Meu estranho amor

Quem sabe, tudo acabará bem


Quando Amintas chega a sua casa, vai preparar um jantar rápido para não dormir de estômago vazio. Queria sossego e depois um banho relaxante. Porém, o som de mais algumas mensagens atrai sua atenção.

Eram novas fotos de pessoas desconhecidas, homens e mulheres sorridentes e visivelmente bêbados. E em uma das fotografias, o sorriso sereno e triste de Regina está lá. Ela brindava e não parecia alterada como as outras pessoas. Observando as outras imagens, Amintas se depara com a foto de um jovem casal erguendo suas taças e abraçados ao cínico Jones, que aparecia em todos os cliques.

O coração de Amintas sobe em sua garganta e cai para fora da boca, para ser engolido logo em seguida. A jovem! Aquela jovem! Aquele rosto redondo! Aquele sorriso! Jamais a esqueceria! A sua bela e desconhecida amante! A mulher que o havia abordado num shopping numa manhã qualquer e se mostrado disposta a viver aventuras loucas entre quatro paredes! A jovem que saíra de sua vida de forma tão misteriosa como havia entrado! Era ela! Mary! Apenas Mary e nada mais!

— Certo, Jones! Essa é a brincadeira mais cruel que você fez! O que realmente quer? – ele pergunta depois que é atendido.

“Olá, meu herói! Pensei que você quisesse vir divertir-se em uma festa de noivado! Lembra-se de que foi convidado para acompanhar Regina e você não quis? Pois bem, eu aceitei e estou entre pessoas mais loucas do que os presidiários com quem convivi!”

— O que está pretendendo agora, demente? Seu deformado espiritual!

“Quero apenas mostrar o que você está perdendo! A família da Regina é totalmente doida! Imagine você que Regina transou com o cunhado, sem saber que ele era o namorado da irmã caçula! A irmã caçula escondeu do cara, que o traiu com outro cara que ela sabe somente o sobrenome! A avó delas tomou tanto remédio que pulou pelada na piscina, enquanto que uma das tias, refugiou-se no telhado!”

— Quem é a jovem que está com um loiro e você numa das fotos? Uma jovem de rosto redondo e cabelos curtinhos? Quem é ela?

“É a Mary! Noiva de David, que foi amante de Regina! Ela pegou outro cara enquanto namorava o David e está esperando um filho desse amante! Imagine a zona que está essa festa!”

Amintas fica em silêncio por alguns segundos, apenas ouvindo a voz de Killian chamá-lo do outro lado da linha.

— A festa acabou-se?

“Que nada, meu ídolo! Pela animação do povo, isso aqui vai longe! Por que não deixa de ser ranzinza e vem para cá? Tudo virou bagunça mesmo! Todo mundo já contou segredos de todo mundo e vai ficar tudo bem no final! Vou enviar o endereço e saiba que Regina irá gostar de ver você aqui. Eu também vou!”

— É? E eu vou prender você mais uma vez por venda de entorpecentes! O que me diz?

“ Digo que você é um chato! Nem seu gato quis morar com você e foi morar com a vizinha. Aliás, com uma vizinha daquelas, eu também iria mudar de casa!”

Era quase duas horas da manhã, quando o carro do policial é estacionado diante da entrada enfeitada de um rancho. As luzes e a música mostrava que a festa não terminaria tão cedo. Chegando à entrada, exibe o distintivo e tem a entrada permitida, pelos seguranças.

Caminhando com sua postura militar, logo atrai olhares e alguns questionamentos surgem vindos dos convidados que ainda mantinham sua sobriedade. Um dos garçons oferece uma taça de bebida e é recusada gentilmente. Queria estar sóbrio para conseguir olhar nos olhos puxadinhos de sua Mary e ouvir a confirmação ou não da besteira que Killian havia dito por telefone.

No salão onde vários casais dançavam de maneira mais contida, o policial para e vasculha o local. Por não estar devidamente trajado para a ocasião, imediatamente atrai a atenção de Cora e logo em seguida de Regina. A mulher mais jovem sorri.

Killian surge saído do nada e apoia-se na cadeira de Regina. Aponta para o policial.

— Enviei o endereço para ele! Mesmo sem o traje da festa, ele está elegante! É meu herói!

— Quem é ele? Outro gigolô? – alfineta Cora.

— Ele é policial que me prendeu por várias vezes e que salvou Regina do pseudo assalto que eu fiz a uma agência bancária!

