His sister[mother]'s beautiful
Sua irmã[mãe]é linda

He has his father's eyes
Ele tem os olhos do pai

— Ele não percebeu nada. Tem certeza Albus? – perguntei ao meu primo quando chegamos aos portões da Mansão.

— Claro, e não precisa ficar nervosa só porque você vai conhecer sua sogra hoje.

Revirei meus olhos enquanto meu primo sorria.

Os portões foram abertos antes que eu ou o Al fizéssemos qualquer coisa e meu primo passou por eles como se isso fosse totalmente normal. E talvez aqui seja mesmo.

Eu entrei e fiquei imaginando Scorpius crescendo naquele lugar. Comparei o jardim ao parque onde eu brincava perto da minha casa; qualquer criança que ama quadribol acharia que aquele lugar é o paraíso, e no entanto o jardim da frente da casa dos Malfoy consegue ser maior.

— Imaginando você e aquele loiro tonto criando os filhos de vocês aqui?

— Eu não gostaria de morar em um lugar tão grande e…

Droga!

Albus dirigiu-me um olhar triunfante, mas eu continuei sem me abalar:

— E não, eu não estava me imaginando casada e com filhos. Não tenho a cabeça tão nas nuvens assim.

— Ah, você tem. E já percebeu que esse seu sentimento pelo meu amigo faz você agir totalmente diferente do que você é?

— Isso não é verdade – discordei.

— Rose, todos nós sabemos que você odeia usar saias. Lembra o barraco que você fez porque a tia Mione queria que você fosse à festa de natal de saia no quarto ano?

— Claro que sim – respondi sem saber onde ele queria chegar.

— E ela acabou deixando você usar calça e ninguém podia falar que você não estava tão linda quanto a Dominique.

— Valeu, Al – respondi sem graça, porque eu sei que sou bonita, meu pai nunca cansa de falar, mas também não é tanto assim para chamar toda a atenção que eu recebo. – E? – perguntei, porque sei que ele não acabou.

— E agora nós vamos conhecer duas pessoas que ouviram o Scorp falar muito de você, principalmente por causa da sua atitude, e você está de vestido. Que é lindo e tudo, mas você não gosta.

Eu abaixei os olhos e senti minhas orelhas esquentarem. Lily e Dominique disseram que todo mundo gostaria da minha roupa e eu vesti esse vestido azul marinho e All Star só para que ele repare. E sempre prometi a mim mesma que não faria coisas que eu não gosto por um garoto. Nem pelo Scorp.

O que está acontecendo comigo?

Albus tinha razão.

Quando levantei meus olhos, ele já estava batendo na porta. Uma mulher muito bonita abriu-a e deu um abraço apertado em meu primo.

— Oi, querido – ela disse. – Já estava sentindo sua falta.

— Oi, tia As. Continua gata, hein?

Eu tive que concordar com ele, ela é linda.

— Ela não é para o seu bico, Potter, tire os olhos – disse uma voz vinda de dentro da casa.

Eu vi um homem alto, cabelos claros, como os do Scorpius, que obviamente é o famoso Draco Malfoy. Já ouvi falar muito dele através do meu pai, e do próprio Scorp, ele idolatra os pais.

— Rose? – chamou Al – Você vai ficar aí fora?

Eu dei mais dois passos e passei pela porta. O meu rosto voltou a ficar vermelho porque Astoria e Draco Malfoy estavam me analisando. A Sra. Malfoy deu um passo á frente e disse para o marido:

— Draco, eu tenho que dizer que ele tinha razão. Ela é uma das ruivas mais lindas que eu já vi na vida.

Eu olhei para o lado, querendo saber se ela está mesmo falando de mim. Albus riu e eu continuei travada, morrendo de vergonha.

— Estou falando de você mesma, Rose – continuou a Sra Malfoy. – Você sabe que é muito linda, não sabe?

— Obrigada, sra. Malfoy – olha, não é que eu sei falar?

— Ah não, “sra. Malfoy” é a minha sogra. Eu não vou querer convidá-la para vir aqui novamente se continuar me chamando assim.

— Não liga para ela – disse o Sr. Malfoy. – Minha esposa é assim mesmo. É um prazer conhecê-la, srta. Weasley – ele esticou a mão, eu o cumprimentei, e por pouco não fiquei fora do ar ao olhar nos olhos do sr. Malfoy. São do mesmo tom de cinza que os olhos do Scorpius.

