Menina Delivery

Capítulo 13 – Alas sobre um piano


— Simón, o que está fazendo aqui? – Perguntou a mexicana emocionada. Seu amigo sorria lindamente.

— Te disse que nos veríamos logo.

— Mas eu não pensei que esse “logo” fosse esse “logo”. De verdade, não posso acreditar!

— Acredite!

Ambos estavam felizes. Haviam sentido muito a falta um do outro.

— Mas e o Foodger Wheels?

— Digamos que a Soraia me deu umas férias... por tempo indeterminado – completou rindo.

— Te demitiram, não é?

— Algo assim. Agora vamos! Você precisa me mostrar esse lugar que me falou tanto. – Ela concordou com um sorriso que mal cabia em seu rosto.

Pegando a mão do amigo – que ainda estava com as bagagens e o violão – ela mostrou todo o Jam&Roller para ele. Enquanto Luna ia lhe contando sobre o lugar, ele explicou que Soraia o havia demitido por ter saído na hora do trabalho, no dia em que eles saíram para passear e se despedir. Mas ele não se arrependia. E apesar de Luna ter ficado preocupada por ele ter perdido o emprego, ele a assegurou que não ligava. E era verdade.

— E como conseguiu dinheiro para vir para Buenos Aires? Como vai conseguir se virar se não está trabalhando?

— Tenho um dinheiro guardado e aluguei um apartamento. Não se preocupe. Eu vou conseguir me virar.

Luna ainda estava preocupada com o amigo, mas ele garantiu que ficaria bem.

***

Ámbar estava procurando Matteo. Ele não atendia suas ligações e nem respondia suas mensagens. Mas ela não ia parar até encontra-lo. Ele teria que dar uma explicação muito boa e convincente para sua namorada.

Quando estava a caminho da casa de sua madrinha, o achou caminhando:

— Matteo! – O chamou. Ele parou. – Precisamos conversar. Por que foi falar com a mãe da Luna para ela participar da competição?

Ele respirou fundo. Precisaria de uma explicação muito convincente para convencer Ámbar.

***

— Agora eu entendi porque você não estava atendendo minhas ligações e nem respondendo minhas mensagens – comentou Luna enquanto eles caminhavam para sua nova casa.

Ela ainda não conseguira tirar o sorriso do rosto. Seu melhor amigo estava ali, na mesma cidade que ela, e para morar.

— É que eu queria te fazer uma surpresa. Espero que tenho gostado.

— Eu amei, Simón! Você não sabe o quanto eu senti sua falta.

— Eu também.

Simón sabia que um dia teria que contar sobre seus reais sentimentos para Luna. Ele já não a enxergava mais apenas como uma amiga e precisava ser sincero. Mas aquele não era o momento. Não queria estragar aquele momento. O melhor a fazer era apenas curtir sua melhor amiga, que agora estava ali, bem ao seu lado de novo.

Enquanto iam comentando sobre o Jam&Roller, como haviam sido os dias de Simón no México sem Luna, e as novidades do Blake, rapidamente chegaram a casa da Sra. Sharon, que agora, também era o lar de Luna.

— É aqui.

O mexicano ficou de boca aberta. Nunca vira uma mansão como aquela ao vivo.

— Uau Luna, você está morando aqui?

— Sim.

— Que incrível, hein?

— É, mas você sabe que eu não ligo para essas coisas. Eu preferia mil vezes o México. Embora aqui não seja tão ruim... – refletiu se lembrando. Em Buenos Aires ela já tinha Nina, a escola nova não era tão ruim, e tinha uma pista de patins bem ao lado.

— Ah é? E por que?

— Vem, vamos entrar e eu te conto tudo! – Antes que Simón respondesse ela o saiu arrastando, mas ele a segurou.

— Luna, e se a dona da casa não gostar?

— Simón, você é meu melhor amigo. Onde você não puder entrar, eu também não entro!

Vendo que não conseguiria convencer Luna do contrário, ele entrou.

***

— E então Matteo? Estou esperando. Não vai me responder?

— Bom, na verdade... Eu fiz isso porque... Porque não temos que nos preocupar. – O olhar penetrante de Ámbar o deixou mais tenso. – Somos os reis da pista, é óbvio que aquela garota não vai ganhar de nós. Se ela quer competir, deixe-a competir para ter bem claro quem são os melhores. Vai ser muito bom ver uma carinha decepcionada naquele rosto, não? – Perguntou em um tom mais divertindo e viu os músculos de Ámbar relaxarem.

— É, até que tem razão.

— É claro que tenho – se gabou. – Agora vamos, que tal jantarmos juntos na casa da sua madrinha?

Ámbar concordou e entrelaçando suas mãos eles foram juntos.

***

— Pai, mãe! – Luna os chamou, entrando acompanhada de Simón.

— Oi queri... Simón?

— Olá Sra. Valente! – Eles se cumprimentaram amistosamente. Depois chegou Miguel.

— Simón, o que faz aqui? – Perguntou o pai de Luna.

— Agora eu moro aqui.

— Sim e eu vou mostrar meu quarto para ele, OK? – Informou Luna animada.

— Querida, essa é a casa da Sra. Sharon. Ela pode não gostar de receber visitas de um desconhecido – explicou Miguel.

