Meu amado é um lobisomem

Capítulo 24: Admirador Secreto


Fevereiro havia chegado. Havia passado um mês depois que meu irmão e Hanabi terminaram. Foi um mês difícil para ela, mas depois de um tempo ela melhorou e até voltou a trabalhar, porém não tanto como antes. Antes dos dois terminarem, descobrimos que Satoru-sensei era como nós. Porém isso ficou esquecido pelo que houve.

Haru foi até em casa e contou que ele era como nós e disse que Satoru-sensei queria se apresentar oficialmente à nossa família. Meus pais ficaram aliviados por ser isso, porém papai quis confirmar e pediu que ele se transformasse. Satoru-sensei se transformou em um grande lobo negro de olhos marrom e preto. Eles começaram a namorar e com a entrada de fevereiro, as caixas de mudança de Satoru-sensei também entravam no apartamento de Haru. Eles estavam fazendo a mudança aos poucos, porém ele já morava com minha irmã. E se ter minha irmã como professora já era um pouco estranho, então ter meu professor como cunhado era mais ainda.

Haru cozinhava o almoço enquanto meu professor, cunhado, semelhante ou sei lá, fora ao mercado comprar algumas laranjas para fazer o suco.

— Por que ele se mudou pra cá? – perguntei da mesa.

— O apartamento dele é muito pequeno. Achamos melhor ele vir pra cá.

— Que rápido.

— Como Okaasan. – ela sorriu para mim.

Sorri, contente. Haru estava feliz e parecia muito bem desde que começou a namorar Satoru-sensei.

— E Hanabi?

— Ainda triste, mas bem melhor que antes.

— Como ela vai ficar em uma semana?

— Uma semana?

— O dia dos namorados. Dia 14.

— Esqueci! – exclamei – Droga...

— E você? – ela sorriu, cantarolando.

— Eu o que?

— Pretende dar chocolates à Kirishima-kun?

Olhei-a, desconfiada e concluí.

— Okaasan?

— Sim. – ela sorriu, achando graça – É um bom rapaz.

— Saímos uma vez. – abaixei o olhar – E então ele me disse depois do natal que pretendia chamar Nana pra sair.

— Nana? Da 1-A.

— É. Loira, bonita. Ela gosta dele.

— Mas ele gosta dela?

— Pra chamá-la pra sair? Claro. Até já saíram.

Haru pôs a panela com a comida pronta sobre a mesa, sentando ao meu lado.

— Garotos são bobos. De repente ele também gosta de você.

— Queria que ele me dissesse logo.

— Por que você não diz?

— O que? – achei graça.

— Pode fazer chocolates e dar a ele. Eu sei que você é boa com doces.

— Não tenho coragem pra isso.

— Então vai continuar em dúvida se ele gosta de você ou não.

Dei um meio sorriso à ela. Se eu presentear Ichiro-kun com chocolates, teria que me declarar pra ele. Isso era óbvio. Por que parecia que todos tinham coragem, menos eu? Por que eu nunca tinha coragem de fazer o que eu queria?

Durante aquela semana, fiquei pensando e pensando. Porém apenas decidi o que deveria fazer quando me encontrei com Hayato sem querer no mercado. Fomos juntos em direção a uma prateleira e vimos Hanabi repondo algumas mercadorias. Como o intervalo dela começou logo em seguida, lanchamos juntos na lanchonete.

— Vou ficar em casa dia 14. – disse Hanabi – Bem trancada no quarto.

— Eu só queria que Mai me desse chocolates. – disse Hayato.

— Ela vai dar chocolates à Satoru-sensei.

— Queria dar chocolates à Ichiro-kun. – falei.

— E por que não dá? – perguntou Hayato.

— Porque vou ter que me declarar. E ele está saindo com Nana.

— E daí? Se você se declarar com certeza ele vai ficar com você.

Desviei o olhar. Esperava mesmo que fosse assim, mas como ter certeza?

— Você vai dar chocolate pra Mai em março?

— Hum... – ele corou – Não sei.

— Por que vocês simplesmente não falam com eles? – disse Hanabi.

