Meu Mundo É Você

C.8 - Newton, Mega-Hair e Soluções


Na manhã seguinte, o final de semana louco e divertido já tinha se dissipado em mil pedaços. Hoje está um dia bem frio, então limitei-me a usar meus jeans surrados, um moletom cinza com uma blusa de frio amarela por dentro e os cabelos sempre presos. E, quando fui arrumar a mochila, lembrei-me de todo o fardo que deixei pra trás na sexta-feira: meus livros estão destruídos e eu não tenho dinheiro para comprar novos.



Enquanto me protegia com o guarda-chuva à caminho da escola, imaginava como eu compraria meus livros. Meus pais nunca deveriam saber, afinal os pobres coitados mal estão em casa, e quando estão precisam só gastar as despesas com a filha desastrada e o filho extravagante. Eles não mereciam reparar o erro de outra pessoa, afinal, o que se faz se paga. Não quero e não vou fazê-los pagar por uma pessoa como Tanya.

Ela acabou de mexer com meu ponto fraco, que são os meus pais. E ninguém mexe com eles. Não há vergonha, timidez ou fraqueza que me faça não defendê-los.

Cheguei na primeira aula de educação física determinada a cobrar o que é meu de Tanya, e dessa vez não haveria nada para me impedir.

Como não a encontrei, fui ao vestiário e vesti a calça amarela horrorosa e a blusa cinza. Haviam poucas pessoas espalhadas pela quadra, o professor também não tinha chegado ainda. Alice e Rosalie me avistaram e acenaram, sentadas no meio das pessoas. Caminhei até elas e me sentei.

–-- Bom dia garotas.

–-- Então é oficial? - Alice dispensou as formalidades.

–-- É, eu queria contar pra todo mundo, mas ainda não sei se é verdade - Rosalie riu.

–-- O que?

–-- Você e o meu irmão, oras. Eu sabia que você tinha alguma coisa com ele - ela deu um cutucão no meu ombro e eu senti a saliva descer com dificuldade por minha garganta. Elas riram de meu constrangimento.

–-- Garotas, eu realmente não posso falar disso agora.

–-- Ué, acordou estressadinha?

–-- Por Deus, claro que não! - apressei-me em negar. Não seria louca de destratar minhas novas amigas.

–-- Então o que é? - Alice perguntou. Pensei por alguns segundos e decidi contar pra ela.

–-- Já leu alguma coisa sobre a Lei de Newton?

Nesse instante, a porta da quadra fora aberta pelas unhas grandes e exageradamente cor de rosa de Tanya, que estava abraçada com Edward e com Kate em seu enlaço.

–-- Só vamos dar isso no próximo semestre. O que foi, Bella?

–-- Esperem um segundo, e não venham atrás de mim - avisei e levantei-me, passando pelas pessoas com o queixo erguido até ficar de frente pra Tanya, que de início nem me notou ali. Edward me cumprimentou com a cabeça, sempre com a vergonha falando mais alto. Não dei atenção.

Respirei fundo.

–-- Tanya, será que podemos conversar? - disse com a voz calma, e ela pareceu não ouvir. Andou até o grupinho de líderes de torcida, sorridente. Irritada com sua indiferença, fui atrás dela e fechei as mãos em punho.

–-- Você está me ouvindo ou esses brincos absurdamente bregas não te permitem?

No mesmo instante ela parou o que estava fazendo, na verdade todos os presentes pararam para observar a cena. Ela ergueu lentamente a cabeça para mim, a expressão de pura raiva.

–-- O que você disse, sua idiota?

–-- Será que eu posso conversar com você? - perguntei calmamente, mas por dentro estava gritando.

–-- E o que me levaria a aceitar? Não quero ficar olhando pra sua cara horrorosa.

–-- Os meus livros.

–-- O que?

–-- Você vai pagar pelos livros que você rasgou.

Ela soltou uma gargalhada estrondosa, junto com suas amigas.

–-- E por que eu faria isso? Acha mesmo que vou pagar alguma coisa pra você? - me olhou com nojo.

–-- Ou você paga por bem, ou terei que denunciá-la à diretoria.

–-- COMO É QUE É? - ela se levantou - AQUELE PROFESSORZINHO DE MERDA ANDA TE INFLUENCIANDO? VÁ PARA A DIRETORIA QUE EU TE MANDO PARA A…

–-- CALE-SE!!! - berrei sentindo meu corpo tremer, minha voz oitavas mais alta que a sua. Nunca gritei tão alto em toda a minha vida, até ela se assustou - cale-se, cale-se, cale-se! Pare de me tratar desse jeito, eu nunca fiz nada à você! Não tenho culpa de você não ser amada pelos seus pais, de seu namorado não gostar de você e que você não tenha amigos de verdade! A culpa não é minha de você precisar colar para ter boas notas! A culpa não é minha se você precisa ser popular pra ser considerada gente! Então pague a porcaria dos meus livros por uma coisa que é culpa sua, não minha!

Extravasei e senti uma imensa vontade de me esconder em algum lugar, mas já era tarde.. Ela estava chocada, mas eu consegui desabafar pela primeira vez em toda a minha vida, e vibrava por isso.

Ela se aproximou de mim e me olhou um segundo antes de cospir em meu rosto. Ela abriu um meio sorriso e me deu as costas, rebolando até a saída.

A raiva tomou conta de mim na medida que seu cuspe escorria por minha bochecha, que eu limpei e parti atrás dela. Quando ela se virou, já comecei a pegá-la pelos cabelos e a jogá-la no chão.

–-- MAS QUE DIABO É ISSO? SAIA DE CIMA DE MIM!

