Meu querido sonâmbulo

Minha querida mentira


Depois de tudo o que tinha acontecido, eu cheguei ao hospital sentindo uma incontrolável urgência de apenas ver ParkJimin. Talvez eu somente precisasse me certificar de que ele estava bem ou, ainda, necessitasse ser presenteada pelo seu sorriso angelical para me sentir uma pessoa menos pior — porque sim, era impossível que eu não me sentisse péssima depois de fazer e ouvir todas as duas últimas horas da minha vida. De um jeito ou de outro, meus passos apressados e ansiosos logo me levaram até a porta do seu quarto e, por um momento, com a mão na maçaneta, eu cheguei a me esquecer do peso da fita que trazia guardada em minha bolsa; além do fato de que só poderia assisti-la em casa, onde estava o meu computador e a privacidade da qual eu precisaria, naquele momento eu tinha algo mais importante a fazer.

Vê-lo.

Correndo a porta feita de uma madeira leve para o lado, a primeira coisa que eu pude ver foi a cama hospitalar posicionada ao fundo do quarto branco. Nela, sentado com as perninhas cruzadas feito uma criança impaciente, Jimin lia algo enquanto bufava. O sol de fim de tarde atravessava as brechas da cortina branca e esvoaçante do quarto, iluminando suas madeixas falsamente loiras e bagunçadas de um jeito que quase lhe fazia brilhar. Só notou a minha presença quando eu fechei a porta atrás de mim e, ao erguer a cabeça na minha direção, ele pareceu revoltado ao me ver, o que não era exatamente a reação que eu esperava.

— Onde você estava, Jeon Soojin? — foi a primeira coisa que disse, sacudindo os braços de forma indignada, porém mantendo a posição igual àquela da estátua de Buda. — A comida desse lugar é péssima e tudo o que eles me deram para passar o tempo foi uma revista de fofocas do ano passado! Mesmo assim, você teve a coragem de me deixar aqui sozinho e...

Ignorando todas as suas reclamações de um senhor sexagenário, eu me apressei na sua direção e o apertei num abraço, passando meus braços ao redor do seu pescoço e o pegando de surpresa. Eu estava tão feliz em vê-lo, nem que fosse mal-humorado, e depois de alguns segundos de espanto ele me retribuiu o abraço na mesma intensidade. Ficamos assim por algum tempo, um se recusando a soltar o outro, mas eu acabei o fazendo primeiro, por fim.

— Como você está? — eu indaguei aproveitando-me da nossa proximidade para fitar seu rosto com cuidado. Eu estava sentada na cama diante dele e o Park mantinha suas mãos repousadas na minha cintura, como se não estivesse disposto a me deixar ir a mais nenhum outro lugar.

Naquele momento, eu também não estava.

— Triste. — ele respondeu armando um bico com os seus lábios e desviando o olhar para a revista de fofocas jogada sobre a cama. — Você sabia que a Yoona e aquele ator, o Lee Seung Gi, romperam o namoro?

Franzi o cenho, me perguntando porque diabos aquilo importava naquele momento.

— Isso foi em 2015, Jimin. — afirmei, nitidamente o confundindo. Aquilo também não importava naquele momento, mas não tinha outro jeito. — Você tem certeza de que te deram uma revista de um ano atrás?

— Yah, essas enfermeiras me pagam! — exclamou com o seu orgulho ferido.

Yahdigo eu! — rebati e lhe acertei um tapa indignado no braço, o que o fez me soltar para massagear a área atingida. — Eu estava toda preocupada com você e a sua maior preocupação nesse momento é o término do namoro de duas celebridades que aconteceu há quatro anos, Park Jimin?

— E onde você estava tão preocupada comigo? — retrucou, aumentando o bico. — Eu acordei todo esperançoso de que lhe encontraria ao meu lado, dormindo enquanto segurava a minha mão como nos doramas, mas eu abri meus olhos e me deparei com uma enfermeira de sessenta anos enfiando uma agulha no meu braço. Você tem ideia do quanto isso foi traumatizante?

E lá estávamos nós dois, Park Jimin e Jeon Soojin, de volta ao nosso estressante e ao mesmo tempo reconfortante normal.

Cruzei os braços, o imitando.

— Você não me respondeu como está se sentindo. — disse teimosa, porém, na verdade, numa tentativa de adiar o tópico onde eu estava.

Eu apenas queria vê-lo naquele misto de velho rabugento e garoto brincalhão e também que ele descansasse um pouco mais; e, naquele momento, lhe contar tudo o que eu tinha descoberto e que ainda poderia descobrir certamente não ajudaria naquilo.

