Acordei no sofá com os olhos pesados, sentindo uma mão em meu ombro e uma voz calma dizendo:

-Dominik vai Dominik não enrole você precisa ir logo para a escola ou então vai perder a avaliação e isto eu não admito!- Disse Jeanne com sua voz seria como de costume.

-Mãe o que? Que horas são?- Falei meio grogue.

-É hora de Dominik ir para a aula! E é Jeanne. –Disse ela saindo dali enquanto e esfregava os olhos tentando ver onde estava e eu estava em casa na sala com edredons pesados sobre mim.

Fiquei observando o local até que senti algo se mexer em meu colo e eu já tinha idéia do que era... O gato...

-O que? –Perguntei como se não fosse óbvio.

O gato saiu de baixo das cobertas sacudindo a cabeça rapidamente e logo miou para mim deixando-me desesperado já que Jeanne estava caminhando até mim com uma xícara de café em mãos.

-Jeanne, o gato, eu, eu não sei, eu juro que não sei de onde ele veio! –Falei levantando as mãos em sinal de rendição.

-Tudo bem, pode ficar com ele. –Fiquei terrivelmente surpreso. Jeanne era uma mulher que não gostava de animais já que eles, bem não é que ela não gostava era mais por eles, segundo ela, fazerem muita bagunça e sujeira.

-Mas eu não quero... –Falei sem pensar já que este gato poderia ser de outra pessoa.

-Então tudo bem... –Disse ela sentando-se em uma poltrona e ligando a TV.

Fiquei encarando-a, Jeanne nunca fora assim digamos uma pessoa que encerrasse um assunto de maneira tão simples.

-Vai se arrumar Dominik! –Disse ela em tom baixo, mas em sinal de ordem que nunca poderia ser contrariada.

-Steve! –Falei já nas escadas.

Arrumei-me rapidamente, tomei café com leite e alguns doces. Nunca tive uma alimentação saudável.

A ida até a escola foi lenta, mas cheguei a tempo. As aulas foram como de costume e foi anunciado o inicio da gincana de festa junina cujo premio era duas horas de boliche, não tive muito interessado até que vi que este poderia ser a ultima brincadeira que eu ia fazer na escola. Então anotei tudo que tinha que anotar em minha agenda e no intervalo conversei com Stefanie:

-Como assim França?! -Berrou Stefanie enquanto eu revirava meus olhos. Ela e suas reações exageradas...

-Primeiro fale mais baixo, segundo eu acho que eu vou pra França... –Sussurrei fazendo movimentos com as mãos como se ela não entendesse o que eu falava.

-Ai, isso não é legal... –Disse ela sentando-se nas escadas apoiando o cotovelo no joelho e a cabeça na mão bufando como se estivesse super entediada.

-Que cara é essa? –Perguntei encarando-a sem animo.

-Olha se você, se você vai mesmo então a gente tem que passar em um lugar muito importante antes. –Disse ela refletindo, apesar de que ela quando esta refletindo fica encarando o nada com os olhos arregalados como se fosse uma otária ou maluca.

Observei-a por um tempo, ela continuava daquele jeito pensando.

-Stefanie vem cá! –Ouvi alguém gritar por ela e no mesmo instante ela se levantou e começou a caminhar até uma mesa onde algumas garotas provavelmente de sua sala estavam.

-Vem ED! –Disse ela enquanto eu erguia as sobrancelhas já que a classe em que ela estava não gostava de mim porque eu ofendi intensamente uma menina de lá que começou a me ofender chamando-me de zumbi ambulante e do jeito que sou simplesmente disse a ela que caveiras de ossos tortos deveriam se olhar no espelho antes de falar de zumbis que pelo menos possuem carne entre outras coisas assim.

Mesmo a contragosto a segui e fui recebido com expressões nada amigáveis da mesa lotada de meninas.

-Gente este é o ED.–Disse ela como se eles não soubessem.

-A gente sabe. –Falaram elas em coro sem animo e com certa raiva.

-Ta legal, o que é? –Perguntou Stefanie cruzando os braços.

-Ste... Eu tava pensando em ir ao Avalon sabe fazer uma visitinha você e o ED não querem ir? –Perguntou Laura, Stefanie e eu estudamos com ela a um bom tempo ela e Stefanie eram umas das únicas pessoas que se dão bem comigo naquela classe de doidos que é o sétimo ano A...

