“Você me deixou com um adeus e de braços abertos
Um corte tão profundo, eu não mereço
Bem, você sempre foi invencível aos meus olhos
A única coisa contra nós agora é o tempo”

Naruto abriu os olhos devagar, sem vontade de se mexer. Amanhecera, enfim, depois dele passar o resto da madrugada revirando na cama, controlando-se para não ir atrás dela...

Vinte e sete de dezembro. Aniversário de Hinata. Parecia inacreditável que, até poucos meses atrás, esse dia era ansiosamente esperado... parecia um sonho distante lembrar que seria o dia em que pediriam oficialmente a Kakashi a permissão para poderem se casar.

E agora ela poderia estar quase na fronteira do país.

“Poderia ser mais difícil dizer adeus e viver sem você?
Poderia ser mais difícil te ver partir, encarar a verdade?
Se eu tivesse só mais um dia”

Sentou na cama, desistindo de vez de tentar dormir. Foi olhar as horas e deparou-se com o sorriso de Hinata em uma das fotografias. Não soube quanto tempo ficou encarando o rosto bonito da Hyuuga, mas ao sentir os olhos lagrimarem, decidiu baixar todos os porta-retratos, a fim de amenizar a dor.

Foi até o banheiro, escovou os dentes e, ao voltar para o quarto, vislumbrou o edredom lilás sobre o sofá. O rapaz se sentiu atraído até o cobertor, sentando no sofá e abraçando o tecido como se fosse a dona dele: tão apertado que ela poderia ter reclamado de falta de ar.

Seus olhos buscaram pelas fotografias espalhadas pela sala – memórias de dias tão felizes que seu coração parecia que ia explodir! No entanto, ao olhar para a mesinha de centro em busca de sua foto favorita, encontrou apenas a decoração de sempre. O cobertor aparou a lágrima teimosa.

Hinata levara a fotografia consigo.

“Como a areia em meus pés
E o cheiro de um doce perfume
Você ficará em mim para sempre
E eu desejo que você não tivesse partido
Eu desejo que você não tivesse partido,
Desejo que você não tivesse ido embora
Para te tocar novamente com vida em suas mãos
Isso não poderia ser mais difícil... difícil”
(Could It Be Any Harder – The Calling)

Ele tinha uma cópia na mochila, para o caso de sair em uma missão longa, pois morria de saudades do semblante sorridente da moça. Mas saber que Hinata tinha levado a foto original o deixou dividido... era apenas para se recordar dele ou por que não queria esquecê-lo?

Nenhuma das opções o agradava, então resolveu aplacar a tristeza de uma vez: reuniu todos os porta-retratos, edredom e o que mais Hinata tivesse deixado para trás, guardando tudo na parte do guarda-roupa que agora estava vazia – ele engoliu em seco ao reparar isso, mas seguiu em frente. Andou pela casa mais uma vez, encontrando algumas peças de roupa da jovem na secadora e levando-as de volta para o guarda-roupa. Organizou tudo e decidiu sair de casa, incapaz de lidar com as lembranças que começavam a tomar sua mente por completo. Hesitou várias vezes, mas colocou no pescoço o cachecol vermelho que ganhara de aniversário, com a consciência de que apenas sair do apartamento não o faria esquecer da Hyuuga.

Tomou café na padaria, evitando os alimentos preferidos de Hinata. Até o suco ele pediu de sabor diferente. Andou sem rumo pela vila até a hora do almoço, onde pediu somente uma tigela de lámen – sempre pedia duas ou mais –, demorando mais que o usual para comer. Sua falta de ânimo era tão evidente que nem Teuchi ou Ayame o incomodaram com brincadeiras ou perguntaram sobre o que estava errado. Apenas o deixaram quieto no canto do restaurante, levando o tempo que precisasse para recuperar o humor de sempre. Não aconteceu, é claro, e Ayame lhe desejou melhoras quando o rapaz foi pagar pela comida. Ele agradeceu, forçando um sorriso para tranquilizá-la.

Poucos passos depois que saiu do restaurante, foi surpreendido por Yamato, que aterrissou em sua frente, com um semblante que tentava esconder a preocupação.

— Kakashi-senpai pediu para que você fosse ao escritório dele o mais rápido possível.

Naruto concordou com a cabeça, andando devagar até o Prédio do Fogo. Yamato passou a andar ao seu lado.

