Passaram-se dois anos tão depressa que mal pude notar que, àquelas alturas, os bruxos puro-sangue já tomavam o mundo da magia. Nós, Comensais da Morte, tínhamos o prazer em liquidar todos os que se opunham a ele. "Todos eles tem que morrer.", ele dizia.

Milorde estava certo. Ele sempre está certo. Súplicas e lamentações já não o convenciam. Aquele que atravessasse seu caminho acabava morto. E era essa nossa maior diferença. Ainda que Tom fosse excelente no que quer que ele fizesse, muitas vezes era simples demais. Dentro do óbvio. Eu diria até mesmo pacato. Ao contrário dele, eu dizia que a morte não é o pior castigo.

Já no início o ar de minha empolgação era notável. A vontade de ser útil falava alto. Eu tinha apenas dezenove. Então finalmente me tornei o que alguns chamam de assassina. E não. Matar não é algo bom. Um gesto simples de minha varinha e uma maldição rápida, são o suficiente para matar alguém, mas não para me satisfazer.

Tenho que concordar com Tom quando ele diz que viver a eternidade é realmente uma boa idéia. Mas matar ainda é simples. E simplicidade nunca foi uma característica minha. Eu preferia algo constante. Algo indomável. Dor. Dor berrante, agonizante. Crucio. Era isso, ou minha angústia.

"Não brinque com a comida, Bella. Um dia ela pode escapar de suas mãos na hora errada.", disse Tom, com tanta seriedade que me assustei. Respondi a ele calmamente que minha prioridade era matar. E que a Maldição Cruciatus era mera preferência. Os olhos dele brilharam de malícia ao me ouvir dizendo aquilo. "Menina brilhante!", ele disse. Então algo nele, eu consegui mudar. Em sua insuperável dominação em Legilimência, ele passou a torturar seus inimigos de modo bárbaro, fazendo-os implorar pela morte. E ele, sendo um Lord, atendia aos pedidos com misericórdia. Como o planejado.

Juntos, fazíamos o trabalho com excelência. Alguns já diziam que eu herdei a mente sádica de minha tia avó. Eu era íntegra, mas não cruel. Pelo menos, nisso eu acreditava. Foi morto, o último homem que ousou desrespeitar-me na presença de Milorde.

"És louca, Black! Louca como todos em sua família." – disse Walfrid Tinish, um dos servos mais imprestáveis de nosso vínculo. Sangue puro, de fato. Incompetente até a alma.

"Avada Kedrava." – disse Lord Voldemort, perante todos os Comensais da Morte.

Walfrid morrera por insultar a mim. As mentiras que ele dissera a meu respeito se viraram contra ele, acompanhadas de uma maldição de morte. A partir daquele dia eu passei a ser mais temida do que acatada. Minha segurança e convicção eram essenciais para meu domínio. Milorde sabia de minha aspereza. E contava comigo na hora em que precisasse dela.

Magia. Feitiçaria. Bruxaria. Os anos iam se passando, e pessoas iam morrendo. Eram tempos difíceis, aqueles. Tempos de glória, pelo menos por enquanto. Lord Voldemort tornou-se uma lenda. O Ministério da Magia não era páreo para nós. Cartazes com os nossos rostos eram espalhados pela cidade, na esperança de que fossemos presos. Os aurores tentavam. Dificilmente conseguiam.

Havia apenas uma organização que incomodava de verdade. Ordem da Fênix. Malditos sejam os bruxos traidores do sangue que foram responsáveis pela queda de Lord Voldemort. No dia em que foi morto, eu já sabia: ele iria retornar. Ele me disse que ainda podia com a morte. Eram extremamente escassas as chances de ele esvaecer por completo. Eu tinha certeza. Ele voltaria para mim.

"Se algo acontecer e alguma coisa der errado, saiba que ainda estarei aqui. É uma questão de tempo, Bella. Espere pra ver e verá!". – ele me disse um dia antes de ir até os Potter.

''Milorde, eu... Eu poderia acompanhá-lo até Godric's Hollow?'' – minha voz saiu tão trêmula que meu nervosismo transpareceu totalmente.

"Desta vez não, Bellatrix. Os aurores podem estar por lá. A notícia de que eu estou atrás dos Potter já foi vazada. Não ousaria arriscar você desse jeito. – Tom segurou minhas mãos. – Vou matar o garoto e voltar. Espere-me aqui, Bella. Isso não é um pedido. Quero voltar e encontrá-la aqui, livre de Azkaban.".

Tom Riddle era um bruxo demasiadamente seguro. Muitas vezes, isso lhe causou problemas. Foi o que aconteceu naquela noite. Quando me contaram sobre sua morte, minha reação foi a mais estranha. Sorri de um modo demente e disse "Eu duvido!". O Lord das Trevas realmente foi morto. Mas não deixou de existir. Eu tinha esperança. E não podia suportar a idéia de que ele não iria mais voltar.

Vários dos Comensais da Morte fugiram por um tempo. Mas no fim, foram capturados pelo ministério. Houveram também traidores e covardes. Dentre eles, Igor Karkaroff. O único dos que afirmaram estar amaldiçoados pela maldição Imperius, que é digno de meu perdão, é Lúcio Malfoy. Sendo ele marido de minha querida irmã, que acabara de ter um filho, era mesmo necessário que estivesse fora da prisão. Entendo o Lúcio e o perdôo. Tão soberbo, mas tão moleque. Ciça teria que encorajá-lo a ser leal.

Comuniquei meu marido a respeito de minhas esperanças. Ele e o irmão estavam dispostos a seguirem comigo. Bartô Crouch Jr., um rapazinho muito perturbado, adentrou a busca. Então nós quatro fomos atrás dos dois aurores que nos causaram mais desgosto. Frank e Alice Longbottom.

"Crucio!", eu dizia com vontade. A risada rouca de Rodolfo confortava-me, por ora. A maldição Cruciatus era meu maior apoio. Dor me lembrava a ele. Destruição me lembrava a ele. Crucio. E uma onda de prazer inundava minha pele. Era difícil resistir à tentação de matá-los. E de jeito nenhum eles abriram a boca. Já era tarde. O casal foi levado à loucura. Um destino trágico. Ainda mais trágico do que a morte.

Não me arrependo de nada que já tenha feito. Milorde me entenderia. Quando fui a julgamento, me condenaram a prisão perpétua. E a partir daí, minha vida mudou completamente. Tiraram de mim a coisa que eu mais prezava em minha vida. Minha varinha. Crucio.