Meu amado é um lobisomem

Capítulo 18: Segredo descoberto - Haru e Takashi


Haru apenas queria uma vida normal. E quem parece ser mais normal do que uma professora?

Uma professora é gentil, atenciosa, ama lecionar e é respeitada por seus alunos. E Haru era tudo isso. A invejável irmã mais velha de Ame – ou pelo menos era o que Ame pensava. Ela queria ser tão bonita e inteligente quanto a irmã. Por um lado considerava a irmã sortuda por seus atributos intelectuais e físicos – ela atraía bastante atenção do sexo oposto. Porém Ame não compreendia uma coisa: por que a irmã odiava sua parte lobo.

Haru escolheu ser completamente um ser humano. Estudou e se formou, voltando para sua cidade. A jovem de 23 anos não compreendia por que sentia tanto a falta de sua casa enquanto estava na faculdade. Porém quando voltou e se mudou para seu apartamento, tudo melhorou ao sentir que estava em casa.

A escola a qual estudou a acolheu como professora e Haru estava feliz por lecionar em sua antiga escola, principalmente por lecionar na turma onde sua irmã e os amigos dela estavam. Ela compartilhava seu conhecimento com paixão e honra, ignorando ao máximo os olhares dos alunos em direção ao seu corpo. Às vezes era impossível, pois havia baba escorrendo de algumas bocas. E ela não compreendia, pois apenas usava saias compridas até o joelho e blusas sem decote. E mesmo assim os meninos ainda babavam.

E mesmo assim Satoru-sensei se interessou por ela.

Haru não compreendeu sua reação ao se aproximar dela no corredor, naquele dia após indicar livros para Hanabi. Eles já se conheciam. Nunca haviam se cumprimentado formalmente, porém todos os professores se conheciam. Quando Satoru Takashi se aproximou de Haru, ele a cumprimentou, se apresentou formalmente e permaneceu olhando-a estranhamente. Seus olhos estavam bem abertos e ele sorria. Haru se assustou por um momento e de repente o professor a chamou para sair. Queria ela ter negado, porém esse era seu fraco. Satoru era bonito, inteligente e um professor. E seus olhos com heterocromia lhe chamaram atenção, sendo o direito preto e o esquerdo marrom. Pareciam deixá-lo ainda mais atraente.

Os dois foram a um restaurante e Satoru a agradou de todas as formas possíveis que um homem possa agradar no primeiro encontro. Porém algo que a incomodou foi ele a chamar para caminhar na trilha após o jantar. Haru não gostava de estar na floresta, e Satoru percebeu isso por sua expressão incomoda.

Após o primeiro encontro, ambos ficaram ocupados com o colégio. Haru se concentrava nas provas que daria em suas turmas e Satoru concentrava-se nela. Sempre que a via no corredor, cumprimentava-a com um sorriso contente. Haru começou a gostar de seus encontros rápidos com o professor de matemática. E gostava mais ainda quando ele a elogiava em suas roupas simples e nada chamativas.

Durante a primeira metade do verão, Haru apenas encontrava-se às vezes com Satoru no mercado. O professor tinha sempre uma lista do que comprar em mãos e ela sempre o cumprimentava com um sorriso. Até que um dia nesses encontros sem querer, ele a chamou para ir com ela ao festival de verão.

Haru se arrumou e esperou por Satoru-sensei, que a buscou em seu apartamento. Ele usava uma Yukata escura e Haru corou ao ver como ele estava bonito. Ela usava uma Yukata rosa e florida, e prendera o cabelo castanho sobre o ombro, penteando a franja para o lado. Quando Satoru-sensei a buscou em casa, corou ao vê-la arrumada para o festival e principalmente ao olhar para seus olhos amarelos apaixonantes.

Ambos se divertiram no festival, porém Haru percebeu algo. Ela sabia que sua aluna, Mai, gostava de Satoru. Porém não imaginava que ao ver os dois juntos, Mai fosse ficar tão triste. Ela acompanhava seu outro aluno, Hayato, amigo de Ame, e abaixou a cabeça, deixando sua franja cobrir seus olhos. Haru não a viu mais naquela noite, suspeitou de que ela teria ido embora. E isso a deixou triste. Ela não queria magoar ninguém, mesmo sendo sem querer.