— Você é um assaltante, também?

— Não, mãe! Killian é um retardado com síndrome de Peter Pan! – Regina se levanta e segura a mão de Killian, para mantê-lo longe de confusão.

Junto de Amintas, o casal o recepciona animadamente.

— Fico feliz que tenha aceitado vir à festa de noivado de minha irmã

— Eu recebi as fotografias que Jones me enviou. – o policial não sorri. Apanha o celular e exibe a segunda fotografia que havia salvado na memória do aparelho. – Eu vim por Mary.

Silêncio sepulcral. Mais alguma revelação? Mais alguma novidade para animar ainda mais aquele noivado que poderia se desfeito antes do fim da noite?

— Você conhece Mary? Minha irmã Mary?

— Sei somente o primeiro nome. Eu a conheci numa dessas manhãs e vivemos alguns encontros num apartamento que ela alugava no centro da cidade vizinha. Foram apenas quatro encontros e depois não a vi mais.

Killian e Regina se entreolham. Depois olham por cima de seus ombros para Mary, David e em seguida para Cora, que os vigiava de longe como se fosse uma águia.

— Mesmo que eu não vendesse nada aqui, essa festa iria ser bombástica do mesmo jeito.

— Gostaria muito de conversar com ela...preciso muito...

Quando Mary entra novamente no quarto, acompanhada por David, logo se depara com os dois olhos poderosos de Amintas em sua direção. Ele a olhava da mesma maneira sedenta dos encontros num passado não muito distante.

O que fazer? Correr? Enfrentar? Bom, noiva desmaiada não fala.

Ela amolece e é amparada por David e Killian, que a acomodam na cama. Mary tenta dramatizar um pouco mais, porém, os tapas que Cora estava desferindo contra seu rosto, doíam demais para continuar.

— Pronto, mãe...já acordei...- ela se senta na cama e mal consegue encarar Amintas.

— O que está havendo? E quem é esse cara? – David aponta para o policial.

Amintas se ajoelha e fica bem perto das pernas de Mary. Sorri amável e decide esclarecer suas dúvidas.

— Killian me disse que você estaria noivando hoje, mas que está esperando um filho que pode ser meu. Aliás, está esperando um filho meu!

Todos os olhares questionares se voltam para Killian. Não consegue manter essa boca fechada?

— E eu nem falei que Regina teve um romance com David, durante as férias dela! E David já namorava Mary!

Ei!! Novamente, todos encaram Killian e percebem que ele não se sentia constrangido. Tem algo mais para revelar?

— O filho pode não ser seu, Rochut! – resmunga Mary.

— Você se chama Amintas Rochut? – Killian começa a rir.

— Então, além de mim e desse cara, ainda teve mais?? – David explode. – Você poderia ter me contaminado!

— E você a mim, desgraçado! – Mary se levanta e desfere uma bofetada, mas atinge o ombro do noivo.

— E a mim! – Amintas completa.

— Sou eu quem leva a fama de ser vadio e sair com qualquer pessoa!

Sem hesitar, Regina move rapidamente sua mão e acerta o rosto do cunhado, com um soco. Parecia uma gata atacando.

— Nesta segunda vou solicitar o exame do DNA porque quero cuidar dessa criança! Quero confirmação! – o policial a faz menção de sair.

— Não preciso não, Rochut! – Mary segura Amintas pela mão. – Não houve mais ninguém! Você é o pai e eu queria que David assumisse a gravidez, mesmo sem saber a verdade! Eu não sabia onde encontrar você, Rochut!

Rochut? Killian continua rindo. Amintas Gabriel Rochut? Isso é marca de remédio!

— Pensei que fosse apenas Amintas Gabriel...de onde saiu esse sobrenome?

— Então, voltamos à estaca zero! – David se altera e fica com o rosto enrubescido. – O pai do bebê de Mary está aqui e não teremos mais noivado? Vou ter de aceitar a presença de um estranho convivendo com meu filho?

— Meu filho. A criança é minha, biologicamente. E não me importo em ser estranho para você, porque para Mary não fui e nem sou.

— Eu não vou abrir mão do meu casamento com Mary! Iremos nos casar!

Regina soluça e encara David, tentando mostrar com seu olhar, toda a tristeza que estava tomando conta de seu coração.

— E eu? Sabe que estou apaixonada por você! Não se preocupa com isso?

— Mas eu amo Mary e sei que Mary me ama! – ele se desespera. Volta-se para o policial. – Você veio tirar minha noiva e o meu filho de mim?

