Rolei para o outro lado da cama e puxei meu edredom até minhas orelhas após jogar meu despertador para longe, ele fez aquele estralo que todo objeto faz quando quebra e eu sorri sentindo-me vingada e vitoriosa. Fechei meus olhos, mas não estava com vontade de dormir novamente, eu só não queria de jeito algum me levantar e ir para o trabalho.

Nunca fui irresponsável a ponto de faltar a um dia de serviço por motivo algum, afinal, o dia está ótimo e minha saúde está perfeita. Claro, algumas vezes precisei, por motivos pessoais, mas sempre ligava antes e dizia que ia pagar com horas extras. No entanto, não tenho um pingo de coragem de pegar o celular e ligar para meu chefe agora.

Ah, meu chefe. Eduardo Ventura. Publicitário. 32 anos. Pai de dois pestinhas que eu amo muito. Lindo. Gostoso. E dono daqueles lábios deliciosos. Brevemente, dono do meu coração também. Tenho certeza disso. Ontem eu dei o primeiro passo, que com certeza vai me levar a um único lugar, e é exatamente aquele que não quero de forma alguma estar: Apaixonada por meu chefe. Embora ele beije tão bem e tenha lábios tão maravilhosos, macios e suaves.

Minha nossa, eu preciso parar de pensar nisso.

Eu não dormi direito à noite, apenas aqueles cochilos que servem apenas para sonharmos e acordarmos suspirando. Sim, eu cochilava e sonhava com Eduardo, acabava acordando toda suada e suspirando pela intensidade do sonho, então lembrava dos seus lábios macios e possesivos, das suas mãos tocando meu corpo, deixando minha pele em chamas, sugando todo meu raciocino logico. E me pegava sorrindo ao lembrar que aquilo não era um sonho e sim a realidade. Eduardo tinha me beijado.

Até tentei esquecer, arrancar da minha memória a lembrança dos seus lábios tocando os meus, da sua língua invadindo minha boca, das suas mãos no meu corpo, do desejo que saltava das suas orbitas, e falhava, eu falhava completamente e me sentia frustrada. Então, no meio da noite acabei dizendo para mim mesma que aquilo não passou de mais um dos meus sonhos com ele. Mas imaginem? Falhei novamente.

A lembrança está tão vivida e recente que é impossível tentar esquecer ou tentar arduamente me convencer que foi apenas um sonho. Claramente eu vou falhar. Então, depois que o despertador foi jogado na parede eu resolvi me encolher de baixo do edredom e repassar tudo que aconteceu na véspera.

EDUARDO ME BEIJOU. SIM. ELE ME BEIJOU. MINHA NOSSA, ELE ME BEIJOU. CERTEZA QUE NÃO FOI UM SONHO? OU É UMA PARTE DO MEU CRÉBRO QUE FICA AFIRMANDO QUE FOI REALIDADE?

Céus, por que estou gritando comigo mesma em meus pensamentos? Não sabia que beijos tinham o poder de me deixar maluca. Será que Eduardo tem esse poder? Estou ficando maluca por causa dele.

Afinal, ele me beijou.

Sim, Alana, Eduardo beijou você. E adivinha? Ele beija bem, muito bem. E adivinha de novo? O cara tem pegada, te deixou suspirando e de calcinha molhada.

DEPRAVADA, é isso que eu sou.

— Ei, você vai querer café ou vai continuar olhando para os cupcakes como se eles fossem te atacar? — perguntou Jen, com a voz alta.

Pisquei algumas vezes e encarei seus olhos. Durante meus conflitos comigo mesma acabei esquecendo de mencionar que havia me levantado e caminhado até a cozinha. Agora estou parada na frente de Jen, encarando ela e os bolinhos.

— Eduardo me beijou. — disparo, pegando um cupcake e dando uma bela de uma mordida na massa fofa cheia de glace rosa. Fechei os olhos e suspirei, aquilo era tão gostoso quanto os lábios do meu chefe.

Não fazia a mínima ideia de como Jennifer ia reagir com minha declaração. Ela podia dar um grito ou deixar a xícara que segurava cair no chão, Jen é imprevisível. E quando abri os olhos novamente lá estava ela, com os olhos arregalados e a boca aberta. Havia largado a xícara na mesa e acho que ficou muda com o choque do que falei. Devia ter preparado o terreno antes.

— Isso está delicioso. — digo, dando outra mordida no cupcake.

— O que você disse?