— Eu sou o Anbu que ficou responsável por você depois de seu envenenamento — o mais velho comentou, ainda se esforçando para parecer casual. O loiro não se surpreendeu. — Eu vi quando Hinata saiu de seu prédio com duas malas nessa madrugada. — Naruto estancou. — Está tudo bem com vocês dois, Naruto? — falou baixo, tristemente. — Outro Anbu estava responsável por ela, então não sei o que aconteceu...

— Yamato-taichou — interrompeu o garoto com a voz rouca pelo desuso. — Por favor, não conte a ninguém.

A seriedade em sua voz convenceu o ninja, que concordou com a cabeça e indicou que continuassem andando. Naruto o fez, sem dizer mais uma palavra até o fim do caminho.

Quando estava para bater na porta do Hokage, ela se abriu rapidamente, mostrando uma Tsunade em um nível alarmante de impaciência.

— É bom que você tenha uma desculpa incrível, Uzumaki Naruto!

O rapaz não se abalou. A essa altura, o ninja responsável por Hinata já deveria ter avisado que a moça tinha saído da vila.

— Entre, Naruto — falou Kakashi, suspirando. O loiro obedeceu, pedindo licença ao passar ao lado da médica que bufava. Ela fechou a porta com força, ignorando Yamato sem pensar duas vezes. Naruto apenas sentou em frente à mesa do Hokage. — Imagino que saiba por que está aqui. — Negou, fazendo o homem levantar as sobrancelhas, surpreso. Kakashi soltou outro suspiro. — Eu acabei de receber um convite para uma reunião com os Hyuuga, daqui a três dias. Eles fazem questão da minha presença e da sua, mas não mencionam Hinata.

— E o Anbu responsável por ela nos avisou que ele a perdeu de vista pela manhã.

Naruto franziu o cenho por um instante. De manhã? Mas ela tinha partido de madrugada!

— Hinata foi até o Clã Hyuuga de madrugada com duas malas — continuou a loira. — O Anbu viu que ela dormiu no quarto da irmã e tomou café com o pai bem cedo. — Naruto quase perdeu o ar com a informação. Hinata estava com Hiashi?! — E então ele perdeu seu chackra. Ele me garantiu que revistou o clã mais de uma vez e não a encontrou.

— E soubemos há pouco — retomou Kakashi — que você vendeu o apartamento que lhe demos. Com o dinheiro e mais duas malas, não fica difícil saber qual é a ideia de vocês.

Naruto engoliu em seco. Eles deduziram tão rápido... o que poderia dizer que já não soubessem?

Tsunade sentou ao seu lado, estranhando que estivesse tão calado. Com uma mão, virou o rosto dele para que a encarasse, olhando profundamente em seus olhos.

— O que aconteceu com o plano, Naruto? — O tom mudara drasticamente para um consolador, abalando a postura que o garoto tentava manter. — Vocês deviam pedir autorização para o casamento hoje. Ao invés disso, descobrimos que o casamento foi cancelado, o apartamento foi vendido e Hinata sumiu. Por Deus, você precisa nos dizer o que está acontecendo!

O Uzumaki se afastou da mão da mulher, piscando várias vezes para conter os olhos vermelhos. Pigarreou antes de falar:

— Hi-Hinata está infértil. — Não imaginou que seria tão difícil falar o nome dela. — Ela não poderia cumprir o acordo para evitar a liderança do clã.

— Mas Naruto... — tentou falar Tsunade.

— E ela sabe quem me envenenou — cortou rapidamente, chocando os outros dois. — Hanabi também foi envenenada na mesma época. Alguém estava ameaçando nossas vidas e... ela achou que seria melhor sair da vila para nos proteger.

— Ela lhe disse isso? — Tsunade mal conseguia fechar a boca com a revelação.

— Não... — Deu de ombros. — Eu apenas a conheço bem... ela prefere se afastar quando pensa que não ganhará uma luta. E eu... — Enxugou uma lágrima teimosa. — Eu não consegui descobrir nada para ajudá-la.

Ele bem que tentou... seguiu a Hyuuga por alguns dias aleatórios e não a viu conversando com ninguém diferente ou desconhecido. Se não fosse pela volta da insônia e do silêncio incomum, Naruto nem desconfiaria que havia algo errado com a morena.