— Eu estou bem, oras. — deu de ombros, o que eu estranhei. — Na verdade, eu não me lembro do que aconteceu.

— Não se lembra? — indaguei, perdida.

— Não com clareza. — respondeu. — Eu apenas me lembro de que nós decidimos ir ao enterro do Bo Gum, por isso estamos em Busan. Nós fomos até lá, eu estacionei o carro e, depois disso, tudo não passa de um borrão na minha mente. — fitou-me e, em seus olhos, eu realmente não enxergava muita preocupação. — Uma enfermeira me contou que eu tive uma crise severa de ansiedade e isso pode ter sido causado por algum evento traumático. E, também, pode ser por causa disso que o meu próprio cérebro tenha suprimido essas memórias. — pausou, envolvendo minhas mãos com as suas e agora me fitando com certa intensidade. — O que aconteceu para me deixar assim, Soojin?

Apesar da curiosidade e da nítida necessidade de entender o que tinha acontecido consigo, Jimin apenas estava tão... bem. Olhando diretamente dentro de seus olhos mais relaxados agora, eu não pude deixar de lembrar da tempestade que havia encontrado nos mesmos hoje mais cedo. O modo como ele tinha sofrido, a dor física causada pela psicológica... Céus, eu não podia vê-lo passar por aquilo novamente.

Não podia contribuir para que algo de ruim lhe acontecesse mais uma vez.

Por isso, indo contra todos os meus princípios e ignorando toda a honestidade que eu tinha feito questão de ensinar a Jungkook desde que nós éramos crianças, eu fraquejei diante do olhar calmo do Park. Desviei o meu para o chão do quarto e vagarosamente soltei-me de suas mãos.

— Não aconteceu nada, na verdade. — eu disse, lutando para firmar a minha voz. — Você começou a tremer muito, disse que não estava se sentindo bem e perdeu os sentidos ainda dentro do carro.

De repente, meu estômago se revirou. Eu estava bem ali, diante do homem que eu amava, mentindo para ele. Mesmo que estivesse fazendo aquilo para o seu bem, ainda me sentia extremamente horrível por fazê-lo.

— Sério? Eu sou realmente tão fraco assim? — brincou com um riso tristonho, mas não conseguindo disfarçar seu desapontamento consigo mesmo. — Bem, talvez eu tenha me lembrado do enterro dos meus pais...

— Pode ter sido isso. — eu murmurei, ainda sem coragem para encará-lo.

De repente, eu senti os olhos de Jimin fixos em mim. Eu me remexi desconfortável e igualmente aterrorizada com a possibilidade de que ele pudesse perceber a minha mentira.

E foi então que, ao contrário do cenário que eu esperava, Jimin me puxou para um outro abraço. Minha cabeça acabou repousando sobre o seu peito, fora do seu campo de visão, e ele me envolveu com os seus braços como se quisesse me proteger do mundo lá fora.

— Céus, você deve ter ficado tão assustada. — sussurrou, porém alto o suficiente para que eu lhe escutasse com clareza. Havia um misto de doçura e firmeza em sua voz, o que mexia ainda mais comigo. — Eu prometo que nunca mais a farei passar por algo assim novamente, está bem?

Céus, eu era uma pessoa horrível por fazer aquilo com ele. Certamente uma mentira levaria à outra, que me levaria a fazer coisas pelas suas costas e, eventualmente, que o levaria a descobrir toda a verdade e me odiar por ter mentindo sobre algo tão importante para ele — algo que lhe desrespeitava. Eu conhecia aquele roteiro, contudo, abraçada àquele pequeno corpo envolto por um pijama hospitalar, aquele homem que, mesmo cheio de problemas, estava preocupado apenas comigo, eu não tinha coragem de lhe contar a verdade e mexer com a sua cabeça quando ele merecia apenas ter algum merecido descanso.

— Desculpa, Jimin. — disse com a voz trêmula, ainda agarrada a ele. — Eu queria encontrar algum outro jeito de lhe proteger, mas eu simplesmente não sei como.

Eu queria chorar, mas eu não tinha o direito de fazer aquilo na sua frente; de preocupá-lo quando, na verdade, ele sequer entenderia o porquê das minhas lágrimas.

Porque eu não o deixaria entender.

De repente, mesmo que eu ainda estivesse abraçada ao seu tórax, Jimin nos separou apenas o suficiente para conseguir fitar diretamente os meus olhos. Ele me segurava pelos braços, contudo, suas mãos correram até a base da minha cabeça e ele passou a me segurar carinhosamente pela nuca.

