Alguns dias atrás, eu marquei para que o senhor Smith — chefe do Corpo de Bombeiros. — viesse hoje falar um pouco sobre sua profissão para os meus alunos. Porém ele teve uma emergência e tive que chamar nada mais e nada menos que o policial mais idiota desse mundo... Sim, o meu irmão Dean.

Não sei se fiz o certo, porém foi à única opção.

— Olá, alunos! — cumprimentei-os; entrei na sala segurando os livros que costumo usar para lecionar. Eles me cumprimentaram de volta, enquanto eu caminhava até o birô. Coloquei os livros sobre ele e fui até a frente do quadro negro, ficando à frente deles. — Como vocês sabem, eu tinha dito na semana passada que hoje viria o senhor Smith, falar um pouco sobre sua profissão. — olhei sério para dois alunos que conversavam e eles pararam na mesma hora. — Porém, houve um imprevisto, então eu tive que chamar...

— Eu! — meu irmão me interrompeu, já invadindo a sala antes da hora que tínhamos combinado; ele vestia um terno escuro e uma gravata violeta. — O cara mais gato desse mundo, que faz todas as mulheres ficar com...

— Dean!

O repreendi, já sabendo que provavelmente suas próximas palavras seriam “a calcinha toda ensopada”.

— O que foi, Sammy?

Odeio quando ele me chama assim.

— Nada...

Engoli um pouco a minha raiva para manter minha compostura.

— Bom, me deixe me apresentar.

Aproximou-se mais de mim e depois deu um passo para trás, se encostando ao quadro que eu me esqueci de apagar as tarefas dadas por mim na noite passada — sim, eu ensino de manhã à noite, pelo menos por alguns dias, enquanto não vem um substituto para dois professores que tiveram que se afastar.

— Dean, o quadro!

Me encarava confuso.

— O que tem o quadro? — indagou, se virando para fitá-lo. — Quem foi o professor filho de uma puta que se esqueceu de apagar essa droga?!

Ele soltava irritado, passando as mãos em suas costas para ver se limpava a tinta do piloto — alguns alunos riam com a situação. Eu não disse nada, apenas levantei o dedo indicador, e ele arregalou os olhos na mesma hora.

— Porra, Sammy! Você me fez xingar a nossa mãe!

Falou aborrecido, e para evitar que meus alunos continuassem a ouvir suas palavras grosseiras, peguei em seu braço, pedi um minutinho para eles e levei esse idiota até a porta.

— Dá para não fazer esses comentários escrotos aqui, seu idiota?

— Eu não tenho culpa de você ter deixado aquela porra suja...

Falou baixinho, apenas para eu ouvir.

— Dean!

Fuzilei-o com um olhar mortal, e ele logo revirou os olhos.

— Ok, ok.

Após concordar forçadamente, voltamos até os alunos.

— O senhor Dean...

— Nossa! — me interrompeu de novo. — Quase enrijeci com esse senhor.

— O que é enriceci?

Mariana perguntou bem na hora que eu iria repreender o Dean. Para alguns, enrijeci é uma palavra um pouco difícil de se pronunciar, por isso ela a pronunciou incorretamente.

— Bom...

— Essa palavra tem muitos significados... — comecei, antes que o imbecil fosse dar a explicação com o sentido que ele usou. — Outro dia, a explico melhor.

Ignorei a risadinha boba dele.

— Tá, professor.

Ela se sentou, já que tinha se levantado para fazer a pergunta.

— Bom, o senhor Dean — espremi os olhos quando ele deu uma pequena risadinha na palavra senhor. — irá explicar um pouco sobre sua profissão, mostrando como é a vida de um policial em nosso país.

— Sim, eu irei explicar! Por isso, agradeçam imensamente por eu ter deixado de coçar o meu saco hoje, que é minha folga, e vim mentir descaradamente em suas caras que eu amo meu trabalho.

Comentou e, imediatamente, meus olhos arregalaram. Forcei um sorriso e tentei contornar a situação.

— Dean! — dei um tapa enorme em suas costas, o fazendo ir um pouco para frente por causa da força; enquanto isso, eu dava um enorme sorriso para disfarçar. — Já disse para você parar de brincar, seu bobo.

Forcei um pouco mais o meu sorriso. Tinha que fazer os alunos acreditarem que ele estava brincando. Após ouvir algumas risadinhas, me tranquilizei.

— Desculpe-me, eu não consigo me livrar do comediante que há dentro de mim.