Kakashi quebrou o silêncio ao soltar o ar, cansado.

— Vocês poderiam ter nos contado. — Naruto o olhou tristemente. — Nós poderíamos ter ajudado.

— Eu nem consegui confirmar que Hinata estava sendo ameaçada — respondeu amargurado. — Ela não me contou nada.

— Poderíamos ter dado um jeito, Naruto — insistiu Tsunade. — Você precisa ter um pouco mais de confiança nos adultos. Jamais deixaríamos a situação chegar a esse ponto!

A mulher levantou, impaciente.

— Mande alguns Anbus atrás dela, Kakashi — falou decidida. Naruto virou o rosto rapidamente, surpreso. — Dê dois dias para que a tragam de volta, ou eu mesma vou atrás dela.

O queixo de Naruto caiu com a confirmação do Hokage.

— Deixe a situação com a gente agora — falou o ex-professor com um vestígio de um sorriso por baixo da máscara. — E não esqueça da reunião daqui a três dias no Clã Hyuuga. Dispensado.


Passou o restante do dia inquieto. Precisou ir até um campo de treinamento para se livrar do nervosismo e da consequente tremedeira. Bateu em algumas árvores com as mãos nuas, quase a ponto de congelar, mas não parou.

Hinata voltaria! Ele teria uma segunda chance! Eles teriam uma segunda chance!

O coração se acelerava e ele perdia cada vez mais rápido o ar só de pensar que a própria Tsunade iria atrás de Hinata se fosse preciso, e que dariam um jeito de fazer a garota ficar! A morena provavelmente ainda amargaria sua infertilidade, mas Naruto já tinha um plano B: adoção.

“Que se danem os Hyuuga e seus acordos idiotas! Se Hinata quer um filho, ela terá um! Do jeito natural ou não!” pensou decidido.

Ele passou a infância sozinho, sempre pensando no motivo de nenhuma família adotá-lo. Demorou doze longos anos para que tivesse uma resposta: o medo que a vila tinha da raposa de nove caudas selada dentro dele.

Mas não havia mais nenhuma criança jinchuuriki pelo mundo... ninguém mais passaria pelo que ele passou, e isso aliviava seu coração.

Decidiu que quando se tornasse Hokage, tomaria conta dos orfanatos com afinco, para que nenhuma criança se sentisse abandonada ou indesejada, como ele e Gaara se sentiram. Faria questão de tomar conta das crianças, do futuro daquela nação...

E talvez pegasse uma ou duas crianças para si, pensou com um sorriso bobo. Dois meninos e uma menina, como seu time ninja, para reconhecê-los como herdeiros dos Uzumaki...

— Naruto! — Sakura gritou do outro lado da clareira, chamando sua atenção. Ele parou as batidas e foi até a moça, que tremia de frio. — O que está fazendo? Está congelando aqui!

— Estou um pouco nervoso.

— Ah... — Ela não precisou perguntar o motivo. — Preciso que me faça um favor. — Hesitou. — Hanabi encomendou um bolo para o aniversário de Hinata.

Os olhos azuis se arregalaram.

— Eu não tive coragem de dizer que a irmã saiu da vila, e... — A jovem respirou fundo, nervosa por tocar no assunto. — Hanabi pediu para que eu fosse buscar o bolo na sua vizinha da frente, à noite, pois ela não teria tempo de fazer um. Mas eu precisarei ir ao hospital daqui a pouco. Você poderia...?

— O que eu vou fazer com um bolo inteiro, Sakura-chan? — Não conseguiu esconder a tristeza na voz.

— Eu sei, me desculpe. Amanhã mesmo eu conversarei com Hanabi. Eu só preciso que pegue o bolo às seis, porque já está pago. — Naruto suspirou, enfim concordando. — Amanhã eu pego metade do bolo com você e divido com meus pais, tudo bem?

— Ok.

A moça de cabelos rosados se despediu, deixando-o com seus pensamentos torturantes novamente.

Por alguns minutos, se esqueceu que era o aniversário de Hinata, que a morena estaria fazendo dezoito anos.

— Onde você está, Hina?

Suspirou, escolhendo outra árvore para descontar seu nervosismo.


