Capitulo II – Cantada e encantada

Foi em 1988 que eu conheci toda a banda Cinderella, antes eu conhecia apenas um integrante. Eu trabalhava no bar horroroso do Harris. Tudo que era musico famoso ia para lá. Não foi diferente com a banda. Eles apresentaram musicas novíssimas do cd Long Cold Winter com muita exclusividade.

Eu ainda não era groupie. O Harris Porco ainda não me oferecia descaradamente. Apenas me punha para flertar com esses malucos. Minha mãe não sabia que eu trabalhava no bar, alias minha mãe pouco se importava para minha existência naquele momento. Ela pensava que eu estava no escritório trabalhando, quanta ingenuidade. Mas ela não tinha um papel fundamental nesta parte da minha vida.

Como agora eu já tinha sido usada por Harris, eu não via saída, nem conversão para uma vida pacata e normal. Talvez com um marido e dois filhos. Repetindo a omissão e descaso de minha mãe. Mas eu resolvi ser diferente. Não melhor, apenas diferente. Se fui pior, isto fica a seu critério.

Eu fui para o bar. Como rotina, já estava um caos a parte do bar. Bando de bêbados!

- Vadia. – Um cabeludo me chamou. Com aquele uniforme estúpido que fiz questão de usar um maior, qualquer mulher ficaria pornográfica naquilo.

- Vadia. – O amigo do cabeludo também gritou com força.

- Vadia. – Um bêbado gritou também. Eu não dava conta do movimento. Parecia que as outras meninas não trabalhavam. Tudo que queriam saber era de rodear os músicos.

- Vandinha. – Um frequentador assíduo do bar, tentou corrigir os brutamontes. Era tão assíduo que nem meu nome sabia direito.

- Vals. – Um idiotinha que se achava meu amiguinho gritou. Outro que merecia ir ao inferno.

- Vallie. – Uma ‘colega’ do bar passou com bandejas e sorriu para mim. Agora aquela filha da puta vinha me ajudar. Não precisava mais.

- Valerie. – Um otario amigo do meu padrasto sorriu nojentamente para mim. tanta bebida naquele corpo, era impossível ele acertar meu nome.

- Valente. – Eu não vi quem havia gritado, mas provavelmente algum frequentador daquele antro.

- Valentina. – Eu tinha pesadelos em ouvir aquela voz. A voz era do loiro tentação mais tarado do hard rock. Sim, eu já conhecia. Frequentador assíduo e pontual. Sempre cheio de álcool e varias putas ao seu redor. Quanto ego.

Se eu ganhasse um real por cada um que errasse meu nome, eu estava rica. Se bem que nos três primeiros eu ate atendia. Apesar de que naquela época eu ainda não havia dado para nenhum musico maluco, eu já me considerava uma vadia suja.

- Eric! Tudo bem se lembrou de mim! O que deseja? Quer beber, quer fazer o que? – O baixista loiro da Cinderella me olhava fixamente. Pelo menos ele era um gato eu já havia sido apresentada para músicos piores.

- Você é menor de idade! Por que não me disse isso? Eu podia ir em cana só de te cantar. – Eu não sabia como ele havia descoberto.

- Se o porco do Harris não foi, você também não vai. – Sorri triunfante ele ficou sem graça.

- Então tem um dos rapazes lá da banda interessado em você e... – Eu tive que o interrompe-lo.

- É o vocalista? – Ele balançou negativamente a cabeça. – Então não. – Ok, eu era uma mulher superficial e barata. Oh! Eu era uma vadia.

- Você sabe que o Tom não pega groupies... – Minha vontade foi de largar o loiro falando sozinho.

- Eu não sou groupie! Por acaso eu já dormi com a população musical masculina da rua? – Ele se sentiu constrangido. – Eric? – Ele mirava meus olhos agora. – Quem te contou que sou menor de idade? – Alguém naquela droga de bar sabia de mais sobre mim.

- Eu saquei tá. O jeito como se veste, fala e como você evita as suas ‘coleguinhas’. Eu tenho um faro espetacular para garotinhas loucas para experiências... – Eu bati o copo no balcão e olhei assustada para cara do loiro.

- Loiro Sedução da minha vida medíocre não termine esta frase. – Eu sorri sádica.

- Eu não entendi a sua aqui. De inicio você parecia como qualquer outra daqui. – Ele me analisava enquanto eu arranjava qualquer coisa para desviar os olhos dele sobre mim. – Mas depois eu vi toda doçura, a falta de atributos das suas amigas, não fisicamente, mas espiritualmente, sabe? – Ele não sabia como me descrever e isto o deixava intrigado.

- Você diz que eu tenho a falta de libertinagem em mim. – Ele assentiu.

- Viu ate o modo como fala é diferente. – Ele engoliu seco, aí vinha bomba. – Quantos anos você tem? – Que cara dura a dele.

- Não é educado perguntar isto a uma dama, tenho 14. Por quê? – Não havia motivos para esconder minha decadente miséria espiritual.

- O que te prende nesta droga de lugar? – Ou, ou lá vinha propostas malucas.

- Não morrer, não virar uma groupie, não me drogar, não fazer nada de significante a minha vida. – Eu lavava uns copos enquanto respondia.

- Eu perguntei o que te prende aqui, não o que pretende fazer aqui. Anda respondi, tenho uma proposta para te oferecer. – Loiro grosso e mal educado. Uh! Que ódio.

- Nada. – Eu pensei na escola, mas não tinha amigos. Pensei na família, mas não tinha mais ninguém. Pensei em mais alguém que poderia me fazer ficar aqui, mas só tinha pessoas que me faziam querer fugir.

- A banda vai entrar de turnê com o Bon Jovi, o que acha de ir com a gente? – Era um pedido um tanto louco e como eu não tinha motivos suficientes para negar.

- Topo. – O loiro sorriu. Eu não imaginava o quanto minha vida mudaria a partir daquela saída do inferno. - Loiro como você sugere que eu vá sendo que minha mãe, nem o pé no saco do Harris vão deixar? – Ele riu da minha ingenuidade.

- Fuja comigo, baby. – Ele sorriu sacana. – Eu estou encantado em você desde que pus os pés no recanto feliz do hard rock aqui. Não consigo viver sem você, todas as vezes que venho beber aqui é para te ver. – Eu era uma garota de 14, não conhecia o amor, muito menos conversa fiada. Nem preciso dizer que acreditei. – Seja minha garota! – Que olhos, que boca, que lábia.

- Eric, você sabe que eu não posso fazer isso e... – Ele não deixou que eu terminasse minha fala.

- Seja a senhora Brittingham, ou melhor seja minha senhora. – Ele sorriu e picou para mim ao mesmo tempo.

Essa historia de que Nobody’s Fool é pura mentira, eu era bem fool.