Quando eu finalmente cheguei ao meu apertado apartamento, eu comecei a pesquisar por todas as outras academias que tinham em Missoula, mas nenhuma chamou minha atenção ou pareceu proporcionar o que eu queria ou ainda estar dentro da minha realidade financeira.

Meu celular tocou e eu contive um suspiro quando vi o nome de Janine brilhando na tela. Eu já estava a evitando há alguns dias e não podia levar isso por muito mais tempo. Deslizando o dedo pela tela, eu atendi a ligação.

— Oi mãe.

— Rose, que bom que você atendeu. Eu precisava falar com você – ela disse. Ela sempre precisava falar comigo – Tive um sonho com você noite passada. Você estava tão triste e-

— Mãe – a interrompi, não querendo ouvir mais uma vez sobre como ela sabia que eu deveria voltar para casa – Já falamos sobre isso.

Pude ouvir um suspiro cansado e então seu silêncio, que durou por segundos que pareceram uma eternidade.

— Você não vai encontrar o que procura aí, Rose – murmurou – Seu lugar é comigo, é aqui. Eu vou proteger você. Jack vai cuidar de nós duas.

Apertei o celular com força.

— Jack vai te trazer problemas – falei, soando mais dura do que eu queria – É um direito seu achar que ele vai mudar, mas eu não vou ficar no meio disso tudo.

— Rose, não fale desse jeito.

— Estou ocupada – a interrompi outra vez – Se conseguir falar com Alberta diga a ela que eu não consegui cobrar o favor que Dimitri devia a ela – eu disse brevemente, ainda chateada em ter falhado miseravelmente.

— Eu te amo, Rose – Janine disse, em um tom maternal.

— Se cuida, mãe.

Ela sabia que eu amava, mas eu ainda estava magoada demais por ela não conseguir enxergar o que estava acontecendo.

Jack era o filho do ex-marido da minha mãe. Ele não era o que se pode dizer de uma pessoa de bem ou com caráter minimamente aceitável. Estava envolvido em tantos problemas que até mesmo para mim tinha um claro aviso de “cuidado” brilhando acima de sua cabeça.

Deixei o telefone sobre a cama e fui até o banheiro onde atrás da porta estava meu casaco e o joguei sobre a cama, junto com a roupa que eu estava usando que era um empréstimo de Lissa, minha vizinha.

Vesti rapidamente o uniforme rosa e branco e calcei as sapatilhas pretas, meu cabelo já estava preso no usual coque alto, então eu apenas vesti meu casaco, antes de pegar minha bolsa e sair do apartamento. Como todos os dias, antes de sair eu olhei pelo olho magico, saindo apenas quando tive a certeza de que não havia ninguém do outro lado a espreita. Tranquei a porta rapidamente, colocando a chave em minha bolsa.

— O aluguel está atrasado, senhorita – eu pude ouvir sra. Bennet falando quando passei pela portaria do prédio.

Eu dei um olhar sob o ombro, vendo que ela me olhava com uma mão na cintura enquanto a outra alisava seu gato.

— Eu sei. Pago assim que eu voltar – falei, abrindo a porta e saindo porta a fora.

Abracei-me mais ao meu casaco quando senti o frio. Mesmo que o inverno já estivesse indo embora, ainda sim eu sentia falta do calor a qualquer hora do dia em Scottsdale.

— Está atrasada – Mia falou, com duas bandejas na mão, me entregando uma delas – Mesa seis. E não se esqueça de colocar a touca.

Assenti, passando pelo balcão e guardando minhas coisas rapidamente nele, antes de seguir para a mesa indicada por Mia, fazendo o meu melhor para ignorar o aroma de café feito na hora, juntamente com as panquecas que faziam meu estômago dar pulos de ansiedade para começar a digerir algo.

Eu segui para as outras mesas, após cobrir rapidamente meu cabelo com a redinha, anotando os pedidos e os passando para a cozinha. Ao final do dia, eu sempre sentia como se minhas pernas fossem travar e eu fosse ter um colapso a qualquer momento. Definitivamente, eu não conseguia me acostumar com aquilo.