–-- PAGUE PELOS MEUS LIVROS! - gritei estapeando-a. Ela girou com habilidade, ficando por cima de mim e tentando me arranhar. Segurei seus pulsos com força.

–-- NUNCA!

A girei novamente e quando ameacei puxar o seu mega-hair…

–-- Eu pago, eu pago, eu pago, calma aí, eu vou pagar, quer a cartão, cheque ou dinheiro? - disse rápido e eu a soltei, assustada com a rendição dela.

Alice e Rosalie riam, eu podia ouví-las.

Me levantei enquanto ela continuava no chão, passando nervosamente a mão nos cabelos plastificados.

–-- Amanhã quero todos os meus livros no meu armário, estamos entendidas? - ergui as sobrancelhas, me inclinando levemente pra ela. Ela assentiu a contra gosto e eu apenas sorri enquanto caminhava para a saída, ouvindo o começo dos burburinhos sobre a minha pessoa.



(...)



Sentei na mesa com minha bandeja contendo apenas um bolo de chocolate - que a cozinheira da escola só faz quando está de bom humor - e, quando pal pude apreciá-lo, risadas conhecidas surgiram ao meu lado e sentaram na mesa vazia que eu estava.

–-- Mas o que foi aquilo, mulher? - Rosalie disse sentando ao meu lado, pegando o garfo e partindo um pedaço do meu bolo sem eu ter oferecido.

–-- Depois de pegar o Edward ta empolgada e quer escandalizar? - Jasper riu e tirou um pedaço do meu bolo - isso ta ótimo!

–-- Amei, garota de atitude! Só falta soltar o cabelo e subir no salto 15! - Alice tirou um pedacinho do meu bolo. Já começava a me irritar.

Quando peguei o garfo para cortar um pedaço do bolo, o prato inteiro foi tomado da minha bandeja.

–-- Colocando as garrinhas pra fora, Bella-Magrela? - Emmett riu e afundou o rosto no meu bolo. Eu o vi ali, partindo, eu nem o conheci mas já o amava tanto…

Fiz um biquinho diante do meu bolo, que já devia estar se encaminhando pro estômago nada saudável de meu irmão.

–-- Meu bolo…

–-- Fez bem em se defender. Já estava na hora - Jasper me abraçou e voltou a se sentar.

–-- As mães de vocês não os educou? - uni as sobrancelhas.

–-- Sim, uma das coisas que ela me ensinou foi a ser legal com o próximo - Alice disse fazendo os outros rirem.

–-- Não achei a menor graça - cruzei os braços. Ainda estava nervosa com as coisas que poderiam acontecer, pois só agora minha mente trabalhara: se eu fui para o hospital só por ter feito um comentário irônico, imagine agora que eu a ameacei diante de todos…

–-- Isso vai durar um tempo, quando as garotas liberam a xavasca e o cara não liga no dia seguinte elas ficam bem extressadinhas - Jasper me cutucou e eu, pra piorar a situação, corei enquanto abaixava a cabeça.

Um lampejo do “oi” de Edward, se é que se pode chamar aquilo de oi, passou pela minha cabeça.

–-- Na mosca - Alice assentiu, surpresa. Ele sorriu, tímido.

–-- Eu vou procurar um emprego - anunciei, firme em minha decisão. Afinal eu teria meu próprio dinheiro, compraria minhas próprias coisas e até um celular novo, meu sonho de consumo.

–-- Ela não pensa em outra coisa a não ser nisso, já eu tenho outras prioridades - Rosalie sorriu pra Emmett, e ele sorriu pra ela, e Jasper e Alice quase se agarravam. Então eu descobri que estava sobrando, com fome e sem saber qual era o sentido de viver sem meu bolo de chocolate.

Levantei e caminhei pelo refeitório, tentando tomar vento e não ver pessoas. Sabe aqueles momentos em que você precisa ficar sozinho pra espairecer? Pois é, esse é um dos meus.

Enquanto andava pelo corredor, tentava listar cada um dos meus problemas pra tentar resolvê-los manualmente:

1- Livros.

2- Edward.

3- Cupido.

4- Fome.

5- Tanya.

Os livros poderiam ser entregues amanhã por Tanya, mesmo que eu não acredite muito que isso seja possível, e ainda assim eu não sei o que esperar da maluca. Apanhar só por um comentário é um crime, por ameaçá-la deve ser a corte suprema. Se bem que eu sei o seu ponto fraco, e eu poderia usá-lo com mais frequência - um sorriso malicioso surgiu em meus lábios e eu abri a porta do gramado da frente do colégio, e me sentei em uma árvore vazia.

Meus livros estavam semi-recuperados, e caso isso não acontecesse, eu sabia como conseguí-los. Agora o problema Edward…



Marina And The Diamonds - How To Be a Heartbreaker



E bem quando estou pensando nele, eis que surge o ilustríssimo Edward, cruzando o lugar em que eu nunca adivinharia que ele poderia andar. Mas como a alegria de pobre dura pouco, ele está acompanhado pelo time de futebol. Será possível que uma pessoa possa ficar ainda mais linda a cada dia que passe? Mesmo com um jeans surrado e uma blusa branca ele consegue continuar se destacando entre os demais. Seus cabelos nunca estão alinhados o que é meio irritante, e agora ele masca um chiclete entre os lábios enquanto sorri e conversa com os colegas. Suspirei alto, e isso com certeza chamou sua atenção. Como resolver um problema com um impasse desses?

Ele passou por mim e jogou um papel na minha cara. Bufei de imediato, e quando o olhei novamente pronta para mandá-lo para o raio que o parta, percebi que ele fez um “joinha” com o polegar discretamente pra mim. Hã?

Peguei o papel do chiclete e li entre as dobras amassadas:


“Me encontre em 20 minutos no armário de vassouras”