As mãos estavam geladas mesmo dentro dos bolsos. Uma fina neve caía sem parar desde o crepúsculo, diminuindo ainda mais seu ânimo. O Ichiraku estava lotado, com pessoas falando incansavelmente, nenhuma delas um conhecido seu. Desistiu do lámen e aceitou que estava mais do que na hora de tomar coragem e voltar para sua casa.

Uma casa agora vazia, sem vida, sem cor...

Subiu as escadas até seu pequeno apartamento, lembrando-se das infinitas vezes em que Hinata preferia usar o chackra nos pés e subir pela parede do prédio. “Muito mais rápido” ela brincava. Entrou no corredor do último andar, estranhando o murmurinho baixo. Só tinha uma vizinha na frente – o outro estava desocupado – e era uma senhora idosa. Será que ela estava com visitas?

Ignorou por fim, assustando-se quando chegou em frente à sua porta e viu uma luz escapar pela fresta. A mão parou na maçaneta, surpreso ao constatar que o barulho vinha dali de dentro. Ouviu a gargalhada de Chouji, perdendo de vez a esperança de que fosse Hinata.

Era o aniversário dela... Hanabi provavelmente convidara os amigos deles, mesmo sem a permissão da irmã. Eles deviam estar esperando há um bom tempo...

Mas como entraram? O porteiro os deixou subir? Sasuke poderia ter falado onde escondia a chave reserva?

Cansado das próprias dúvidas e do dia infeliz, decidiu que entraria e mandaria todos embora. As explicações poderiam ficar para outro dia, pensou ele.

A bagunça estava menor do que imaginava, percebeu. Shikamaru, Chouji e Lee dividiam o sofá, enquanto Tenten, Sai e Sasuke discutiam qualquer coisa sentados no chão, em volta da mesinha de centro. Konohamaru falava alto, pedindo para que se calassem, pois queria ver o filme que passava na televisão.

— Até que enfim! — Tenten jogou os braços para o alto. — Meninas, Naruto chegou! — gritou para a cozinha.

— Graças! Aquele idiota! — Era Ino.

Naruto respirou fundo.

— Gente, eu...

— Você está atrasado!

O pescoço quase estalou com a velocidade para olhá-la. Um arrepio percorreu todo o corpo, e foi impossível não arregalar os olhos.

— Hina?

Saiu sem querer, e ele só percebeu quando ela corou levemente. Hinata colocou as mãos na cintura, fingindo seriedade.

— Você esqueceu de buscar o bolo na vizinha? Não acredito!

— Me desculpe... — A voz quase não saiu. Temia se mexer e acordar de um sonho.

Ficou olhando para a moça bonita por longos segundos, trêmulo, mas sem sair do lugar.

— Naruto-kun! — Ela ria de seu abobalhamento. — O bolo!

— C-Certo.

Fez um clone, que saiu rapidamente depois de mais um grito divertido de Hinata.

— Você está imundo! — Ela o ajudou a tirar o casaco e pendurá-lo atrás da porta. — Onde esteve esse tempo todo? Estávamos esperando você para jantar.

— Por aí...

Os amigos olhavam para os dois de forma divertida. Não sabiam se os achavam fofos ou melosos demais. Mais tinham um consenso: era óbvio o quanto Naruto e Hinata estavam apaixonados.

— Vá tomar uma ducha. Nós o esperaremos mais um pouco.

— Esperar mais? — chorou Chouji.

— Não seja mal-educado! — Ino brigou. — Você está comendo desde que chegamos!

O clone de Naruto voltou, tão avoado quanto o original. Deixou o doce em cima da mesinha de centro e desapareceu depois de sorrir bobamente na direção de Hinata. A Hyuuga riu, voltando-se para o original.

— E você. — Apontou para a porta do banheiro. — Banho. Já.

Ele confirmou, ainda meio aéreo, correndo para o outro cômodo.


Vestiu a roupa que Hinata tinha separado sobre a cama – uma das camisetas que ela comprou no começo do ano e que ficaram grandes na época, mas agora lhe cabiam perfeitamente. Era branca e com um bordado discreto do clã Uzumaki nas costas, o tecido macio de algodão. A calça preta também era confortável... mas ele gostou mais do colete laranja, também com o símbolo Uzumaki nas costas.

Distrair-se com as roupas parecia melhor do que lembrar do que o aguardava lá fora.

Hinata...

