Ela salta tão alto que me lembro imediatamente dos filmes, onde a pessoa literalmente bate com a cabeça no teto. Ela não bateu com a cabeça, é claro, mas foi por muito pouco.

– Caramba, que susto! – ela exclama. – Por um momento eu pensei que você fosse um deles...

Percebo que ela também os chama de eles.

‘Não, jura? E como mais ela os chamaria?’ me retruco, mentalmente. Brava, me mando calar a boca, e então penso se esse lugar estaria me enlouquecendo, ou se essa era apenas a minha loucura habitual, mas um pouco acentuada pelos acontecimentos completamente confusos que se sucederam na minha manhã completamente confusa.

– Você está bem? – pergunto, saindo do me devaneio.

– Estou. – ela responde. – Foi só um susto, mesmo. Sou Tania. Tania Rosy – ela se apresenta, estendendo a mão.

Aperto-a e digo:

– Eu sou Isabel. Isabel Lins.

Alguns instantes se passam em silêncio. Solto sua mão, sem saber o que dizer agora, mas Tania acaba resolvendo esse dilema para mim.

– Estranho, não é? Gastarem tanta coisa com hóspedes ‘temporários’ – ela comenta.

Aceno com a cabeça, concordando.

– Você já viu a mesa?

Ela assente.

– Já... eu ia testar uma das opções quando você abriu essa porta...

A porta!

– Porque será que pudemos abrir essa porta? – pergunto, tanto para mim mesma quando para ela.

– Porque não deixariam? Somos um time, até onde sei, e sinceramente não fará a menor diferença para os Jogos. O que faríamos juntos, nos rebelar? – ela responde. – Não há nada aqui que pudéssemos usar como arma, e nem conseguiríamos quebrar as paredes para sair daqui...

Nem preciso conhecer muito Tania para perceber que nossas mentes funcionam de um mesmo modo.

Ela olha para mim, sorrindo.

– Vamos juntar os outros?

.

Ao fim de meia hora, já falamos com todos os 10 Safira.

Descobrimos que as portas só nos conectam aos outros da nossa mesma Casa.

Ao todo, somos 10, mas apenas 3 estão aqui agora – os outros ainda estão tentando assimilar a situação, e eu definitivamente não os culpo.

Tania é um pouco diferente do que pensei a princípio. É bem mais alegre e animada do que pareceu quando a conheci, e sente uma atração particular por bifes.

Nanda Renger, ou apenas Nanda, também tem 16 anos. Seus cabelos castanhos chegam-lhe até a cintura. Sua pele é clara e seus olhos são sobretudo azuis, mas variam de vez em quando para verde conforme a luz. Ela tem uma aparência mais ágil e veloz do que forte – algo que notei ser predominante entre os Safira. Assim que a conheço, percebo que eu e ela viremos a discutir bastante enquanto ficarmos juntas, visto que ambas temos a personalidade voltada para a liderança, mas não me preocupo muito com isso. Eu já tive amigas assim antes, e sempre nos demos muito bem.

Há também Kally Martson. Ela é um pouco mais nova do que nós, mas a sua aparência é de mais velha. Seus cabelos são castanhos muito escuros, quase impossíveis de diferenciar do negro, mas as pontas dos cabelos são douradas. Os olhos são castanho-esverdeados, e ela parece ser a de temperamento mais forte de nós. É como se estivesse cheia de coisas a discutir conosco, mas não dissesse nada. Como se estivesse se esforçando para não discordar de cada afirmação nossa. Mas ela também é determinada. Percebo isso assim que olho em seus olhos.

Estamos sentadas em um círculo, envolta da minha mesa.

– Bom – começo. – Agora que estamos aqui, temos um assunto importante para tratar.

Tania e eu já havíamos discutido o assunto, então ela completa minha fala:

– Precisamos pensar em alguma tática, algo que envolva a todos nós e que possa nos dar uma vantagem em relação às outras Casas.

E eu termino a sentença:

– Agora, o maior problema é... como começar?