[POV Jennifer]

A luz batia em meus olhos logo pela manhã me fazendo despertar. Abri-os com dificuldade, não só pela claridade, mas também pela incomoda dor de cabeça que não parava de latejar, me lembrando da bebedeira da noite anterior. Não me lembro de como vim parar em casa, nem de quando havia pegado no sono. A última coisa que conseguia me lembrar era de uma aposta que havia feito com Ryan. Olhei para o lado me dando conta de que não estava no meu quarto. A porta de vidro enorme não era a mesma do meu pequeno cômodo, aliás, nele não existia uma porta de vidro. Tateei o meu corpo sentindo falta de algumas peças, estava apenas com as roupas intimas. “Ok ok, você não fez nenhuma besteira Jennifer... Fez? Onde eu estou?” . Fechei meus olhos tentando me lembrar de mais alguma coisa que eu tivesse feito, a resposta era nada. Senti meu corpo arrepiar ao perceber que não estava sozinha naquela cama, que aliás, não era minha. Engoli a seco antes de me virar. “Meu Deus, não pode ser! Por favor, não seja quem eu estou pensando”. Olhei para o lado vendo uma figura masculina com a respiração pesada. O lençol vinha apenas até a cintura assim deixando a mostra o braço tatuado que eu reconheci de imediato. Subi meus olhos em direção ao seu rosto podendo confirmar quem era. Ryan, dormia tranquilamente ao meu lado. Eu não podia acreditar naquilo e não queria acreditar. Engoli novamente à seco me levantando da cama de imediato, tentando fazer o mínimo de barulho, me aproximei da poltrona em frente a porta de vidro pegando um lençol, me cobrindo. Procurei minhas roupas com os olhos, nada, não estavam ali. Sai na ponta dos pés vagarosamente para não fazer nenhum barulho, assim que cheguei a porta uma voz se pronunciou para o meu espanto.

- É a primeira vez que não sou eu quem saio correndo antes da pessoa acordar. – A voz rouca de Ryan saia sem que ele ao menos abrisse os olhos.

- Er, ah, é... bom dia... – Não consegui dizer mais nada, era muita informação que eu não conseguia me lembrar, minha cabeça latejava ao tentar pensar nisso. – Ryan, bem... ahnnn.. err.. sabe, eu... você... nós... sabe...

- Quer saber se dormimos juntos? Sim, dormimos.. – Ele se ajeitava, permanecendo sentado com as costas encostada a cabeceira da cama.

- Droga! – Eu resmungava baixo. Não podia acreditar que tivera passado a noite com aquele convencido.

- Bom, não foi do jeito que eu queria, confesso. Você veio para a cama e assim que eu cheguei você já havia pegado no sono. – Ryan me olhava com um sorriso malicioso no rosto, o que me incomodava muito. – Fique tranquila, eu não abusei de você naquele estado.

- Eu não havia imaginado que o fizesse. – Suspirei aliviada sabendo que nada havia acontecido.

- Mas agora que você está acordada eu posso te fazer relembrar de onde paramos. – Ryan se levantava da cama vindo em minha direção. Estiquei um braço em sua direção impedindo-o que prosseguisse. Ryan levou ambas as mãos na altura do peito como quem se rendia. – Parei! – Ele dava um meio sorriso, me olhando com aquele olhar misterioso, o que me fazia derreter por dentro. Bom não era hora de pensar naquilo.

Balancei a cabeça tentando me recompor, ele parecia perceber, porém não disse uma só palavra e me deixou sair do quarto. Fui em direção ao banheiro, achando minhas roupas penduradas, um pouco úmidas. Ergui uma das sobrancelhas assim as que peguei. O vestígio do que era para ser uma calça havia se transformado em um mini short e eu nem sabia como havia acontecido. Vesti-o meio a contra gosto. Logo que terminei senti Ryan se aproximar, encostado ao batente da porta, enrolado com o lençol na cintura.

- Quer que eu te leve? – Ele perguntava meio sério.

- Na verdade não precisa, obrigada, eu preciso comprar umas coisas no caminho de casa. – Eu mentia querendo me livrar o mais rápido possível daquela situação constrangedora

- Hum, é meio longe da sua casa, tem certeza? - Ele insistia.

- Não, tudo bem, eu posso pegar um táxi. Ahn, obrigada mesmo assim. – Eu ficava de frente com ele, Ryan me dava espaço para passar. Desci as escadas andando apressada até a porta de entrada.

- Ah nerd! Gostei da tatuagem, não devia cobri-la sabia, ela te deixa sexy! – Ele ria me provocando.

Puxei o sobretudo cobrindo as pernas, o comentário de Ryan me deixava irritada e envergonhada ao mesmo tempo. Abri a porta e sai.

Olhei para os dois lados tentando me localizar sem sucesso. Ao ver um casal de idosos passando em minha frente pedi informação para conseguir chegar até alguma avenida onde eu pudesse arranjar um táxi facilmente. A senhora me olhou dos pés a cabeça parecendo me desaprovar. “A essa hora da manhã, toda descabelada, maquiagem borrada e perdida. Ela com certeza só estava pensando em uma coisa.” Pensei. O senhor que a acompanhava pensava um pouco e logo me dava instruções de onde poderia achar um táxi.

- Siga até o final da rua. Provavelmente ali conseguirá uma fácil.

Agradeci e segui em direção de onde o velho me indicara. Andei algumas poucas quadras até chegar em uma avenida mais movimentada. Estava um pouco frio aquela hora da manhã. Soprei um pouco minhas mãos tentando esquenta-las. Assim que avistei uma multidão de carros amarelos fiz sinal, fazendo um deles parar a minha frente. Percorremos algumas quadras até meu destino.

Entrei em meu apartamento indo a cozinha. Peguei o primeiro remédio que vi na minha frente e um café bem forte para tentar fazer a ressaca passar. Logo me jogava no sofá respirando fundo. Ainda não conseguia acreditar na besteira que eu fizera. Como podia ter bebido tanto e ainda pior, passar a noite com o cara mais arrogante que eu conhecia até aquele momento. Dei um longo suspiro concluindo meus pensamentos.

- Ele não é mesmo o Ryan, não o que eu conheci a anos atrás.

Adormeci sem perceber, provavelmente devido ao efeito do remédio. Nem sabia quanto tempo havia passado até então. Meu celular começou a tocar sobre a mesinha na minha frente. Sem ao menos verificar quem era comecei a falar com a voz mole.

- Alô?

- Parece que alguém acabou de acordar – Uma voz masculina e um riso que eu conhecia muito bem.

- Olá Mark! Que horas são? – Eu esfregava os olhos tentando abri-los.

- É quase meio dia. Quer se levantar e abrir a porta para mim? Já toquei a sua campainha umas 3 vezes e o almoço está esfriando em minhas mãos.

Me levantei prontamente sem desligar o telefone. Abri a porta e ali estava Mark com um pacote em mãos. Sorria com o telefone ainda encostado no ouvido.

- Vou desligar, finalmente eu consegui fazer alguém abrir a porta para mim. – Ele ria novamente colocando o celular no bolso. Erguendo uma das sobrancelhas ao me olhar. – Pelo jeito caiu na cama como uma pedra ainda está com as roupas de ontem, tirando esse.. err... lindas pernas!

Eu corava com o comentário de Mark, abria caminho para que ele entrasse, fechava a porta e corria para o quarto.

- Um minuto... – Vestia a primeira calça que achava a minha frente voltando rapidamente para a sala. – Desculpa! – Eu me sentava ao seu lado mexendo no pacote. – O que temos para o almoço? – Eu ria vendo como já tinha liberdade para estar daquele jeito com Mark.

- Lanches, claro, ou você pensa que eu fiz sozinho? Nada como um bom fast-food minha cara! – Ele ria pegando um dos lanches e começando a comer. – Então, como foi o resto da noite sem mim?

Ao escutar aquela pergunta eu engasgava com o pedaço do sanduiche que havia mordido. Mark ria dando alguns tapinhas em minhas costas.

- Pelo jeito foi bom hein!

- Eu bebi mais e mais e mais depois que você saiu. Na verdade eu não me lembro de quase nada depois que você foi embora. Eu só me lembro de acordar de manhã em uma cama que não era a minha...

Ele engasgava também depois de ouvir aquilo, tossia algumas vezes me perguntando sem rodeios.

- Você dormiu com o Ryan?

- Eu, bem, eu dormi, mas ele me garante que não aconteceu nada, bom nada até eu pegar no sono.

- Jennifer, caramba, como.. como isso foi acontecer? Eu sabia que não devia ter te largado sozinha com ele.

- Mark, a culpa foi toda minha, eu sei, você sabe. Apesar de eu estar um pouquinho fora de controle, o que você podia fazer? Nada. Olha, eu não me lembro o que aconteceu, mas Ryan me disse que não fizemos nada, então, acho que posso acreditar nele.

- É, pode sim, se ele te disse. Bom, mas e agora? Vai contar para ele?

- Não, acho que ainda não, ah, eu não sei, preciso pensar.

- É... mas o que já foi, já foi né? Agora não tem como mudar, é só comer esse lanchinho delicioso sossegadinho e depois um filminho... que acha? – Mark voltava a comer o lanche e eu o acompanhava.

- Acho que seria ótimo! – Eu sorria.

Logo depois do almoço fui com Mark até uma locadora ali perto, alugamos uns filmes e voltamos ao apartamento, jogados no sofá a tarde toda. Algumas horas mais tarde o celular de Mark tocava insistente, após algumas palavras Mark o desligava se virando para mim.

- Vamos ficar largados no sofá a noite toda? Tem uma festa para ir se quiser. – Ele falava dando de ombros.

- Por que está perguntando para mim? Você quem foi chamado. – Eu retrucava preguiçosa.

- Porque estou deitado em seu sofá, porque estou em sua companhia, talvez porque também não quero ir sozinho nessa festa. – Mark respondia sorrindo.

- Agora está mais claro, bem, eu não tenho certeza se quero ir nessa festa. – Eu falava sincera, não queria muito encontrar com Ryan, sabia que onde existia a palavra festa Ryan estaria incluso.

- Claro que você quer ir, não é legal ficar em um domingo a tarde em casa, vamos, vai ser mais uma reunião do que uma festa mesmo. – Ele se levantava me puxando do sofá e andando em direção da porta. – Passo aqui daqui 1 hora, é bom que esteja pronta. – Ele acenava de costas já saindo.