Sorriu docemente. Creio que percebeu que eu estava completamente irritado com seu comentário.

— Bom, o senhor pode falar para os alunos um pouco sobre sua profissão?

Pedi, implorando mentalmente para que dessa vez ele fizesse tudo certo.

— Claro que sim, senhor Sammy. Com esse sorrisinho lindo forçado nos lábios, eu não consigo negar.

A sala inteira começou a gargalhar. Respirei fundo, tentando não demonstrar que eu estava enfurecido.

— Então comece...

Voltei a forçar o sorriso.

— Como vocês estão vendo, — tirou seu distintivo. — eu sou um homem da lei. — sorriu ao mostrá-lo. — Arrisco minha vida para que seus pais possam entrar no TenhoVideos, e possam bater em paz!

— Dean!

Voltei a olhá-lo com um olhar de repreensão. Como ele pode mencionar um nome de um site pornô para meus alunos e dizer essa asneira?

— Bater o quê?

Um dos alunos perguntou confuso, e vi que os outros estavam tão confusos quanto ele — dei graças a Deus por não saberem do que esse merda estava falando.

— Um bolo.

Mentir nervoso; essa foi a primeira coisa que veio em minha mente.

— Um bolo com muito leite.

O imbecil soltou com a voz maliciosa. Peguei-o novamente pelo braço e o levei até a porta.

— Seu irresponsável! Você já se esqueceu de que está falando isso para crianças? — eu estava enfurecido. Tentava me conter, para não gritar. — O que você acha que os pais deles irão fazer, se algum deles dizer “pai, mãe, entra no TenhoVideos e faz um bolo pra mim”?

— Me desculpe, me desculpe! Eu me esqueci. — comentou, parecendo nem um pouco arrependido do que falou. — E se eles chegarem aos pais e mandar entrar pra fazer um bolo, a culpa foi sua. — mas é o quê?! — Você que veio com essa história de bolo.

Suspirei fundo. Ah... Como me arrependo de ter chamado esse maldito.

Decidi não responder a esse desaforo.

Voltamos para frente dos alunos, para continuar com a aula.

— Desculpem-nos a demora, alunos.

— Posso continuar, senhor Sammy?

Uma veia enorme brotou em minha testa. O maldito sabe que odeio ser chamado assim, mas faz questão de chamar apenas para me ver enfurecido.

— Sim, senhor Dean.

Eu puxava todas as forças dentro de mim para respondê-lo sem pular em sua garganta.

— Bom, pivetes! — espremi os meus olhos para ele. — Quero dizer: Bom, garotos... Como eu tinha dito, eu arrisco minha vida para que vocês possam viver tranquilamente junto com sua família...

— Mentira! Você disse que arrisca sua vida para que nossos pais possam entrar no TenhoVideos.

James comentou, permanecendo ainda sentado.

Respirei fundo, e quando abri a boca para dizer algo o cretino me cortou.

— Qual é o seu nome, gordo?

Perguntou. Os alunos começaram a sorrir, e James aparentava bastante constrangido.

— Dean!

Repreendi esse maldito, pois eu não aceito esses tipos de comentários em minha frente.

— Perdão, perdão! — revirou os olhos. — Como é seu nome, garoto com grande excesso de peso?

— Dean!

Voltei a repreendê-lo ao ver que o garoto ficou mais constrangido com as risadas.

— Isso não pode também?!

Me olhou confuso.

— Claro que não, seu retardado!

Não pude conter minha exaltação. Afinal, o James está bastante constrangido por causa de seus comentários. Ele já sofre com algumas piadinhas maldosas, de seus colegas, não vou deixar que esse babaca fique com suas gracinhas.

— Bom... Perdão de novo... Me deixe tentar novamente. — suspirou. — Qual é o seu nome, garoto de ossos largos?

Filho de uma pu... Droga! Esqueci que somos irmãos!

— Apenas garoto, por favor.

O menino falou com um tom meio irritado. Pelo seu olhar, provavelmente não entendeu totalmente o que o imbecil acabou de dizer.

— Tudo bem, garoto, me desculpe por ferir os seus sentimentos. — comentava com um tom sarcástico. Como odeio isso nele. — Você poderia, por gentileza, dizer o seu nome?

— Meu nome é James.

— James, seu pai já lhe ensinou que não se deve desmentir os mais velhos?

— E seu pai já lhe ensinou a ser menos idiota?