Céus, ela estava mesmo ali! O braço já estava vermelho de tantos beliscões que dera em si mesmo, provando não estar em um sonho. Parecia bom demais para ser verdade!

Ela voltara... por ele? Por eles? O coração batia forte só em imaginar!

— Naruto-kun? — A voz doce da garota que amava soou atrás da porta. — Está vestido?

— E-Estou.

Agora era ele quem vivia gaguejando!

Hinata abriu a porta, sorrindo ao vê-lo.

— Finalmente serviu a camisa! — comentou orgulhosa. — Ficou ótima em você.

Ela se aproximou, espanando a roupa limpa.

— Você não para de crescer! — Não encarava seus olhos, mesmo que Naruto implorasse silenciosamente que sim. — Vai me deixar para trás de forma tão humilhante?

— Vou.

Um riso baixinho veio antes dos olhares finalmente se encontrarem.

Naruto quase perdeu o ar!

“Quando você se foi
Meu coração chorou depois
Dói demais
Você é parte de mim
Te ver partir foi tão ruim
E hoje que voltou
Fez outra vez meu coração respirar”
(Cúmplices do Amor – Danilo Reis e Rafael)

As mãos foram até o rosto dela, inconscientes. Hinata se acolheu nelas, fechando os olhos por um instante. Quando os abriu, brilhavam!

— Hina...

Apenas por um segundo, se perguntou se ela poderia ouvir seu coração acelerado. No segundo seguinte, jogou para o alto todos os pensamentos. Precisava dela mais do que nunca...

Hinata permitiu a aproximação, sem nunca desviar o rosto. Somente quando estavam a poucos centímetros de distância que ela fechou os olhos. Naruto resistiu apenas mais um pouco, quase sem acreditar que voltaria a beijar a razão de seus sonhos. Os lábios roçaram um no outro, apaixonados, desejosos...

— Hinata! Naruto! Por que vocês...?

Abriram os olhos com o susto. Sakura percebeu o erro, constrangida.

— Desculpem! Já estou indo!

Hinata deu uma risadinha, ainda com o rosto próximo do de Naruto. Ele sorriu também, grato que ela não tivesse se afastado.

Os olhos dela brilhavam.

— Precisamos conversar, Naruto-kun. — Ele concordou levemente, colando suas testas. — Mas não agora... agora eu só quero aproveitar que estou aqui novamente.

Hinata roubou dele um selinho antes de finalmente sair do abraço, sorridente. Suas íris estavam cheias de promessas quando estendeu a mão na direção do rapaz, convidando-o para a própria festa.


— E a primeira fatia vai para...? — insistiu Sakura.

— Ok, ok. — A Hyuuga riu, terminando de ajeitar o bolo sobre o pratinho. — Vamos ver...

Olhou para cada um dos presentes, demorando-se um pouco mais em Hanabi. Jogou um beijo para a irmã, que confirmou com a cabeça, incentivando-a a alguma coisa... Hinata confirmou, respirando fundo e começando:

— O primeiro pedaço vai para o meu sonho. — Alguns a olharam confusos, mas deixaram que continuassem com um sorriso bobo no rosto. Hinata tinha os olhos baixos, fixos no pratinho nas mãos, talvez nervosa demais para olhá-los. — Vai para a minha luz, para a razão do meu viver. Para a pessoa que me fez tão feliz, tão abençoada... que eu só espero estar à altura para retribuir!

Naruto sequer esperou que ela citasse seu nome. Não precisava, de qualquer forma. Hinata já lhe dissera aquilo tantas vezes...

Abraçou-a forte, e os amigos riram quando ela quase deixou cair o bolo, surpresa.

— Você também é a minha luz, Hina — ele sussurrou em seu ouvido. — Eu não sou nada sem você.


Eram quase onze horas quando os convidados começaram a ir embora. Naruto fez questão de acompanhar Sasuke e Sakura até as escadas. A Haruno tentava esconder o riso, sabendo muito bem que o loiro estava dividido em lhe matar ou lhe agradecer.

— Você é uma amiga terrível — ele enfim se decidiu, provocando-a. Sasuke arregalou os olhos, alheio ao assunto.

— Não, não sou. — Ela riu, convencida. — Sou sua melhor!

— Você poderia ter me contado. Sabe que eu fiquei arrasado por ela ir embora.