— Eu sei papai, mas ele é meu melhor amigo! Se ele não pode ficar aqui, eu também não posso. Além disso é só um pouquinho, ela nem vai ver. Por favor! – Miguel e Mônica se entreolharam. Todos sabiam muito bem que ela não ia desistir da ideia tão facilmente, então aceitaram.

***

Apesar de ter prometido aos pais que seria breve, quando Luna estava com Simón, simplesmente perdia a noção do tempo. Mesmo só tendo estado longe por poucos dias, ambos sentiam como se tivessem sido anos. Já tinham tanto para conversar... E por mais que falassem, sempre tinham mais assuntos.

— Simón, eu quase me esqueci! – Falou Luna com seu jeito avoado.

— Do que?

— Vai ter uma competição de patins em dupla no Jam&Roller. Agora que você está aqui podemos patinar juntos!

— Ah Luna, eu não sei... Uma competição? Acho que isso é algo grande demais.

— Mas não tem problema. Somos ótimos patinadores e eu tenho certeza de que estamos no nível de qualquer um ali.

Simón sorriu. Essa era uma das coisas que mais o encantava em Luna. Ela era corajosa. Costumava ver as coisas mais simples e era como se para ela não houvesse nada impossível. Lutava pelo que sentia. Assim como ele escrevera em sua música “Valiente”. Não existia uma definição melhor para Luna do que a que ele usara na canção.

— Ah eu me esqueci de que estava com Luna Valente, a garota mais valente que eu já conheci! – Eles riram.

— Então isso é um sim? Vamos Simón, por favor!

— OK. Mas a gente tem que começar a ensaiar logo.

— Sim, sim, totalmente de acordo. Agora, que tal cantarmos aquela música que você compôs para mim?

Eles o fizeram. Juntos.

Porque estás siempre en tu mundo
Eres quien decide su rumbo
Sueles es ver las cosas más simples
Para ti no hay nada imposible
Sé muy bien que es este el momento
Ser feliz
Sin formas ni tiempos
Lograrás todo lo que intentes
Porque en ti está ser valiente

Vas a crecer
Vas a despertar
A descubrir para deslumbrar
En busca de tus sueños
Tienes el valor y vas a volar
Vas a sentir
Vas a encontrar
Vas a vivir
Para demostrar
Que eres tan valiente
Todo lo que quieras lo podrás alcanzar

Quando terminaram, sorriram um para o outro. A sintonia e conexão entre eles era incrível.

— Cantar me deu sede. Vamos pedir para sua mãe preparar alguma coisa? Ela é a melhor na cozinha.

— Vamos!

— Eu vou ir falar com ela, OK? – Ele avisou quando desceram as escadas. Luna assentiu.

No canto da sala de estar da Sra. Sharon, tinha um lindo e antigo piano ocupando um considerável espaço. Luna nunca fora muito do mundo da música, a não por seu amigo Simón. Ela nunca tivera interesse pelo instrumento desde que o viu, mas naquele dia, como se houvesse um imã, ela arriscou sentar-se ao banco do instrumento.

***

Depois de uma caminhada pela cidade, Ámbar e Matteo chegaram à casa da madrinha de Ámbar.

— Quer alguma coisa, meu amor?

— Um suco – respondeu Matteo.

Ámbar informou que ela mesma ia preparar. Então Matteo decidiu ir esperar na sala de estar. Onde se deparou com a “menina delivery”.

***

Não encontrou Mônica na cozinha, então foi procura-la. Quando a achou, ela explicou que estava ajudando Amanda com uma tarefa e pediu para ele mesmo preparar o suco. Avisou que não tinha problema porque a Sra. Sharon não estava na casa. Ele assentiu. Mas quando chegou a cozinha se deparou com uma loira revestida em roupas de grife, com algumas frutas nas mãos.

— Quem é você?! – Perguntaram juntos.

***

Luna mirava o instrumento com um pouco de receio. Quando seus dedos entraram em contato com as teclas, seus olhos se fecharam e ela se lembrou das palavras que lhe haviam dito Matteo:

“- Eu te vi patinar, Luna – continuou. – Você ama isso. Já é muito tarde para voltar atrás nisso. A paixão pelos patins já te consumiu. E se não há volta atrás, tem que arriscar tudo. ”

Ela repetiu as últimas palavras ditas por Matteo, encontrando uma melodia perfeita que se encaixara com elas. Mas só aquilo não a satisfez. Cerrou as pálpebras e se conectou com o que sentia. Matteo tinha razão. Ela amava patinar. Então tentou se concentrar ao máximo nisso. Ao mais profundo do que ela mesma sentia. De seu sonho...

Estoy cerca de alcanzar mi cielo
desafiando la gravedad
nada puede detener este sueño
Que es tan real

Quando ela terminou, Matteo instintivamente se sentou ao lado da garota e deu continuidade à música:

Sé que no existe el miedo, oh
si no dejo de intentar
la emoción que me mueve
es la fuerza de un huracán

Ele cantava com força, precisão e confiança. Isso encantava Luna. Era como se Matteo realmente acreditasse em cada palavra que proferia, e isso fazia tudo parecer muito mais real. A paixão que colocava em tudo o que fazia, encantava Luna.

Ao terminar, seus olhos se encontraram. E fora a primeira que vez se olharam assim, com uma conexão.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.