Retrucou, e eu me segurei pra não rir.

— Ai, moleque! — meu irmão se jogou de costas na minha frente, pegando meus braços e colocando envolta do seu corpo. — Não me segura, Sammy! Não me segura, que agora irei fazer jorrar sangue para todo lado!

Como ele é ridículo.

— Dá pra você parar de brincadeira e continuar, por favor?

Ele nunca cresce.

— Você teve sorte, rapaz. — apontou para o garoto como se tivesse realmente o ameaçando. — Bom, continuando... Eu arrisco minha vida para que vocês possam viver tranquilamente com suas famílias. A vida de nós policiais é complicada; devemos ficar sempre atentos quando estamos em combate para que possamos manter a segurança das vidas dos envolvidos e, claro, para que possamos voltar inteiros para nossas casas.

Finalmente decidiu acabar com as piadinhas.

— Alguns de vocês adorariam fazer alguma pergunta para o senhor Dean?

Eu encarava os alunos.

— Eu, professor. — Elizabeth informou. — Faz quanto tempo que o senhor é policial?

— Apenas cinco anos.

— E o senhor já matou alguém?

Dessa vez quem perguntou foi Henrique.

— Matei tantos que minha alma já não tem mais salvação.

Disse sério, fazendo mais uma veia surgir na minha testa.

Ele nunca matou ninguém; já trocou tiros com criminosos, mas nunca matou. O máximo que aconteceu foi o criminoso ser levado para o hospital. Decidi não desmenti-lo, pois não quero me estressar.

— O que pensasse quando matasse pela vez?

A pequena Mary o fitava.

— Antes você do que eu, mané! — sorriu. Peguei-o novamente pelo o braço e fui o levando até a porta. — Sammy, você está me levando muito até a porta. Cuidado que seus alunos vão pensar que estamos de brotheragem.

— Dá pra parar de dizer besteiras para os meus alunos?! — ele revirou os olhos, me deixando mais nervoso. — Que droga é essa de “antes você do que eu, mané”? Quer que meus alunos aprendam o que não presta?!

— Calma, Sammy. Você está muito nervosinho, é TPM?

Brincou.

Mordi de leve o meu lábio inferior para poder me conter.

— Dá pra você ser sério pelo menos uma vez em sua vida?!

— Tudo bem, eu vou tentar...

Voltamos para frente dos garotos. Decidi acreditar nele, já que respondeu seriamente.

— Continue, alunos.

Mandei.

— Dean, o que você mais gosta na sua profissão?

Agora foi a Elisa que perguntou.

— Como eu posso dizer isso sem o Sammy encher meu saco? — coçou um pouco a cabeça, aparentemente pensativo, e eu apenas espremi meus olhos. — Sabe, têm umas gatas que adoram homens de fardas, então como eu sou muito gentil, alimento-as com bastante leite.

Sorriu.

— E tem gatos que preferem pessoas que usam farda?

Rosie perguntou inocentemente, assim que eu ia abrir a boca para resmungar algo.

Olhei para os outros alunos; parecem que eles não entenderam muito bem o que ele quis dizer — graças a Deus!

— Sim, princesa. Elas amam... E como amam!

Bati na testa, não acreditando nas merdas que ele está falando.

— O que o senhor mais gosta de comer quando está em serviço?

Tentei mudar a conversa, antes que ele começasse suas frases de duplo sentido.

— Bom, tem os Donuts que eu amo e tem também...

— Sanduíches, provavelmente.

Completei, já sabendo que vinha merda pela frente.

— Sim, senhor Sammy. Sanduíches...

Me olhou maliciosamente.

Que babaca!

— Você já salvou gatinhos de cima da árvore?

Dessa vez foi o Paul.

— Nunca salvei gatinhos de cima da árvore, mas já salvei várias gatinhas da seca.

Sorriu com malícia nos olhos.

Mas que filho... Epa! Esqueci novamente que somos irmãos.

— Como assim da seca? — Henrique me interrompeu, assim que eu ia abrir a boca para falar. — Dando água para elas tomarem?

— Dando outra coisa, garoto... Outra coisa...

Dean, eu te mato!

— Eu vi em alguns filmes que os policiais ficam em dupla, vigiando para pegar os criminosos. O senhor já vigiou em dupla também?

Dessa vez foi o John a perguntar.