— E perder a sua cara quando a viu? Jamais! — Eles riram, Sasuke finalmente os acompanhando. — Estou brincando. Eu não podia contar, desculpe. Hinata me pediu segredo. Queria te fazer uma surpresa.

— E conseguiu! Ainda tenho medo de que seja um sonho — confessou, envergonhado.

— Mas não é — ela garantiu. — Volte para lá e não perca essa segunda chance.

— Eu não irei — prometeu.

Despediu-se dos últimos convidados ao voltar para o apartamento, pedindo para que Konohamaru acompanhasse Hanabi até em casa, devido à hora tardia. Fechou a porta e começou a ajudar Hinata com a arrumação. Juntos, não demoraram metade de uma hora para colocar o lixo em sacolas e limparem a louça. Naruto até roubou outra fatia de bolo no processo.

— Você poderia ter me dito que faria uma festa — falou ao terminar a limpeza, quebrando o silêncio. — Eu poderia ter arranjado um lugar maior, ao invés de quase morrer do coração.

Hinata quase gargalhou.

— Nenhum outro lugar seria melhor do que aqui — respondeu ao se recuperar do riso. — Aqui foi onde eu aprendi o significado de lar. Não poderia comemorar minha maioridade em outro lugar.

Ela fechou a última sacola de lixo e deixou na cozinha, lavando as mãos antes de puxar o rapaz para o sofá.

— Eu quero agradecer por essa noite, por ter ajudado a ser tão especial.

— Estamos com os papéis invertidos aqui. Foi você quem fez a surpresa toda.

— Estou falando sério — a moça insistiu, apesar do sorriso teimar em aparecer. — Obrigada por hoje, de verdade. E desculpe... por ter ido embora. Eu estava realmente apavorada.

— Hina...

— Deixe-me falar, por favor. — Ela segurou as mãos dele, tentando se manter firme com as palavras. — Eu preciso lhe pedir desculpas por ter te feito infeliz por tanto tempo. Por ter medo e não ter confiado que poderia me ajudar. Eu me arrependo profundamente! Mas estou me esforçando para consertar meus erros... em poucos dias, poderei lhe explicar tudo, e então farei o possível para merecer seu perdão.

— Que bobagem, Hina, você já está aqui! O que mais eu poderia pedir?

— Você entenderá, eu prometo. Por enquanto, eu só peço que espere mais um pouco.

Ele confirmou com a cabeça, sem entender bem o que Hinata dizia e sem se esforçar para isso. Mas pareceu o bastante para a moça, que sorriu e se encaminhou para a saída. Os olhos azuis se arregalaram, rapidamente temerosos.

— Aonde vai? — perguntou nervoso.

— Hã... para o clã...

— Por quê?

— Minhas coisas estão lá. — Deu de ombros, sem graça.

— Sua casa é aqui, Hina. — Naruto se levantou também, a alcançando na porta e unindo as mãos novamente. — Seu lar, não é? — Ele beijou as mãos pequenas com carinho. — Por favor, não vá embora.

— Eu não vou — garantiu, soltando uma mão e acariciando o rosto dele. — Eu só preciso de alguns dias para consertar tudo e lhe explicar, tudo bem?

O garoto tentou uma nova aproximação, que ela não recusou. Naruto passou os braços pela cintura fina, escondendo o rosto no ombro dela e a abraçando forte, cheio de saudades. Hinata retribuiu na mesma intensidade.

— Eu senti tanto a sua falta, Naruto-kun!

— E eu achei que fosse morrer sem você... minha Hina.

Ele sentiu a jovem enxugar o rosto em sua camisa.

— Também senti falta de você me chamando assim...


Passou dois dias tentando reencontrá-la, chamá-la para um encontro – sim, oficialmente um encontro, pois estava mais do que ansioso para retomar o namoro –, mas não obteve sucesso. Sempre Hanabi aparecia e se convidava para o almoço, falando que a irmã estava em uma missão super importante e que – a menina bufava, emburrada – não tinha conhecimento. Naruto imaginava que devia ter algo a ver com os erros ela mencionara no dia de seu aniversário... ou então garantindo que nada mais a impediria de ir embora, com a ajuda de Tsunade e Kakashi. O rapaz torcia para que fosse a última opção.

— Hanabi — ele chamou a atenção da menina em um dos almoços. — Você sofreu outra tentativa de envenenamento?