Sentia falta de casa, dos meus amigos. Sentia falta da minha vida e de tudo que me pertencia. Mas eu não podia voltar, ao menos não ainda. Embora eu usasse um conjunto e avental, eu sabia que se levantasse a blusa, encontraria a linha da cicatriz do que me levara ali. Eu tinha um namorado que eu pensei ser alguém que eu pudesse confiar. Mas eu estava tão errada sobre ele, quanto minha mãe sobre Jack.

Red vendia drogas e eu nunca sequer desconfiei. Quer dizer, eu devia tê-lo feito quando ele claramente não tinha um emprego ou uma família estável e vivia por aí esbanjando dinheiro.

Nós estávamos na porta de casa. Red me mostrava um mustang 64 que tinha acabado de comprar. Ele era quase tão brilhante e vermelho como seu cabelo e eu ria enquanto ele dizia os lugares que poderíamos conhecer. Tudo aconteceu rápido demais para eu assimilar.

Quatro viaturas da polícia vinham em nossa direção e eu não entendi o que estava acontecendo até Red me mandar colocar o cinto de segurança e começar a correr feito um louco.

— Rose? – Mia me chamou quando meu viu sentar em uma banqueta e encher meu copo com o suco da máquina. Eu sabia estar com a aparência miserável, então quando ela apontou para Mason que estava do lado de fora da lanchonete, acenando através do vidro, eu tentei sorrir e melhorar minha expressão.

Acenei de volta para ele, que deu alguns passos, entrando na lanchonete. Do outro lado da rua, eu pude ver sua mãe terminando de fechar a confeitaria.

— Oi, Mason. Indo para casa?

Mason havia sido a primeira amizade masculina que eu havia feito desde que cheguei a cidade, na verdade, a única até então. Mason parecia ser um cara legal e que aparentava estar sempre a espera de um tempo para poder chamar minha atenção, mas a última coisa que eu queria com certeza era nutrir as esperanças de outra pessoa.

— Na verdade estava pensando em levar minha mãe para jantar fora essa noite, – ele colocou as mãos no bolso do casaco azul escuro que vestia. As sardas no rosto, que constantemente o deixavam fofo, agora ficavam mais vermelhas devido ao frio. – quer vir junto?

Eu sorri, mas já tinha a resposta pronta.

— Obrigada Mase, mas eu-

— Não aceitamos não como resposta – sra. Ashford disse, aparecendo atrás do filho. Mason havia puxado os cabelos ruivos da mãe. Talvez os olhos azuis fossem do pai...

Mason pareceu satisfeito com meu sorriso, já que ele enganchou seu braço ao meu. Eu não via mesmo Mason com outros olhos, mas não estava nos meus planos recusar um jantar de graça naquela noite.

Eles eram sempre amorosos comigo, mas sempre que me viam, era impossível não perguntarem da minha família ou o que eu fazia sozinha naquela cidade. Mason estava no segundo ano de direito, e sempre que o assunto se virava para mim, eu fazia perguntar sobre sua futura profissão para mantê-lo pensando em qualquer outra coisa que não fossem mais perguntas para mim ou minha vida pessoal,

Eu fui para meu pequeno apartamento logo em seguida, passando no quarto da sra. Bennet e deixando o dinheiro do aluguel com ela. O empréstimo que minha mãe havia conseguido não duraria para sempre e em breve eu teria que ir atrás de algo que realmente pudesse me sustentar até a polícia resolver tudo.

Quando eu parei a porta do meu quarto, Lissa estava sentada na porta do seu brincando com o gato da dona do prédio. Ela deu um largo sorriso quando me viu, ficando ereta novamente após deixar o gato no chão.

— Como foi lá? O treinador é tão bonito quanto dizem?

Eu torci o nariz enquanto procurava pelas minhas chaves em minha bolsa.

— Sim, e grosseiro também – falei revirando os olhos – Falou comigo como se fosse uma qualquer. Mal me ouviu e quando finalmente consegui dizer o que queria ele disse: "Não treino garotas, agora me deixe aqui com meu grande ego achando que todas as mulheres que entram aqui querem meu corpo." – falei, tentando imitar seu rídico sotaque russo e falhando miseravelmente.

Lissa entrou em meu apartamento atrás de mim e nos sentamos no meu sofá, parecendo ainda mais curiosa.

— Hm, então, depois que ele disse que não treinava garotas você foi embora? – eu assenti – E as roupas? Elas não ajudaram em nada? O salto era um Louis Vuitton, ele não podia ter ignorado isso. Quer dizer, apenas mulheres sérias e que tem um propósito usam Louis Vuitton!

Eu ri. Lissa estava ali para fazer laboratório. Ela fazia teatro e morava na Califórnia com os pais, mas, diferente de mim, ela tinha escolhido estar ali. Nossas vidas não poderiam ser mais diferentes, mas eu gostava de conversar com ela, principalmente por ser a única que sabia o verdadeiro motivo por trás da minha estadia.

— Deveria ter ido de bermuda e luvas de boxe, seria mais bem atendida! Falando nisso... – eu me levantei, indo até meu quarto e peguei as roupas, as enfiando na mesma sacola que vieram e coloquei os saltos na caixa. Voltei para a sala, estendendo para Lissa, que negou com um gesto.

— Nada disso, Rose, eu dei a você.

Eu não consegui evitar de revirar os olhos.

— Como se eu tivesse onde usar. Vamos Liss, pegue!

Lissa sabia que se não as aceitasse de volta, as roupas seriam esquecidas dentro do meu guarda roupa, então aceitou, mesmo a contragosto.

— Vai fazer o que amanhã? – perguntou – Tenho um teste para uma peça, seria legal se pudesse ir comigo, sabe, ver como funciona os bastidores.

— Eu estou tão cansada – falei, soltando um suspiro e me afundando no sofá. Estiquei as pernas, as colocando sobre a mesinha de centro e soltei meu cabelo que caiu como cascatas em meu rosto. Sentia que poderia dormir ali mesmo a qualquer momento quando soltei um bocejo – Mas acho que vai me fazer bem ver alguma coisa realmente com conteúdo nessa cidade.

Lissa pareceu satisfeita o suficiente quando eu disse aquilo, já que ela me deu um tapinha em meus joelhos antes de falar sobre como estava ansiosa por conseguir aquele papel. Nós continuamos a conversa por mais alguns minutos até Lissa se lembrar de que havia combinado de ligar para sua mãe para contar como havia sido seu dia.

Após Lissa ir, me forcei a levantar e ir até o micro-ondas, esquentar um hambúrguer congelado que eu mais engoli do que mastiguei. Tomei um banho lento e quente e escovei meus dentes ainda embaixo do chuveiro, tamanho meu cansaço.

Tão logo a escuridão me envolveu, eu pude ver os olhos de Red.

Ele sorria, igual como a última vez que nos vemos. Dois de deus amigos ainda me seguravam enquanto ele brincava com um canivete em suas mãos. Eu assisti ele jogá-lo para o alto e o pegar enquanto ainda girava no ar. O objeto metálico provocando um tremor em mim.

— Pensei que fossemos namorados, Rose – Red disse. Antes eu me esquentaria com aquele olhar que ele me deu, mas não desta vez – Pensei que gostasse de mim.

— E eu gosto – eu me apressei a dizer –. Mas não da forma como você merece.

— Oh, mas eu ainda não disse nada – ele começou, mas eu sabia o que estava acontecendo.

Após a polícia perseguir Red e eu por alguns bons quilômetros, a polícia nos alcançou e ele acabou batendo o carro contra uma das viaturas. Eu mantive meu silêncio, afinal, não havia nada que eu soubesse. Eu não sabia de onde era o carro – que até então eu pensei ser o único delito de Red cometido. Mas eu estava enganada, percebi algumas semanas depois quando ele apareceu em minha porta me pedindo que escondesse drogas e armas.

E tudo foi apenas piorando. Eu o evitava e a cada vez que tentava terminar, eu tinha medo dele e do que pudesse fazer comigo. Mas então eu finalmente tomei coragem, terminando tudo por mensagem e pedindo que ele me deixasse em paz.

Não havia funcionado, visivelmente.

