo pra usar cosplay. Tenho que correr. Ou vou chegar atrasada no trabalho.

— Err… Você está bem? E o que é cosplay? Você não parece a mesma pessoa de sempre. — Estranhou o rei de Síndria.

Ja’Far fixou o olhar em Sinbad. A embriaguez do sono estava passando. Só então ele percebeu a realidade.

— Caralho! Você é o Sin mesmo! Vem cá! Deixa eu te dar um abraço! Kyaaaaah! — Gritou o general de Síndria. — Mas espera, por que tá me chamando de Ja’Far?

— Porque você é o Ja’Far! Já chega! Fique aqui! Vou buscar a Yamu pra ver se você está doente ou algo assim.

— Ai meu Deus! É Síndria, caralho! Síndria! Será que ele vai trazer o moreno delícia junto com a Yamu? É melhor eu me sentar. Num vou aguentar… Peraí... que negócio é esse aqui no meio das minhas pernas? Cadê meus peitos?! Jesus! EU VIREI HOMEM! NÉ POSSÍVEL. — Michele, que até então todos pensavam ser Ja’Far percebeu o que tinha ocorrido enquanto se olhava no espelho. — Ahhhhhhhhhhh! Eu virei a melhor waifu!

Nesse momento Yamuraiha e Sinbad adentraram o quarto. A maga examinou o jovem albino de todas as formas possíveis, mas não detectou nada de errado além da súbita mudança de personalidade.

— Sinbad, isso deve ser estresse. Eu acho que você devia dar uma folga pra ele relaxar e colocar a cabeça no lugar. Um ou dois dias de folga e deve ficar tudo bem.

— Eu aceito a folga, mas só se o Sin me levar pra passear pela cidade t-o-d-a! — Disse Michele com um brilho nos olhos enquanto se aproveitava da oportunidade.

Michele e SInbad então tiraram o dia de folga e fizeram um passeio por toda cidade onde ficava o palácio. O rei dos sete mares estranhou aquele comportamento tão peculiar de seu general que insistiu em agarrar e abraçar todos os outros generais de Síndria que foram encontrando pelo caminho no passeio. Ao fim do dia já haviam visitado o mercado, uma casa de massagem e o melhor restaurante da cidade. Os olhos de Michele brilhavam de alegria, tudo aquilo era um sonho para ela, mas acontecimentos traiçoeiros se desenrolavam nos bastidores do reino.

A noite uma convidada inesperada havia chegado para desfrutar da hospitalidade do rei dos sete mares: a princesa Ren Hakuei. De imediato Michele (com a aparência de Ja’Far, é claro) e a princesa não se deram bem. Com pouco tempo de conversa, a princesa do Império Kou já havia transformado uma mera conversa corriqueira entre as duas em uma discussão. Hakuei fez diversos comentários preconceituosos a respeito da relação entre Sinbad e Ja’Far que era muito mais do que óbvia a qualquer um que observasse os dois.

— Falsiane safada! Você quer se aproveitar do meu rei. Quer roubar ele sua solteirona, mas eu não vou deixar! — Berrava Michele.

— Você devia ter mais etiqueta seu serviçalzinho. Olhe onde estamos, fica aí gritando no meio do palácio. — Disse Hakuei cobrindo um sorriso malicioso com a manga do vestido — Já não basta você fazer essas safadezas com o seu rei as escondidas? Como ele vai arrumar uma esposa se esses rumores de que ele gosta mesmo é de jovenzinhos afeminados se espalharem?

O barulho de um tapa ecoou por todo o palácio. Michele havia perdido a paciência e resolveu dar a princesa o que ela merecia.

— Sua oferecida, o Ja’Far é muito mais mulher que você sua cobra. Antes ser afeminado do que uma falsiane sonsa e aproveitadora.

— Além de afeminado, é doido e violento. Onde já se viu agredir uma princesa como eu que estou apenas visitando um grande rei como Sinbad? E além disso fala de si mesmo como se fosse outra pessoa.

— Agora eu te mostro quem é doida!

