Natasha entrou na sala resmungando coisas que eu não ousaria escrever ou repetir. Nem que você iria querer alguém dizer.

– Não precisava brigar com ele. – Helena falou em um tom baixo e triste, tão triste que te faria chorar, se você pudesse ouvir.

– O que você tem haver com isso? – Natasha perguntou correndo os olhos pela sala, mas não encontrou Lena.

– Tudo. – Lena respondeu caindo de pé atrás dela. – Ele só estava tentando ser legal. Diferente de você, ele não tentou me matar.

– Ainda cisma com isso? – Natasha questionou como se fosse um absurdo.

– Vou cismar até as marcas de seus dedos sumirem do meu pescoço. – Lena retrucou. Natasha fungou.

– Barton falou que você tem uma boa mira. – ela cruzou os braços.

– E daí? – Lena questionou.

– Vamos ver se você é boa com uma arma. - Natasha falou tomando a dianteira pra fora da sala. Lena a seguiu já imaginando onde Natasha a levaria.

Elas caminharam pelo corredor, onde agentes iam e vinham, entravam e saiam das salas. Natasha abriu a porta de uma sala e deu espaço pra Lena entrar, e assim ela o fez. Era uma sala pra treinar tiros. Haviam várias cabines, cada uma direcionada pra um alvo. O som era ensurdecedor, principalmente pra Lena que tinha seus sentidos naturalmente apurados. Natasha se dirigiu à uma prateleira com vários tipos de armas. Natasha pegou duas Berettas 92 semi-automáticas, e entregou uma à Lena.

– É modelo espião? – Lena arriscou.

– É sim. Conhece?

– Um pouco. Meu primo por parte de pai coleciona esses brinquedinhos. – ela falou avaliando a arma. – Não gosto de armas de fogo. Principalmente quando estão nas mãos das pessoas erradas.

Natasha espreitou os olhos e tomou a dianteira entrando numa cabine. Pegou um fone abafador, e deu outro à Lena que colocou.

– Você já fez isso antes? – Natasha perguntou puxando Lena pelos ombros de forma que ficasse de frente pro alvo.

– No HALO conta? – Lena perguntou.

– Só se você encontrar um vilão nerd. O que é pouco provável, portanto, não. Não conta. – Natasha respondeu. – Tá, vamos começar. Erga a arma na altura do nariz. Segure com as duas mãos e longe do rosto. Ou ela vai ricochetear e seu rosto vai ficar bem pior que o seu pescoço está.

– Tá bem. – Lena concordou fazendo exatamente do jeito que ela mandou.

– Mais pra cima. – Natasha falou erguendo o cotovelo de Lena na altura do nariz. Mirou e atirou, mas estava travada, portanto, foi inútil. Natasha bufou e tirou a arma das mãos de Lena destravando.

– Você não sabe mesmo lidar com isso. – ela reclamou.

– Eu sei como lidar com isso! – Lena reclamou tomando a arma das mãos de Natasha, mas no movimento acabou atirando na direção da prateleira de armas, e os agentes que estavam ali soltaram as armas e ergueram as mãos em sinal de rendição.

– Não. – Natasha retirou delicadamente a arma das mãos de Lena. – Não sabe.

– Talvez queira me mostrar então. – Lena desafiou. Natasha ergueu a arma com uma mão e atirou em cheio na cabeça do alvo, sem sequer desviar os olhos de Lena. – Exibida. Que nem o Clint.

Natasha deu um pequeno sorriso. Desta vez era sincero, coisa que ela nunca vira em sua mentora. Natasha estendeu-lhe a arma.

– Sua vez.

Lena pegou e mirou novamente. Desta vez se certificou deque estava destravada. Manteve a arma na reta do nariz e mirou o peito do alvo. Mantendo os dois olhos abertos e fixos no alvo. Atirou, acertando em cheio... na parede. O alvo permanecia intacto. Natasha riu.

– Com uma arma, você tem a típica mira de um policial americano. Acerta até no encanamento, menos no alvo. – Natasha zombou. Lena concordou colocando a arma na mesa ao lado. – Tá bem. Olha, eu vou fazer de novo, preste atenção. – Natasha destravou sua arma e apontou, fazendo do jeito que mandara Lena fazer. Atirou, acertou em cheio na cabeça do alvo.

– Ah! Mas você fazendo, até parece fácil. Você faz isso à anos. – Lena reclamou pegando a arma de cima da mesa.