— Você me apresentou a sua família, lembra? – apelei, tentando fazer Red se lembrar de quem eu era, mas a verdade era que eu quem não sabia quem ele era – Podemos seguir como amigos.

Red sorriu para mim mais uma vez, girando mais uma vez o canivete no ar, antes de pegá-lo e vir em minha direção. Eu gritei quando senti a lamina atravessar o tecido da minha regata e furar minha pele.

Sentei-me na cama, sentindo o meu coração disparado e a boca seca. Levei minha mão a testa onde suor literalmente escorria. Demorei alguns segundos para me situar de onde estava e tentar acalmar meu coração. Eu estava longe de Red agora. Ele não poderia me machucar novamente.

Levantei, indo até o banheiro e jogando agua em meu rosto para afastar os pensamentos ruins.

— Foi só um pesado, Rose. Só um maldito pesadelo – murmurei para mim mesma.

Me olhando no espero, eu ergui a ponta do baby-doll que eu usava, vendo a linha ainda vermelha. Eu sabia que aquilo havia acontecido. Eu sabia que Red tinha me torturado por horas e que eu estaria morta se ele não tivesse decidido que me deixar viver até o próximo encontro seria mais engraçado. Eu ainda podia ouvir os gritos da minha mãe quando me jogaram na porta de casa completamente ensanguentada.

Eu fui até minha mala que estava no canto do quarto, sempre pronta caso eu precisasse sair com pressa, e peguei um conjunto de moletom e calcei meus tênis, sabendo que não conseguiria voltar a dormir. Meu celular em meu bolso conectado em meus fones de ouvido já com a playlist tocando. O relógio marcava 04:00 A.M e lá fora ainda estava completamente escuro quando eu saí do meu prédio, começando a correr até o parque que ficava há menos de 5 quilômetros de onde eu morava. O vendo começou a chicotear meu cabelo em meu rosto e eu me arrependi de não o ter prendido antes de sair de casa.

Quanto mais eu corria, mais eu sentia como se pudesse deixar meu passado para trás. A polícia ainda estava atrás de Red, mas na última vez que falei com Alberta não havia feito progresso. Os amigos dele espreitavam ainda minha casa, esperando que eu fosse voltar a qualquer momento, mas isso não aconceteria a não ser que eu pudesse ser capaz de me defender sozinha. Ele não me machucaria outra vez.

Assim que cheguei ao parque, me sentei em um dos bancos, tentando recuperar meu fôlego e observando as corujas que sempre apareciam àquela hora da madrugada.

Eu me levantei, pronta para me alongar e voltar para meu apartamento, mas a música alta que ainda tocava em meus fones me distraiu o suficiente ao ponto de no exato momento em que eu me levantei, esticando minhas pernas, não ver que um homem vinha correndo em minha direção e acabou trombando em mim, nos levando ao chão.

— Merda – xinguei, quando caí por baixo, sentindo alguma coisa molhada em minha bunda.

— Desculpe – o homem começou se levantando e estendendo a mão para que eu me levantasse, o que eu fiz sem a sua ajuda, porem soltando um gemido baixo quando senti uma dor em meu tornozelo esquerdo. Levei uma mão até a parte de traz da minha calça, notando que era apenas água – Se machucou?

Eu me virei para o homem, tendo que erguer meus olhos para poder ver com quem eu falava, devido a nossa diferença de altura. O reconheci no mesmo instante e parte de mim pensou que ele poderia ter feito de propósito, mesmo que eu quem estivesse estado desatenta.

— Eu não acredito nisso – eu ralhei, me abaixando para pegar meu celular que havia caído no chão junto comigo – Você além de grosseiro e rude é cego!

Dimitri me olhou parecendo confuso, mas após alguns segundos, pareceu me reconhecer. Ótimo. Ele nem ao menos se lembrava claramente de mim.

— Ah – ele soltou – Você!

Eu abri os braços, mantendo minha postura irritada

— Você é realmente um babaca. Eu queria ter dito isso ontem mais cedo, mas agora parece a oportunidade perfeita.

Ele nem ao menos pareceu abalado com minhas palavras, então eu bufei, me virando para seguir de volta ao meu apartamento, se não fosse pela dor que eu senti assim que girei meus pés.