— O prazer é todo meu – eu disse e desviei meus olhos, sorrindo – Mas eu não vou querer voltar aqui se o senhor continuar me chamando de srta. Weasley.

— Essa é a minha prima, tia As – falou Albus enquanto a “tia” ria e o Sr. Malfoy balançava a cabeça.

— Gostei de você, Rose – falou Astoria, e eu não sei dizer o que eu estou sentindo, mas parece que um peso foi tirado de meus ombros. E estou me sentindo estúpida por me preocupar tanto, eles não são meus futuros sogros, nem nada do tipo.

Eu os segui até a sala de estar e a mãe do Scorpius disse:

— Ah, Albus querido, você conhece o caminho. O lanche está sendo servido na sala de jantar e todo mundo já chegou. Draco, meu amor, não vai voltar para o hospital, não é?

Ele revirou os olhos.

— Não, As. Só tenho que olhar uma coisa no escritório. Sem drama, ok?

— Você sabe que eu acho que você trabalha demais – ela fez língua para o marido, enquanto ele se despedia e se retirava, e virou-se para nós – Rose, você pode chamar o Scorp?

O quê?

— Não entendi – falei.

— É que ele ainda está no quarto, vai entender por quê. Primeiro andar, segunda porta à esquerda. Albus, venha comigo.

Albus sorriu, piscou para mim e seguiu Astoria antes que eu retrucasse.

— Mas... – falei, apesar de não ter ninguém para ouvir.

And I could tell you

E eu poderia te contar

His favorite color's green
Que sua cor preferida é verde

He loves to argue
Ele adora discutir

Eu subi as escadas devagar, afinal vou entrar no quarto do Scorpius pela primeira vez na minha vida. A verdade é que muito idiota estar dividida em um sentimento de vergonha, de êxtase, e vontade de conhecer o lugar onde ele dorme. E agora que admiti esse pensamento, percebi que parece que eu sou uma lunática que roubaria uma cueca do loiro para fazer uma daquelas simpatias trouxas.

Deus me livre disso.

Primeira à esquerda.

Segunda à esquerda.

Respirei fundo e bati na porta.

— Pode entrar – disse a voz do Scorpius, baixa.

— Licença, Scorp – eu disse, abrindo a porta. – A sua mãe pediu para te chamar porque todo mundo…

— Rose! – exclamou ele, batendo a cabeça na cama, ou melhor, em uma das quatro colunas da cama. Pois é, ele dorme em uma cama de casal enorme daquelas antigas com colunas e cortina. Moderníssimo.

— O que você está fazendo aqui? – ele está olhando para mim como se eu fosse uma assombração.

Preciso dizer que ele está lindo? Ainda mais sem camisa desse jeito. Percebi que ele ainda estava esperando por uma resposta e falei:

— Sua mãe pediu para te chamar. Desculpa, mas você disse que eu podia entrar.

— Mas eu não achei que fosse você!

— Já pedi desculpas – falei meio na defensiva. Estranho. Por que ele não queria que eu entrasse?

Scorpius fechou os olhos por um segundo e vestiu uma camisa que estava jogada na cama. Durante esse pouco tempo, eu dei uma olhada no quarto e só tenho isso a dizer: Grande, e bagunçado. Bem, é um quarto típico de adolescente. Tem meias e blusas espalhadas, uma vassoura está em um canto perto da escrivaninha, e esta está cheia de cadernos.

É um quarto retangular, a parede contrária à porta dá em direção à janela, ou melhor, à sacada, que parece dar para os jardins atrás da Mansão. A cama, igual àquelas dos filmes trouxas do século XVIII, está encostada na parede à esquerda de quem entra, a escrivaninha fica na parede direita, e também duas portas, uma deve dar no banheiro e a outra no closet. A lareira enorme fica ao lado da porta. Tipo, é tudo muito grande. Quase sorri ao ver duas guitarras em cima da cama, entretanto me assustei com o olhar de Scorpius sobre mim.

Procurei por algo errado em minha roupa, mas eu estou até bem arrumada.

— Por que você veio vestida assim? – perguntou ele – Diz para mim que a sua mãe te obrigou a usar esse vestido ou que todas as outras estavam lavando e essa foi a única que sobrou.

