Memento

Preparativos


Mami gostava de visitas.

Nos tempos em que morou sozinha, a visita de um vizinho, do proprietário do prédio, ou até mesmo de um encanador ou eletricista, ajudava a quebrar a estafante rotina entre a escola e proteger a cidade. Ajudava-lhe a esquecer o vazio dos cômodos de seu apartamento.

Hoje, no primeiro dia da semana de ouro, ela esperava por uma visita especial, mas de forma inesperada recebeu outra, também especial.

Contudo, Mami não estava tão feliz, pois o significado de ‘especial’ dessa visita era de ser ‘muito estranha’, ainda mais com tudo que ela acabara de ouvir das duas garotas no hall de entrada. “Deixa-me ver se eu entendi. Você vai visitar os seus parentes, mas você não é órfã?”

Homura nada disse, mantendo uma expressão indiferente.

Mami cruzou os braços. “Quando eu soube que você morava sozinha, eu imaginei que você estivesse em uma situação similar a minha. Apesar de que você era de Tóquio...”

“Eu sou órfã.”

Ouvindo Homura, Madoka sorriu para Mami para que a loira deixasse isso de lado.

Porém Mami estava confusa demais. “Poderia... Poderia me explicar isso melhor...”

“Vai fazer o que eu pedi ou não?” Homura estava mais séria.

Mami suspirou e abriu uma mão. Das pontas dos dedos voaram pequenos laços que foram direto para a face de Homura. Os laços começaram a tecer e a mudar de cor, alguns ficaram transparentes, enquanto outros se tornaram vermelhos.

“Feito.” Mami fechou a mão.

Homura pegou o delicado objeto em sua face, um par de óculos, uma réplica de uma sombra do passado.

“É vidro simples. Eu ainda tenho dificuldade para fazer lentes e eu não sei o grau que você usava.”

“Está tudo bem.” Homura continuou a examiná-lo. “Qual a garantia que ele não vai evaporar?”

“Ele é pequeno e simples o bastante. Eu coloquei magia suficiente para durar, desde que não o exponha em condições extremas,” Mami disse, um tanto irritada, “e se você duvida tanto, por que então você simplesmente não compra um novo?”

Homura colocou os óculos de volta. “Foi idéia da Madoka.”

A garota rosa apenas assentiu com a revelação.

“Oh... Certo...” Olhando com certa suspeita para ela, Mami perguntou, “Vocês irão passar a semana de ouro inteira em Tóquio?”

“Eu não sei,” Madoka respondeu, “pela carta, parece que eles querem ver se Homura está bem.”

“Carta?” Mami franziu as sobrancelhas e consultou Homura.

A garota com tranças e óculos virou a cara e cerrou os punhos.

Sentindo a tensão, Madoka continuou, “Ahnnn... E você vai ficar em Mitakihara, Mami-san? