Meu Caminho, Sem Arrependimentos

Meu caminho, sem arrependimentos.


A Girl x Girl story - Angel Beats!

Hisako x Iwasawa

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As cordas do violão estavam novamente desafinadas. Iwasawa suspirou e resolveu dar uma parada no ensaio para beber água e descansar um pouco.

- Vocês foram ótimas, meninas! - falou a garota ao resto da banda, que também se encontrava ali presente.

Ela estava tão feliz...

Podia cantar novamente.

Iwasawa nunca chegara a pensar que o simples ato de "falar" pudesse se tornar a coisa a que mais atribuísse valor em toda a sua "existência". Desde que a garota morrera sem a voz, na terra, e acordara no outro mundo podendo falar novamente, passara a entender que a beleza de viver está presente em pequenos detalhes. Ela nunca imaginara que o seu "pós-morte" seria algo como acordar em uma escola onde alunos que se auto-denominam uma frente de batalha lutam contra um "anjo" que é presidente do conselho estudantil e querem ficar face a face com Deus. Até formara uma banda junto a outras garotas que também foram parar naquele singular "paraíso". E isso era simplesmente sublime.

Girls Dead Monster.

Esse era o nome da formação.

Iwasawa destampou a garrafinha de água-mineral e bebeu seu precioso líquido em grandes goles. Os filetes de água que escorriam pelos cantos de sua boca davam-na um ar charmoso e sensual. Mas isso só pôde ser percebido por pessoas que a tivessem olhado naquele exato momento, e era exatamente isso o que Hisako estava fazendo.

- Você cantou fantasticamente bem hoje, Sawa-chan. - disse a garota de cabelos castanhos presos em um rabo-de-cavalo à outra de cabelos rosa-avermelhados, se aproximando.

- Obrigada, Hisako-senpai.

- Ora bolas, já disse que você pode me chamar apenas de Hisako, não?! - brincou a garota, bagunçando os cabelos de Iwasawa com as mãos.

- Eu vou tentar me acostumar... - riu a vocalista.

As garotas conversaram sobre mais algumas trivialidades durante algum tempo, enquanto esperavam as outras duas componentes da banda descansarem.

Iwasawa não podia querer uma "vida" melhor do que aquela: tudo com o que sempre sonhara fora proporcionado à ela naquele lugar. A garota tinha uma banda, podia cantar, estava estudando... Tudo o que faria se ainda estivesse "viva"...

Realmente, o conceito de vida e morte se misturava ali. Ela podia estar viva mesmo depois de morrer, e continuar morta mesmo assim. Era confuso. Iwasawa resolveu parar de pensar nisso.

- Sekine! Irie! Vamos tocar Alchemy agora? - disse uma Hisako despretensiosa e calma. Iwasawa achou uma ótima idéia. Aprumou-se e voltaram a ensaiar.

...

- Foi um ótimo ensaio! - disse Hisako, jogando-se em sua cama.

- Realmente, tudo fluiu de uma maneira incrível. - falou Iwasawa, entrando no quarto. - Espero que toquemos tão bem assim no dia da apresentação para os outros alunos. Estou um pouco nervosa. Como acha que vamos nos sair? - disse Iwasawa, sentando-se em sua cama.

- Se depender de nós, Sawa-chan, vai ser um show incrível! - animou-se Hisako. - Falando nisso, qual era mesmo o nome da garotinha que ficou encarregada de espalhar os panfletos?

- Yui... Se eu não me engano. Parece que não vai faltar animação no show se depender dela. - As duas riram.

"Conviver com Hisako é tão bom...", pensava Iwasawa, enquanto despia-se do uniforme da SSS, ficando apenas com suas roupas íntimas. Já estava acostumada a ficar assim na frente de Hisako, visto que as duas dividiam o mesmo quarto, mas fora algo vergonhoso no início. Já sentia-se mais à vontade agora.

- Vou tomar uma ducha. - falou à Hisako, enquanto entrava no banheiro.

...

Saindo do banho, Iwasawa deparou-se com Hisako já dormindo. Ou ao menos, cochilando.

"Que bonitinho", pensou.

Tudo que vinha de Hisako era gracioso: o seu jeito de falar, andar, se comunicar, se comportar... Iwasawa realmente a admirava... Ou seria algo maior do que isso? Ela não sabia responder. Mas possuía um apreço incondicional por sua "senpai".

E assim, findou-se a tarde e começou-se a noite.

...

Hisako acordou, inquieta, no meio da noite. Havia tido um pesadelo. Iwasawa dormia tranquilamente em sua cama, como pôde constatar.

Iwasawa...

Será que ela ainda não havia percebido o quão difícil se tornara para Hisako conviver com ela, dormir no mesmo quarto que ela, sem poder beijá-la? Sem poder tocá-la como alguém que é mais do que um amigo tocaria?

Ela estava à beira da loucura. Queria Iwasawa para si mesma, não importando o que fossem pensar ou dizer. Queria Iwasawa tanto afetiva quanto sexualmente. E não estava mais conseguindo reprimir esse desejo.