Eu fiquei sem saber o que dizer, porque eu me arrumei desse jeito pensando que ele fosse gostar. Eu minto bem, mas decidi ser sincera, ou quase isso:

— Não me faça perguntas que eu não direi mentiras, Malfoy.

Ele revirou os olhos e me pareceu que aquele clima estranho havia se esvaído.

— Eu te fiz uma pergunta, Rosely— meus ombros murcharam, usar aquele apelido contra mim é golpe baixo – e você, como uma boneca, que é o que você está parecendo, vai responder com a verdade – ele enfatizou.

— Bonecas não falam – contrapus.

Ele nem se dignou a responder.

— Tudo bem, sr. Chatíssimo, pode me lançar um Avada Kedavra, porque eu escutei a opinião Nick.

— Sério? Eu achei que você odiasse as filosofias femininas da Dominique. E que odiasse vestidos também.

— Eu achei que você só “gostasse” de verde.

Scorpius olhou ao redor e enrubesceu. Que fofo e…

Parei.

Estou dizendo, o cara ama verde. As cortinas da janela são verdes, e as da cama também, apesar dos posters nas paredes, dava para ver que elas também são verdes. É de um verde claríssimo, mas ainda é verde.

— Eu disse que é a minha cor predileta. Quer que eu te empreste uma roupa?

Olhei para ele incrédula e triste. Eu me esforcei para parecer como qualquer outra garota, mas ele ainda acha que eu sou o Al, e que eu visto roupas como as dele?

Scorpius aproximou-se de mim e segurou meu braço.

— Quer discutir o assunto? Você sabe que iríamos ficar a tarde toda aqui e que eu acabaria ganhando. Então seja boazinha, Rosely, porque tem mais garotos aqui e temos que prestar atenção nos livros e não em você.

Eu revirei os olhos e comecei:

— Isso é ridículo…

Mas o loiro não estava me escutando, ele correu para uma mesa de cabeceira ao lado da cama e tirou uma calça jeans e uma camisa, adivinhe, verde, e me entregou.

Eu suspirei e disse:

— Sério? Será que esqueceu que você sempre se gaba de ser mais alto que eu? Acha mesmo que essa roupa vai servir, idiota?

— A calça é antiga e antes que você diga, não estou achando que você é um dos meus amigos. E nem adianta retrucar, eu já vi você usando a blusa do Puddlemere United do James.

— Eu tinha perdido uma aposta, Malfoy! – exclamei e ele me ignorou.

— Pode usar o banheiro, rápido.

Eu não acredito que o Scorpius está fazendo isso comigo, mas ele disse a verdade. O cara consegue ser ainda mais teimoso que eu, ficaríamos discutindo por horas. Arranquei a roupa da mão dele de cara feia e assim que eu entrei no banheiro (por sinal, bem arrumado), uma voz na minha cabeça falou para eu aproveitar porque nunca mais vou usar uma roupa dele.

Nossa, eu estou ficando cada vez mais pessimista. Eu tirei os tênis e o vestido, vesti a calça e como eu pensei, ficou largo demais. Peguei a minha varinha e apesar de não ser maior de idade, usei um feitiço que a minha avó me ensinou para apertar a calça.

Tudo bem que eu não nunca me importei de usar roupas que pertencem à meninos, já peguei tantos tênis e camisas de times trouxas do Hugo que ele nem me deixa mais entrar no quarto dele direito, mas eu não sei se acredito que o Scorp me considera como uma garota.

— Rose? – chamou ele – Deu certo?

— Estou vestindo a blusa.

— Rosely.

— O quê? – perguntei sorrindo, porque ele é o único que me chama assim, mesmo sabendo que ele não pode ver.

— Eu não sei porque você aceitou a opinião da sua prima, mas eu gosto quando você usa camisas de time. Eu sei que isso vai soar brega, mas você é muito linda assim, do seu jeito. Mas cá entre nós, a única opinião que importa é a sua.

Eu não acredito que escutei isso. Terminei de calçar os tênis rapidinho e abri a porta.

Droga!

Não tem ninguém no quarto. Como alguém pode falar aquilo e simplesmente, e simplesmente deixar a pessoa para quem falou (eu) sozinha?

