Regina é chamada na sala do Diretor da revista e é convidada a sentar-se. O homem estava mais gentil do que nos demais dias. O que estaria acontecendo?

— Regina, minha querida, há quanto tempo você está conosco?

— Há doze anos. Comecei na sessão de culinária. – ela sorri.

Alguma coisa grave iria ser exposta e pela maciez da fala dele...

— Sim e foi um desastre. – ele funga algumas vezes. – O tempo passou, as leitoras mudaram, mas você continuou com seu estilo.

Opa! Sinal vermelho! Sinal de alerta!

— Tenho recebido vários emails e na maioria deles, há reclamações obre o seu trabalho.

— Minha coluna está aberta às leitoras. O que elas escrevem, eu leio, acato as reclamações, sugestões, críticas...

— Desta vez, a reclamação veio da Presidência. Ele quer mudanças na estrutura da revista e nos nomes que encabeçam as colunas.

Isso não é agradável de ouvir!

— Infelizmente, tenho de informar você que o seu lugar frente à coluna da Mulher e Social, será ocupado por outra pessoa.

Quando Regina retorna para sua mesa, começa a organizar seus pertences e sequer percebe a aproximação de uma de suas colegas. Furiosa, indignada, humilhada e ofendida como profissional.

— O que houve?

— Eu fui demitida!

— O que? E quem ficará em seu lugar? A coluna é sua!

Outra colega se aproxima da mesa e sorri, espalmando as mãos sobre o móvel.

— Eu lhe avisei para encher os peitos com silicone e usar um bumbum falso, mas você não me ouviu. – ela olha rapidamente por cima do ombro. – Veja quem está na sala do diretor, agora.

Todos os olhos são virados para a parede de vidro e conseguem ver o homem sorridente, amável e entusiasmado pela figura de uma jovem de fartos seios que mal cabiam dentro da camiseta regata. Ela sorria e enrolava a ponta de uma mecha de cabelos em um dos dedos.

— Aquela é a garota...

— Sim, Regina. Aquela é a estagiária que ficou conosco todo o mês passado! Ela foi tão eficiente que conseguiu tirar o seu lugar na revista!

— E ela irá escrever sobre a mulher na sociedade atual? – Regina se mostra incrédula. – E em qual contexto?

Furiosa, momentos depois, Regina deixa seu carro num estacionamento e decide tomar uma bebida para relaxar. Entra num restaurante e permanece ali por quase meia hora, até que seu celular toca.

“Regina, minha querida! É a mamãe!”

— O que está precisando?

“Quero que venha para minha casa este final de semana, porque Mary quer oficializar o noivado. O homem virá para o rancho conosco e toda a família precisa estar presente.”

— Não estou com estado de humor adequado para jantares de noivado.

“Precisa estar, meu amor. Você será uma das madrinhas e sabe disso.”

— Não tenho vestido.

“Regina, sei que você é avessa às reuniões de família, mas desta vez é o noivado de Mary. Compre um vestido e venha logo.”

Regina começa a rir.

— Ela encontrou mais uma vez o homem da vida dela?

Quem ri do outro lado é Cora.

“Ela afirma que desta vez é sério. Ela irá apresentar o rapaz e ele fará o pedido de noivado.”

Momentos depois, Regina está parada numa avenida de grande fluxo e presa num pequeno congestionamento. O motor do carro para de funcionar, ela religa e consegue andar mais alguns metros, até que o motor para pela quarta vez. Porém, desta vez, o veículo não dá sinal de que retornaria a funcionar. Agentes de trânsito retiram o veículo do centro da avenida e o levam para um local a fim de esperar a chegada do guincho.

Beleza! Uma multa para enfeitar mais o dia! Não iria ficar parada junto ao carro e teria vários minutos até o atendimento do seguro do auto. Decide aproveitar o momento vago, para comprar o vestido para o jantar no final de semana. Que programa!

Na loja, evita pensar em sua demissão e entrega sua atenção na escolha de um vestido que acentuasse as curvas de seu corpo. Queria estar perfeita para impressionar seus parentes e evitar comparações com suas irmãs.

— Como será a forma de pagamento?

— Cartão de débito. – ela sorri e entrega o cartão à vendedora.

A jovem tenta passar o cartão na máquina e desenha uma careta de decepção. Encara Regina e devolve o cartão procurando ser gentil.

— A senhora teria outro cartão? Este está quebrado.

— Desculpe-me...eu me sentei sobre ele e havia me esquecido. – Regina devolve a sacola com o vestido. – Não estou com nenhum outro cartão...então comprarei o vestido, depois. E meu celular não quer a acessar o aplicativo do banco...