O outono chegara e as aulas retornaram em setembro. Haru vestiu um vestido escuro de mangas curtas, pondo por fim um casaco claro por causa do frio que começava. Prendeu a metade de seu cabelo e pegou seu material de trabalho e sua bolsa, saindo. Ela desceu os dois andares até o térreo de seu prédio e começou a caminhar em direção ao parque, o atalho para o outro lado da cidade e para o colégio.

Enquanto andava, foi pega de surpresa por Satoru-sensei, que apareceu ao seu lado, cumprimentando-a.

— Yoshiro-san.

— Eh... Satoru-san. – sorriu – Bom dia.

— Bom dia. – ele sorriu – Está frio, não é? Daqui a pouco será inverno.

— Hum. O frio começou.

Haru avistou Hayato chegando no colégio com Ina Mai ao seu lado. Ela abaixou o olhar, não queria encarar sua aluna. Principalmente se a visse com o professor. Satoru conversava com ela, contente, e Haru continuava a falar com ele normalmente, porém notou que Mai os olhou do portão e desviou o olhar rapidamente. Hayato conversava com ela e procurou saber o motivo de ter feito aquilo. Quando os viu, abaixou o olhar e continuou a andar com Mai em direção a entrada, em silêncio.

Haru engoliu em seco, entristecida, e entrou com Satoru no colégio. Ela deu sua primeira aula tentando não demonstrar o que sentia e sorria levemente enquanto falava. Quando a aula terminou, ela foi para a sala dos professores. Sentou-se em sua mesa e pegou alguns materiais para planejar a próxima aula, escrevendo quando uma colega de trabalho se aproximou.

— Haru. – Setsuko cantarolou.

— Ah, oi. – Haru sorriu.

— Né... Soube que Takashi e você estão saindo. E então? Como ele é?

— Satoru-san? Hum... Ele é uma boa pessoa.

— Uma boa pessoa? – Setsuko riu – Só você. Estou perguntando como ele é... Na cama. – sussurrou.

— Setsuko! – Haru arregalou os olhos.

— Todo mundo sabe que vocês estão saindo desde antes do verão.

— Saímos duas vezes.

— Jura? Pensei que ele não perdia tempo.

Haru revirou os olhos.

— Setsuko...

— Ah, ele chegou. Depois me conta.

Haru franziu as sobrancelhas, suspirando. Ela viu Satoru olhando-a e desviou o olhar, voltando a escrever. Naquele dia e nos próximos, Haru concentrou-se em seu trabalho e decidiu sair alguns minutos mais cedo de casa para não se encontrar mais com Satoru no parque. Funcionou. Porém duas semanas depois, ele a procurou no corredor do colégio.

Era o horário do almoço e Haru andava em direção à sala dos professores para almoçar quando Satoru se aproximou ao sair de uma das salas.

— Yoshiro-san.

— Ahm... Satoru-san.

— Yoshiro-san... Há algo errado? Eu fiz algo de errado?

— Eh... Por quê?

— Você parece estar tentando... Não se encontrar comigo.

Haru desviou o olhar, envergonhada.

— Satoru-san... Não podemos mais nos ver. Pelo menos não dessa forma.

— Não entendo.

Haru o olhou em seus olhos.

— Há muitas meninas que gostam de você. E com a gente saindo, estamos magoando-as.

— Mas... Elas são alunas. – ele achou graça – São apenas meninas apaixonadas. Você está preocupada com alguém em especial?

— Sim. Mas não posso dizer o nome.

— Hum... – Satoru desviou o olhar, pensando.

Satoru não conseguia imaginar quem poderia ser. Havia pelo menos 70% de meninas em cada turma que gostavam dele. E eram pelo menos três turmas em cada ano do ensino médio.

— Yoshiro-san... Não ligue para isso.