É oficial, eu nunca vou entender os garotos, principalmente se eles forem loiros e morarem em uma casa gigante.

Eu desci as escadas e a Astoria me deu um susto ao me encontrar no fim delas.

— Ah, Rose! O Scorpius me contou o que aconteceu. Não se preocupe, ele vai se desculpar.

— Hã?

Será que ele descobriu que eu estou apaixonada por ele e contou para os pais? Será que o Scorpius está achando que eu sou uma perseguidora tarada?

Espera, então por que ele tem que se desculpar se eu que sou a maluca?

— O vestido, Rose. Ele disse que rasgou sem querer, mas o Scorp nunca toma cuidado com aquelas guitarras dele, não acredito que uma corda solta de uma delas agarrou no seu vestido. Eu e o Draco vamos ter uma conversa séria sobre responsabilidade com as coisas com o meu filho, mas se você quiser eu arrumo o seu vestido.

— Não precisa sra... Astoria. O Scorpius já me emprestou uma roupa – pelo jeito ele não contou verdade e não entendo por quê. É melhor mesmo só entrar no jogo.

— Tem certeza? – ela me olhou e sorriu – Você apertou a calça?

Eu balancei a cabeça afirmativamente.

— Não achei que alguém ainda soubesse fazer isso. Se você quiser, eu te empresto uma roupa minha, o que acha?

— Não precisa – sorri. – Eu vou dar uma estragada nas roupas do Scorpius porque ele rasgou o meu vestido.

Antes que eu percebesse que não deveria ter dito aquilo, Astoria riu e respondeu:

— Tudo bem, mas cuidado com a blusa, é a preferida dele.

Depois disso, ela me disse onde era a sala de jantar e subiu as escadas. Eu acho que a minha cabeça vai dar um nó com tantas perguntas rondando-a. Primeira e mais importante: Por que o Scorpius mentiu? Eu não faço nem ideia. Cheguei na sala de jantar que era algo como “uau” de tão grande e eu ouvi uma barulheira, pessoas discutindo ou competindo para ver quem falava mais alto. Na verdade, está mais para a segunda opção.

— Gente – chamei.

— Cara, isso é ridículo, nós só queremos estudar – tentou argumentar Albus.

— Será que vocês podem calar a boca? – gritou Scorpius – Todos estão aqui para estudar, caramba, não discutir jogadas de quadribol. Eu chamo quem eu quiser, e não vou deixar ninguém chamar ninguém de traidor. A casa é minha.

— Para alguém que gosta tanto de discussões, você tem uns argumentos bem fracos, Malfoy – falei, fazendo todos olharem para mim – A casa é minha? Sério? Nem deu para notar.

Eu achei que ele iria ficar nervoso, mas sorriu.

Não pelo que eu disse, mas por causa da roupa que eu estou usando.

— Ficou bem melhor, não é?

Eu tenho que admitir que sim. Eu sempre preferi usar calças mesmo.

— Ué, Weasley? Mudou de time agora? – perguntou o batedor da sonserina apontando para a camiseta. Eu abaixei os meus olhos e fiquei com vontade de matar o Malfoy, mesmo que ele seja minha alma gêmea e tal. A camiseta, além de verde, tinha escrito de branco: SLYTHERIN.

— Foi mal? – disse-perguntou o cretino do Malfoy – Eu queria ver se você ficava bem de verde.

Eu revirei os olhos e suspirei. Sentei-me ao lado de Albus, que só levantava as sobrancelhas, com um sorriso cafageste de lado.

— Sobre que tipo de traidores estamos falando? – perguntei.

— De qual tipo você se considera? – perguntou a goleira da sonserina, Susan Smith.

— Traidora de sangue – falei sorrindo. – Eu sempre me sinto meio mal quando me sento ao lado de sangues-puros.

Susan teve que rir e disse:

— Você é menos pior do que eu imaginava, Weasley. Enfim, nós, o time, achamos que iríamos treinar hoje e o traidor aqui presente é o Malfoy, que chamou dois inimigos grifinórios.

— Não me coloca nisso, que eu sou apenas um torcedor e um delicioso organizador de festas. Meu único pecado é ser amigo do loiro traidor.

— Valeu, Albus – ironizou Scorpius.

— Sabe, Scorp – comecei, – eu acho que vocês deveriam treinar mais mesmo, a Lufa-Lufa está jogando bem esse ano e vocês tem que ganhar.

Todos, sem exceção, me olharam boquiabertos.

— O quê? É claro que eu quero que vocês ganhem. A Grifinória só vai acabar com a Sonserina se chegarem à final.

— Sonha, Weasley – falou Luke Zabini. – Você acha mesmo que sem o Wood vocês conseguem alguma coisa? Ganharam da Lufa-Lufa por pura sorte. O estúpido do Potter nem é bom artilheiro.

— Olha aqui – falei levantando-me, ele estava à minha frente, do outro lado da mesa. – Você pode falar o que quiser de mim, mas se pensar em falar alguma coisa sobre o Jay, o Al ou algum Potter, a sua cara vai ficar tão quebrada que você vai ter sorte se conseguir enxergar um balaço.

— Cai dentro, Weasley – falou Zabini, levantando-se também. Junto com ele, o pessoal do time. Estávamos fuzilando um ao outro.

— Eu agradeço pela proteção, Rose, mas eu tenho uma ideia melhor – interrompeu Albus e viramo-nos para ele.

Foi assim que eu percebi que o Scorpius estava ao meu lado, segurando meu braço e parecendo meio protetor na verdade, mas acho que isso é porque ele estava encostando em mim.

— O perdedor do final recebe a festa depois do jogo no Salão Comunal e os jogadores terão que usar a camisa da Casa adversária por uma semana. Para toda a escola ver.

Albus terminou e nós olhamos para Scorpius. Cara, ele parecia surpreso e envergonhado. Como se tivesse sido pego fazendo algo errado. O loiro tirou lentamente a mão do meu braço e por incrível que pareça, perguntou:

— Rose, o que você acha?

— James. Se ele e você concordarem, eu posso esperar o fim do jogo para fazer o nosso amigo Zabini usar uma blusa da Grifinória.

Albus sorriu. E virou-se para o time de Scorp:

— Eu falo com o meu irmão. Vocês estão dentro?

— Se a gente conseguir estudar em paz agora, sem que vocês pulem na minha Rose, quero dizer, amiga, eu estou dentro, até porque a Weasley aqui já está admitindo a derrota usando minha camisa da Sonserina.

Depois dessa, até o Albus me zoou. E nem estou ligando porque Scorpius disse que eu era dele. Tudo bem, amiga dele, mas mesmo assim. Eu fiquei feliz, dá licença?

Ai, Merlin, eu estou ficando maluca. E carente por atenção.

Não sei qual é pior.

He sees everything in black and white
Ele vê tudo em preto e branco,

Never let nobody see him cry
Nunca deixa que o vejam chorar.

I don't let nobody see me wishing he was mine
Eu não deixo ninguém me ver desejando que ele seja meu.


Eu admito, até que foi divertido estudar com aqueles sonserinos. Eu disse isso aqui em casa e o meu pai quase caiu da cadeira e o tio Harry morreu de rir da cara dele. Durante o jantar naquele dia, contamos sobre a aposta e o Jay aceitou, alegando que assim ele se formaria da melhor maneira possível.

Combinamos de sair dia 30 de dezembro, eu, a Lils, o Hugo, os meus primos e até o Scorpius. Hugo já havia ido para a casa do Al, apesar de estar chovendo nossos planos não foram cancelados e eu estava calçando meus tênis quando ouvi um barulho vindo do andar de baixo. Peguei minha varinha e sorri quando percebi que alguém tinha usado pó de flú e aparecido na lareira da minha casa. O barulho havia se dado porque a lareira estava travada.

— Espera só um instante – falei, sem conseguir ver quem era e liberei a passagem.

Um Scorpius com o cabelo muito bagunçado saiu rápido e sentou-se no sofá de cabeça baixa.

Eu não estou entendendo nada.

— Diz para o Albus que eu não vou sair e você pode, por favor, não ir também? – pediu ele com a voz rouca.

— Scorpius, está tudo bem?

— Por favor, Rose, só não diz que eu estou aqui.

Eu suspirei e liguei para a Lily, dizendo que eu não iria porque por causa de problemas femininos, e que o Scorpius não ia poder ir porque tinha visitas em casa.

Nossa, eu estou até mentindo por causa do cara. Espero que valha a pena.

