Continuei sentada observando a festa. Todo mundo se divertindo e bebendo. Eu definitivamente não pertenço a esse mundo.

Em uma das minhas muitas olhadas, vi o tal Douglas olhando fixamente pra mim. Pensei logo que tinha algo errado comigo, será que eu estava com batom no dente?

Peguei meu celular da pequena bolsinha de mão que trazia. Ainda desligado, vi meu reflexo nele. Não, sem chances, meu dente estava mais branco que a neve.

E meu cabelo? Será que um dos brochinhos que a Paola colocou se soltou?

Olhei novamente para a tela desligada de meu celular e a resposta foi negativa novamente. Afinal, o que ele estaria olhando?

De repente, senti sede e fui ao bar pegar uma água.

Sentei-me em um dos bancos em frente ao balcão e logo um garçom veio me atender.

— O que a senhora deseja? — perguntou-me ele.

— Tem água? — perguntei de volta.

— Não.

— Como assim não tem água numa festa?

— Não tem senhora, desculpe.

— E refrigerante?

— Também não.

— O QUÊ? Isso é impossível! Que tipo de festa é essa?

Não esperei uma resposta, saí de lá o mais rápido que pude. Se é que se possa sair rápido quando tem um monte de bêbados no seu caminho.

Procurei a Paola com os olhos, ela estava em uma mesa sozinha.

Fui indo pra lá, com a intenção de fazer uma chantagem.

— Paoooooolinha. — falei me aproximando.

— Você bebeu, Paulina? — ela perguntou me olhando assustada.

— Ih, calma mulher. Não bebi não.

— Você tá alegre demais.

— É que tudo isso é tão novo e... Diferente. — suspirei.

— Eu sabia que você ia gostar. Mas cadê o Douglas?

— E eu é que sei?

— Você que estava com ele. Não vai me dizer que você deu um “chega pra lá” nele.

— Claro que não! Eu só discordei de uma coisinha que ele disse, aí ele foi embora. Que culpa eu tenho? Aliás, cadê o Maurício?

— Foi pegar alguma coisa lá no bar pra gente beber.

— Hm. Paola, você pode me deixar em casa? Ou me empresta dinheiro pra um táxi? Eu realmente não quero ficar aqui.

— Mas você nem conheceu o Edmundo.

— Eu não quero conhecer mais ninguém, Paola. Tô bem assim.

— Eu sei que você não se incomoda em estar sozinha, mas também sei que sente falta de um homem ao seu lado. E o Edmundo é o dono da festa, seria falta de educação vir aqui e não falar com ele.

— Tudo bem, eu vou, mas você tem que me prometer que depois vai dar um jeito de eu ir pra casa.

— Trato feito?

— Trato feito.

Depois da minha afirmação, ela saiu me puxando pela festa. E parava a cada minuto pra cumprimentar alguém e me apresentar como “a irmã gêmea antissocial”. Eu não sou antissocial!

Depois de um bom tempo entre cumprimentos, apresentações e “o Edmundo tá por aí?” nos finalmente o encontramos.

— Edmundo! — Paola gritou, chamando sua atenção.

— Lolita, quanto tempo!

Ele a chamava de Lolita e ela não fazia nada?! Enquanto, quando eu a chamo assim, só falta me bater?! Ora, ora, parece que finalmente estou conhecendo a minha irmã gêmea.

— Edmundo, meu querido, queria te apresentar a minha irmã gêmea. — ela me puxou pra seu lado. Dei um sorriso tímido em direção ao Edmundo. — Ela não é linda?

— Ela é a sua cara. Literalmente. — Edmundo conseguiu arrancar umas boas risadas da Paola com essa piada sem graça, enquanto minha cara era de pleno tédio. — Olá. — falou ele, me cumprimentando.

— Oi. — murmurei.

— Você está gostando da festa? — perguntou-me ele.

— Ela está a-man-do! — Paola respondeu por mim, e tive que agradecê-la por isso.

— Uh-hum. — concordei afirmando com a cabeça.

— Você é uma gracinha, Paulina.

Corei na hora.

— Obrigada.

— A festa está linda, Edmundo. Mas Paulina tem que ir. Você deve ter percebido que ela é mais reservada e a mamãe tem mais cuidado nela. — Paola comentou e juro que ouvi sua voz carregada de ciúmes na última frase.

— Ah. Tudo bem, então. Você poderia me dar seu número, Paulina?

— Meu número?! — exclamei, talvez um pouco espantada. — O.K.

Salvei-o no celular dele. Não queria ver problema nisso, até porque o Edmundo é um bom rapaz, mas algo me dizia que aquilo era errado. Maldito fantasma que habita minha cabeça e meu coração, pensei.

— Eu te ligo qualquer dia desses. Tchau Paulina. — ele veio me dar um beijo na bochecha, mas eu desviei.

