Paisley Park, Chanhassen - 10:19 hrs

Um mês havia se passado desde o ocorrido. Apresentações, lançamentos, reuniões, todos foram cancelados. Naquele momento, mais do que nunca, ele queria ficar sozinho.

Era uma manhã agradável em Paisley Park. Após o café da manhã, Prince evitou o seu trabalho em uma raríssima ocasião e seguiu em direção aos seus jardins floridos, onde pensava em tomar um ar e refletir sobre pensamentos que o perturbavam.

Estava sereno. Todavia, mesmo Ted não ousava aborrecê-lo. Os funcionários se mantinham distante, aparecendo uma vez ou outra apenas para se certificar de que o cantor ainda estava bem, de que ainda estava ali, com eles.

Arrancou uma pequena flor de lavanda e passou a sentir o seu perfume enquanto caminhava tranquilamente pela bela passarela do jardim. Buscou um canto onde pudesse contemplar o horizonte enquanto sentia o frescor daquele aroma até que esvaísse por completo. Prince se acomodou em um banco que encontrou pelo seu caminho e soltou um suspiro profundo.

Instantes depois, Luna se aproximou e se acomodou ao seu lado.

— Oi…

Tomou um pouco de distância. Ela sabia como o cantor estava sensível, então preferiu respeitar o seu espaço. Desde o ocorrido, Prince não deu notícias, mas lhe enviava funcionários cheios de presentes toda semana, ela pensou que talvez fosse sua forma de lidar com a dor e dizer que estava bem.

— Ted me deixou entrar. Bom… você leu os jornais ultimamente?

Ele lentamente balançou a cabeça em negação, ainda olhando para o horizonte.

— Não toquei em uma mísera revista desde aquele dia.

Luna assentiu. Prince voltou a sentir o cheiro daquela pequena flor, interagir com alguma coisa lhe tirava um pouco o estresse.

— Você está bem…?

— Não. Não, Luna, eu não estou.

Ele suspirou, em seguida deu ombros e começou a girar discretamente aquela flor.

— Mas eu irei ficar bem. É só uma… é uma reação comum… é assim que fica quando se perde alguém que ama.

Luna sorriu discretamente.

— Você o amava…?

Prince não respondeu imediatamente. Fitou as pétalas arroxeadas da lavanda, como se elas falassem consigo. Parecia estar buscando forças.

— Ele criou a história dele… por onde passou, deixou o seu legado… morreu com glória… e, por fim, conquistou a liberdade.

Beijou aquela flor e, então, a lançou longe. Ficaram em silêncio, Prince não estava disposto a responder diretamente às perguntas da garota, então ela preferiu ir logo para o ponto principal da conversa.

— Tem uma pessoa que quer ver você…

Pela primeira vez, o cantor virou os olhos na direção dela. Luna deu as costas e fez um sinal para alguém se aproximar. Quando viu de quem se tratava, Prince sentiu seu coração parar por alguns instantes.

Um rapaz se aproximou. Tinha a pele clara e frágil, os cabelos curtos e escuros como o ébano, os lábios levemente rosados e um porte magro. O sorriso era discreto e dócil, as roupas eram confortáveis e ele parecia estar se recuperando de alguma lesão, pois andava com um pouco de dificuldade. Todavia, eram os seus olhos que entregavam a sua pessoa. Eram através daqueles olhos negros, profundos e enigmáticos que Prince conseguiu aceitar o que estava vendo diante de si, que o que estava contemplando não era ilusão de sua mente entristecida.

Ele estava paralisado. Com exceção do seu olhar estarrecido, nada no seu corpo reagia. Michael percebeu que ele mesmo teria que ir até o amigo, então tratou de apressar o passo. Com ajuda da Brooke, que o acompanhou, ele chegou ao cantor em poucos instantes e rapidamente lhe deu um abraço apertado.

Prince sentiu as pernas cederem. Suspirou, criou forças, devolveu aquele abraço e chorou em seu ombro, em profundo silêncio.

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Depois daquele reencontro inesperado, aquele jardim parecia um pouco mais colorido.

Luna estava ao lado de Prince, que estava agarrado ao braço de Michael, que estava abraçado à Brooke. O cantor não estava nem um pouco disposto a desgrudar de seu amigo, senti-lo por perto era a única forma que imaginava de convencer sua mente de que ele estava vivo e estava ali consigo.

Percebendo seu silêncio, Michael fez um sinal para que Luna levasse a Brooke consigo e os deixasse a sós. A garota entendeu e se retirou com a outra, até que eles, enfim, ficaram sozinhos.

— Prince…

Murmurou. O cantor lentamente se afastou para poder contemplá-lo melhor. Enfim, palavras saíram de sua boca.

— Como…?

Michael sorriu.

— O médico me falou que eu escapei por um triz. Quando o meu pai atirou, ele estava mirando em alguém… digamos… baixo o suficiente para que a bala não atingisse a minha nuca. Por pouco, também não perfurou minha coluna. Eu vou poder voltar a dançar.

Prince suspirou.

— Eu nunca pensei que diria isso, mas… obrigado, Deus, pelos meus 1.60.

