Memories

Cap 2: Conversa de mãe e filho


Aquela já era a terceira vez em duas horas que Oliver Davis abria seus e-mails. Já haviam se passado 2 meses desde o último e-mail que Mai havia lhe enviado.

Três possibilidades então passaram pela mente do jovem cientista:

1-Talvez o último e-mail fosse uma tentativa de provocá-lo para ele a responder, e assim ela esperaria por uma resposta.

2-O celular, ou qualquer coisa que ela usasse para lhe enviar os e-mails estava quebrado.

3-Mai havia desistido de enviar mais e-mails, já que ele não a respondia.

Naru colocou-se de pé e começou a andar por seu escritório impaciente, por algum motivo nenhuma das razões em que ele pensará parecia coerente com a situação em que ele se encontrava.

A primeira suposição fazia sentido, mas ele duvidava que Mai ficaria tanto tempo esperando por uma resposta de e-mail. Então a primeira opção podia ser descartada.

A segunda suposição faria sentido se para concertar um computador ou um celular demorasse 2 meses! E se o dano fosse tão grande, Mai já teria comprado outro aparelho. Logo, a segunda suposição também podia ser eliminada.

E por fim, a terceira suposição. Na verdade o rapaz já havia descartado ela logo depois de criá-la. Com a declaração de “não vou desistir de escrever e-mails para você até que me responda” do último e-mail que receberá da garota, Naru duvidava que ela pararia de enviar-lhe mais e-mails, afinal, não era da natureza da garota desistir de algo depois de uma “declaração de guerra”.

Oliver encostou-se em sua mesa com a mão esquerda no queixo, então por qual razão Mai havia parado de escrever os e-mails? Em sua cabeça ele começou a formular mais possibilidades, o distraindo a ponto dele não perceber a entrada de uma mulher com seus 38 anos, cabelos loiros longos e enrolados nas pontas, olhos verdes e um sorriso gentil ao ver o rapaz moreno pensativo.

–Alguma coisa está lhe incomodado Noll?

A voz doce da mulher tirou Naru de seus pensamentos, e imediatamente seus olhos azuis voltaram-se para afigura feminina a sua frente.

–O que está fazendo aqui mãe?-indagou Naru usando seu inglês britânico perfeito.

–Nada em especial.–respondeu Luella Davis sorrindo-Vim trazer alguns documentos que Martim esqueceu em casa e resolvi passar aqui para ver meu filho, e aparentemente acertei em vir aqui. Em que ou quem estava pensando?

O rapaz pode perceber um brilho travesso nos olhos verdes da mãe quando ela fez a pergunta. Haviam três mulheres que possuíam aquele brilho no olhar. Luella Davis, Mori Madoka e Taniyama Mai.

Mentalmente ele fez uma nota: Nunca deixar as três juntas, ou com certeza ele não conseguiria argumentar direito.

–Eu estava pensando no caso que eu aceitei ontem.–mentiu Oliver voltando a se sentar em sua cadeira.

Luella fitou o filho emburrada, por mais que Noll permanecesse com sua face neutra, como mãe ela sabia que o jovem a sua frente mentia para encobrir algo que o estava incomodando. A mais velha então, sentou-se na cadeira que estava de frente à mesa do filho e o encarou.

–Oliver...–Luella disse, chamando a atenção do moreno. Sua mãe sempre o chamava por seu apelido: Noll. Ou seja, quando seu nome, saí pela boca de Luella Davis, era por um dos dois motivos: Ou ela estava irritada ou ela estava preocupada, e julgando pelo curto dialogo anterior, a loira estava preocupada-...já se passaram quase dois anos desde que você encontrou...Gene. Nós já realizamos o funeral de seu irmão e fiquei muito feliz quando você ficou comigo e com seu pai depois, mas...

Naru encarou a mulher a sua frente, onde ela queria chegar com essa conversa?

–...acontece que eu como sua mãe, sei quando meu filho não está feliz.

–Mãe, eu estou feliz aqui com você e meu pai.–disse Noll com sua face neutra, mas se mexendo desconfortável em sua cadeira, aquele tipo de conversa não era do tipo das que mais o agradava-Além do mais, eu posso trabalhar com o que gosto. Isso já é o bastante.

Luella sorriu gentilmente para o gêmeo mais novo. Ela sabia que aquele tipo de conversa sentimental não era o tipo de conversa que mais agradava o filho, mas ela se alegrava que ele não estava tentando desviar do assunto como ele fazia logo depois da descoberta da morte de Eugene Davis.

–Entendo...-falou a mulher suavemente-...mas você estava mais feliz no Japão, não estava?

A pergunta da loira pegou Naru de surpresa, fazendo com que ele olhasse sua mãe nos olhos.

–Ah!-exclamou a mulher abrindo um sorriso de orelha a orelha-Essa é a primeira vez que eu vejo você com uma expressão de surpresa tão aberta, Noll!

O comentário da mais velha fez com que o rapaz voltasse a si. Ele endireitou-se em sua cadeira e pegou alguns papeis que estavam em sua gaveta.

–Aonde quer chegar com essa conversa mãe?–indagou Naru fingindo estar lendo os papeis.

–Você ficou ao nosso lado por muito tempo Noll, nos ajudou a passar por momentos muito difíceis...tanto que eu nem sabia quem eram os adultos e quem era o filho.–riu-se Luella lembrando de que Oliver quem estava sendo forte por ela e por Martim-Mas acho que agora está na hora de você seguir seu próprio caminho, ao lado de alguém especial.

