Com o tempo livre após o almoço, Viviane deu algumas voltas com Emilly pelo teatro, e ambas evitaram cruzar caminho com Edward. Matt encontrou as garotas um tempo depois, e então o trio decidiu sair para reencontrar aqueles artistas que se apresentaram antes. No meio do caminho, Matt encontrou um parente seu, um primo que também morava em Paris.

— Olá, Josh. Há quanto tempo, não? ­—Cumprimentou o garoto, após um aperto de mãos. E então olhou para suas amigas.— Essas são Viviane e Emilly, minhas amigas lá do teatro.

— Prazer, meninas. — Falou o outro, apertando a mão de ambas as garotas. — Sou o Josh.

— Prazer. — Emilly falou sorrindo, copiada por Viviane.

— E quanto ao seu trabalho? — Perguntou Matt.

— Está bem. Ganhei um dia de folga hoje.

— No que você trabalha, mesmo, Josh? — Viviane perguntou.

— Numa loja de fast food aqui em frente. Não é só falando por falar nem nada, mas vocês iriam gostar da comida de lá.

— Ótimo! Já sabemos onde podemos onde ir caso bata aquela fome. — Comentou Emilly.

Todos riram com o que a garota disse, porém foi verdade. Josh não pôde ficar mais tempo, pois tinha um compromisso em alguns minutos com sua noiva. Mais tarde, após andarem pela cidade, os três resolvem fazer uma pausa para irem a lanchonete na qual o primo de Matt trabalha. Eles sentaram numa mesa e jogaram conversa fora, até chegar num ponto onde Emilly comentou sobre seu irmão e as brigas que ambos tinham quando menores — como a discussão sobre um estrondo, no qual um dizia ser um avião, e a outra, um metrô — e isso fez sua amiga lembrar da discussão que tivera com ele mais cedo, deixando-a tensa outra vez. Obviamente, seus amigos perceberam e quando perguntaram o que estava acontecendo, ela respondeu, mudando rapidamente a expressão no seu rosto, que estava apenas com a cabeça em outro lugar. E voltaram a ter uma tarde bastante tranquila, até Emilly lembrar dos seus peixes, convencendo Viviane e Matt a retornarem ao teatro.

Viviane, enfim pôde descansar por um tempo até a hora do jantar. Ela, milagrosamente, conseguiu conversar com sua irmã por longos minutos.

— Oi, irmãzinha.

— Irmãzinha?! — Vitória respondeu, depois de dois minutos. — Acho que os papéis inverteram...

— Inverteram mesmo, já que, pelo visto, eu sou a irmã mais preocupada. — Viviane brincou, arrancando umas risadas da irmã.

— Não seja por isso! Estava pensando em falar com você agora há pouco.

— Certo, vou fingir que acredito. — Viviane comentou, antes de enviar outra mensagem, mudando de assunto. — Enfim, e quanto à viagem?

— Ah sim! Já está tudo programado. Até preparei as passagens. Reservei meu lugar na primeira classe, inclusive!

— Que ótimo! Eu estarei esperando!

E quanto à você? Novidades para me contar?

O mesmo de sempre... Aulas, ensaio... Fora uns passeios no tempo livre!

— Estou curiosa. Manda mais fotos! Meu intervalo, infelizmente, está acabando.

— Tudo bem. E acho que o jantar já está sendo servido.

— Então, até mais tarde!

— Até! — Com isso, Viviane saiu do quarto e foi até o refeitório.

Lá ela se serviu com um bom jantar, com direito à sobremesa; que era servida apenas nos fins de semana — sexta e sábado. Foi até tranquilo e sem preocupações. Nada de Lorraine ou Edward para irritá-la. Só de lembrar do seu professor, a garota sentiu um aperto no peito... Achava que, pelo menos, podiam ser amigos. Nunca esperava aquela reação, e ainda por cima, por causa de uma mensagem. Uma que ela nem imaginou escrever, muito menos enviar. "Está certo, Viviane." Pensou. "Já chega de pensar num cara que nem sabe o que quer. Está parecendo suas amigas da escola, que sofriam por um garoto que estava pensando até num universo paralelo menos nelas." Ela revirou os olhos e voltou a comer.