— Que o cupcake está uma delicia. — ela balançou a cabeça e arrancou o bolinho da minha mão.

— Antes. O que você disse antes?

— Que Eduardo me beijou?

— Ai meu Deus! — ela gritou e me xinguei por não ter colocado as mãos nos ouvidos. — Ele beijou você? — assenti. — E que tipo de beijo foi? De língua e demorado? Ou aquele beijo tipo selinho, totalmente sem graça?

Eu comecei a rir. Somente Jennifer mesmo para me fazer praticamente gargalhar com toda a confusão que me meti.

— Desembucha, Alana! — exclamou. — Ou eu nunca mais faço comida nessa casa.

— Você está me chantageando?

— Sim, estou. — retrucou, olhando firme em meus olhos. — Conta logo.

— De língua e demorado. — declarei, sorrindo e dando suspiros. — Aqueles beijos quentes.

— Minha nossa. — ela suspirou colocando a mão sobre o peito. — E as mãos dele onde estavam?

— Ai meu Deus, isso é mesmo importante?

— Claro que é.

— Praticamente em todas as partes.

— Minha nossa. — ela puxou uma cadeira e se sentou. — Como você se sentiu?

— Nas nuvens.

[...]

Acabei falando tudo para minha amiga. Desabafando como nos velhos tempos. Falei sobre como me sentia em relação a Eduardo, sobre a carta que Maria Fernanda deixou antes de morrer, sobre Carolina e sua insistência em afirmar que o filho sente algo por mim e principalmente sobre o que Julia falou: Que Eduardo jamais vai amar outra como amou a Nanda, que nunca vai ter algo sério com nenhuma outra e que ele existe apenas para os filhos e a agência.

Meu desabafo tomou um bom tempo meu e da minha amiga, tempo que não tínhamos, por isso estava 20 minutos atrasada para o trabalho. No inicio não queria nem sair da cama, estava sem nenhuma coragem de encarar Eduardo, mas minha amiga me fez colocar os meninos na frente de tudo, ela me fez perceber que os dois são mais importante que qualquer outra coisa, então, agora estou dirigindo em alta velocidade.

Jen disse que tenho que tomar cuidado, falou que Eduardo pode estar atraído por mim, mas que pode ser algo carnal, um desejo de uma noite só, nada mais que isso. Porém, como minha amiga sempre tem os dois lados da moeda, disse também que Eduardo podia estar apaixonado por mim de verdade como Carolina disse.

— Uma mãe sempre tem razão. Ela conhece o filho de verdade, como ninguém conhece. Então, se Carolina disse que Eduardo está apaixonado por você, há grandes chances de ser verdade. Jen enfatizou.

Acabei rebatendo e dizendo que Carolina podia estar sonhando algo para o filho, outra mulher, uma mãe para os meninos. E que no fundo ela sabia que Eduardo nunca se apaixonaria por mim. Jen me olhou de cara feia e retrucou:

Esse é o seu problema Alana. Você sempre acha que um homem não se apaixonaria por você por ser acima do peso. Acaba esquecendo do Fábio e até do escroto do Jonas. Eu sei que a adolescência foi difícil para você. Mas pensei que depois do Fábio você havia mudado. Acho que ele pode estar apaixonado por você, mas não tenho certeza. Acho, realmente que você precisa descobrir isso.

Minha amiga finalizou desse jeito, depois saiu porque já estava atrasada. E agora estou eu, ainda mais confusa do que antes.

Pego minha bolsa e a caixa onde Jen colocou alguns cupcakes para os meninos, desembarco da picape. As funcionárias já estão guardando as coisas do café da manhã. Largo tudo sobre a bancada da cozinha.

— Julia, onde estão os meninos?

— O senhor Eduardo os levou para escovar os dentes.

Respirei fundo. Coragem Alana, é só não olhar para os olhos dele por muito tempo. Seja profissional.

Dou passos de vagar rumo ao quarto dos meninos. O caminho parece tão longo, mas não faço questão de ir mais rápido. Caminho lentamente. Subo os degraus da escada e quando chego ao corredor lá está ele, de costas, falando no celular. Ele não usa roupa formal, está usando uma calça jeans e uma jaqueta preta, a mesma que usava quando me beijou, acabo sentindo um arrepio na barriga com a lembrança.

