O livro a seguir é dedicado a todos os meus companheiros de viagem que tiveram suas vísceras arrancadas cruelmente do corpo. Também é dedicado a futuras lendas e heróis.
Agradecimento especial ao escriba que aceitou o trabalho por uma meia dúzia de ovos, já que meus olhos não são mais os mesmos e nem tenho a habilidade de segurar em uma pena.

Já faz quase vinte anos que estava na inescapável prisão de Markarth. Vim junto ao meu pai aos meus sete anos, ele fora preso ao tentar roubar algumas galinhas para termos algo para jantar naquele rigoroso inverno. Ele sabia que era arriscado já que tal fazendeiro não era pouca bosta, ele tinha contato direto com a guarda da cidade. Ele foi pego no ato e não demorou muito para que caíssemos aqui.
Se participei do roubo das galinhas de ouro do riquinho que planta batatas? Não, não.

Eu sempre fui apegado ao meu pai e ele se sacrificou por mim e por minha mãe. Doeu ter que deixá-la sozinha, mas ter que deixar meu pai só e preso por toda a eternidade me doeria mais. Tomei a decisão de morder um dos guardas para que me levassem junto.

Ficamos bem, minerando por dez anos e cumprindo nossa pena juntos. Aturando esse trabalho árduo e tendo que ouvir a guarda-chefe nos xingar e falar que ia cortar nossos pés fora, éramos até que felizes
Mas logo a idade foi atingindo-o e ele já não tinha a mesma força, não conseguia segurar mais uma picareta sem se machucar todo. Mas ele tinha que cumprir o mandato, ou iria sofrer....
Logo a doença veio e tomou seu organismo fraco, deixando ele sem chances de sobreviver.

Então, fiquei sozinho. Com a companhia do sentimento de revolta por ninguém naquele lugar ter tido o mínimo de piedade com meu pai.
Um dia, enquanto os outros presos mineravam como de costume, sujando suas peles que ficaram pálidas com a carência do sol, e cantavam cantigas antigas para tentar disfarçar a dor. Eu fiz um plano de fuga.

Acredito que uns cinco ou seis meses após a morte do meu pai, eu comecei a escavar uma saída. Descobri que presos anteriores a mim tentaram fazer isso numa parede de uma das celas... já tinham feito parte do caminho, eu só estava finalizando o trabalho.
Me perguntei por que já não tinham feito isso antes, talvez não soubessem da existência do lugar?
Quando o meu túnel ficou pronto, fui descansar para poder fugir no próximo dia... Mas nem tudo ocorreu como eu tinha planejado.

Um preso, que tinha muito poder e reputação com os outros, dedurou minha tentativa de fugir em troca de melhores condições em sua cela. Então fora isso que aconteceu com quem tentou fazer esse túnel antes... e por isso ninguém mais tentou. As pessoas que ganham um status ali não querem sair... pois sabem que lá fora não são ninguém e então deduram quem tenta.

A guarda me escoltou pra fora, senti meus olhos arderem quando o primeiro raio solar o atingiu deve ter sido ai que a minha cegueira começou... Dizem que ter olhos muito claros, como é meu caso, só piora a situação. Mas por outro lado, foi refrescante receber a luz em minha pele esbranquiçada e frágil, era um sol gélido mas mesmo assim conseguia me esquentar, não consigo me esquecer dessa sensação.
Depois dessa sensação de calor, logo foi dos meus ossos quase quebrarem quando eles amarraram minhas mãos com uma corda que parecia que tinha farpas. Em seguida me jogaram pra dentro de uma carroça e começamos a andar. Permaneci do jeito que me deixaram, deitado.
Estava fraco demais até mesmo pra me sentar, não comi nada de decente nos últimos 20 anos, nem sei como sobrevivi. Tudo parecia que ia me partir ao meio inclusive o vento.

Vi alguns pares de pés descalços com calças esfarrapadas ao meu redor, ouvi vozes masculinas dizendo algo sobre execução. Alguns estavam calmos e confiantes e outros, a grande maioria, desesperados, com o choro entalado na garganta.
Uma placa de madeira apareceu em nosso caminho e pode ver, nem com tanta clareza, mais ou menos para onde estavamos indo. Era um lugar perto de Whiterun.

A fraqueza tomou conta do meu corpo e eu desmaiei.

. . . . .

Assim que acordei não tinhamos chegado a nossa morte, já não estava mais no chão, mas, sentado ao lado de um dos homens.

"Até que enfim, você acordou. Achei que já tinha morrido antes da hora!", ele disse em um tom de humor.
Olhei para o homem, era um nórdico bem barbudo... Olhos negros e cabelo de cor igual, estava com um porte físico bem melhor que o meu..então não era um prisioneiro... E o mais intrigante, não parecia ser de Skyrim. Ele estava tranquilo o suficiente para fazer piadinhas numa situação como aquela.

"Heh... Sem medo da morte pelo visto", retruquei.
"Não devo nada a ela, então não há razões para encher meu cu de medo. Sei que Melitele terá piedade da minha alma e me levar ao descanso eterno"

Melitele... Nome familiar. É uma divinidade.. Mas não de Skyrim.