— Todos os dias — ela comentou calmamente, assustando-o. — Em meus chás da tarde. Todos vêm com uma gota de veneno. Eu apenas finjo que continuo tomando, para ajudar minha irmã a coletar provas. — Hanabi soprou seu lámen quente, como se estivesse falando sobre o tempo. — O responsável é mesmo um idiota... ele realmente achou que não iríamos perceber que Hinata estava sendo ameaçada ao atentar contra as nossas vidas? — Ela riu sozinha, sapeca. — Ele está com os dias contados. Papai vai acabar com ele!

— Hiashi? — perguntou surpreso.

— Sim. Ele quem está ajudando minha nee-sama. Achei que soubesse.

O queixo de Naruto poderia ir ao chão com seu choque.

— Não... eu não sabia.

Hinata se aliou a Hiashi? O homem que a maltratou por tanto tempo?

Naruto sentiu um calafrio.

As coisas poderiam ser mais sérias do que imaginava.


Na tarde do dia trinta, Naruto tomou um susto ao ver o ex-professor em sua porta, esperando-o para irem à reunião dos Hyuuga.

— Está tudo bem, Kakashi-sensei? O senhor nunca mais veio aqui.

— Estou com um pressentimento estranho — confessou. Naruto engoliu em seco. Também estava nervoso. — Estou levando mais cinco Anbus comigo. Um entrará conosco e os outros ficarão no perímetro, para o caso de um imprevisto.

O loiro concordou, sentindo-se pior. As intuições de Kakashi quase nunca falhavam.

Chegaram ao Clã Hyuuga em poucos minutos, o Hokage caminhando como se conhecesse o lugar de cor. Naruto se surpreendeu ao entrar em outra edificação enorme para um propósito simples.

“Esse pessoal não sabe fazer reunião em uma sala comum?” reclamou em pensamento.

Foram recebidos pelo avô de Hinata, que estava vestido a caráter para a ocasião. O senhor sorriu ao cumprimentá-los.

— Sejam bem-vindos, Hokage-sama, Uzumaki-san. — Ele fez uma pequena reverência para os dois, ao que o rapaz retribuiu.

— Boa tarde, Hyuuga-san — disse casualmente Kakashi. — Escolheram um lugar grande para uma reunião dessa vez.

— Teremos mais Hyuugas dessa vez — explicou o mais velho. — É o nosso melhor auditório.

O senhor os acompanhou até seus lugares, reservados na primeira fileira em frente ao pequeno palco. Naruto ficou desconfortável com o destaque, mas imaginou que se devia ao fato de acompanhar o homem mais importante da vila.

As centenas de cadeiras foram ocupadas em poucos minutos, de forma organizada. Naruto deu um pulo quando sentiu uma cutucada em suas costas. Era Hanabi, sorrindo animada antes de sentar. Ao seu lado, para a surpresa do loiro, estava Sakura.

— O que está fazendo aqui?

Ela ergueu os ombros, sincera. Kakashi respondeu pela garota:

— Sakura também foi convidada. Assim como Tsunade e Shizune, mas elas não poderiam deixar o hospital, então estou representando-as também.

Ele apontou para os dois lugares vagos ao lado de seu Anbu mascarado.

— Eles convidaram a vila inteira? — perguntou Naruto.

— Não. Pelo que vejo, apenas as pessoas mais próximas de Hinata. — Apontou novamente, dessa vez para o outro lado do auditório, onde Kunerai estava sentada entre Kiba e Shino.

O burburinho silenciou quando o avô de Hinata passou pelo corredor central e sentou atrás da mesa sobre o palco.

— Boa tarde — falou tranquilamente, fazendo-se ouvir por todos. — Sejam bem-vindos a essa reunião extraordinária. Sou Hyuuga Tatsuo e dou início a ela chamando para meu lado direito o senhor Hyuuga Hiashi e a senhorita Hyuuga Hinata.

Foi possível ouvir alguns murmúrios enquanto Hiashi e Hinata passavam pelo corredor e sentavam nas cadeiras ao lado do líder da reunião. Naruto estranhou as vestes formais de pai e filha, mas não tentou chamar a atenção da moça. Ela disse que tudo seria explicado, então ele esperaria.

Kakashi soltou um suspiro, chamando sua atenção.

— Isso não é uma reunião — disse seriamente. — É um julgamento.