— Não é fácil assim.

— Me declarei para Shouya aos oito anos.

— Você é louca! – exclamou Hayato.

Gargalhei dos dois, porém Hanabi tinha razão. Sofrer com a dúvida é pior do que sofrer com a resposta. É uma resposta, você vai saber se a pessoa gosta de você ou não. E com isso, vai se recuperar aos poucos. Mas sofrer com a dúvida e com as pessoas que se aproximam da pessoa que você gosta é horrível, é constante.

— Tudo bem, vamos tentar.

— Ei, você não fala por mim! – exclamou Hayato.

— Por que não? Se Ichiro-kun gostar mesmo de mim, eu vou saber finalmente. Se Mai gostar de você, você vai saber finalmente.

— E se ninguém gostar de ninguém?

— Vai ficar sofrendo com a dúvida então?

Ele me olhava, desanimado.

— Meu tempo é diferente do seu.

— Tudo bem. – sorri.

— Boa sorte pra vocês. – disse Hanabi, levantando o copo com refrigerante.

Levantamos os nossos e brindamos.

Um dia antes do Dia dos Namorados, fiquei na cozinha por três horas fazendo bombons de chocolate. Todos os ingredientes já estavam comprados. Eu sabia que minha mãe comprava bastante pra fazer chocolates para o meu pai e ela deixou que eu usasse um pouco. Ela tinha formas de coração e foram essas mesmas que usei. Fiz recheios de chocolate e morango. Descobri no natal que Ichiro-kun gostava desses recheios. Quando ficaram prontos, guardei-os dentro da geladeira e separei uma bolsinha rosa para pôr todos dentro de manhã.

Entrei no quarto para dormir e arrumei minha cama, olhando de relance para minha escrivaninha. Seria uma boa ideia uma carta, não é? Quando terminei de arrumar minha cama, sentei na mesa e comecei a escrever. Amassei várias folhas e joguei-as longe, mas meia hora depois consegui fazer uma carta para Ichiro-kun, me declarando.

Na manhã seguinte, acordei eufórica e me arrumei rápido, tomando o café da manhã e pegando a bolsinha rosa, pondo os chocolates. Amarrei minha carta no laço, no furo das pontas do papel, e guardei dentro da minha bolsa escolar. Meu pai me olhava, curioso, e minha mãe já sabia o que era.

— Chocolates? – perguntou.

— É para o amigo dela. – disse mamãe.

— Pelo visto Ame quer ser mais que uma amiga.

— Vou tentar me declarar. – confessei, envergonhada.

— Boa sorte. – ele achou graça.

Sorri, contente, e saí. Encontrei com Hanabi no caminho, que disse que a mãe a obrigou a ir para o colégio. Gargalhei, já suspeitava. Ao chegarmos no colégio muitas meninas pareciam nervosas. Com certeza elas iriam presentear os meninos de quem gostavam. E isso realmente aconteceu. Sempre acontece. No intervalo, no almoço e na saída para casa.

Hanabi não deu chocolates para ninguém. Na verdade algumas meninas perguntaram se ela não presentearia alguém e Hanabi as assustou com seu olhar “não te interessa”. Ela realmente estava um pouco amarga por causa de Shouya. E como suspeitamos, vimos Mai dando chocolates à Satoru-sensei, porém ele recusou educadamente, pois ela era uma aluna. Descobri mais tarde que Haru fez um jantar para Satoru-sensei, comemorando o Dia dos Namorados e o presenteando com chocolates. Mai ficou triste depois que ele os recusou e os deu à Hayato, pois não tinha mais ninguém para quem dar e não queria jogar fora. Ele nem se importou, na verdade ficou feliz por comer os chocolates de Mai. Muitos meninos ficaram com inveja dele.

Decidi dar os chocolates para Ichiro-kun no almoço. A sala estava vazia e ele sempre se esquecia do dinheiro do almoço. Acovardei por um momento e pensei que seria melhor pôr debaixo de sua mesa para ele ver. Quando me virei para sair, achei melhor dá-lo eu mesma, mas acovardei novamente e esqueci de tirar a bolsinha de lá. O vai e vem foi tanto, que sentei na carteira e deitei a cabeça na mesa, desolada.