"Não é daqui pelo visto. Ninguém nativo de Skyrim endeusa Melitele."
"Sou das terras de Velen. Bem, não eu. Mas minha familia é."
"Estão foragidos?"
"Não exatamente. Velen foi devastada por razões políticas a muito tempo atrás. Para sobreviver alguns velhotes da familia migraram para Skyrim... E cá estou. Morava em Solitude"
"Já que o senhor de Velen não tem nada a temer para Melitele. Por que ele vai ser executado?"
"Por que fui pego fazendo minhas orações a ela. Disseram que eu podia empreguinar minha fé em outras pessoas, como uma peste."
"Whoa, como foi pego? Estava pregando a palavra dela em uma praça?"
"Antes fosse! Estava no conforto de casa."
"Você devia aprender a ser mais discreto..."
"Tarde de mais pro conselho, tutor."

Não pude deixar de rir com essa conversa, foi um riso abafado... Lembro-me bem que sentia dor até mesmo pra respirar.

"Posso ter a honra de saber o nome do senhor mais indiscreto do mundo?"
"Ari. A seu dispor."
"Vou pedir para as bestialidades me encaminharem a Ari de Velen toda vez que eu precisar de algo no inferno"
"Hah! E eu gostaria de conhecer o candango infernal que fala comigo agora."
"Drago de Cidhna Mine, prazer."

Nossa carroça tinha parado, era chegada a hora de descer e encarar o rosto sanguinário da morte.

"Teria sido uma honra tomar umas cervejas com você, Drago."
"Digo o mesmo, Ari."

Fomos empurrados pra fora com pontas de lanças em nossas costas até a uma fila que tinha ao lado da guilhotina.

"Não! Eu não quero morrer! Não quero deixar meus filhos sem um pai!", pude ouvir o homem que estava ajoelhado e com a cabeça posta na guilhotina gritar. Sua voz estava misturada com agonia e choro... mal se entendia os gritos seguintes. Ele se contorcia pra tentar escapar... Mas um dos guardas estava o segurando.

Logo a lamina caiu sob seu pescoço, sem piedade. Cortando-lhe as veias e espirrando o sangue na plateia que estava ao redor, assistindo a execução.
Não imaginei que o mundo fora da prisão pudesse ser tão podre a ponto de gostarem de assistir a morte de outro ser humano e aplaudirem.

Olhei para o rosto de Ari por um momento, seu semblante era de compaixão. Ari deve estar deixando mulher e filhos para trás também.
O corpo foi retirado e jogado em um canto, logo, os cachorros da guarda foram atraídos pelo cheiro e latiram com alegria pelo almoço que acabaram de encontrar.
É incrível como uma vida é tão sem valor.

"O prisioneiro de Cidhna Mine. Acusado de tentar escapar e condenado a morte. Dê um passo a frente."

Peça a Melitele piedade por mim.
Esse foi o que eu achei ser meu último pensamento.

Dei o passo e quando notei já estava de joelhos na guilhotina. Olhando para os olhos curiosos da multidão que ali estava. Lembro que me senti desconfortável e com um pouco de nojo daquelas pessoas... então olhei pra cima para me distrair enquanto a lamina estava sendo afiada novamente.

Quando eu ouvi....

Ouvi um bater de asas forte e rugidos vindo do céu, não era uma loucura vinda da minha anemia pois outros ouviram... logo os gritos tomaram conta do lugar... confirmando que o dono daqueles sons era um dragão.
A multidão se dispersou em um grito, os guardas e outros prisioneiros também... Me deixando ali, preso pela madeira que serve como uma "coleira".

Mas não demorou muito para a madeira parar de fazer peso no meu pescoço. Ari tinha se soltado das cordas e me soltado. Ele cortou as cordas das minhas mãos com uma pequena navalha..

"Vamos, porra, vamos!", ele esbravejou comigo.
"Menos barulho. Vai atrair o bicho! "

Saímos correndo e nos escondendo nos escombros das casas que o dragão já havia derrubado. Ari era meio gordo, era complicado ele passar por lugares mais estreitos... Ele derrubava tudo o que sua banha tocava.

Ótimo, estava fugindo de um filha da puta de um dragão com a pessoa mais estabanada do mundo que conseguiu ser presa na própria casa por que devia estar orando alto demais.
Por algum milagre conseguimos sair daquela área e nos instalarmos em uma caverna, onde Ari acendeu uma fogueira e me mandou descansar.

Ele tinha ido caçar lobos de pequeno porte com a navalha, tentei insistir em ajudar... mas ele disse que os lobos iam achar que eu era um saco de ossos e me usar como brinquedo de morder. Um tempo mais tarde ele voltou com a carne e nos fez um ensopado usando uma madeira que tinha o formato de uma tigela esquisita.

"Espero que goste! Receita de família", disse, orgulhoso.

Dei uns goles na sopa direto da tigela.
Tava horrível.

"Sua família está de parabéns pelos dotes culinários!", disse tentando esconder a ânsia de vomito.
"E isso dá sustância meu jovem. Vai precisar de energia para amanhã. Vamos sair daqui e ir para Whiterun... E ter aquela bebida que queríamos."

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.