— Jeon Soojin, você pode, pelo menos uma vez na sua vida, não assumir todos os problemas e responsabilidades do mundo só para você? — perguntou com uma expressão mais leve e uma certa ternura em sua voz, o que não contribuía em nada para o meu plano de não desmoronar feito um bebê chorão naquele momento. — Eu sou um homem feito e posso muito bem me proteger e, se você quiser e aceitar, eu posso protegê-la também. Por isso, não tome para você essa tarefa, por favor.

Não tinha como ele saber que eu estava mentindo, contudo, era como se Jimin simplesmente entendesse e conseguisse enxergar com clareza o que estava acontecendo dentro de mim naquele momento. Mesmo sem ter conhecimento de nada do que tinha acontecido enquanto ele estava desacordado — e provavelmente continuaria a não ter, pois eu provavelmente não lhe contaria nada a fim de preservar sua saúde mental — Park Jimin ainda conseguia ser o porto seguro do qual eu necessitava naquele instante.

Por isso, sem dizer mais nada, eu apenas voltei a abraçá-lo exatamente como poucos minutos atrás. Ele não pensou duas vezes antes de voltar a me envolver com os seus braços e, no silêncio naquele momento, eu podia ouvir as batidas calmas do seu coração.

Desculpe, Park Jimin, mas eu terei que seguir sem você por esse caminho daqui para frente.

***

No dia seguinte, Jimin e eu decidimos que já era hora de tomar vergonha na cara e retomar a nossa rotina de trabalho — ele como um chefe que não aparecia na própria empresa há quase uma semana e eu, a recém-promovida que se rebelou após ganhar um aumento, começando a faltar loucamente.

Pois é, não estava nada fácil para ninguém.

O Park não tinha mais tocado no assunto Bo Gum nem nada relacionado a isso, o que fazia com que eu me questionasse em silêncio e inquietamente sobre o que estava se passando em sua cabeça. Ele era uma pessoa extremamente difícil de se ler em alguns aspectos, em especial no que se tratava do seu passado e das decisões que ele tomava quanto ao mesmo, e isso me impedia de lê-lo como eu gostaria. Ele podia ter se lembrado ou não do que realmente tinha acontecido no enterro de Bo Gum, podia estar planejando algum outro modo de abordar seu tio... As possibilidades eram inúmeras e, sinceramente, o silêncio dele já estava me enlouquecendo.

Não que eu tivesse algum direito de lhe exigir uma resposta. Como a pessoa que tinha mentido e omitido informações que desrespeitavam diretamente a Jimin do próprio, o máximo que eu poderia fazer era torcer para que ele, eventualmente, se sentisse disposto a me contar algo.

— Pode me deixar aqui. — afirmei e apontei para um ponto de ônibus a pouquíssimos metros diante de nós, felizmente vazio, já destravando meu cinto de segurança.

— Aqui? — rebateu, relutante. — Aqui ainda é muito longe da empresa e essa rua é muito deserta, Jeon. Por que você não...

Aqui, Jimin. — reforcei, ouvindo-o bufar no banco do motorista ao meu lado. Aos poucos, Jimin foi reduzindo a velocidade do carro até finalmente pará-lo onde eu havia lhe pedido. De escanteio, eu o vi destrancar as portas com um enorme e infantil bico no rosto, o que me fez rir. Aproveitei sua falsa distração com algo na avenida e o puxei gentilmente pelo queixo na minha direção, em seguida depositando um selinho travesso em seus lábios. — Não se preocupe, Park, pois a sua mulher sabe muito bem como se proteger sozinha.

— Minha mulher? — indagou quase que instantaneamente, deixando despontar nos seus lábios um sorriso admirado.

Calma, JeonSoojin! O que diabos você pensa que está fazendo dizendo essas coisas?!

Sem jeito, eu limpei a garganta enquanto formulava uma desculpa.

— É só um modo de dizer. — dei de ombros.

— Bem, nesse caso... — pausou parecendo pensativo, mas sem deixar de exibir um sorriso cheio de segundas intenções na minha direção. — Eu gosto do seu modo de dizer as coisas. — provocou-me uma última vez, antes de eu lhe lançar um olhar mortal e descer do carro.

Já na rua, pude sentir Jimin me acompanhar lentamente com o carro por mais alguns metros, até finalmente aceitar que eu não voltaria atrás na minha decisão de manter nosso relacionamento em segredo na empresa, o que incluía nada de chegarmos juntos para trabalhar. Cerca de dez minutos depois, eu já conseguia ver com nitidez a imponente faixada envidraçada da Maximum Group me esperando para devorar mais um dia inteiro da minha vida, o que me fez encher o peito de ar para conseguir caminhar com firmeza pelos metros de rua que ainda me restavam.