Aproximei-me do Scorpius, que ainda estava no sofá e de cabeça baixa, ajoelhei-me ao lado dele e levantei seu rosto.

Os olhos cinza estavam vermelhos e as bochechas molhadas. Eu não soube o que fazer, então tomei coragem e dei um beijo rápido no rosto dele. Como eu imaginei, Scorpius parecia estar me vendo pela primeira vez ali.

— Rosely. Eu acho melhor ir embora. Não deveria ter vindo, me desculpe.

Ele se levantou, entretanto eu o segurei pelo braço.

— Não precisa me dizer nada, Malfoy, mas você não vai sair daqui e eu vou ficar com você.

Eu o puxei escada acima e disse:

— Afinal, os amigos são para isso.

Entramos no meu quarto e eu fechei a porta. Um meio sorriso apareceu no rosto do loiro.

— Tem mais pôsteres de quadribol aqui do que no meu quarto – comentou.

Tentei levar na boa e não surtar porque ele está no meu quarto. É porque não se parece com o quarto de uma menina. É tudo azul e na parede contrária à minha cama tem uma escrivaninha e é claro, ao lado, uma estante cheia de livros de quadribol e histórias em quadrinhos. Tirando os milhares de pôsteres nas paredes.

Scorpius virou-se para mim e começou:

— Você deve estar querendo saber...

— Não preciso. Contanto que você não tenha matado ninguém.

Ele quase riu e eu me aproximei, perguntando:

— E então?

— O quê? – o loiro piscou e mais uma lágrima desceu pelo seu rosto.

— Você matou alguém?

Scorpius sorriu e disse:

— Seria abusar muito pedir que você me abraçasse agora?

Seria muito errado de minha parte aproveitar desse momento?

Porque eu estou aproveitando, mas não da maneira que vocês estão pensando seus pervertidos. Eu só estou abraçando-o forte, na verdade.

Scorpius se separou de mim e nos sentamos na minha cama. Quero dizer, eu sentei, ele deitou a cabeça no meu colo e contou tudo.

Os avós paternos e maternos de Scorpius vieram para passar o natal e o clima já não estava muito bom por esses dias. As discussões pelo modo como Astoria e Draco criaram Scorpius, que de acordo com eles não tinha limites, eram constantes. Draco apenas respirava fundo e Astoria só ouvia. Nunca fazia brincadeira nenhuma, nem sorria. O Scorp está cansado de isso acontecer todo ano, e explodiu com os pais.

— Não precisa dizer que gritei e briguei com as pessoas erradas.

Então ele disse que gritou porque estava muito nervoso, o pai dele gritou, a mãe dele brigou com os dois e começou a chorar. E ela nunca chora. O loiro já havia me falado que ela é sempre forte por ele e Draco. Scorpius também disse que saiu de lá com raiva de tudo e todos, foi até o próprio quarto e apareceu aqui.

Eu sei que as brigas não dizem respeito apenas à criação e ao futuro do Scorp, e que a minha família e a amizade dele com o Albus, que até já saiu na coluna de fofocas do Profeta, provavelmente está envolvida, mas se o loiro acha que eu devo ser poupada, eu confio nele.

— Não quero voltar para casa, Rose – disse Scorpius quando já estava quase escurecendo. – Quero ficar aqui.

Eu revirei os olhos.

— Você é um menino muito mimado, sabia? Sua mãe deve estar preocupada.

— Mas eu não quero ir embora. Quero que você fique mexendo no meu cabelo para sempre.

Eu não consegui não sorrir depois dessa.

— Você é uma criança, sabia? – falei.

— Não é verdade. Eu sou quase adulto – a voz dele está embargada, eu não acredito que ele está quase dormindo. – Posso dormir, Rosely? Mexe no meu cabelo.

Fala sério. É claro que pode, Malfoy. Mas eu não disse, só continuei desembaraçando os fios loiros.

— Sabe, Rose, eu não gosto de brigar com a minha mãe – disse ele, fechando os olhos, – e eu não sou criança, tenho quase 17 anos... Eu odeio chorar, odeio mesmo... Mas eu estava muito nervoso e o Albus sabe de tudo, ele é meu amigo...

E parou de falar. Assim, do nada. O Albus já tinha comentado que o Scorp sempre tagarela coisas sem sentido quando está quase dormindo.