Mary e Amintas se entreolham. Não dizem nada de imediato, mas demonstram que julgam estupidez nas palavras do loiro de bochechas vermelhas.

— Não estamos apaixonados um pelo outro. Queremos apenas discutir o futuro do nosso bebê, portanto, fique calmo, moço. – o policial não se altera.

— Mas eu estou apaixonada por David. Ninguém parou para pensar em meus sentimentos? – Regina começa a ficar irritada. – É tudo para Mary?

— O que importa a sua paixão? Estamos falando de amor, casamento e nascimento de uma criança! – David não se controla e a mão rápida de Regina contra o rosto dele, também não.

O som da risada de Killian atrai os olhos de Cora. Eu deveria rir com ele e levar a vida menos a sério. O cara estava certo!

Killian gesticula para David e dá uma ordem muda para que ele se afaste e que saia do campo pessoal de Regina, ou certamente receberia outro cruzado de direita contra o queixo. É atendido.

— Vamos fazer o exame, mas não pretendo ficar com você, Rochut.

— Nem eu com você, Mary. Porém, preciso estar presente na vida da criança. Faremos sim, o exame.

— Eu também quero fazer esse exame! – David está apavorado.

— Para que, companheiro? E se o resultado for negativo para os dois supostos pais? Que expressão você irá usar? – Killian pergunta o que Cora queria perguntar.

David se senta na cama e mostra-se aflito. Cora gesticula para que os demais saíssem do quarto. Era o momento do casal e de mais ninguém.

— Vamos nos sentar um pouco e aproveitar o restante da festa. – Killian indica uma mesa num canto do salão e é seguido por Regina e Amintas.

Antes que pudesse sentar-se, o policial é abordado por Charlotte. A mulher escancara seu sorriso e vai com as duas mãos começar a apalpar o homem.

— Quem é esse bonitão de bunda grande? De onde você tira tantos tesouros, Regina, minha querida? – ela o agarra pela cintura e sorri. Dança sem ouvir música.

— Ele é policial, Charlotte. – Regina tenta livrá-lo da avó, mas ela é persistente. – Por que não o solta?

— Porque não é todo dia que posso ficar tão perto de um policial, sem que ele esteja me autuando por direção perigosa!

— A senhora ainda dirige?

— Tenho 84 anos, mas ainda estou viva. – ela desce as mãos e agarra as nádegas dele. O homem pula e segura os pulsos da mulher. – E meu corpo ainda consegue fazer mais estripulias do que apenas dirigir o meu Porsche!

— Mamãe, deixe o homem em paz! – pede George chegando rapidamente. – Está sendo inconveniente!

— Inconveniente vai ser minha boca, quando eu cair de joelhos, aqui!

Amintas salta e consegue se afastar da mulher, que é levada pelo filho.

— Ela vai precisar de desintoxicação. – Regina se senta e observa os dois homens fazerem o mesmo. – Ainda terei todo o dia de domingo para mais surpresas. O que ainda falta acontecer? Já trabalhei em vários lugares, viajei muito e sempre pensei ter muitos amigos. Mas no momento mais complicado de minha vida, estou exposta e sendo amparada por dois homens que me conheceram a menos de vinte e quatro horas.

Regina segura a mão de Amintas e beija o dorso, depois apanha a mão de Killian e faz o mesmo. Sorri amável.

— Acabei de coçar a bunda.

Ela emite uns muxoxos e empurra a mão, fingindo que não estava incomodada. Mas não se esquece de passar a mão pelos próprios lábios. Sorri quando vê a mãe aproximar-se e sentar-se com eles à mesa.

— Perdoe-me por estar tão agitada e nem valorizar seus sentimentos, meu amor. Deveria ter percebido mais a sua presença e aproveitado mais de sua companhia.

— Ahh! Vocês terão muito tempo, agora que Regina foi demitida!

Amintas abaixa a cabeça e começa a brincar com os próprios dedos, enquanto Regina acaba de cometer um fuzilamento no salão. Mas Killian era blindado.

— Como assim?? Demitida da revista?

— Perdi meu emprego porque o Diretor alegou que estou defasada em minha coluna na revista.

— Perdoe-me por não perceber sua tristeza, filha.

— Não dá para perceber quando a mulher fica desempregada. O homem dá mostras: fica barbudo, sobrancelhas arrepiadas e a costura do fundo da calça, fica torta. - Killian é rápido no gatilho.