Regina desembarca na Capital Federal e no aeroporto é recepcionada por Amintas, que a aguardava no saguão do lugar. Trocam um longo e demorado abraço, silencioso e saudoso.

— Gostaria de ficar algum tempo sozinha com você. Pode ser?

— Claro! Vamos para meu apartamento?

Momentos depois, Regina retira os sapatos e larga-se no sofá, como se estivesse familiarizada com o ambiente. Queria conseguir relaxar e precisava mais do qualquer outro, ser observada e quiçá ser tocada. Amintas apenas a observa, parado em pé a certa distância da mulher.

— Eu me dei conta de que nunca vi Charlotte chorando.

— Ela era única mesmo. Corfu deve estar desolado.

— A convivência com ela sempre foi um divisor de águas. – Regina se levanta a caminha até Amintas. Estende a mão e toca-lhe o pescoço porque sabia que ele jamais a refutaria. – Ela me mostrou que amar torna a vida mais intensa, valiosa e com mais histórias para serem contadas.

Ela se aproxima ainda mais e beija o pescoço dele.

— O que você está fazendo, Regina?

— Estou beijando você...

— Por que está fazendo isso?

— Porque reconheço que sempre estive apaixonada por você.

Uma risada gutural é a resposta dele. Levanta a cabeça e amplia o espaço para que ela se deleitasse. Ah, menina mimada! Menina cheia de vontades e controladora! Por que tudo precisava ser como ela queria?

Ele está me convidando para brincar? O playground está aberto mesmo em dia de chuva? Não quero ficar dentro de casa porque a diversão está me chamando! Caso eu fique resfriada depois, pensarei em algo para sarar! Por ora, quero esquecer que o tempo corre do lado de fora e preciso viver como Charlotte viveu!

— Você fez amor com Charlotte? Ela elogiava tantos os seus atributos! – Regina cochicha.

— Nunca, mas eu me exibi para os desejos dela. Foram apenas brincadeiras saudáveis.

— Eu preciso de você, mesmo que você não precise de mim, Amintas. – Regina segura a mão dele e o conduz para o sofá.

— Como não precisar de você, Regina? Já me declarei apaixonado e depois expus que meus sentimentos viraram amor. Já que pretende aprender com a vida de Charlotte, aprenda a ser tão intensa como ela. Jamais sinta medo por amar de verdade.

— Não tenho medo de amar. Apenas não quero aprender a amar você...

— Não quer aprender? Você já aprendeu e isso a assusta mais do que qualquer outra situação que já a abalou. Nada do que você viveu nos últimos meses, tocou tanto o seu coração como a descoberta de que me ama. Dói em seu orgulho, ter de reconhecer que ama um homem fora de seus padrões sociais e estéticos.

— Convencido...

Naquela mesma noite, Regina desperta e observa o quarto iluminado pela luz artificial que tornava tudo azulado. Deitado ao seu lado, Amintas a olhava sem expressão em seu rosto bonito. Eles sorriem.

— Charlotte elogiava demais o seu corpo e isso sempre me atiçou a curiosidade.

— Amei Charlotte na etimologia da palavra e foi o que melhor fiz. Ela sempre me elogiava e não senti interesse em negar o que ela queria, embora nunca fizéssemos sexo. Ela apenas me admirava e dizia que queria ter vinte anos a menos, para vivermos juntos. - ele ajeita o lençol sobre as partes íntimas. – Pretende dormir comigo e irá fugir antes que o dia chegue? Vai tirar todos os meus vestígios do seu corpo e continuar fugindo?

Regina se senta na cama e abraça os joelhos.

— Pense muito bem no que irá fazer, porque não pretendo deixar você assumir as fantasias de Charlotte e tentar me usar para isso. Não acredite que pode sair de sua cidade e vir em busca de sexo saudável comigo, porque o que vivi com ela, foi sepultado com ela.

— O que tenho a perder, vivendo um romance com você, Amintas?

Ele acha graça na pergunta.

— A questão é: o que eu tenho a ganhar ao viver um romance com você? – ele se acomoda sobre a cama. – Eu sempre sonhei em ter uma família e bom emprego para conseguir cuidar de quem viesse fazer parte de minha vida. É certo que já consegui encontrar a pessoa que ficará ao meu lado. E mais certeza tenho...de que serei muito feliz.

— Não posso, Amintas. Não posso envolver-me em um romance com pretensão a casamento.

— Pode sim. Apenas não quer envolver-se comigo, porque todos acreditam que sou perfeito demais para você. A única que não enxerga isso, é você. Percebo que acredita que amar dá medo e ser amada amedronta ainda mais. – ele acaricia as costas nuas dela. – Lamento informar que você está errada e quando perceber isso, será tarde demais.

Ele se levanta da cama e começa a vestir-se. Olha por cima do ombro.

— Estarei esperando por você na sala. Tome um banho e não tenha pressa em vestir-se.

Perder tempo? Estou perdendo tempo? Por que tenho de ocupar meu tempo ao lado de uma pessoa? Por que destinar meu tempo futuro a viver com alguém ao meu lado? Por que as pessoas querem que eu tenha alguém fixo em minha cama? Por que ter sexo sempre com a mesma pessoa? Por que não pude dedicar esse tempo para aquele desgraçado que me conquistou naquele verão?

Por que? Ora, porque amor de verão não sai do litoral! Eu me apaixonei, mas não pudemos ficar juntos! Por que? Porque David ama Mary e os dois estão casados agora! Porque não vou ser o motivo de tristeza de minha irmã e porque Charlotte não me perdoaria por perder a oportunidade que ela sonhou em ter, antes de usar Corfu como a solução para o fim de seus dias solitários. Ela elegeu Amintas...mas por que? O elegeu para a vida dela e o deu de presente a mim, convencendo a todos em minha volta, de que ele é minha metade!

