Meus Sete Clichês

Capítulo 13: “Machucados”


".... Sabe, eu estava pensando em só usar você com isca, já que a um bom tempo aquele seu namorado estúpido vem evitando a gente, mas..." seu tom de voz mudara drasticamente. ".... Como você quer dar uma de má educada..." fez uma pausa, enquanto eu via-o tirar apressadamente o casaco que estava usando, arregalei meus olhos o que acabou fazendo-o rir. "Não fará nenhuma diferença brincar com você um pouquinho." Soltei um soluço de sobressalto, ao vê-lo tirar um soco-inglês de seu bolso.

(...)

Ouvi uma série de assobios em seguida. Senti meu corpo todo tremer, como se já temesse pelo que viria, antes que meu cérebro pudesse compreender completamente o que tudo aquilo poderia significar.

E no momento que fui empurrada em direção ao chão entendi a real noção do quanto estava perdida. Comecei a me debater enquanto só podia manter meus olhos pressionados pelo terror de sentir o rapaz ficar acima de mim, e logo senti os socos e pontapés baterem contra meu corpo. Tentava me encolher, para proteger meus órgãos vitais, mas sentia mãos esticarem meus braços e pernas, para que não escapasse da punição daqueles malditos sádicos.

Passei a gritar por socorro, mas pude ouvir gargalhas histéricas em retorno, e logo senti uma palma bater contra minha boca, me obrigando a me calar. Porém, passou-se mais alguns segundos e tudo parecia ter congelado, não ouvia mais as vaias, como nenhum toque sobre mim, foi então que pude ouvir aquele banque surdo, seguido por uma batida contra metal.

(***)

Abri os olhos lentamente e vi um braço estendido em minha direção, e, quando olhei para cima, pude ver Taehyung olhando em sentido ao monte de ferro velho ao lado, segui o seu olhar e pude ver o rapaz que antes estava sobre mim, caído em meios aos entulhos. O resto dos garotos correram para socorrê-lo enquanto Taehyung ajudava-me a levantar.

"Ao menos essa isca inútil serviu para alguma coisa." O garoto – pelo que ouvi dos outros gritarem, se chamava Jinho – afastava seus colegas, provavelmente, não querendo aparentar o quanto tinha se machucado com a queda. "Irei lembrar muito bem de você, belezinha, quando quiser prestar contas com esse outro imbecil ao seu lado." Piscou para mim quando terminou sua ameaça e depois disso vi todos os outros se reunirem ao redor dele.

"Vamos.... Vamos embora daqui, Taehyung." Falei com a voz embargada, só agora percebendo o quanto chorava, puxei o braço de meu amigo de forma um tanto brusca, apressada para sair dali. Porém, Taehyung não moveu um músculo se quer. "Vamos, Taehyung, você não precisa brigar com nenhum deles, só precisamos sair logo daqui." Insisti, porém, somente recebi um murmúrio inaudível como resposta.

".... Vai embora." Foi a única coisa que consegui compreender dentre os seus murmúrios.

"O que?" Indaguei confusa, ele não poderia estar pensando em se entregar para um bando de vândalos. "...Eu não posso te deixar sozinho aqui, você vai se machucar... ou coisa pior." Ignorava a dor latente que sentia sobre todo o meu corpo, enquanto tentava convencê-lo.

Não era porque ele tinha fama de delinquente que ele deveria agir como um, ouvia murmúrios dos garotos fazendo chacota, porém, não dei atenção. Somente queria convencer meu amigo a sair logo dali.

".... Tae..." Voltei a murmurar envergonhada, achando estranho ele me ignorar daquela forma. "... Vamos logo."

"Eu já disse para ir embora!" Gritou ainda de costas para mim, e foi acompanhado por um coro de uivos dos rapazes que estavam próximos, e acabei me assustando, Taehyung nunca tinha falado comigo daquela maneira. "Será que não consegue entender nem mesmo isso, sua inútil?! Nem de distração você serve e você acha que pode me ajudar em alguma coisa, só porque sabe usar um kit de primeiros socorros?!" Ele se virou para mim, mostrando uma expressão ríspida ao me observar boquiaberta. "Só vaza daqui.... Já me abusei de você."

Olhei para ele estupefata, não mais reconhecendo o garoto a minha frente. Passei a me afastar lentamente, andando para trás aos tropeços, ainda não acreditando no que tinha ouvido, era simplesmente surreal demais. Que, talvez, tudo aquilo fosse de propósito, que tudo aquilo fosse uma farsa, e como eu poderia estar sendo enganada por tanto tempo, mal podia crer que ele estava somente fingindo ser uma boa pessoa em minha companhia, que... Nem sabia mais o que pensar.

Não tinha certeza, se fora pela adrenalina ou por simplesmente abrirem passagem para mim que consegui fugir daquele lugar, mas enquanto corria caminho a fora, fiquei decida a não mais permitir ninguém se divertir as minhas custas novamente.

(...)

Quando dei por mim estava em frente à casa de Park Jimin. Não ligava se estava completamente imunda e com feridas – que me faziam gemer de dor – por todo meu corpo. Mas ele fora a primeira pessoa na qual pensei naquele momento, na única pessoa que poderia cuidar de mim agora.

"Meu Deus princesa, o que aconteceu com você?" Sua exclamação assuntada foi a primeira coisa que ouvir após ele abrir a porta.

"Eu não posso aparecer em casa desse jeito." Justifique a ele, enquanto já o sentia me guiar para dentro de casa, já que felizmente, sabia que esta semana seus pais não estavam na cidade.

"Ah, mas é claro que não! Sua mãe teria um treco!" Ele exasperou.

"Posso passar a noite aqui?" Questionei enquanto já via Jimin se ajoelhar, para tirar meus sapatos, como pegar e mochila de meus ombros, e deixá-los ao pé da porta, e assim, nos dirigimos para sala de estar. "... E se puder, pode me ajudar com essas machucados, também?" Questionei receosa.

"Mas é claro, princesa." Vi como Jimin ainda parecia assustado com meu estado, mas ainda sim, tinha força o suficiente para me abraçar e expressar um de seus belos sorrisos. "Eu cuido de você ..."

(...)

Depois daquele dia, quando acabei tendo um choque de realidade do qual de uma forma ou de outra tive de lidar, tudo voltou ao seu normal, ou até melhor, já que não precisava mais me preocupar com um delinquente meia boca qualquer.

Ainda via Taehyung na escola, com seu antigo grupo de colegas abastardos, não nego que ainda podia sentir seus olhos me observarem vez ou outra, mas nada que eu não pudesse ignorar, e que, de qualquer forma, não seria algo que eu tive de me preocupar por muito tempo.

Já estava terminando o ensino médio e logo sairia da cidade para fazer minha graduação – o que deixou minha família particularmente surpresa, pois nunca tinha comentando sobre essa possibilidade, mas não era como se uma cidade do interior me desse muitas possibilidades – e logo, logo não precisaria manter contato com pessoas indesejáveis.

Minha vida voltaria a ser tranquila, mais uma vez.