— Esperarei sua ligação. Tchau.

Saí dali e Paola logo veio atrás de mim.

— Paulina, me explica, por que diabos você desviou de um selinho NA BOCHECHA? Isso não é nada, se fosse na boca, O.K., eu tentaria te entender, mas foi na bochecha. Olha irmã, eu sei que tem algo te prendendo, e eu realmente fico muito triste de você não conseguir viver sua vida do jeito que deve por causa desse algo.

Mal ela sabe que esse algo é alguém, e que esse alguém está do outro lado do oceano, provavelmente com alguma mulher por perto e com certeza nem se lembra de mim.

Do nada, comecei a chorar, sem temer estar em público.

Paola, como uma boa irmã que nem sempre foi, me abraçou e me guiou até a porta.

— Calma, Paulina, calma. Eu sei também que esse algo é muito especial pra você ficar nesse estado só por eu tê-lo citado. Olha, eu sei que não sou a mais recomendada pra lhe dar conselhos. Principalmente amorosos, olha só! Você sabe muito bem que eu nunca tive um romance de verdade e, bem, não quero ter tão cedo. Mas nós duas sabemos bem que somos o extremo oposto uma da outra, não é? Então vou te dizer: não se prenda por algo que não está preso por você.

Com as palavras dela eu só chorei mais. Era verdade, não havia motivos para eu me prender quando só sabia uma coisa sobre a vida de Carlos Daniel: ele mora na Espanha. Ah, e faz faculdade. Mas isso não basta. Só Deus sabe quando ele virá voltar e como virá. Quem me garante que ele não tá namorando ou algo assim?

— Você tem razão, Paola. — falei quando finalmente consegui me acalmar.

— Quer ir pra casa? Eu acho que vou contigo, não é bom você ficar sozinha assim.

Eu apenas concordei com a cabeça, ter a Paola comigo seria ótimo.

— Vou ligar pro Maurício, espere um pouco. — ela sacou o celular do bolso e discou bem rápido um número. — Alô, Maurício? — pausa. —Sim, sou eu. — pausa demorada. — Eu sei, estava ajudando a Paulina em uma coisa. Será que pode nos levar pra casa? — pausa de novo. — Tô te esperando aqui fora, beijo. — ela desligou e voltou sua atenção pra mim. — Daqui a uns dois minutos ele está aqui.

— Obrigada. — sussurrei. Impressionou-me ela ter escutado, já que não fiz nenhum esforço pra isso.

— É o mínimo que poderia fazer como sua irmã, não? Anda, desmancha essa cara de enterro e coloca um sorriso bem lindo no rosto.

Forcei um sorriso.

— Isso, assim que eu gosto. — Sorriu-me de volta.

Alguns segundos mais tarde o Maurício chegou. Ele cumprimentou Paola com um beijo e perguntou como eu estava.

— Estou melhor. — fiz um sinal afirmativo com a cabeça.

— Maurício, não se importa de irmos embora agora, não é?

— Claro que não, Paola. — ele sorriu pra ela.

Sentei-me no banco de trás, como na ida, e me pus a pensar em como nunca me libertei de um amor onde sua existência não tinha mais lógica.

O Edmundo pode ser uma boa opção para eu considerar dar uma chance. Não posso continuar assim, não há razão pra isso. Na verdade, sim, há, mas ela com certeza não deve nem se lembrar de mim.

— A gente já tá peeeeeeeerto? — comecei meu discurso de sempre.

Paola suspirou me mandou um olhar torto que eu devolvi com um sorrisinho.

— Vejo que já está ótima, não é?

— Nãããão, eu não estou em casa. — resmunguei, aparentando preguiça.

Eles dois apenas deram uma pequena gargalhada, me fazendo rir também.

Alguns minutos depois, que mais pareceram horas, chegamos em casa.

Saí do carro assim que Maurício o parou, deixando eles se despedirem devidamente.

Corri pro meu quarto e fui direto pro banheiro tomar uma ducha quente, era tudo que precisava para eu relaxar. Quando acabei, vesti minha roupa de dormir e esperei a Paola chegar para conversarmos.

Ela não demorou muito, passou no meu quarto pra dizer que ia se banhar e logo voltou.

— Vamos fazer uma festa do pijama, como nos velhos tempos. — ela sugeriu e concordei sem hesitar.

Ela colocou um filme de comédia romântica, nosso gênero favorito.

— O.K., sabe o que eu estava pensando essa semana? — perguntou.

Fiz que não com a cabeça.

— Em como o Carlos Daniel deve estar. Faz muito tempo que nós não vemos. Você também não fica curiosa? Sei lá, ele era seu melhor amigo.

Fiquei totalmente sem reação diante daquilo. Como ela pensava em como o Carlos Daniel – meu melhor amigo e também minha paixão secreta, o algo que ela tanto falou hoje – estava?