Bem, mesmo com os meus dias de molho em casa, não havia nada de diferente pelos corredores da empresa, o que não me surpreendia. Apesar de sempre manter intacta sua aparência moderna e bem estruturada, a Maximum era exatamente a mesma não importava a época do ano, de qualquer que fosse o ano.

Contudo, algo ainda me parecia extremamente modificado ali.

Quando as portas do elevador se abriram no andar que eu desejava, eu automaticamente encontrei o fator que tornava toda aquela empresa dissemelhante aos meus olhos. E, por falar em olhos, os dele automaticamente assumiram um tom dissimulado ao me encontrarem.

— Bom dia, Jeon Soojin. — Seokjin me cumprimentou com o ar mais obscuro possível, oferecendo-me em seguida um sorriso torto de falsidade.

— Bom dia, Kim Seokjin. — eu respondi sem estremecer a voz, em seguida saindo do elevador na sua direção. — Não vai entrar? — indaguei, apontando para as portas prestes a se fecharem.

— Não mais. — respondeu sem pensar duas vezes, virando-se para me acompanhar pelo corredor principal do andar.

Em meio àquele silêncio ensurdecedor que nos rondava enquanto caminhávamos lado a lado, eu automaticamente me lembrei do que tinha visto na noite anterior. Aproveitando que Jimin tomava um banho, eu me sentei sobre a minha cama acompanhada somente da fraca luz do luar que entrava pela janela do quarto, meu notebook e o disco com as filmagens do carro do vizinho de Bo Gum. Respirei fundo, inseri o pequeno objeto no computador e procurei pelo arquivo do dia da morte do escrivão em meio a uma semana de filmagem, o encontrando sem muita dificuldade.

E lá, por fim, eu encontrei a resposta que mais me apavorava.

Naquele dia em específico, o tal vizinho tinha estacionado o seu carro de costas para a sua garagem, com a sua dianteira voltada para a casa da mãe de Bo Gum. Nas primeiras horas do dia, assim como das da tarde, não havia nenhum movimento suspeito na rua, pelo menos não no campo de visão da câmera instalada no interior do veículo. Porém, por volta das sete horas da noite, os diversos postes da rua iluminaram Aera deixando sua casa com uma pequena bíblia debaixo do braço — de acordo com ela, suas idas à missa nas noites de quinta-feira eram sagradas, ela nunca faltava — e poucos minutos depois da saída da mais velha uma outra figura surgiu na filmagem. A pé, pois provavelmente tinha estacionado o seu carro em algum lugar distante o suficiente para se sentir segura, a figura alta e de ombros largos trajava um terno da mesma cor da noite, o que discretamente o mesclava com o restante do cenário. Caminhando sem nenhuma pressa, o homem parou diante da casa de Bo Gum e, antes de empurrar o portão gradeado sem nenhuma cerimônia, ele olhou ao redor provavelmente para se certificar de que ninguém estava o observando.

E foi assim que, mesmo com a escuridão da noite e com a distância média entre a câmera e a figura tranquila, eu encontrei os olhos mais sombrios que eu já tinha visto em toda a minha vida. Aqueles olhos, os mesmo que caminhavam com igual tranquilidade daquela noite ao meu lado naquele momento.

Kim Seokjin permaneceu na casa de Bo Gum por exatos quinze minutos, nada mais ou menos do que isso. Apesar de ter pedido a filmagem com a intenção de encontrar algo, eu ainda não conseguia esconder meu espanto ao assistir ao Kim deixar a casa de Bo Gum com a mesma falta de preocupação com a qual entrara na residência e, mesmo que não conseguisse saber qual expressão eu tinha no rosto ao assistir ao vídeo na noite passada, eu imaginava que não seria uma nada boa. Nenhum outro movimento foi capturado pela câmera, com exceção do retorno de Aera para casa duas horas depois de sua saída e, poucos minutos depois, a idosa saindo de casa aos prantos e pedindo desesperadamente por socorro.

De nada adiantara, pois, àquela hora, seu filho já estava morto dentro de casa.

Agora, eu tinha como provar que Kim Seokjin estivera na cena do crime na noite que o mesmo aconteceu; contudo, isso não provava que ele era o assassino — por mais que eu soubesse que ele era. O que tinha acontecido nas duas horas que Aera esteve fora de casa, mais especificamente nos quinze minutos que Seokjin esteve lá dentro? Talvez, se eu pudesse saber com exatidão a hora da morte de Bo Gum...