— Não posso não ligar. – ela encolheu os ombros – Me importo com ela. E com todas as outras. Elas também são minhas alunas.

— Eu gosto de você.

Haru arregalou os olhos.

— Me importo com minhas alunas também. – disse ele – Porém sei que esse tipo de paixão passa quando elas compreendem que não haverá nada entre um professor e uma aluna. E eu gosto de você, Yoshiro-san.

Haru abaixou o olhar.

— Sinto muito. – disse ao começar a andar e passar por Satoru.

Não era mais pelas alunas. Haru agora não queria mais ver Satoru por ele gostar dela. Exatamente por isso. Ela sabia que se o gostar virasse paixão deveria terminar tudo, pois nenhum futuro seria possível entre os dois. Haru desejava ter uma família, porém com as altas possibilidades de um filho nascer igual a ela a fazia desistir desse sonho.

Agora que Satoru gostava dela e ela sabia disso, ela deveria se distanciar para isso acabar. Ou era pelo menos o que ela pensava. Haru não desejava se apaixonar e muito menos ser o objeto de desejo de alguém. Ela não sabia como seria o futuro com sua escolha, porém achava que era o melhor para qualquer homem não se envolver com ela. Porém enquanto voltava a ir para a sala dos professores, seu coração doía. Pois ela também gostava de Satoru.

O aniversário de Shouya chegou mais uma vez no final de setembro. Ele completara 24 anos e seus pais fizeram uma festa, como fizeram para Haru e Ame. Haru chegou antes para ajudar seus pais, pois Ame buscaria Shouya na floresta para levá-lo em casa. Ele às vezes perdia a noção de tempo por ficar tanto na floresta.

A festa foi animada e teve bastante comida, como ele gosta. Shouya pedia todo ano para ninguém lhe dar presentes, pois não havia onde guardar na caverna. Porém Ame, após ir até seu quarto, lhe deu um presente. Shouya sorriu e disse que não precisava, porém ela explicou que era um presente de Hanabi. Um livro acompanhado por um bilhete.

A dúvida ficou no ar e Shouya não olhava mais diretamente para ninguém. Sua mãe e irmãs juravam que suas bochechas estavam coradas, porém ele não admitia. No final da festa, Shouya foi embora com Ame o acompanhando até a entrada da trilha e Haru ficou para ajudar.

— Acho que Hanabi está conseguindo. – disse Tsuki, sorrindo enquanto secava o prato.

— Ela me pede para indicar livros à ela, porém pensei que fossem para ela. – Haru riu.

— Shouya precisa disso. – disse Yuzo – Alguém que persista por ele. Se não ele ficará sozinho.

— Isso me soa familiar. – disse Tsuki.

Ele sorriu, lavando os pratos. Haru sorriu, guardando os enfeites e abaixando o olhar. Ela sentia falta de Satoru. Eles já não se viam há duas semanas, nem no colégio e nem no mercado onde costumavam encontrar-se sem querer.

Ao terminarem, Yuzo entrou no quarto para arrumar a cama e quando Tsuki virou-se para a filha, ela estava sentada com o olhar baixo. Sua mãe conhecia bem esse olhar, pois ela já o tivera.

— Haru.

— Hum?

— O que houve?

— N-Nada. – ela sorriu – Estava apenas pensando.

— Tem certeza? – sua mãe sentou – Será que não é por causa daquele jovem que estava com você na trilha e no festival?

Haru franziu a testa.

— Shouya e Ame são uns fofoqueiros.

Tsuki sorriu.

— Com certeza. Agora me conte.

— Não há nada pra contar. Não estamos mais saindo.

— Mas conheço bem esse olhar.

— Que olhar?

— Um olhar apaixonado. – Tsuki sorriu – Ele deve ser especial.

Haru desviou o olhar, corando.

— Ele gosta de mim.

— Mas o problema, pra você, é que você gosta dele.

— Pode se dizer que sim.

— Haru, isso não é um problema. Isso é muito bom. Nunca a vi com essa expressão. Nem quando estava com aquele rapaz com quem namorou por três anos.

— Mas nem o conheço, apenas saímos duas vezes.

