Memórias

Collinsport - A Viagem


MEMÓRIAS

CAPÍTULO DEZ:

Os dias passaram-se rapidamente, era percebido a cada instante que a viagem estava mais próxima. As malas mantinham-se prontas, e todos apenas esperavam. Julia estava a dormir. Sonhava com o seu “príncipe encantado”, porém acabou confundindo tudo quando trocou Edgard por Barnabas, e então acordou. Mal havia clareado e a pobre se rastejava para a cozinha. Iria fazer o café novamente nesta manhã, mas antes, ligou a televisão. Queria ver o noticiário ao qual todo dia sua mãe e sogro assistiam. Eis que passava uma reportagem sobre a ilustre Collinsport.

Podia ouvir de forma certa tudo o que a apresentadora estava a dizer: “Felizes agora são os moradores da famosa Collinsport, agora eles têm dois negócios de pesca abertos. Isso mesmo, a família Collins decidiu reabrir as portas de sua fábrica novamente”. Concentrou-se. Quer dizer então que Barnabas havia criado suas raízes, bem provável, afinal, pelo que Julia entendeu nas páginas de seu diário, ele já havia tido vários romances com garotas diferentes antes de Josette. Foi então que a vontade de fazer a viagem aumentou.

Mal podia esperar para que Edgard chegasse. Então, iam. Julia aproveitou o curto espaço de tempo que ainda tinha para ler mais alguma informação sobre Barnabas, e sua mãe continuou atenta ao noticiário. Eis que Edgard chega com uma criança, ela era uma daquelas africanas que o hospital passou uma semana inteira tratando. Porém no caso deste menino, quem pegou uma doença foi sua mãe, a qual acabou morrendo. Por isso, ocorreu a inesperada ocasião do próprio ser trazido. Mas não houve problemas, assim que todos notaram, Edgard logo os disse:

- Não precisam se preocupar, viajaremos sim. Porém Kadhi irá conosco.

Mal esperou e jogou a responsabilidade de cuidar do pobre menino para Julia, que não teve reação:

- Acredito que ele fará muito boa companhia para você Julia.

Não que importasse. Levantou-se e abraçou o tão pobre menino. Foi então que sentiu uma força, vinda dele. Era algo de espírito, um sentimento bom. Mais uma coisa a qual Julia não poderia explicar. Soltou-o por um minuto e correu para o quarto de Edgard, queria achar uma roupa que coubesse no menino, não que o próprio Edgard fosse magro, mas a dona Clara guardava as suas roupas de quando pequeno. Assim que achou uma adequada, jogou-a sobre a cama e levou o menino ao banheiro, precisava de uma ducha. Nina aproveitou e decidiu fazer alguma bondade, preparou-lhe um prato de macarronada, ao qual havia aprendido.

Rapidamente o menino ficou preparado, e todos saíram de casa. Finalmente, podiam gritar. Julia passou todo o percurso conversando com Kadhi. Toda a conversa mantinha-se interessante, afinal, podia-se perceber que ele era uma criança diferente, era uma criança crescida e amadurecida pela dura vida a qual levou. Após choros e consolos, começaram a falar sobre Barnabas, foi então que chegaram ao caís, de onde partiriam até Collinsport. Edgard pôde agradecer toda a viagem por não ter pego o trem. Foi então que uma voz de fundo surgiu, era o capitão:

- Mantenham-se calmos, estamos fazendo um pequeno retorno para melhor acomodar a saída de vocês do barco.

Quando desceram, Julia mal pode esperar. Seguiu até a biblioteca e cumprimentou o funcionário ignorante que já conhecia. Kadhi a ajudou na procura de um novo livro ou diário de algum outro Collins, enquanto dona Clara e Don reservavam os quartos. Os novos registros achados pelo africano pareciam diferentes, não eram de Barnabas, e sim a um homem chamado Joshua... Totalmente desconhecido por Julia. Foi quando um estranho senhor começou a falar sobre os Collins:

- É tocante, não? Eu fico abismado com o interesse de todos sobre esta tão odiada família...

Foi então que Julia percebeu que o senhor estava a falar com ela:

- Pois é. É mesmo impressionante toda a história, porém me parece que ela não tem fim.

- Ela tinha, agora que os Collins abriram a fábrica novamente... Não mais.

- Isto não deixa de ser um fato. E então, porquê o senhor acha que os Collins são tão odiados?

- Foi há muito tempo. Um jovem perdeu os seus pais em um acidente na própria Collinwood, e ficou obcecado por maldições e todos os outros tipos de magia negra. Dizia que uma bruxa o teria tornado em vampiro, porém até hoje não se sabe o que de fato aconteceu com ele. Mas todos os cidadãos da cidade possuem muita fé e são muito ligados à religião, isso os fez acreditarem que os Collins são amadores do Satanás. Daí vem o ódio.

- Tudo bem, Mas... O senhor pode-me dizer qual o nome deste jovem?

O homem falou em tom baixo, para ninguém ouvir:

- Era Barnabas. Filho de Naomi e Joshua.

Então lembrou-se dos registros achados por Kadhi, e relacionou tudo o que neles havia escrito às cartas e páginas do diário de Barnabas. Depois, mal quis parar pela procura dos Collins. Agradeceu ao senhor rapidamente, e saiu. Pensou por um instante, era estranho Barnabas ter tido algum daqueles pensamentos e até mesmo dizer aquilo, estaria escrito. Era tarde porém ainda queria passar na fábrica, e pedir todas as informações necessárias para completar totalmente o seu pensamento lógico. Apostou uma pequena corrida com o menino e finalmente, chegaram. Os portões já estavam a fechar, porém foi atendida de certa forma, a dona da fábrica caminha em direção a Julia:

- E então? O que procura nessas bandas? Peixe?

- Na verdade eu fiquei sabendo que você era uma Collins de sangue puro...

- Isso. Mas no momento vendemos peixe e não sangue.

Chegaram a rir um pouco, afinal, a situação que Julia mantinha-se presa era mesmo cômica.

- Não, não. Eu vim pedir uma, aliás, várias informações. Porém precisarei de tempo, muito tempo.

- Não sei se poderei conceder este favor. Mas você pode tentar passar na Collinwood amanhã, isso se o portão enferrujado não cair em cima de você, porque no caso, você sofre um terrível acidente, e eu sofro um grande roubo... Ao pagar extra para o Willie.

Riu novamente, agradeceu e seguiu para o hotel junto a Kadhi. O menino andava esbanjando alegria, sinal que algo de bom iria acontecer. Continuaram a conversar, assim, logo chegou. Bastou entrar e tomou um leve susto, tudo estava escuro, quando de repente pôde ver a claridade de uma vela que vinha em sua direção, era Edgard. Ele pôs a vela sobre a mesa, e acendeu a luz, andou até a ponta da mesa... Então perguntou:

- E então Julia, você quer fazer parte da família Hoffman?

- Como? Desculpe-me, não pude entender.

- Julia Salvatore, você aceita casar-se comigo?

ARTHUR C.