No dia seguinte, antes da aula dar início, o professor sussurrou para a corista principal:

— Eu achei que tinha sugerido você a mudar de turma. — Sua voz ainda continuava a mesma dos últimos dias: grave, grossa e severa.

— É uma boa sugestão, — Respondeu Viviane. E apesar da ironia, ela não sorriu; ficou séria, demonstrando não sentir efeito nenhum nas ameaças dele. — mas vou ficar aqui mesmo. Pelo menos até o fim dessa apresentação, já que até lá, vou subir mais no nível de bailarina.

Edward se afastou mantendo a mesma expressão, e assim deu início à sua aula. Que seguiu com a nova "rotina": Viviane dançava como anteriormente, com um sorriso no rosto — um sorriso um tanto verdadeiro para ser apenas atuação — e uma olhada para o canto direito do seu rosto; enquanto isso, Edward instruía seus alunos, falando bem pouco com Viviane, apenas para disfarçar que estava nem querendo ver com a moça, mas isso foi logo notado por Emilly, que começou a desconfiar. No fim da aula o professor decidiu falar mais uma vez com Viviane, mas ela recusou, saindo da sala completamente séria, deixando todos os que estavam presentes muito confusos. Mas Edward não desistiu e foi atrás dela, até chegar no quarto.

— Não ache que só dizer "não" vai me impedir de falar com você. — Ele esbravejou.

— E o que você quer falar? Até onde eu saiba, não fiz nada de errado.

— E aqueles passos? Eu falei mil vezes que estavam errados!

— Isso você disse, mas me disse quais eram os certos? — Viviane disse, segura de seus argumentos.

— Escute...

— E ainda por cima, sou destaque do coro. Eu tenho que ser diferente dos demais.

— Me escute, garota! — Aquela palavra arregalou os olhos de Viviane. Nunca ele se atreveu a chamá-la de "garota". Para isso, sua amizade com ele deveria estar abaixo de zero. — Você está subestimando o cargo que acabou de ganhar! Vou ajudá-la, mas é melhor que...

— Me ajudar?! Agora quer me ajudar? Quando não preciso mais da sua ajuda?

— Não precisa? — Edward ironizou, e antes que falasse mais alguma coisa, Viviane logo disse.

— Há muito tempo não preciso. Não da sua ajuda! Quer saber? Nem vou perder mais o meu tempo. Sai do meu quarto! — Viviane esforçou o máximo para as lágrimas de raiva não caíssem, embora algumas gotas escapassem.

— Não me diga que está se dando melhor sozinha. Consegui colocá-la no cargo, posso muito bem tirá-la.

— Acha que isso vai me impedir? Eu sei muito bem como chegar até o topo! — Viviane estava quase gritando, andando em direção ao professor. Então não tente me ameaçar de... — Ela, repentinamente, foi calada com seu próprio grito, pois sentiu as costas dele encostar brutalmente abaixo de sua bochecha, fazendo-a cambalear, com a pressão, até a cama. Depois de uns segundos tentando entender o que havia acontecido, ela foi outra vez na direção dele, empurrando-o, com ambas as mãos, seu peito até a porta. E repetiu gritando com uma ira imensa: — Sai do meu quarto! — Ela o virou e o empurrou para fora, trancando a porta logo em seguida. Sentou-se na parede, abraçando suas pernas e encostando sua cabeça nos joelhos chorando.

O vulto tocou nos cabelos dela e sussurrou que esteve arrependido por não ter impedido o que acabou de acontecer. Então saiu dali, sem esperar uma resposta dela, e foi até o quarto de Edward, que era diferente dos dormitórios dos bailarinos. Ele verificou tudo, e só com um olhar, o que via, subitamente se mexia, fazendo as coisas caírem ou voarem. Porém, depois de ter terminado o serviço, aguardou a chegada do dono do quarto, afinal, era ele quem queria derrubar.