— Mas que diabos, Henrique! — ele exclamou, virando-se. PUTA QUE PARIU. Eduardo fitou meus olhos e eu pude ver o mesmo desejo lascivo que saltava das suas orbitas ontem presentes hoje. Minhas pernas amoleceram e meu coração deu um salto dentro do peito. — Falo com você na agência.

Então encerrou a ligação e guardou o celular dentro do bolso da calça.

— Está atrasada, Alana.

— De-des-culpe. — Merda, não é hora de gaguejar Alana. Seja firme. Mostre que ele não mexe nenhum pouco com você. Respire fundo. — Acabei perdendo a hora. Onde estão os meninos?

— Eles acabaram de escovar os dentes. Estão com o cachorro no quarto.

Assenti e andei em silêncio. Passei por ele de cabeça baixa e parei na soleira da porta, observei os meninos com o Amendoim. Eles estavam observando o cachorro tomar leite. Tão fofos.

— Precisamos conversar. — Um calafrio percorreu meu corpo quando senti sua respiração contra minha orelha e o tom grave da sua voz. Apertei com força o batente da porta e suspirei. Ele causa tantas coisas em mim. — Agora... Por favor. No meu escritório.

Olhei para os meninos, eles não estavam prestando atenção em nós. Girei sobre meus calcanhares, Eduardo estava perto, tanto que meu peito encostava no dele toda vez que jogava minha respiração para fora. Tive que olhar para cima e encontrei seus olhos aflitos e suplicantes. Sabia, na verdade tinha certeza que se entrasse com ele no escritório acabaria perdendo qualquer resquício de alto controle. Eu conheço meu corpo, conheço meus desejos e conheço minhas necessidades e no momento, meu corpo quer Eduardo, meu desejo é ele e minha necessidade e beijar seus lábios mais uma vez. Então, entrar naquele escritório era como entrar em uma casa cheia de doces, sabia que não ia resistir.

— Não podemos. — falei, fazendo-o arquear as sobrancelhas. — Quero dizer, não posso agora. Preciso levar os garotos para a escola. Já está na hora.

Acabei não dando tempo de ele insistir, entrei no quarto e mandei os meninos pegarem a mochila e se despedirem do Amendoim e do pai. Não foi fácil, mas foi necessário. Ainda estou muito confusa e entrar com ele no escritório podia piorar ainda mais minha confusão.

— Nana. — olhei para baixo e Bruno estava puxando minha camisa e me olhando com aqueles olhinhos brilhantes. — Você vai cuidar do Amendoim enquanto eu tá na escola?

— Claro que eu vou. — afirmei. — Super bem. Mas agora é melhor a gente ir, antes que vocês cheguem atrasados.

Eles pegaram as mochilas, cada um deu um abraço no Amendoim e depois em Eduardo, então saíram correndo. Segui-os. Mas Eduardo não estava disposto a perder aquele round.

— Você não vai escapar dessa conversa. — depois disso ele entrou no escritório.

Será que ele vai ficar o dia inteiro ali? Será que nem para a agência ele vai? Céus, eu não vou escapar de entrar naquele escritório ainda hoje.

[...]

Quando voltei da escola Eduardo já havia ido para a agência, então relaxei. Fui para o quarto dos meninos, parecia que um furacão havia passado por ali. Mas era só um cachorro, pelo jeito ele não gosta de ficar sozinho. Olhei para o Amendoim e ele estava deitado, com a cabeça entre as patas, com uma cara de quem não fez nada.

— Eu acho melhor você pegar leve. — falei, ainda o encarando. — Os meninos já me deixam bastante maluca. O pai deles ainda mais e agora com um cachorro — a frase morreu no ar porque o Amendoim virou a cabecinha e eu me derreti. — Só pegue leve comigo.

Tá, eu me derreto por crianças e me derreto por cachorros, gatos também. São meu ponto franco. Na verdade eu me derreto por quase tudo que é fofo. E também falo com animais, e finjo que eles estão me entendendo. E creio que não é só eu que tenho essa mania.

Quando terminei de arrumar o quarto dos meninos, peguei o cachorro no colo e me encaminhei para fora do quarto. Segui para o jardim e coloquei Amendoim sobre a grama, ele começou a correr para todos os lados, marcar território em quase todas as plantas e fez o número 2 atrás de um arbusto. Até que ele é educado.

— Alana. — virei-me e Julia estava parada atrás de mim. Ela observou o cachorro e sorriu, então me encarou novamente. — Eduardo pediu para você fazer umas coisinhas para ele hoje.

Caminhei até ela.

