Meu estranho amor

Ficar mais chato, não pode!


Regina permanece em pé, olhando para a rua lá embaixo, pela janela de seu escritório. Não estava animada e tudo parecia ter ficado cinza em seus dias, depois do episódio na igreja. Sua atitude havia provocado uma avalanche de email com elogios e críticas negativas. As leitoras estavam divididas e a diretoria da revista já havia encomendado uma reportagem sobre o mesmo tema.

— Sua caixa de emails está entupida. – Zelena fala ao entrar na sala da irmã. – Precisarei de mais algumas horas para organizá-la.

— Já designaram quem irá fazer a tal reportagem?

— Os Diretores sugeriram que você ficasse de fora para não ser tendenciosa.

— Concordo com isso. – Regina olha por cima do ombro. – Hoje conversei com Fidalgo e ele não se mostrou amistoso comigo. Terei de cumprir meu acordo e indenizá-lo.

Zelena não contém a risada.

— Não vou comentar mais nada sobre suas atitudes, Regina. Faça o que a divertir.

— Pensa que somente busco diversão?

— Sim. Penso sim. Você nunca quis compromissos além dos profissionais, porque não queria desperdiçar as ofertas que a vida lhe fazia. Homens, viagens, aventuras, festas, adrenalina...foram os focos de sua vida em busca de diversão. – Zelena dá de ombros. – Caso isso a preencha, aconselho a continuar, desde que cuide para não magoar mais pessoas.

— Indenizei Ling Yo e vou indenizar Fidalgo. – Regina sorri ao ver a irmã sorrir também.

— E como pretende indenizar Amintas e Juliette?

— Não estou nem um pouco interessada em Juliette. O que me preocupa é o bem estar de Amintas. Soube dele?

— Killian disse à nossa mãe que Amintas está bem. Ausentou-se das funções com o Senador e viajou para o litoral do norte do país.

— Sozinho?

— Sim, Regina. Acredita que ele iria querer a companhia de Juliette ou a sua? Ele quer distância de vocês duas! Vocês são pura encrenca! Deveriam respeitar isso, antes que ele se torne rude.

Era interessante demais! Tudo parecia agora uma questão de honra naquela disputa! Mas será que ele queria ser disputado daquela forma? O que importava isso? Regina o queria.

E foi numa manhã ensolarada, que Regina chega ao resort onde Amintas havia se hospedado. O endereço? Killian havia favorecido a amiga na disputa pelo coração de Amintas e entregado a localização do amigo, para que tudo fosse resolvido de uma vez por todas. Aquela chatice tinha de acabar!

— Ele está na praia. – a camareira informa, depois de receber um mimo econômico.

Alguns minutos depois, Regina o avista saindo do mar. Era uma visão muito agradável de ter e ela decide apreciar enquanto não havia sido percebida. Por longo momento, deixa-se ficar ali observando os contornos dele, delineados pelas horas de exercícios físicos. Vestido apenas uma peça minúscula de praia, ele se mostrava alheio a qualquer olhar de quem passasse por ali. Parecia desconhecer a própria beleza.

Lá pelas tantas, Amintas se move e ao virar-se, depara-se com Regina parada em pé a alguns metros de distância dele. Linda, vestindo uma camisa branca transparente, protegendo um biquíni escuro.

— Como me encontrou?

— Killian me deu sua localização.

— E o que você quer aqui, além de conseguir um tema para suas reportagens? Eu li a reportagem de sua revista, sobre a história do arroubo de uma mulher que impede um casamento por duas vezes. O que veio buscar?

— O seu perdão.

— Você tem meu perdão. O que não tem é o meu entendimento.

— Preciso falar sobre meus sentimentos, Amintas. Gostaria que me ouvisse.

Um sorriso incrédulo surge na boca grande do homem.

— Seja sincera comigo e convença-me de que vale a pena acreditar em seus sentimentos.

Ela estende as mãos e o vê segurá-las com carinho. Amintas nunca recusava seus pedidos de contato e conseguia emanar todo o amor que estava quente dentro do peito dele, por meio de suas mãos. Era algo singular.

— Eu peço perdão por descobrir de repente que o amo. O meu amor eu guardo para os mais especiais. Não sigo todas as regras da sociedade e às vezes ajo por impulso. Erro, eu admito, mas aprendo. Todos erram um dia: por descuido, inocência ou maldade. Eu errei por imaturidade, mas agora sei que quem amo é você. ¹

Amintas não responde. Aguarda mais frases que pudessem convencê-lo de que valeria a pena escutar os argumentos dela, como havia ouvido os argumentos de Juliette.

— Eu vou me esforçar para fazer você feliz e tentar transformar a minha história, a sua história em nossa história. – Regina mantém as mãos de Amintas presas pelas suas. – Espero que você entenda e perdoe as minhas falhas. ²

— Foi crueldade sua, permitir que eu alimentasse essa paixão e depois esse amor, já que não tinha a intenção em retribuir. – ele se mostra emotivo. Pisca pesadamente, espantando alguma lágrima que insistia em querer rolar.

Regina beija as mãos dele e as encosta ao rosto, apreciando o contato.

— Caso você me dê a chance, empenho a minha palavra de honra que farei por merecer o seu todo o seu amor.

Suavemente, Amintas vai libertando suas mãos e da mesma forma amena dá alguns passos para trás. Maneia afirmativamente a cabeça e sorri sem exibir os dentes.

— Adiantaria se eu dissesse que ninguém ama tanto um homem, como eu amo você?

Ele dá mais alguns passos para trás.

— Deixe seu coraçãozinho aberto para minhas palavras, Amintas. Acredite que descobri de repente, quem é o homem a quem quero entregar todo o meu amor. E este homem é você, Amintas, meu amigo.

— Você precisa primeiro aprender a respeitar-me, Regina. Depois, será fácil aceitar que me ama.

Amintas sorri, olha para o chão e começa a afastar-se caminhando pela praia. Ainda dá uma olhada por cima do ombro e vai aumentando a distância entre Regina e ele. Vai em direção oposta a ela, caminhando cabisbaixo e alheio a admiração dos olhos da mulher, que permanece parada onde está.

— O que vale possuir, vale a pena esperar. – Regina morde a ponta da língua e sorri maliciosa. Mantém seus olhos fixos na figura caminhante, bela em seus contornos físicos e na grandiosidade de sua alma. ³

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.