A jovem vendedora sorri e aponta para fora da loja.

— Há uma agência bancária no final desta calçada, bem na esquina. A senhora poderá pegar um cheque avulso e sacar o valor do vestido. Ou poderá fazer uma transferência para a conta corrente da loja. – ela entrega um cartão de visitas.

Aceitando a ideia, Regina sai da loja e observa seu celular. Nenhum aviso do pessoal que viria com o guincho, mas havia uma mensagem falada de seu namorado. Precisava saber o que havia acontecido.

“Alô, Regina! Sei que eu deveria falar isso pessoalmente, mas me faltou coragem. Estou no aeroporto embarcando para a Dinamarca. Resolvi aceitar a oferta de emprego e decidi isso ontem, depois que você saiu de meu apartamento. Eles me pressionaram e vou embora. Não se preocupe porque estou levando o Boby. Beijos!”

Como é?! Terminar um namoro por telefone!! Tudo bem que estavam juntos há dois meses, mas onde estava o respeito? Com quem ele estava lidando? E por que pensava que ela iria se importar com o cachorro dele? Aliás, quem seria o cachorro entre os dois?

Enfurecida e desatenta, Regina enfia o salto do sapato na grade de um bueiro. O sapato fica para trás e ela continua sua caminhada, quase cambaleando. Rosnando e expondo algumas palavras pouco honrosas, ela retorna e arranca o sapato de onde estava preso. Buscando controle diante da situação, ela ainda retruca algumas frases mal educadas para alguns gracejos que chegavam aos seus ouvidos.

Mancando, ela se dirige para a agência bancária. Deixa os objetos de metal no compartimento e invade o local, sob o olhar atento e divertido dos seguranças. Ela apanha seus objetos e cruza o olhar com um dos seguranças.

— Está rindo do que?? Nunca viu alguém sem sapato?

O segurança ergue as mãos em rendição e observa a fúria em forma de mulher, caminhar para o caixa. Ela espalma as mãos sobre o móvel e encara a funcionária.

— Preciso fazer uma transferência para esta conta, porque tenho de comprar um maldito vestido, para ir até uma jantar imbecil, no qual a minha irmã irá anunciar pela décima vez, o homem da vida dela! E o pior é que meu namorado acabou o relacionamento pelo telefone e não poderei aparecer no jantar da minha família, desacompanhada!

— A senhora quer um copo com água?

Regina inspira profundamente e olha para o caixa ao lado, onde um cadeirante fazia pagamentos de faturas. Fica observando o homem com sua mão mirrada, habilmente organizando os papéis e digitando suas senhas. Aquele sim, tinha motivos para estar irritado.

— Mas isso é um assalto! Dois dias de atraso e vocês me cobram esses juros! – a voz alterada de uma mulher idosa atrai a atenção de Regina. Ela vira a cabeça e encara a mulher. – Isso é um assalto!

E é neste momento que tudo acontece. Outro cadeirante retira o cobertor que estava sobre suas pernas e levanta-se empunhando uma espingarda boito, apontando para os clientes. Antes que os seguranças pudessem, o homem se agarra em Regina e a puxa para junto de seu peito.

— Isso sim é um assalto! E sugiro que todos procurem ficar calmos, porque eu ainda estou! Que tal se vocês soltarem as armas?

Confusos e assustados, os seguranças soltam as armas e levantam os braços.

— Tão fácil, assim? – grita Regina. – Que ódio!!

— Quero que todos os caixas saiam e deitem-se aqui perto de mim! – ele aponta para o telhado e dispara, provocando alguns gritos. Ele sorri. – O cadeirante pode ficar onde está.

Momentos mais tarde, a maioria dos clientes já está fora da agência que está cercada por carros de polícia. Lá dentro, somente a gerente, Regina e o meliante.

O corpo de Regina estava fervendo pela raiva, que sequer conseguia fazê-la perceber a queda da temperatura. O que estava faltando acontecer naquele dia? Um disco voador invadir a agência ou descobrir que os atiradores de elite eram estrábicos? Aquilo poderia ser uma pegadinha de televisão!

— Quais são as suas exigências? – a gerente decide tentar amenizar a tensão. – Quer renegociar uma dívida?

O homem sereno alarga seu sorriso.

— Não. De sua agência não quero nada, não. Eu quero apenas chamar a atenção de uma pessoa. Estou esperando que ele venha negociar comigo e eu trocarei você por ele. Só isso!

— E para resolver suas pendências, precisou amedrontar a todos nós e disparar no teto?

— É uma forma de atrair a atenção dele. – o homem sorri.