— Claro! Fiz dupla com vários parceiros de trabalho. Porém, o que eu mais gostei mesmo, foi quando eu fiz com o policial Samuel. — senhor, que não seja o que eu estou imaginando. — Ficamos “batendo” na criminosa, por horas, com os nossos ca... — não aguentei e o cortei, dando um enorme tapa em sua cabeça. Nós dois já transamos juntos com a mesma mulher. Isso foi a minha primeira vez; o Dean me levou para que eu finalmente “virasse homem”. — Por que você fez isso, Sammy?

Alguns alunos ainda riam por causa do tapa que o dei.

— Desculpe, tentei matar um mosquito que estava em sua cabeça, mas parece que ele voou para longe. — menti, olhando para ele com o meu famoso olhar “se você fizer merda novamente, vai levar outra”. — Ai! — gritei ao levar um tapa na bochecha esquerda. — Por que você fez isso?!

Lancei um olhar mortal pra ele. Com certeza isso foi sua vingança.

— Matei o mosquito que você tentou matar.

Soltou sério.

— Você não... — parei ao vê-lo mostrando a palma da mão e um pequeno inseto morto, grudado a ela. — Não acredito que tinha mesmo.

Pensei.

— Vai chupar sangue agora no inferno!

Mandou revoltado, fazendo meus alunos rirem. Dei um olhar de repreensão para eles, e todos se calaram.

— Senhor Dean, para finalizar...

— Já?

Me cortou.

— Sim, pois logo em seguida será a aula do próximo professor.

Informei, agradecendo que me livrarei do maldito.

— Então continue, Sammy.

Voltei a cerrar os olhos. Ele adora me provocar, me chamando desse jeito.

— Pra finalizar, o senhor poderia deixar algumas palavrinhas para os meus alunos?

Questionei, implorando aos céus que ele não dissesse nenhuma porcaria em seguida.

— Claro que sim, senhor Sammy. — revirei os olhos. — Pirralhos... — olhei-o com um olhar mortal. — Quero dizer... Alunos! Quando vocês crescerem, nunca cometam crimes, senão: — tirou sua pistola 9mm. — Hasta la vista, baby! — apontou para os alunos, que o olharam com medo. Não me segurei. Peguei em seu braço, que estava segurando a arma, torci para trás, e fui conduzindo-o a força até a porta. — Está me machucando, Sammy.

Foi reclamando.

— Nunca mais volte aqui!

Berrei após soltá-lo e dar um chute em seu traseiro, fazendo-o ser jogado porta fora.

— Depois você me paga, Sammy! — gritou, se levantando. — Eu ju...

Nem o deixei terminar, e fechei a porta em sua cara.

Arrependo-me amargamente de ter chamado aqui esse maldito.

Fui até o birô onde deixei minhas coisas, peguei tudo e fui até o meio da sala, ficando à frente dos meus alunos.

— Bom... — vi que todos me olhavam com espanto. — Quando vocês crescerem, se tornem ótimos adultos e não virem um completo babaca como o meu irmão.

Dei um sorriso e me dirigi até a porta, saindo logo em seguida; por faltar apenas cinco minutos para bater o sinal, posso já sair da sala. Normalmente eu espero bater, mas preciso sair para ver se o cretino ainda continua aqui.

— Ainda bem que você saiu, Sammy. — me deparei com o imbecil do Dean; ele estava encostado à parede, que fica em frente à porta da sala. O ignorei e fui seguindo o meu trajeto. — Vai me ignorar, Samanta? — parei. Cerrei um pouco os meus olhos e o fitei com toda ira que eu poderia ter no momento. — Samanta!

Repetiu com um sorriso debochado nos lábios ao reparar que fiquei mais que furioso com o seu comentário.

— Você é mesmo um babaca...

Resmunguei e voltei a seguir meu trajeto.

— Samanta! — parei novamente, dessa vez com muito mais ódio. Nem fiz questão de me virar para ouvir o que ele ia dizer, apenas fiquei parado. — Me desculpe por eu ter sido um completo babaca com seus alunos. — respirei fundo, virando pra fitá-lo melhor, e vi que ele já estava indo embora. Quando eu ia abrir a boca para dizer algo... — AH! — de repente, ele virou de frente para mim. — Você ainda me paga, Samanta!

Apontou para mim com um olhar sério e virou de costas novamente, indo embora.

Já imagino como vou “pagá-lo” — provavelmente fará alguma brincadeira estúpida comigo.

Ele nunca cresce. O Dean é mesmo um idiota...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.