Droga! Quem tem de decidir isso sou eu!

E mais momentos são vividos na vida de todos. Regina consegue publicar suas reportagens e ainda recebe premiações sobre suas aventuras escritas, encontradas fora de casa. E foi na noite da premiação, que Regina conhece Wael, um cantor árabe convidado para o evento.

Elegante, galante e com traços másculos, o homem consegue despertar muito interesse na alma de Regina. Conversam durante todo o evento e terminam a noite em uma suíte de um hotel luxuoso, como forma de impressionar os belos olhos castanhos de Regina.

E a presença de Wael nos dias de Regina se torna uma constante. Visitas surpresas à revista, envio de flores, convites para jantares fora da cidade, viagens súbitas em seu jato particular e um pedido para selarem um compromisso, simbolizado por um anel de safira negra.

— Nossa! Isso é lindo! Ele tem algum irmão solteiro? – Zelena se encanta com o anel.

— Você ganhou sozinha na loteria, hein? – Mary sorri e quer tocar mais uma vez, a joia.

— Conheceu o passado dele? – pergunta Emma sem entusiasmo. – Você é um para-raios para confusões.

Mary acha graça e não diz nada. Olha o perfil da irmã.

— Ele é um cantor árabe que vive aqui em nosso país...tem uma rede de joalheiras...vende muitos CDs e faz shows...não vou namorar o passado dele.

— Mesmo sendo seu namorado, não creio que Killian irá permitir que ele suba no nosso altar, como nosso padrinho.

— Ele é muito lindo. – comenta Zelena.

— Mesmo sendo. Killian quer Regina e Amintas e não abrirá mão disso.

— Eu serei sua madrinha ao lado de Amintas. É certo que Wael é um homem cosmopolita e não sentirá rejeição a isso. Ele nem vai questionar.

Naquela mesma noite, Regina se choca com a reação do namorado. Fica estática, sentada no sofá, apenas observando a histeria dele diante da possibilidade do contato dela com Amintas.

— Conversei com sua mãe e sei que sua avó queria este homem para ser marido! Todos os seus amigos fazem campanha para que ele seja o escolhido! Por que eu não poderei subir no altar com você, Regina?

— Por que o casamento não é o meu. Killian e Emma são meus amigos e estou honrada em ser madrinha deles!

— E por que não usam outro padrinho para ser seu par? O tal policial pode ser acompanhado por qualquer mulher, desde que não seja você!

— Emma escolheu os padrinhos dela, enquanto Killian escolheu os deles. – Regina ainda tenta se recuperar da reação rude do homem. – Não vou me casar com Amintas!

— As pessoas de minha comunidade irão rir de mim! Serei motivo de piadas e ter minha namorada num altar com outro homem, é mau presságio!

— Mau presságio para quê?

— Para nosso casamento! Caso eu permita que outro homem suba ao altar, mesmo que simbolicamente com minha noiva, estarei recebendo sinais ruins para meu futuro! O que meus fãs comentarão nas redes sociais? Eles farão comparações sobre a minha beleza e a desse...desse...outro homem!

Regina retira os óculos e os pendura no decote de sua blusa. Inclina a cabeça para o lado e encara o namorado.

— Como é? Farão comparações? E daí? Existem homens muito mais bonitos que você e não poderá evitar comparações. Não vou subir ao altar com Amintas para me casar com ele, porque eu já tive a minha chance e não quis. Portanto, pare com esse comportamento de menino mimado, porque seus cabelos grisalhos já avisam sobre sua idade!

O homem segura a cabeça entre as mãos e prende a respiração. Ele havia se esquecido de sua idade? Ou estava retornando para a realidade?

— Eu tenho de dormir, Regina! Por favor, vá embora e esteja no saguão do hotel às nove horas da manhã! Não se atrase porque temos de ir para a Costa Rica para minha apresentação em um aniversário de uma empresária! Não se atrase! Agora, vá!

Regina se levanta e sorri.

— Tenho muito trabalho na revista e não terei espaço em minha agenda para uma viagem para Costa Rica. Vá sozinho!

Na manhã seguinte, Regina chega ao escritório mais tarde e estava mais calada do que o costume. Mantém a cabeça baixa em suas atividades e evita cruzar os olhares com quem falava com ela. Estava mais maquiada do que o habitual.

— Vamos almoçar? – Zelena bate levemente na porta. – Já organizei sua agenda para a tarde de hoje e...o que há com você? Olhe para mim.

Regina levanta o rosto e encara a irmã, que se incomoda com a quantidade de maquiagem no rosto dela.

— Não está calor demais para essa quantidade de maquiagem, Regina? Machucou o rosto?

— Estou com dermatite e tive de esconder com maquiagem.

Zelena se inclina para frente e olha o rosto da irmã de maneira despudorada.

— Isso não é dermatite. Um dos seios de seu rosto está inchado e posso apostar que por baixo dessa camada de maquiagem, há alguma marca arroxeada.

— Tomei uma pancada.

— Tomou uma pancada? A única que lhe dava pancadas era Charlotte e nossa avó está morta. E quando ela lhe dava pancadas, não feria o seu rosto.

— Wael foi veemente durante uma discussão. Eu o irritei e ele me feriu.

Sem conseguir formular qualquer frase que rebatesse a argumentação de Regina, a ruiva fica estática e pensativa por longos minutos.

— Você prestará queixa ou eu terei de fazer isso?

— Cheguei mais tarde, porque estava com minha advogada na delegacia e depois fomos fazer os exames. – Regina exibe um sorriso choroso. Levanta-se ao ver os braços da irmã oferecendo um abraço protetor.