Michael gargalhou com o comentário.

— Eu ia morrer de verdade… eu entrei em coma por uma semana, tive algumas paradas cardíacas… você não faz ideia do quanto eu lutei pra estar aqui…

Ele suspirou.

— Eu não parava de pensar nas coisas que você me falou… foram as últimas palavras que eu ouvi. Você repetindo na minha mente que iria me perder, que não queria me perder…

— Agora isso é passado. Só… vamos esquecer essas coisas.

Prince segurou sua mão, apertou os seus dedos com carinho. Michael assentiu.

— Sim… mas eu pensava que você já sabia da minha situação. Por que será que não te contaram?

Ele deu ombros.

— Eu me isolei muito. É o que eu faço quando não estou bem.

— Já terminaram?

Brooke e Luna retornaram quando viram que a conversa estava fluindo. A morena se aproximou e ficou do lado do seu amado, em seguida continuou a falar.

— Eu não contei nada pra ele porque você tava em uma situação muito crítica. Se… se por acaso você não sobrevivesse, eu nem sei como o Prince ficaria.

Prince concordou com um aceno.

— Isso faz muito sentido pra mim…

— Onw, bebê…

Luna lhe deu um beijo na bochecha.

— Me perdoa por esconder isso de você.

— Você estava me protegendo… e é por isso que eu te amo.

Prince lhe devolveu o beijo, dessa vez em seus lábios. Michael e Brooke se entreolharam enquanto seguravam a mão um do outro. Eles riram baixinho, o que chamou a atenção do cantor mais uma vez.

— Vocês… estão juntos?

Michael parecia um pouco acanhado.

— Nós estamos saindo.

— Eu disse pra ele tirar o cavalinho da chuva, que não é só porque ele é um astro pop que já pode ir contando vantagem não.

Brooke brincou, em seguida se aproximou do moreno e beijou a sua bochecha. Michael sorriu.

— E o seu pai? O que aconteceu com o maldito?

Prince finalmente indagou. Michael relaxou mais os ombros.

— Bom… não tem vitória sem sacrifício, não é? Como eu levei um tiro dele, quando acordei no hospital, a polícia se interessou em falar comigo. Eu contei tudo, todos os abusos, os contratos falsos e os nomes que eu lembrava… Ele está preso e não vai sair nem tão cedo.

— Ótimo. Pelo visto, eu não vou precisar processá-lo então. Ele já deve estar fodido até o talo.

Michael riu e aquiesceu.

— Sim… eu finalmente vou voltar pra minha mãe e meus irmãos em Indiana.

— E a sua carreira?

Michael e Brooke se entreolharam ao ouvir a pergunta do rapaz. Eles sorriram em seguida.

— Eu vou voltar para os palcos. Depois de tudo isso, eu percebi que ser famoso não é a parte ruim dessa vida, mas sim viver sob as correntes de alguém e não poder ajudar as pessoas.

— Nós vamos abrir mais centros de caridades e levantar hospitais e angariar fundos para orfanatos…! Bom… vamos fazer uma coisa de cada vez, não é?

— Claro! Ah, e você tinha razão, Prince… eu adoro dançar e cantar. Não me imagino fazendo outra coisa.

Prince sorriu com as decisões do rapaz. Pelo visto, a vida guardava coisas mais bonitas do que aquelas que eles viveram no passado, assim ele pensava e assim também desejava para si próprio. Ambos mereciam sonhos mais bonitos do que as suas hostis realidades passadas.

— Então lute por isso. Vale a pena.

Disse, sorrindo, em seguida se levantou e segurou na mão de sua amada.

— Vamos entrar, o sol está mais forte e eu não quero ficar bronzeado com essa roupa.

— Vamos, eu vou na frente! Ah, Brooke, vem ver o chafariz que o Prince tem do outro lado do jardim! Sai água lilás!

— O quê?!

Luna segurou na mão da sua mais nova amiga e foi na frente dos meninos. Era possível ouvi-las conversando ao longe, era sempre divertido quando uma garota se empolgava.

Prince ficou observando-as se afastar, com as mãos nos bolsos, enquanto caminhava com o rapaz. Michael, por sua vez, o encarou de soslaio e sorriu.

— Prince…

— Hum?

O moreno se aproximou e beijou sua bochecha, devolvendo-lhe o mesmo carinho de quando estavam em Rochester. Foi a vez do cantor lhe desferir um olhar surpreso.

— Eu também te amo…

Michael sussurrou, em seguida abriu ainda mais o seu sorriso e voltou a caminhar, deixando o moreno para trás.

Prince lentamente levou a mão ao próprio rosto, enquanto o observava se afastar. Michael era seu amigo, seu amante, seu rival, seu irmão… Passou anos cuidando de si próprio, criando uma persona violenta para se proteger dos perigos do mundo. Ele nunca mais precisaria disso porque Prince fez uma promessa em seu coração: enquanto sangue corresse pelas suas veias e ar pelos seus pulmões, não o perderia de vista, não o perderia para ninguém.

Cuidaria dele para sempre.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.