– Então tente de novo. – Natasha falou. Helena bufou e tentou novamente. Desta vez até conseguiu acertar um pouquinho mais próximo do alvo, só um pouquinho.

Elas passaram a tarde treinando com as armas. Natasha, apesar de não ser a pessoa mais doce do mundo, era uma instrutora paciente. Mostrava várias vezes como atirar, até Lena conseguir acertar. E mesmo assim, continuava fazendo com que ela acertasse de novo e de novo. Até que ela finalmente acertasse a cabeça do alvo. Depois, Natasha lhe ensinou como usar os outros tipos de armas.

Depois do treino...

– Por que não me ensinou com as grandes? – Lena perguntou enquanto caminhavam pelo estacionamento à caminho do carro.

– Armas de grande porte não é muito minha área.- Natasha respondeu. – Isso é mais departamento do...

– Carter!! – elas ouviram alguém chamar. Se viraram e viram Clint correndo na direção delas. Ele parou na frente delas.

– Sim, agente Barton, o que foi? – Lena perguntou.

– Aqui. Pelo seu primeiro manuseio no arco. – Clint lhe estendeu a flecha em suas mãos. – Essa foi a que você usou.

– Clint, é sua. – Lena recusou num tom delicado.

– Desculpa, mas não é o “meu” nome que tá gravado nela. – Clint falou deixando a flecha nas mãos dela. Lena olhou, confusa a flecha em sua mão. Era uma flecha padrão. Preta de metal, com ponta prata. Mas, tinha algo a mais ali. No cabo, perto da ponta, estava gravado em cor prata seu nome. Lena ficou boquiaberta. Segurou a flecha como se o próprio Bob Kane lhe tivesse entregado a primeira revistinha em quadrinhos do Batman criada. Clint e Natasha se olharam como se um soubesse o que o outro estava pensando, e num acordo silencioso, se desculparam pela discussão que tiveram mais cedo. Clint saiu sem que Lena percebesse. Natasha a cutucou.

– Pare de agir como se tivesse recebido o Oscar e entra no carro. – Natasha falou destravando o alarme do carro e entrando. Lena teria retrucado se não estivesse tão pasma. Apenas entrou e colocou o cinto.

Natasha dirigiu em silêncio. Não havia nada pra dizer. Até que...

– Por que brigou com ele, afinal? – Lena perguntou.

– Hum? Que foi? – Natasha perguntou como se despertasse de um transe.

– Com o Clint. Por que brigou com ele? – Lena tornou a perguntar.

– Bom... tem coisas que ... é difícil de explicar. Simplesmente acontecem.

– Então, brigou com ele por acidente?

– Eu tava com raiva! – Natasha protestou. – Eu tinha mandado você esperar na sala, mas você não tava lá, então fiquei preocupada, ainda mais depois que o Fury disse...

– Disse o quê?

– Nada. – Natasha cortou. – E... depois, ver que você estava bem... me deixou aliviada, mas ... com muita raiva.

– Mas por que se importa se eu estou bem ou não? – Lena perguntou.

– Se for pra mim ter que te treinar como castigo, quero fazer direito. – Natasha falou sem tirar os olhos da estrada.

– Por que que o Nick te colocou de castigo, afinal? – Lena perguntou curiosa.

– Você faz perguntas de mais, senhorita Carter.

– Quem sabe se você desse respostas satisfatórias, eu parasse de fazer perguntas. – Lena retrucou.

– Eu responderia com todo o prazer, senhorita. – Natasha balançou a cabeça concordando. – Se as resposta de suas perguntas fossem da sua conta.

– Bom, quem sabe se você melhorar um pouquinho suas emoções eu parasse de questionar.

– Ou vai ver só quer ganhar uma bolacha na cara.- Natasha deu de ombros.

– Viu? É disso que eu estou falando. Está fazendo de novo! – Lena falou.

– Não estou fazendo nada. – Natasha falou entrando na rua em que moravam.

– Eu não sei porquê, mas tenho a impressão de que você não é sempre assim. – Lena comentou.

– Como pode saber?

– Pela reação de Clint quanto ao jeito que você age comigo. – Lena respondeu.

– É. Uma observação interessante essa sua. – Natasha comentou estacionando. Lena desceu do carro.

– Até amanhã, Romanoff.

– Até amanhã, Carter.