–Mai é apenas minha assistente.–comentou Naru levemente desconcertado com a conversa.

–Eu nunca citei nomes, Noll.–disse Luella sorrindo para o filho, que lhe lançou um olhar gélido-E esse tipo de olhar não me afeta querido.

Internamente Naru suspirou. Ele definitivamente não venceria sua mãe em argumentos.

–Mas agora que você citou Mai-chan...–continuou Luella com um sorriso malicioso brincando nos lábios–...como ela está?

–E como eu posso saber mãe? Não mantive contato com nenhuma pessoa da SPR do Japão.–respondeu Naru rapidamente, tão rápido que parecia uma resposta ensaiada à tempos.

A mulher sorriu maldosamente, e aquele sorriso não passou despercebido por Oliver, sua mãe sabia de alguma coisa.

–Noll, Noll, Noll...–ela disse balançando seu dedo indicador–Não tente me enganar, sei muito bem que a Mai-chan manda e-mails para você a quase dois anos.

O rosto de Naru ficou pálido, mas a expressão, ou melhor, a falta de expressão continuou em seu rosto. Não podia deixar que a revelação de sua mãe o abalasse.

–Quem te contou isso, mãe?–indagou o rapaz-Eu não lembro de ter comentado nada a respeito dos e-mails com ninguém.

–Ah querido...-iniciou Luella rindo-É claro que foi a Madoka, afinal ela é minha informante quando se trata da sua convivência com mulheres. Acha mesmo que ela não me contaria que sua assistente pediu seu e-mail para ela continuar mantendo contado com você?

Naru estreitou seus olhos, agora ele definitivamente mataria Madoka, mas antes disso ele provaria para sua mãe que a “informante” não estava muito bem atualizada.

–Mai não me manda mais e-mails há dois meses.–comentou o rapaz casualmente-Provavelmente ela desistiu depois que percebeu que eu não respondo e-mails.

E assim como ele imaginou, a reação de sua mãe não foi outra a não ser gritar:

–O que???!!! Madoka não me disse nada disso!!!

–Talvez porque ela não saiba.

–Madoka nunca deixaria algo do tipo passar!–exclamou a loira desesperada-Tenho certeza que aconteceu alguma coisa com Mai-chan!

As palavras de Luella fizeram Naru lembrar sobre seus pensamentos antes de sua mãe invadir sua sala. Ele estava tentando entender o porquê dos e-mails terem cessado de repente, e então a voz da mulher o tirou de seus pensamentos.

Eu só consigo ver um motivo para isso acontecer...–disse a Senhorita Davis, e a frase chamou atenção de Noll, que fingiu continuar lendo os documentos quando na verdade o que mais queria era saber a opinião feminina no assunto-...Mai-chan arranjou um namorado!!!

Os olhos de Naru se estreitaram, definitivamente ele não estava nem um pouco feliz com aquela resolução, mas a teoria de Mai ter um namorado fazia muito mais sentido do que as teorias falhas que ele formulará.

O moreno não podia negar que sua assistente havia se tornado uma bela mulher, a foto que Madoka lhe enviará era a prova disso. Mai tinha curvas generosas e nos lugares corretos, os cabelos longos e bem tratados e um rosto maduro e angelical para uma garota de 18 anos.

Não era impossível que Mai tivesse arranjado um namorado.

Era oficial. Ele não gostava daquela resolução para o caso dos e-mails.

–Noll!!!-exclamou Luella batendo suas mãos na mesa, o que chamou a atenção de Naru-Você está voltando para o Japão agora mesmo!!!

O rapaz arqueou sua sobrancelha direita, ele havia escutado bem?

–Você vai voltar agora para o Japão para conquistar a Mai-chan!!!

–E o que faz você pensar que eu vou ir atrás dela mãe?–indagou Oliver com sua voz calma e monótona.

– Ela é a única garota que conseguiu aturar suas atitudes frias sem pedir demissão uma vez sequer!!!-gritou a loira–Quando conversei com ela no Japão, tive uma ótima impressão dela! Ela é linda e muito boazinha!

–Isso ainda não são razões validas.

–Eu vou querer netos Noll!!! E Mai-chan é a garota em que estou depositando todas minhas esperanças!!!–choramingou Luella.

Naru nunca agradeceu tanto ter pleno controle sob suas emoções, caso contrário, ele teria corado com a frase que sua mãe havia dito anteriormente.

–Mãe...eu tenho 19 anos, e só farei 20 em três meses.

–Ótimo! Você já tem idade para casar Noll!

–Você ouviu o que eu acabei de dizer mãe?–perguntou Naru com sua frieza de sempre.

–Posso já até imaginar o casamento!-exclamou a loira sorrindo bobamente.

Ignorando as fantasias da mãe, Oliver voltou a se sentar em sua cadeira, mas ao levantar o olhar para o pequeno espelho que ficava pendurado na parede atrás de sua mãe, ele pode ver seu reflexo rindo.

Ele estreitou os olhos. Aquele não era seu reflexo, aquele era seu irmão gêmeo idiota, Eugene Davis, que não havia partido para o “outro mundo” alegando que ele precisava ver algumas coisas acontecerem antes de fazer a travessia.

Maldito Gene. Rindo à custa dos outros.–pensou Naru.

Mãe!-chamou Noll–Eu gostaria de trabalhar agora.

–Oh! Claro querido!–disse Luella, já se direcionando a porta–Mas não esqueça de arrumar as malas hoje.

O moreno apenas arqueou sua sobrancelha direita.

–Você está voltando para o Japão!

Continua...