— Ele disse que você saiu apressada hoje e ele não teve tempo de conversar com você.

— Os meninos iam acabar chegando atrasados. — justifiquei, mas Julia não sabia nem da metade do que estava acontecendo entre Eduardo e eu, então nem desconfiou de nada. — O que ele quer?

— Ele pediu para você levar o cachorro ao veterinário. Pra uma consulta de rotina.

— Então era isso que ele queria? — resmungo, Julia levanta as sobrancelhas, sem entender nada. Apenas esboço um sorriso para ela. — Tudo bem, Julia. Obrigada por avisar.

Julia apenas assentiu e voltou para dentro da casa. Eu me sentei no meio da grama e o Amendoim logo deitou-se ao meu lado e colocou a cabeça sobre minha coxa, acariciei seu pelo macio, sentindo-me uma idiota, idiota por não conseguir enfrentar Eduardo e idiota por ter cedido aquele beijo. Por que eu o deixei me beijar? Por que o deixei me dar esperanças?

Eduardo não queria falar sobre o beijo, ele queria pedir que eu levasse o cachorro ao veterinário. Ele deve ter se arrependido, deve estar procurando um meio de pedir desculpas e dizer que foi um erro. E estou me sentindo ridícula por estar aqui me lamentando por esse maldito beijo.

Foi apenas um beijo Alana. E nem foi tão bom assim.

É mentira. Qualquer um sabe que é mentira.

Claro que foi incrível, maravilhoso e intenso, e não paro de pensar no beijo e em Eduardo.

Mas ele só queria me pedir para levar o cachorro ao veterinário.

Pego as chaves da picape e coloco Amendoim no banco ao lado. Ele já está me olhando de um jeito triste.

— Calma garotão, não vai ser tão ruim assim.

Engato a marcha e saio.

Não foi bem uma consulta de rotina. A veterinária disse que aplicaria injeções pra prevenir futuras viroses e tirou sangue para exame de rotina. Mas também disse que o Amendoim está bem e muito forte. Ela me passou algumas dicas de como lidar com um labrador, eles podem ser bem bagunceiros e adoram roer tudo que seja sólido. Porém ele é doce, dócil e super carinhoso, principalmente com crianças.

O Amendoim ainda ia ter que passar por outras consultas como essa, mas por enquanto ele estava bem. No fim da consulta o peguei no colo e saímos do consultório. Quando fui empurrar a porta que dava para a calçada alguém a puxou antes e eu fiquei surpresa ao ver Jonas e seu rottweiler enorme. Claramente o babaca ficou surpreso. Porém deu um sorriso cheio de malicia.

Suspirei e revirei meus olhos.

— Alana, quanto tempo. — disse. — Você está ainda mais gostosa.

Ah, claro, é um ótimo dia para trombar com esse cretino.

— Por favor, dá pra sair da porta? Você está trancando a saída.

— Só se você sair comigo essa noite.

— Nem pensar. — respondo na lata. — Você acha mesmo que vou sair com você? Me poupe! — exclamo. — E me dá licença que tenho mais o que fazer.

Acabo saindo porta a fora como um trator, empurro Jonas com o ombro e nem ligo se o cachorro me atacar. Ele até que é bonitinho, mas Jonas não, ele é tão idiota e babaca que a sua beleza apodreceu. Não sei onde estava com a cabeça quando me envolvi com ele.

Jonas foi o pior namorado que já tive. Sempre julgando minhas roupas, minhas atitudes e falando mal de outras mulheres. Ainda bem que perdi a paciência logo e terminei aquele relacionamento tóxico antes que ele acabasse fazendo algum mal para mim. Ele me ameaçou uma vez, disse que se eu não voltasse acabaria tornando minha vida num inferno, mas o Caio me defendeu e disse que se ele fizesse algum mal para mim além de ser demitido levaria uma surra que lembraria pelo resto da vida.

Depois daquela ameaça eu acabei ficando apavorada, entrei em pânico e comecei a ficar paranoica. Tinha medo de sair, porque sempre tinha impressão de que Jonas estava me seguindo e que queria me fazer mal. Foi um tempo bem difícil em que fiquei trancada no meu apartamento, então Caio ameaçou Jonas e acabei me sentindo segura. Ele nunca me fez nenhum mal, porém, não gosto quando o encontro em algum lugar, ele tem olhos obsessivos e doentes que me causam calafrios.