Sorri de novo.

E coloquei um travesseiro debaixo da cabeça dele depois de ter certeza que o loiro dormiu. Continuei sorrindo pelo que Scorpius disse. Que ele não gosta que ninguém o veja chorar.

Ah, se esse loiro soubesse.

Eu não deixo ninguém ver o quanto eu desejo que ele seja meu.

He'd never tell you, but he can play guitar
Ele nunca te disse, mas sabe tocar violão.

I think he can see through everything but my heart
Eu acho que ele consegue ver através de tudo, menos do meu coração

Eu saí do meu quarto e desci as escadas, dirigindo-me à cozinha. A minha mãe mandou uma carta avisando que vai chegar uma hora atrasada e o papai vai chegar com ela, também vai trazer pizzas. Delícia.

A chuva parou e obviamente vai ser por pouco tempo, mas eu tenho que abusar da minha coruja Nymeria e mandar uma carta. A Astoria provavelmente está ficando maluca de preocupação, talvez com medo de que Scorpius faça alguma besteira, porque eu sei que é isso que os pais fazem, ficam preocupados. Então escrevi uma carta, dizendo que o filho dela está bem, e na minha casa, e que eu vou mandá-lo de volta ainda hoje. Nymeria reclamou e reclamou, mas decidiu levar a correspondência até os Malfoy.

Eu assisti um pouco de televisão, depois eu decidi tomar sorvete enquanto não tem ninguém aqui e eu não tenho que dividir, nem a minha mãe para reclamar dizendo que não é hora disso. Só que assim que peguei o pote e fechei a geladeira, alguém apareceu atrás de mim e gritou, colocando as duas mãos na minha cintura:

— Te peguei!

Eu dei um pulo e quase deixei o meu precioso chocolate com castanhas cair no chão.

Scorpius ainda me segurava pela cintura e sussurrou no meu ouvido:

— Você estava parecendo uma bruxa das trevas segurando seu maior tesouro. Foi engraçado.

Depois disso ele me soltou, um pouco cedo demais para o meu gosto e... Foco Rose.

Scorpius já estava em uma das cadeiras que ficam de frente da bancada da cozinha.

— Quer? – ofereci porque não sei mais o que dizer.

O loiro pegou a colher da minha mão e começou a tomar sorvete, como se eu não quisesse. Sentei-me na frente dele e pigarreei.

O quê?

O pote é meu.

— Eu estou deprimido. Preciso mais que você.

— Até parece – reclamei indignada, e tentei arrancar o sorvete da mão dele.

— Muito bonito. Sobremesa antes do jantar? – disse alguém às nossas costas.

Viramo-nos devagar e a minha mãe estava de braços cruzados, nos encarando.

Scorpius soltou imediatamente o pote e se levantou, foi até a minha mãe, esticou a mão e disse:

— Boa noite, sra. Weasley. É um prazer revê-la. Já nos vimos na casa do Albus, sou...

— Scorpius – disse ela, apertando a mão dele. – Eu me lembro e acredite, ouço muito falar de você. E também sempre me espanto com a semelhança incrível.

— Todo mundo me diz isso. Sou a cara do meu pai. Desculpe vir sem avisar, sra. Weasley.

— Não tem problema. Mas eu gostaria que uma certa pessoa me avisasse, porque assim eu prepararia um jantar decente.

Minha mãe me deu uma olhada que diz que teremos uma conversinha mais tarde. Ela odeia não fazer nada especial para as visitas.

— Não se preocupe. Eu tenho que voltar para casa agora.

— Não, você não vai. Por acaso você disse a sua mãe que voltaria nesse momento? – perguntou minha mãe.

— Não, mas eu não vou incomodar – falou Scorp, decidido.

— Nunca seria um incômodo – disse mamãe, no mesmo tom que ele, ainda que gentil.

Scorpius suspirou.

— Você é boa, sra. Weasley. Não é à toa que é uma das melhores no Ministério.

Minha mãe riu e eu percebi que estou sendo completamente ignorada.

— Gostei de você, querido.

— Eu vivo para agradar, sra. Weasley.

— Hermione.

— O quê? – ai, eu adoro quando ele faz essa carinha de confuso e ai, por que isso fica acontecendo comigo?