Devagar, levantou-se, pondo-se a olhar uma garota de cabelos rosa-avermelhados que dormia tranquilamente, encantadoramente. Sua respiração produzia um som delicado, mínimo, que mais parecia um chiado, mas que era tão belo.

Cuidadosamente, Hisako percorreu a distância que separava as duas camas paulatinamente (ela dormia na de cima) e ajeitou-se de tal maneira que conseguiu ficar por cima de Iwasawa sem enconstar nela e acordá-la.

Vagarosamente, aproximou seu rosto do da outra garota, ficando a centímetros de roçar seu nariz no dela. Suas respirações se tocavam, numa frenética sinestesia. O limiar que separava a realidade do sonho parecia não mais existir. Por um breve momento, o mundo se destruíra e se reconstruíra... Uma extasiada Hisako parecia estar começando a ter alucinações. Mas ela não se importava com isso.

Calmamente...

Cuidadosamente...

Sem fazer barulho...

Aproximou mais e mais seu rosto do de Iwasawa...

E a beijou.

Vorazmente.

Iwasawa acordou assustada com a situação, enquanto era bombardeada pelos beijos de Hisako, que a apertava mais forte, mas sem machucar.

- S-senpai, não...!!! - tentou dizer, mas fora interrompida por outro beijo.

Os lábios de Hisako eram mornos e aconchegantes, capazes de inebriar até mesmo o mais duro coração com maestria. Iwasawa tentou resistir, mas logo se encontrara sem forças para impedir uma voraz língua que acabara de adentrar sua boca, ávida e sedenta.

O calor de seus corpos unidos servia como combustível para que Hisako continuasse. Iwasawa já não queria mais que ela parasse. As duas estavam completamente envolvidas com a situação, se deixando levar pelo momento.

Como num ato de rebeldia entre escravo e mestre, Iwasawa assumiu o controle, tomando as rédeas e trocando de lugar com Hisako. Dessa vez era ela quem beijava, quem tocava, quem transformava aquele momento em algo totalmente inesquecível e especial.

- Eu amo você... - falou, enfim, a garota de cabelos castanhos.

- Senpai... Eu...

- Shhh. Apenas finja que isso tudo foi um sonho muito bom.

- Não. Não posso fazer isso. Tudo realmente aconteceu, e eu não me arrependo disso... Em nenhum momento. - falou Iwasawa, pegando Hisako de surpresa. Será que...? - Eu acho... Acho que também amo você, senpai.

Involuntariamente, lágrimas escorreram dos olhos de Hisako. Ela quase não podia acreditar no que acabara de ouvir.

- P-poderia... Repetir o que disse? - falou uma Hisako emocionada e enrubescida.

- Eu amo você, senpai.

...

Os dias restantes à apresentação passaram numa velocidade absurda. Bem, tudo estava acontecendo rápido demais. Iwasawa e Hisako... Agora namoravam.

Mas ainda não haviam dado a notícia ao resto da banda ou ao pessoal da SSS. As garotas queriam fazer uma surpresa e ao mesmo tempo não queriam se preocupar com as consequências de assumirem o namoro ao "público" antes de um show importante. Os ensaios ficaram cada vez mais frequentes e produtivos nesse intervalo de tempo, e a banda ganhara confiança. Até mesmo havia surgido um novo integrante para a SSS. Yuzuru Otonashi. Ele havia sido encontrado desmaiado pela comandante Yuri em uma área da escola numa das tentativas de assassinato do anjo.

Mais pessoas entrando para a frente de batalha era algo ótimo, não?

Era o que se estimava. Mas as garotas não sabiam que a chegada de Otonashi traria várias consequências. Algumas delas... Irreversíveis. Para o bem ou para o mal.

...

Enfim, chegara o dia da apresentação. Todos estavam com as expectativas à mil. Girls Dead Monster virara uma banda bastante conhecida dentro da escola desde a sua formação. Parte da fama devia-se à Yui, que era a responsável pela propaganda, mas a maior parte da difusão devia-se ao talento das garotas. Ninguém podia negar que elas arrebentavam, e que a voz de Iwasawa era angelical. Os solos de Hisako e Sekine, a bateria de Irie... Tudo era feito com um imenso capricho e fazia jus aos comentários. Então, obviamente, todos estavam mais ansiosos do que nunca.

Iwasawa e o resto da banda estavam arrumando o palco quando...

- Vocês têm 5 minutos antes da operação distração começar. Se aprumem devidamente. - disse, de um nível mais alto do estande, Yusa, a "coordenadora geral de tudo". - Ah... Boa sorte. - mas ela também sabia ser menos robótica.

- Obrigada, Yusa. Podem abrir daqui a pouco que já estaremos prontas.

Iwasawa olhou para o seu violão com nostalgia.

- Lá vamos nós, companheiro.

Cinco... Quatro... Três... Dois... Um.

As luzes se acenderam, mostrando o público. Eram muitos. Mas as garotas não se intimidaram com a quantidade. Começaram logo com uma de suas músicas mais conhecidas. Uma Yui histérica gritava "Alchemy! Alchemy!" em meio aos outros espectadores.