— Merda – gemi, me sentando no banco que eu estive poucos instantes antes e olhando meu tornozelo que parecia levemente inchado. Eu não poderia ter mais sorte.

Dimitri se abaixou ao meu lado e eu me encolhi quando senti sua mão segurando pouco acima de onde ainda latejava.

— Não foi nada demais – falou avaliando e eu revirei meus olhos – Você deve ter tentando se apoiar no momento da queda. Tem que colocar um pouco de gelo.

— Pelo visto é médico também – eu murmurei baixinho, mas tive certeza de que não baixo o suficiente quando o homem me olhou cético, e eu olhei novamente para sua mão que ainda estava firme em meu tornozelo.

— Não – ele falou se afastando – Mas estou acostumado a lidar com ferimentos desse tipo.

— Na academia, eu suponho – ironia pingava de minhas palavras, mas, novamente, isso não pareceu abalá-lo – Certo, camarada. Obrigada pelo diagnostico. É ótimo que eu não terei que usar meu seguro social para isso – tagarelei.

Eu me levantei novamente, mancando da perna esquerda e andando para longe após pegar meu celular no banco ao meu lado e o enfiar no bolso junto com meus fones de ouvido.

— Mora por perto? – ele perguntou, acompanhando meu ritmo vagaroso.

Eu pensei sobre o caminho até em casa e que provavelmente eu levaria uma hora e meia para chegar lá novamente naqueles passos de tartaruga.

— Não precisa me acompanhar, eu sei chegar em casa sozinha – respondi de má vontade.

— Ah, eu aposto que sim – ele falou com um tom amigável e eu me lembrei de seu tom do dia anterior. Filho da mãe prepotente! – Mas ainda está escuro e é perigoso andar pelo parque a essa hora.

Quando percebeu que eu o estava ignorando, ele colocou um braço a minha frente, me forçando a parar e desviei meus olhos para trás, notando o pouco progresso que eu havia feito naquele pequeno trajeto.

— Eu moro na avenida Boyce com a Abbey – eu finalmente disse, voltando meu olhar para Dimitri e então para seu peito coberto apenas pela fina regata. Os braços musculosos e fortes. Lembrei-me da pergunta de Lissa poucas horas antes. Ele era realmente bonito. Na verdade, ele era mais gotoso do que deveria ser permitido – Vai me carregar no colo até lá? – perguntei, pensando que aquela não seria uma má ideia, mas eu também sabia que não era uma distância curta.

— Meu carro está estacionado há algumas ruas daqui – ele respondeu e eu somente concordei. Eu continuei mancando, rumando para a direção que ele apontou e me perguntando como eu conseguiria passar o dia todo atendendo mesas com aquela dor crescente em meu tornozelo – Desculpe, se importa se...

Eu olhei para Dimitri com o cenho franzido, não entendo sua pergunta, até que ele rodeou seus braços em minha cintura, me erguendo do chão. Eu estava surpresa demais para protestar, tamanho foi meu choque. Sabia também que se ele olhasse em meu rosto, veria que eu estava corada até a raiz dos cabelos, então eu apenas apoiei minha cabeça em seu ombro, sentindo dor o suficiente para sentir alivio por finalmente tirar meu pé do chão.

Um cheiro amadeirado me atingiu e eu puxei o ar um pouco mais devagar, tentando desvendá-lo. Era um cheiro bom, viril, forte, mas na medida exata. O necessário para eu memorizar em minha mente a fragrância. Eu poderia simplesmente perguntar qual era a colônia que ele usava, mas eu não queria parecer interessada porque realmente eu não estava. Tentando parecer acidental, eu aconcheguei minha cabeça na curva do seu pescoço e puxei mais uma vez o ar, sentindo a fragrância me inebriando. Eu puxei o ar novamente, com mais força e vi os pelos da nuca de Dimitri se arrepiando no exato momento em que ele parou de andar. Ótimo, eu provavelmente enfiaria minha cabeça em um buraco se eu pudesse.

— Hm – eu fiz com a boca, quando afastei meu rosto do seu pescoço e olhei em seu rosto, da forma mais inocente que eu pude – É Paco Rabanne?