-Steve... –Falei corrigindo-a enquanto ouvia murmúrios de alguns meninos da sala delas que estavam por ali dizendo com uma voz enjoada e fina meu nome.

-Nossa isso é realmente uma coincidência eu queria ir mesmo lá. –Disse Stefanie realmente surpresa.

-Então, combinado a gente vai hoje assim que sairmos da escola já que hoje não tem sexta aula. –Disse Laura bebendo seu refrigerante e observando algo com o canto do olho.

-Laura está ai ou em outro planeta?–Disse Milena provocando Laura esta nem ouviu.

Milena não era minha fã, mas até que falava comigo em certas ocasiões.

-Que cara é essa? –Perguntou ela observando-me com cuidado. Como se algo estivesse errado comigo se é que não tem.

-Sou... –Fui interrompido.

-Ele sempre teve essa cara de ameixa seca. –Disse Stefanie fechando os olhos, empinando o nariz e colocando as mãos na cintura enquanto eu pensava se era mesmo verdade o ditado de que homem que bate em mulher é covarde.

-Ta legal, carrasco sinto muito por não ter olheiras como você. –Risos vieram da mesa, tímidos, mas vieram.

-Diga adeus Dominik... –Senti arrepios, Stefanie só me chamava de Dominik quando estava querendo briga, ou seja, era quase sempre.

Comecei a me afastar lentamente dali não por medo e sim porque a atmosfera do lugar estava horrível todos fingindo que não existo não que eu me importasse com isso, menos Stefanie que estava me observando atentamente, como se realmente estivesse querendo me matar, suspirei e fui me sentar em algum lugar onde algumas pessoas de minha sala estavam.

-Steve, o que você acha de nós pedirmos a diretora para decorarmos a escola ou só a nossa sala mesmo? –Perguntou Paty com sua voz doce e enjoada, mas que surpreendentemente eu gostava; Patrícia Cristina de Souza Soares, ela era minha amiga estranho porque quando nos conhecemos brigamos por conta de sua falta de atenção, trombamos um no outro e quase caímos escadas abaixo na escola.

Bufei, Paty era como qualquer garota, apaixonada por Justin Bieber, Restart, Cine, NX Zero e companhia. A única coisa que a diferenciava das garotas ditas como comuns era simples e claramente seu estranho habito de colecionar insetos, eu não ligava pra isso, mas sempre achei estranho ou simplesmente diferente.

-Não seria má idéia... –Respondi enfim, realmente seria uma boa idéia assim eu poderia ter algo com que me distrair, nossa escola deixava em algumas ocasiões os alunos decorar o local e como estávamos próximos a festa junina não seria algo impossível...

-Então... Ok.Vamos lá na diretoria? –Disse ela já me arrastando com sigo como se eu fosse seu brinquedo, se é que eu não era...

Na diretoria falamos com Ângela a coordenadora do colégio e ela aceitou desde que ficasse sendo informada do que íamos fazer sem exceções.

Com o termino das aulas acompanhados do pai de Laura a mesma, Stefanie e eu nos dirigimos a nossa antiga escola o Colégio Avalon.

Ao chegar à entrada da escola Stefanie tocou a campanhinha toda ansiosa já que ela sempre adorou aquele colégio. Ouvimos a voz da secretaria Patrícia que logo abriu os portões quando nos reconheceu a abraçamos carinhosamente fazia muito tempo, na verdade menos de dois anos, mas quando gostamos muito de alguém parece uma eternidade, falamos com Tatiana à diretora que também nos recebeu carinhosamente e nos conduziu até nossa antiga classe e lá todos os alunos que eu não conhecia ficaram inquietos e os que conheciam quase derrubaram tudo para nos receber...

-Laura, Stefanie, Nick! Que saudade! –Disse Lidia pulando em Stefanie enquanto eu me preparava para corrigi-la, mas deixei quieto estava realmente com muita saudade dela uma das melhores amigas que já tive então acho que não havia problema de ela me chamar desta maneira.

-Lidia deixa de ser exagerada!– Disse Nicolas provocando-a, ele era também um amigo meu era muito legal, mas às vezes dava cada mancada! Ou então fazia cada besteira que olha pode acabar com nossa amizade!