— Por que não arrisca?

— Por causa de quem eu sou.

Tsuki franziu as sobrancelhas.

— Não há nada de errado com você. – disse ela – Se ele gostar mesmo de você, irá te aceitar como é. Mas você precisa se aceitar. Não se esconda mais atrás da imagem de uma professora. Se gosta dele, apenas arrisque.

Haru abaixou o olhar, envergonhada.

Quando voltou para seu apartamento, trancou-se no quarto e fechou a janela e cortinas. Despiu-se, ficando nua, e se olhou no espelho. Com os olhos semiabertos, ela observou seu corpo ser coberto por sua pelagem castanha e surgirem grandes orelhas em sua cabeça e sua cauda. Haru não gostava do que via no espelho. Por causa desse lado seu pai perdeu sua mãe e teve uma vida difícil. Por causa disso Shouya e ela brigaram quando mais jovens. E por causa disso ela não conseguia ter uma vida ao lado de alguém. Ela se odiava. Porém era ela, e ela sabia disso.

Na semana seguinte, um pouco antes do almoço, ela fora parada por Hanabi no corredor para mais um pedido.

— Yoshiro-sensei...

— Não precisa me chamar assim fora da sala de aula, Hanabi. – sorriu Haru.

— Hum. Então... Você pode me indicar mais livros, Haru?

— Claro. Eu já sabia que iria me pedir. Então escrevi alguns que acho que Shouya vai gostar.

— S-Shouya? – gaguejou Hanabi.

— Agora eu sei que são para ele. – ela achou graça – Por que não me disse antes? Eu poderia ter ajudado melhor.

— Eh... Era um segredo. – confessou Hanabi – Mas agora Ame também sabe, então...

— Não foi ela quem me contou. Ela apenas entregou o livro para Shouya no dia do aniversário dele e eu supus que fossem para ele por causa do nome do livro.

— Pode não contar à ele que peço isso à você?

— Claro. – ela sorriu – Acho que ele vai gostar mais dos dois primeiros da lista.

— Obrigada. – disse Hanabi, sem jeito.

Haru assentiu e voltou a andar. Enquanto passava pelo corredor, uma porta se abriu após ela passar. Haru foi puxada para dentro pelo braço e a porta se fechou em seguida. Ao ser virada e posta contra a parede ao lado da porta, ela viu que estava dentro da sala de música e Satoru a sua frente.

— Satoru-san? – gaguejou ao exclamar.

Satoru era alto e parecia ainda mais alto ao segurá-la pelos ombros. A sala de música estava vazia e escura, apenas entrando um pouco de luz pelas janelas, iluminando as cadeiras e instrumentos que havia no lugar. Haru ficou nervosa e tentou se soltar, porém Satoru a segurou mais firmemente, mantendo-a parada.

— Me solte, por favor. – pediu, tentando tirar sua mão dela.

— Não quero que saia antes que eu fale.

Haru o olhou e abaixou as mãos, deixando-o falar.

— Fale então.

Satoru a largou e endireitou-se.

— Yoshiro-san... Preciso que seja sincera comigo.

Ela franziu a testa sem compreender.

— Se negar, nunca mais irei importuná-la.

Ele hesitou.

— Você gosta de mim?

Haru engoliu em seco, arregalando os olhos e corando. Satoru sorriu e aproximou-se de seu rosto, tocando-o gentilmente com a mão.

— Era o que eu precisava ver.

Haru fechou os olhos, envergonhada, e foi beijada de repente. Satoru a levantou e a sentou na mesa do professor, continuando a beijá-la. Beijou sua bochecha, descendo para o pescoço e clavícula com as mãos em sua cintura, acariciando-a.

— Por que gosta de mim? – perguntou Haru, ofegando e abrindo os olhos.

— Porque...

Satoru beijou sua boca mais uma vez e olhou-a, sorrindo.

— Você é metade lobo.

Haru arregalou os olhos, sentindo o pavor possuí-la. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela desceu da mesa, correndo para fora da sala.

— Ei...? Haru! – Takashi a chamou.