— O que eu faço? – resmunguei.

Foi quando Ichiro-kun voltou para a sala.

— Ah, Ame. – ele sorriu – Também esqueceu o dinheiro para o lanche?

Me endireitei e o olhei, sorrindo.

— Sempre esquece, né?

— É. – ele pegou o dinheiro debaixo da mesa, porém sentiu algo – Que isso?

Ichiro-kun tirou a bolsinha de chocolates debaixo de sua mesa e a analisou.

— Chocolates. – falou ao abri-la, vendo-os e pegou a carta – É uma declaração? – sorriu.

Arregalei os olhos, corando. Ele a abriu de forma curiosa e a leu, sorrindo cada vez mais.

— Ichiro-kun, eu...

— Parece que tenho uma admiradora secreta. A declaração não tem nome. – ele riu.

— Eh?! – exclamei.

Fui até ele, olhando o que escrevi e a falta do meu nome no final. Quis chorar, que burrice. Ichiro-kun parecia contente e elogiou bastante meus chocolates, mesmo não sabendo que eu havia os feito. Por que eu tinha que esquecer de pôr o nome?

— Quer? – ele me ofereceu.

Sorri singelamente, pegando um.

— Tem de morango e chocolate. – disse ele.

— São seus favoritos. – murmurei.

— Hã?

— Nada. – sorri, sentando na minha carteira.

— São mesmo ótimos. Vou guardar pra mais tarde.

— Hum. – sorri.

Ichiro-kun saiu porta a fora e fiquei na sala de aula, frustrada. Deitei a cabeça na mesa novamente, me sentia tão burra. Se ele lesse ali, naquele momento, e descobrisse que eu gostava dele tudo seria mais fácil. Mas não. A chance foi perdida.

— Boba... – resmunguei.

Franzi as sobrancelhas, ficando com raiva. Queria contar a ele o que sentia. Eu contava tudo a ele tanto quanto à Hayato, Hanabi e Mai. Por que não contar que gosto dele? Levantei, então, decidida.

Saí da sala e fui procurar por Ichiro-kun. Ele deveria ter ido até o refeitório comprar o lanche, então me direcionei até a escada. Porém ao descer, vi Ichiro-kun e Nana. Ele estava de costas para mim e ela dava uma bolsinha de chocolates, dizendo que gostava dele e que queria ser namorada dele. Meus olhos marejaram, meu coração se partiu mais uma vez. Fugi dali, voltando para a sala.

Infelizmente, alguns dias depois Ichiro-kun e Nana começaram a namorar. Março foi o pior mês da minha vida. Os dois viviam juntos e algumas vezes os vi se beijando. Porém como nosso grupo ficava junto, Ichiro-kun não nos deixava de lado para ficar com ela. E percebi com isso que Nana passou a me olhar de um jeito esquisito. Me sentia desconfortável próxima dela. Mas isso logo acabou no final de março. Não fiquei feliz e nem triste, apenas preocupada com Ichiro-kun, que disse à nós que estava tudo bem.

Dois dias depois foi o White Day. O dia em que os meninos dão chocolates para as meninas. Hanabi ganhou duas caixas de chocolate branco e doces. Mai ganhou tantas caixas que Hayato precisou ajudá-la a levá-las para casa. E ele ficou irritado, pois uma das caixas que deu escondido à ela devia estar no meio. E eu não ganhei nenhum de ninguém. E por quê? Os únicos chocolates que eu queria ganhar seriam os de Ichiro-kun. E ele não deu nenhum à ninguém.

Porém ao ir até os armários no fim das aulas daquele dia, abri meu armário e vi uma caixa azul com um bilhete em cima. Abri a caixa, tinha vários chocolates brancos decorados. Peguei o bilhete e o li. “Seu nome pode significar chuva, mas você é a flor mais linda que já vi”. Corei, sorrindo.

Não sabia de quem era, porém desejava que fossem de Ichiro-kun. Abracei o bilhete contra o peito, feliz.