Conversamos um pouco, mas como ainda era horário de aula para eles tivemos que ir; foram apenas alguns minutos, mas foram suficientes para me fazer feliz um dia entre amigos é algo muito precioso, precioso demais para ser jogado fora.

Quando cheguei a minha casa sentei-me no sofá e relaxei um pouco me lembrando de que eu tinha um gato agora e que eu não tinha a mínima idéia de onde este animalzinho estava então comecei a chamá-lo.

-Gatinho? Chaton*? –Arrisquei até a chamá-lo em francês, mas nada nem mesmo uns miados puderam ser ouvidos, então simplesmente esqueci e relaxei no sofá, e quando comecei a procurar pelo controle de minha teve de tela plana acoplada na parede viro-me para a esquerda e vejo o gato me encarando sentado no braço do sofá com seus olhos grandes e amarelos!

Quase grito como uma donzela se não fosse pelo barulho da porta que estranhei já que minha mãe as quartas-feiras não almoçava em casa.

Como sou curioso me dirigi até a cozinha que dava de cara com o corredor da porta de entrada e lá vejo um homem fechando a porta com cuidado o reconheci de primeira, era Dennis!

“O que aquele cara queria aqui afinal e como entrou?” Eu me perguntava sem parar.

Postei-me frente à entrada da cozinha e quando ele se virou assustou-se enquanto eu, com a maior cara de pau, falei:

-Comment puis-je vous aider chere?** - Perguntei vendo-o se encolher todo.

-Eu, o que faz aqui Steve? –Perguntou ele tentando se safar de meu interrogatório com seu sorriso brilhante.

-Pra você é Dominik Dolavich... –Falei tentando intimidá-lo com sucesso.

-Eu, eu só vim ver se sua mãe estava por aqui? –Disse ele como se eu fosse acreditar.

-Em dias de quarta ela almoça no serviço você deveria saber. –Falei caminhando em sua direção.

-Ta legal, moleque eu confesso, vim aqui para arranjar algo para comer e você não se meta disse ele passando por mim.

-Você acha que eu não vou contar pra minha mãe? –Perguntei com sarcasmo.

-E dai? Em quem você acha que ela vai acreditar? Em mim ou no pirralho que não quer ir para França? –Disse ele assaltando a geladeira.

-Como sabe que eu não quero ir para França? –perguntei tentando manter o tom de minha voz.

-A verdade está escrita na sua cara Dominik! –Disse ele com um pedaço de bolo na boca, quando vi a cena pensei em como minha mãe estaria se visse a cena de seu namorado perfeito comendo igual a um porco. –Ah e se você não sabe, nós combinamos que ela vai te deixar na França com os pais dela e voltar para nos casarmos aqui! –Disse ele se dirigindo para sala com uma quantidade imensa de comida em mãos e sentando-se no sofá, quase sobre o gatinho.

-Seu... Seu canalha idiota filho da mãe! –gritei avançando para ele que assistia TV como se estivesse em sua casa.

-Moleque pare com isso não vai adiantar nada fazer birra, o que esta, feito esta feito. –Disse ele como se fosse superior enquanto eu tentava acertar um soco em sua cara.

-Canalha aposto que nem emprego tem! –falei enquanto ele ria e me segurava.

-É moleque você acertou! –disse ele rindo e acertando um soco em minha face. –Eu só estou com sua mãe por puro interesse! – Disse ele saindo de minha casa enquanto eu esfregava meu rosto e passava o dedo por minha boca que sangrava um pouco.

Senti varias lagrimas escorrerem pelos lados de meu rosto sem controle, como minha mãe poderia fazer aquilo comigo, logo eu que sou seu filho que nasci dela?

Fiquei ali chorando como uma garota estúpida pensando em como pude ser deixado de canto só porque minha mãe havia arranjado um namorado?

Levantei-me com raiva do mundo e me joguei no sofá que estava cheio de restos de comida daquele porco sujo nojento e sem vergonha, só que o pior era que eu não estava com raiva dele e sim de mim por saber que se eu contasse algo para minha mãe com referencia a isso ela não acreditaria em mim ou ficaria triste assim como ficou após o divorcio com meu pai apesar de que ela nunca demonstrou isso...

(**Comment puis-je vous aider chere significa “Como posso ajudá-lo querido?;*Chaton significa gatinho ou gato.)