Michele e Hakuei se atracaram em uma briga feroz onde rolava desde puxões de cabelo até tapas no rosto. Sinbad chegou as pressas para apartar a briga e viu Ja’Far sentado sobre Hakuei enquanto a estapeava sem dó.

— Mas que demônios está acontecendo aqui?! Ja’Far, você não pode agredir as pessoas assim. Ainda mais uma princesa. Você quer nos arranjar outra guerra com Kou?!

— Mas Sin, ela… — Antes da frase ser terminada Sinbad o interrompeu.

— Quer saber?! Você está oficialmente confinado aos seus aposentos enquanto nossa hóspede estiver por aqui! Depois conversamos. Princesa, você está bem?

— Sim, mas… acho que não consigo andar. Meu tornozelo está torcido. — Um pequeno filete de sangue escorria pelo canto esquerdo dos lábios delicados da princesa. Sinbad logo limpou o sangue com um lenço e a carregou gentilmente até seus aposentos.

— Maldita oferecida! Ainda tirou proveito da surra! Disse Michele enquanto ia para seus aposentos.

Algumas horas depois Michele andava de um lado pro outro dentro do quarto. Ela claramente imaginava Sinbad fazendo todo tipo de safadezas com Hakuei. Sin era um bom homem, mas era fraco de espírito quando se tratava de mulheres bonitas e a isca era perfeita. Um princesa linda e agora fragilizada e vulnerável a mercê de um cavalheiro que impediu que ela se machucasse seriamente nas mãos de um louco. Aquilo só podia ter um final: uma noite de luxúria como agradecimento pelo salvamento. Aquilo era óbvio dado o nível de dissimulamento de Hakuei que a havia feito dançar conforme a música até aquele momento. Ela agora entendia que tudo tinha sido planejado. As provocações, a briga... Tudo era um meio para se insinuar para Sinbad.

— Ah, isso não fica assim. — Michele sorrateiramente se esgueirou até o quarto de Hakuei e não ficou nada surpresa com o que encontrou. Sinbad e a jovem já estavam nas preliminares. Ela o pegou com a boca na “botija”, isso pra não dizer com a boca em outra coisa…

— Mas o que significa isso?! Ja’Far, como você invade o quarto da princesa assim? Ela está ferida graças a sua selvageria e eu a estou… estou… Tô examinando, ué… — A desculpa era tão esfarrapada que nem o próprio Sinbad acreditava no que dizia.

Michele não disse uma palavra. Apenas fitou seriamente o semblante de prazer que Hakuei ainda esboçava e foi em direção aos dois silenciosamente. Eles logo pensaram que seriam agredidos, mas não houve nenhuma ação violenta por parte dela. Calmamente, o jovem albino pegou um jarro de vinho que ali se encontrava e encheu uma taça.

— Você ficou louco? Aqui não é boteco. Vai encher a cara em outro lugar! Você está desobedecendo uma ordem direta de seu rei ao vir aqui! — Disse Hakuei.

Ao invés de retrucar, Michele apenas pegou um dos “preservativos” de tripa de carneiro que ali se encontravam e o encheu com vinho. Quase que imediatamente o preservativo deixou todo o vinho vazar.

— Sin, esse é o truque mais velho que eu já vi… — Disse Michele enquanto saía do quarto.

Algum tempo depois Sinbad foi aos aposentos do seu braço direito e os dois dormiram abraçados. Nenhuma palavra foi dita e também não houve nenhuma intimidade entre eles aquela noite, mas ambos ficaram felizes por se reconciliarem.

No outro dia, Michele acordou com alguém a chamando.

— Mi… Mi… Você vai se atrasar, acorda… — Dizia Jorge André de forma carinhosa.

— Já vou, Sin. Peraí.. — Disse Michele enquanto se levantava ainda com a visão turva.

— Mi, acho que a gente anda conversando muito sobre Magi. Você tá até sonhando com o Sinbad agora. Desse jeito eu vou ficar com ciúme. Você dormiu agarrada com a minha wig? — Disse Jorge André enquanto retirava alguns fios de cabelo roxo dos ombros de Michele.

— Será que foi um sonho? — Dizia Michele pra si mesma enquanto reparava nos fios de cabelo que Jorge retirava.



Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.