"Mugen ni ikitai, mugen ni ikiraretara... Subete kanau!", começou Iwasawa, arrepiando a todos com a sua espetacular voz.

Enquanto isso, Hisako tocava como se sua vida dependesse disso. Queria corresponder à expectativa de todos.

E assim se passaram os primeiros minutos de show. Muita agitação, fãs cantando a letra da música junto com a vocalista da banda, Yui se descabelando... Tudo dentro do previsto. Todos foram ao delírio no refrão da canção. Era tudo realmente muito divertido.

- Ei! Parem o show! - gritara um homem mais velho que acabara de entrar no estande. Parecia ser o zelador ou algo do tipo. Vestia roupas verdes típicas de treinadores ou algo assim.

- O quê?! - gritou um dos fãs. - Vocês não podem interromper o show! Elas estão cantando para a gente! São o único tipo de diversão que nós temos nessa droga de escola!

Mas o homem não o deu ouvidos. Ele e outros rapazes que chegaram um pouco depois dele já subiam no palco e seguravam as garotas como se fossem prendê-las.

- Vou confiscar isso aqui... - falou o zelador, pegando no violão de Iwasawa... Algo que ele não deveria ter feito.

- Tire suas mãos! - gritou Iwasawa.

- O quê?!

- Eu disse... TIRE SUAS MÃOS!

E nesse momento, eclodiu um conflito no palco. Iwasawa se debatia para se soltar do homem que a estava segurando. Hisako dava uma cabeçada no que a segurava e conseguia se libertar, correndo para a câmara de operação dos equipamentos técnicos. Mesmo que por um único instante... Ela veria sua amada cantar de novo, nem que fosse pela última vez, já que acabaram de ser proibidas de fazer shows.

Ela iria aumentar o volume ao máximo! Entrou na cabine e mexeu nos botões, enquanto Yusa, que fora derrubada no chão por um dos homens impedia outro de correr atrás de Hisako segurando sua perna e fazendo-o cair.

Iwasawa conseguira se libertar. Ela já estava com o violão em sua posse de novo. O volume já havia sido aumentado por Hisako.

Iwasawa iria tocar... Sua última música.

Começou a dedilhar. Todos estavam atônitos. Até mesmo o zelador olhava sem compreender nem fazer nada.

Aquilo não era uma música típica da Girls Dead Monster. Era... Tão calma. Uma balada triste e melodiosa que parecia revelar todo o sentimento que Iwasawa conteve durante toda a sua vida.

"Joushiki butteru yatsu ga waratteru tsugi wa donna uso wo... Iu. Sore de erareta mono daiji ni kazatte okeru no..."

Os espectadores reagiam de maneiras diversas, alguns estavam tão perplexos quanto o zelador e seus rapazes, outros, como Yui, estavam emocionados.

Iwasawa tocava como se o mundo fosse acabar. Ela colocava todo o seu coração naquela canção, que viera compondo desde que acordara podendo cantar novamente. Aquela música possuía um significado extremamente importante para a garota e era realmente linda.

Iwasawa não se arrependia de nada. Ela havia feito tudo de acordo com os seus princípios, nada nem ninguém poderia condená-la por qualquer coisa que fosse.

Ela havia vivido intensamente suas duas vidas, aproveitando ao máximo cada momento, valorizando os pequenos detalhes que tornam o mundo muito mais belo. Claro que nem tudo ocorrera do jeito que ela esperava, mas nada fora ruim. Hisako se tornara uma parte importantíssima de sua existência, e a garota entristecera-se por não possuir mais forças para continuar a viver naquele lugar. Ela a amava, mas reconhecia que já havia conseguido tudo o que sonhava e mais um pouco. E ela estava profundamente agradecida a todos por isso.

E então veio o refrão.

E a garota colocou sua vida nele.

"NAITERU KIMI KOSO... KODOKU NA... KIMI KOSO! TADASHII YO, NINGEN RASHII YO. OTOSHITA NAMIDA GA KOU IU YO, KONNA NI MO UTSUKUSHII, USO JANAI... HONTOU NO... BOKURA WO... ARIGATO!"

...

E Iwasawa já não estava mais lá. Desaparecera como mágica, e o seu violão caía no chão, como que em câmera lenta.

Ninguém estava entendendo o que acabara de acontecer, mas Hisako tinha uma ideia do que poderia ter sido.

O importante era o que ela tinha acabado de ver.

Iwasawa sorrindo como jamais sorrira em sua vida, bem antes de desaparecer. Ela parecia estar em plenitude consigo mesma. Desaparecera sem arrependimentos. E acima de tudo, Hisako sabia que o amor das duas era capaz de superar as maiores barreiras, sejam concretas ou espirituais.

Desde aquele dia, Hisako passara a sonhar todas as noites com aquele sorriso... que talvez jamais veria novamente.

Mas que estava agradecida por um dia ter existido.

Quem sabe em uma outra reencarnação, não?

FIM.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.