Ao chegar depois do termino das aulas fui direto para a cozinha onde minha mãe por um milagre estava cozinhando.

-Oi, Jeanne. – Cumprimentei minha mãe como sempre faço
chamando-a simplesmente pelo nome como ela sempre insistiu para eu chamá-la.

-Olá, Dominik. –Disse ela pegando o sal no armário, eu sempre odiei esta mania dela de me chamar de Dominik, meu nome é bem comprido e formado por diversos outros nomes, acho que arco com as conseqüências de ter uma família de origem antiga e grande.

-Steve. –sussurrei sentando-me na sala em uma das poltronas.

-Se troque antes de se sentar e ficar assistindo TV o dia todo. –Disse ela fria e autoritariamente.

-Sim senhora. –Falei subindo as escadas em espiral de minha casa. Sempre odiei minha casa, pois nada ali era como eu queria, os cinco quartos eram grandes e isto era bom, mas todos eram pintados de branco e a general Jeanne Marie Dolavich e etc. Nunca me deixaria pintar nem um cômodo daquela casa, os corredores eram revestidos com carpetes felpudos no chão, mesmo minha mãe sabendo que sou alérgico, brancos a maioria, tudo ali me pareciam labirintos e o pior de tudo basicamente tudo ali é feito de vidro! , paredes de vidro, estante de vidro, portas de vidro mesas de vidro e no quarto de minha mãe tem até mesmo um criado mudo de vidro, mas nunca reclamei desta já que no fundo eu gostava de morar ali mesmo com todas aquelas frescurites de Jeanne.

Suspirei enquanto me vestia e ao mesmo tempo tentava arrumar
minha cama que sempre ficava bagunçada já que estudo de manhã e pra minha sorte minha mãe perfeccionista nunca entrava ali.

Desci as escadas pulando os degraus de dois em dois para chegar mais rápido.

-Já disse para não pular nas escadas, elas foram caras sabia?
–Disse Jeanne seriamente enquanto eu me perguntava se ela dava mais valor a mim e minha segurança ou a suas caríssimas escadas de... Sei lá... Mármore talvez.

-O que tem para o almoço? – Perguntei sentando-me no sofá e
me alongando como a muito não fazia.

-Lasanha. –Disse ela colocando a comida na mesa de jantar com todo o cuidado possível.

-Oba! – Falei verdadeiramente animado já que além de adorar
lasanha esta era a única comida que minha mãe sabia fazer bem.

Liguei a TV e deixei no Nickelodeon sem realmente prestar
atenção no programa, minha atenção era para minha mãe por que eu nunca havia visto a loira pálida de olhos castanhos, magra e alta cantarolando como uma verdadeira dona de casa que espera o marido de vestido florido, no caso a única diferença era que minha mãe usava ao invés do vestido florido, uma calça social preta, e uma camisa social branca ela era advogada, eu acho, já que ela nunca me contou nada sobre seu trabalho. O mais estranho era que ela colocou um prato a mais na mesa e isto não era normal, bem o fato de ela cozinhar nunca foi
normal era dito como raro em nossa casa. Ainda bem que existe comida
instantânea.

Senti minha testa se enrugando em sinal de duvida e assim fui até a sala de jantar e fiz a pergunta mais idiota do mundo:

-Alguém vem aqui? –Perguntei e a vi afirmar com a cabeça – A
Carolina? –Perguntei supondo que provavelmente seria a secretaria ruiva de minha mãe que iria vir para almoçar conosco novamente, ela era muito legal e animada.

-Não e não seja curioso você não conhece... –Disse ela sorrindo de maneira surpreendentemente maternal.

-Ma... –Fui interrompido pela campainha, e logo não vi Jeanne mais ali.

Fui para sala e me afundei no sofá já que eu poderia ouvir muito melhor dali, mesmo isto sendo algo incorreto.

-Bonjour mon cher* - Pude ouvir alguém falar em uma
pronuncia excelente de Frances, mas não fiquei feliz por uma voz masculina dizer “Olá minha querida” para minha mãe em um tom galanteador. Em questão de segundos minha mãe e um homem alto moreno e de terno preto entraram na sala com as mãos entrelaçadas.-Dominik este é Dennis, Dennis este é Dominik meu filho. –Disse minha mãe e assim que ela falou a palavra filho o sorriso que estava no rosto do homem desapareceu e se transformou em uma expressão de desgosto e
nojo. Eu acenei com a mão para ele sem fazer questão de me levantar ou falar algo, estava tão óbvio.

-Você não me disse que tinha um filho. –Disse ele encarando minha mãe com um sorriso no rosto que era tão forçado que parecia que sua gengiva ia rasgar.

-Você nunca me perguntou-Disse Jeanne soltando risadinhas.

