A próxima bola vem à direita, do alto, com o pescoço de Sam como alvo. Desvio-o com a mesma habilidade, e sinto novamente a sensação reconfortante do choque.

O tempo não parece passar mais devagar, nem nada disso – na verdade, é como se meus reflexos estivessem mais rápidos, o que, na minha opinião, é infinitamente melhor.

Eu não vejo as bolas – minha visão não tem tempo de processar o que acontece – mas o instinto me leva exatamente aonde a próxima carga elétrica atingiria Samantha, exatamente quando eu tenho que estar lá.

Fico um pouco atrás dela, para ter uma visão mais ampla do cenário – mesmo que eu não conte muito com a visão para reagir, não custa ser precavida.

Logo já estamos na metade do caminho. Os Rubi e Turmalina estão atrás de nós. Os Água-Marinha, Diamante e Âmbar estão ao nosso lado, e os Esmeralda estão pouco à nossa frente.

– Sam, quando faltarem 7 metros, você dispara, ok? Vou estar logo atrás de você – digo.

Ela confirma com a cabeça, um sinal difícil de perceber em plena corrida.

Dez metros. Uma bola. Nove metros. Oito. Outra bola.

– Corre, Sam!

Ela dispara. Logo corre quase duas vezes mais rápida do que a nossa velocidade padrão durante toda a corrida até agora.

Fico satisfeita em notar que, graças à adrenalina no meu sangue e à minha velocidade ‘natural’ – que eu desenvolvi ainda quando criança, de tanto correr – consigo acompanhá-la com facilidade em sua corrida desenfreada.

Estamos quase chegando. Só faltam mais cinco metros.

E Então, eu capto um movimento pelo canto do olho.

Uma bola elétrica está direcionada ao tornozelo de Sam.

Instintivamente sei que a bola acertará o alvo cerca de 2 metros antes da linha, e não há tempo de fazer com que minha amiga mude a velocidade. Também sei que não há como desviar a bola com o bracelete; está baixa demais para isso.

Me jogo na direção da esfera e posiciono minha anteperna entre o atacante e seu alvo.

Não sinto a dor imediatamente; em vez disso, chego ao final da corrida e me deixo cair sobre um dos dois bancos disponíveis ali.

Cerca de um minuto depois uma porta se abre lateralmente e nós entramos para uma sala idêntica àquela onde estávamos pouco antes do começo da corrida.

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Sarah nos recebe, ansiosa e apreensiva.

Quando me deixo cair em um outro banco, Samantha, preocupada, se abaixa e ergue um pouco a barra da minha calça.

Há uma queimadura leve onde a esfera elétrica me tocou através da calça.

A carne está vermelha e, embora não haja bolhas e eu não esteja em carne viva, dói um bocado.

Quando Sarah vê o que aconteceu, ela fica surpresa.

– Mas... – ela murmura, quase inaudivelmente – não era para isso acontecer. Não é assim que...

Ela não completa. Nem tento entender o que ela quer dizer. Afinal, desde quando eles são claros em alguma coisa?

Quando Sam toca meu ferimento de leve, cerro os dentes e encolho minha perna.

– Sarah, tem alguma coisa que podemos colocar nesse machucado? – minha amiga pergunta, em um tom acusador.

Sarah confirma com a cabeça. Ela ergue o pulso e o posiciona próximo à boca. Ela clica em algo – de longe, algo que se assemelharia a um relógio – e diz alguma coisa que não escuto.

Em pouco tempo dois jovens – um garoto e uma garota de cabelos e olhos negros – chegam até nós. O garoto passa uma substância na queimadura e sinto um alívio quase imediato.

Sarah parece estar novamente divagando sobre algo incompreensível, por algum motivo estranhando o rumo dos acontecimentos.

A garota morena me ajuda a me levantar, vagarosamente, e manco em direção aos fundos da sala, onde vejo a porta por onde sairemos.