— Não quero que me chame de sra. Weasley, tudo bem? Essa é a minha sogra.

Ele concordou com a cabeça e eu lembrei que a mãe dele tinha dito a mesma coisa para mim.

— Adorei você, Hermione – falou o loiro sorrindo.

— Ei! Essa frase é minha! – falou meu pai, entrando no recinto e me dando um beijo na testa.

Assim que ele viu o Scorp, parou. E o tonto do Hugo trombou com ele.

Eu olhei para o meu irmão pedindo ajuda, pois eu não tenho ideia de como o meu pai vai reagir. Scorpius adiantou-se e esticou a mão para o sr. Ronald Weasley.

— É bom revê-lo, sr. Weasley.

— Malfoy – falou o meu pai, e retribuiu o cumprimento.

— E as desavenças escolares se perpetuam geração após geração – falou Hugo como um locutor de rádio e Scorpius acabou sorrindo. – Será que você e a Rose vão ter que fugir para se casarem?

Senti o meu rosto esquentar, apesar de querer revirar os olhos porque não era desse tipo de ajuda que eu queria do Hugo.

Minha mãe riu e as orelhas do meu pai ficaram da cor do nosso cabelo, mas ele não disse nada.

Scorpius aproximou-se da bancada onde eu estava sentada, e disse:

— Eu sei que esse tipo de romantismo não é a sua praia, mas que lugar você prefere, Rosely? Las Vegas ou Havaí?

— Las Vegas é bem mais a cara dela – falou a minha mãe.

— Hermione! – exclamou o meu pai, mas ela o ignorou, e continuou:

— Quer que eu reserve as passagens para depois da formatura, Scorpius?

— Se a sua filha aceitar, Hermione, eu adoraria.

— Assim que eu tiver um anel de diamante em meu dedo, e a nova Nimbus 5000, eu caso – falei sorrindo.

— Eu só deixo você se casar com a minha mana se me der um carro – acrescentou Hugo.

— Assim vou falir. Infelizmente, eu acho que a gente tem que esperar uns anos, Rosely.

Revirei meus olhos, mas sorri.

— Ah, Malfoy – lembrou Hugo, – você tem que ver os novos modelos de carro da Ferrari... Eu fui à uma feira semana passada com o meu pai e tirei várias fotos, muito maneiro...

Scorpius parou de olhar para mim imediatamente e se direcionou ao Hugo:

— Você só pode estar brincando! Teve uma feira da Ferrari aqui na Inglaterra há alguns dias, e eu nem soube? É claro que eu quero ver as fotos, vamos lá.

Hugo foi em direção ás escadas, e Scorpius pediu licença antes de sair.

Eu gritei:

— Qual é a graça em algo que nem sai do chão?

E o meu irmão gritou de volta:

— É coisa de garotos, Rose.

— Garotas podem gostar de carros também idiota! – falei indignada, e quis ir atrás dele para matá-lo ou algo assim, mas antes de ir atrás daqueles dois, virei-me para Ronald Weasley:

— Scorp só é parecido com o sr. Malfoy na aparência, pai.

— Deu para notar. Ele gosta de carros, e o quê mais? – falou ele sem olhar para mim.

— No segundo ano, Albus o convenceu que eles formariam uma banda famosa, então Scorpius aprendeu a tocar guitarra. Ah, ele toca piano desde os oito anos também.

Meu pai suspirou e eu fiquei parada, esperando. Minha mãe declarou o óbvio:

— Rose gosta dele, Ron.

— Deu para ver – falou ele, mal-humorado. – Ela vai até fugir com ele!

— Eu amo quando o senhor dá uma de ciumento, sabia? – eu disse.

Depois o abracei e sorri:

— Scorpius é só um amigo.

Infelizmente.

— Rose, pare de ser a princesinha do papai, e diz para os meninos não demorarem.

Eu e o meu pai fizemos língua para ela, e a minha mãe me seguiu em direção às escadas. Eu me virei, curiosa:

—Ele é lindo e inteligente. Ele tem muito da Astoria também ao que me parece.

— Por que você está falando isso? Scorp é só...

— Seu amigo, já sei. O Ron também era só meu amigo na época da escola.

Que tipo de mãe fala uma coisa dessas, simplesmente sai, e deixa a linda filha ruiva toda confusa desse jeito? Vou te contar, hein?