-É ele que veio almoçar com a gente? –Perguntei seco cortando o clima entre o casalzinho apontando com desgosto para o tal Dennis.

-Sim, Dennis é representante de uma empresa. – Ele arregalou os olhos e cochichou:

-Não contou a ela? –Perguntou ele enquanto eu trincava os dentes já que minha aparência nunca foi muito máscula, mas ser chamado de ela era demais.

-Ele, e, além disto, eu achei melhor prepará-lo compreende? –O homem sorriu um sorriso que derreteu a mulher que eu pensava ser fria como uma rocha às vezes.

-Tudo bem querida. –Ele olhou para mim com um olhar amigável, mas mesmo assim pude sentir a infelicidade e o desgosto por supostamente ter que dividir Jeanne comigo.

-Bem, vamos almoçar antes que a comida congele? –Disse ela e
os dois foram até a cozinha esquecendo-se de mim por completo. Suspirei e os segui já planejando meu futuro em alguma academia militar na França ou em qualquer outro lugar, sou meio pessimista.

Sentei-me na mesa sem animo e vi minha mãe nos servir como
se aquilo fosse algo puramente comum como se já houvesse ocorrido milhares de vezes e realmente aconteceu só que... Antigamente era com meu pai.

Comemos sem animo, pelo menos eu, quando terminei fui direto
para a cozinha deixei meu prato na pia e corri para meu quarto para não ter que presenciar certas cenas muito menos interroper, odeio ser intrometido.

Fiquei pensando em minha cama, fiz minha lição ali mesmo e
antes de terminá-la pude ouvir minha mãe gritando um “Tchau Dominik” e o estrondo da porta. Suspirei e sorri eu finalmente estava sozinho, corri e
fiquei pulando nas escadas de propósito ri sozinho e liguei o radio no máximo colocando um Cd do Green Day que possuía minhas musicas favoritas era assim todo o santo dia lá em minha casa com uma mãe que só voltava para casa lá pra três horas da madrugada, ou seja, eu podia fazer o que bem entendesse, mas mesmo assim eu não conseguia parar de pensar em como Jeanne era apressada mal havia se divorciado direito, na verdade há uns cinco meses, e já estava com outro cara, claro que eu já sabia da existência de Dennis já que sempre fui xereta e quando Jeanne não estava olhando dava sumiço em seu celular.

Enquanto fuçava em coisas banais em meu notebook com o som
as alturas nem percebi meu celular tocar só depois de umas quatro chamadas que atendi e para minha felicidade era meu pai.

-Alô?

-Moleque por que não atende esse celular? –Perguntou Jonathan com seu tom grosso e preocupado que usava para me repreender.

-Desculpa o som estava alto. –Falei rindo da situação, meu pai sempre foi uma pessoa meio grossa, mas se preocupava realmente comigo e isto era seu ponto extra no quesito família.

-Esta bem, você pode vir aqui amanhã? Quero te falar uma coisa muito importante. –Estreitei os olhos e gemi em sinal de interrogação.

-Por que não fala pelo telefone? –Perguntei ouvindo um suspiro vindo do outro lado da linha.

-Só responda a pergunta Dominik. –Disse ele fazendo-me
bufar, sempre me impressionou como Jeanne e Jonathan tinham a mania de me chamar de Dominik, parecia provocação.

-Steve. –Falei corrigindo-o – Sim eu posso esta bem? Jonathan? -Perguntei provocando-o, mas isto teve efeito contrario já que ouvi risos abafados do outro lado da linha.

-Tchau... Steve... –Disse ele desligando o telefone sem esperar por minha resposta.

-Tchau, papai... –Sussurrei mesmo sabendo que ele não estava
mais me ouvindo.

Sorri. Sempre gostei muito de meu pai, não que eu gostasse
dele mais do que de minha mãe, mas eu, mesmo morando com Jeanne tinha mais afinidade com ele, Jonathan também era severo comigo, mas conversávamos bastante pelo celular computador e pessoalmente de vez em quando; minha mãe disse que sou parecido com ele e ele diz que sou a copia exata de minha mãe e eu simplesmente acho que com exceção dos lábios finos e da cor de meu cabelo o resto era de minha mãe. Hilário.

Voltei a meu notebook pensando em como aquela minha família
era estranha, minha mãe e seu perfeccionismo, materialismo, severidade e maternidade; meu pai com sua grosseria, companheirismo, ciúmes e seu extremo paternalismo.

Uma família dividida, claro, mas que mesmo assim eu gosto dela, gosto de meu pai de minha mãe e de todos os meus familiares que conheço. Eu adorava aquela família completamente desunida, mas quase toda ela ficaria aqui, no Brasil, se eu fosse embora.