Voltei para a mansão. Amendoim acabou dormindo no tapete macio da sala. Como já estava quase na hora de eu pegar os meninos na escola aguardei na cozinha, junto com os outros funcionários. Ronaldo estava tomando café e falando sobre futebol com Julia, ela adora futebol e é uma gremista fanática, Já Ronaldo torce para o atlético paranaense. Acabo me atentando ao papo deles e assim o tempo passa rápido. Quando percebo já está na hora. Ronaldo termina o café e pegas a chave do carro, me dá uma piscadela e sai, eu o sigo.

— E você Alana. — embarquei no carro e Ronaldo também. — Torce para que time?

Sorri e arranquei o chaveiro da minha chave da bolsa e amostrei para ele.

— Sou timão de coração. — respondi.

Ronaldo fez uma careta de nojo. — Corintiana... cruzes.

Nós dois caímos na gargalhada. Mas coitado dele se falasse algo mal do Corinthians.

Quando cheguei a escola fui direto pegar o Bruno, a turma dele é sempre a primeira a ser liberada, para não causar muito tumulto e os pequenos não se perderem no meio dos maiores. O professor o liberou e ele correu me abraçar e já foi perguntando do cachorro.

— Ele está bem. — respondi. — Tomou uma injeção hoje. Mas tá muito bem.

Bruno arregala os olhos.

— E ele não chorou?

— Um pouquinho.

— Eu vou poder brincar a tarde inteira com ele?

— Claro que sim.

Caminhamos até a sala do Diego enquanto Bruno falava do que ia brincar com o Amendoim. Quando chegamos a porta o sinal tocou, fiquei aguardando o Diego sair, mas quando todos os alunos saíram acabei entrando em pânico. Diego não havia saído, entrei na sala e ele não estava ali também.

— Precisa de alguma coisa? — questionou a professora.

— O Diego, onde ele está? — ela arqueou a sobrancelha.

— Ele saiu mais cedo.

— Como assim ele saiu mais cedo?

— Sim. Eu recebi ordens da diretora mandando-o sair mais cedo porque o pai havia ligado para a escola avisando que a babá viria pega-lo para uma consulta médica.

— Não; Nunca. — digo. — Isso está errado. Eduardo não falou comigo. Ele teria me informado. — Agora estou em pânico, morrendo de medo. — Quero falar com a diretora.

A professora nota meu nervosismo e caminha até mim.

— Eu vou chamá-la, é melhor você sentar e tentar se acalmar.

— Não pode pedir para eu me acalmar, não quando ele sumiu de dentro da escola.

Ela assente, posso notar que está nervosa também. Retira-se da sala quase correndo. Bruno não entende o que está acontecendo e eu apenas seguro sua mão. Tenho certeza que a escola cometeu uma imprudência, Eduardo não ligaria para a escola antes de me informar, ele nunca faria isso. Agora estou tremendo, pensando onde Diego se meteu e com quem está.

A diretora passa pela porta junto com a professora.

— O que aconteceu? — indaga, franzindo o cenho. Olho para ela e me levanto.

— O Diego sumiu. Acho bom você ter uma boa explicação.

— O pai dele ligou. Disse que era para liberá-lo porque a babá viria pegá-lo para uma consulta.

— Não. — balanço a cabeça. — Eduardo não faria isso sem antes me comunicar. Vocês foram imprudentes e liberaram um aluno das dependências do colégio e agora eu nem sei onde ele está por culpa de vocês.

— Você precisa se acalmar antes de nos acusar de algo.

— Me acalmar? — respiro fundo. — Está pedindo para eu me acalmar? Não vou me acalmar, só depois que Diego estiver comigo.

— Diego saiu com a babá. — afirmou. — Eu mesmo o entreguei para ela.

— Eu sou a babá deles. — grito, assustando-a. — Você o entregou para mim por acaso? Não. Então você o entregou para um estranho. Não me peça para ter calma enquanto Diego está nas mãos de uma estranha.

Ela deixa os ombros caírem e suspira. Acabou de perceber a grande burrada que fez.

— Como ela era? — pergunto. — A mulher que se passou como babá, como ela era?

— Loira, magra, alta. Os olhos eram azuis. Chamava-se Alana.

Todas essas características batem com as características de Beatriz, a tia dos meninos. Ela pegou Diego. Acabo sentindo um arrepio na espinha com essa constatação. Ela está com ele e só Deus sabe o que aquela louca obsecada pode fazer com ele.

— O nome dela não é Alana, é Beatriz.