— Aconteceu alguma coisa, Soojin-ssi? — a voz de Seokjin se fez presente, distanciando-me dos meus pensamentos imediatamente. Eu estava tão imersa na minha própria mente que não tinha percebido que havia parado de caminhar e, alguns passos a minha frente, o Kim me encarava com seu olhar escurecido. De repente, exibiu mais uma vez seu curto sorriso dissimulado. — Parece que você viu um fantasma.

Kim Seokjin era um homem indecifrável, ao mesmo tempo que seus pecados estavam estampados em todas as suas expressões faciais e movimentos. Era desumano e frio, mas, ainda assim, demonstrava fortes traços de emoções descontroladas, as quais ele escondia por debaixo da pose de capanga de luxo e dos ternos feitos sob medida.

Eu tinha horror àquele homem.

— Queria eu ter visto um fantasma. — rebati. — O que eu vi foi muito pior.

Nós estávamos sozinhos no corredor, provavelmente por se tratar do início do expediente, quando todos estavam ocupados em demonstrar serviço em suas próprias salas e mesas, e foi isso que permitiu que Seokjin desse alguns passos na minha direção, encurtando a distância entre nós dois. Em seus olhos eu via um misto de curiosidade e maldade, o que fez com que um arrepio automaticamente percorresse a minha espinha.

Mesmo assim, eu não hesitei sequer meio centímetro.

— Você sabe exatamente onde está se metendo, mas, mesmo assim, se recusar a recuar. — sussurrou olhando diretamente nos meus olhos. — Eu confesso que acho isso um tanto interessante, Jeon Soojin. Só é uma pena que toda essa sua coragem só vai levá-la a um péssimo lugar.

— Você está me ameaçando? — indaguei no mesmo instante, imitando o seu cinismo.

Ele riu, desviando apenas por um momento seus olhos do meu.

— Queria eu estar lhe ameaçando. — rebateu, exatamente como eu tinha acabado de fazer. — O que eu disse foi muito pior. Foi uma promessa.

Eu confesso que, por não esperar que ocorresse tamanho confronto entre nós dois, eu não soube o que fazer diante daquela tensão; então apenas o encarei de volta, em silêncio. Infelizmente, um pequeno flash de medo cruzou o meu olhar, mas Seokjin era astuto o suficiente para capturá-lo. Sorriu mais uma vez, deixando claro que sabia que, mesmo que por um breve momento, eu tinha me sentido ameaçada por ele e isso era o suficiente para que ele sentisse que tinha atingido o seu objetivo. Deu-me as costas e a passos tão tranquilos quanto aqueles de quem tinha assassinado Do Bo Gum, aos poucos foi me deixando sozinha no corredor. Virou à direita no final do mesmo e só então eu percebi que estava prendendo a minha respiração, me permitindo soltar o ar que armazenava em meus pulmões de uma forma um tanto descontrolada.

Talvez fosse por já tê-lo visto mais vezes ou por saber que era ele quem realmente executava o trabalho sujo, mas eu sentia maior medo e repúdio de Seokjin do que de Park Yeonan. Eu não sabia o motivo ao certo para me sentir daquele modo, mas acreditava ser muito mais doentio se sujeitar a toda aquela maldade do que ser o cérebro por trás da mesma. De algum modo, a existência de Seokjin era o que mais me afetava.

E, por isso, era ele quem eu perseguiria primeiro.

Finalmente enxergando uma luz no fim do túnel, eu tive uma ideia que realmente poderia me ajudar naquele momento. Uma ideia absurda e que me custaria um tanto de coragem para executá-la, mas ainda assim que tinha potencial para ser eficiente contra Seokjin e, consequentemente, contra Park Yeonan.

Tendo em mente que eu estava fazendo tudo aquilo por Jimin, as coisas se tornavam um pouco menos difíceis.

Procurei pelo meu celular na minha bolsa e, assim que eu o encontrei, fui até a lista de contatos para procurar pelo nome que me interessava naquele momento. Por sorte, eu tinha pedido pelo seu número antes de sair correndo como uma fugitiva naquele dia, então não demorou muito para eu o encontrar.

Disquei o tal número e esperei pelo primeiro, segundo e, finalmente, a chamada foi atendida no terceiro toque. Havia um tumulto pelo qual eu já esperava ao fundo, mas a voz do outro lado da linha conseguia abafar o mesmo.

Oficial Kim Namjoon. — o Kim se anunciou, vencendo o barulho da delegacia para conseguir se fazer ouvir.

Eu não tinha muito o que falar, além de me apresentar e ir direto ao ponto — contudo, devido ao calor do momento, eu acabei até mesmo esquecendo a primeira fase das boas maneiras.

— Kim Namjoon. — eu disse, quase que numa súplica aflita. — Eu preciso da sua ajuda.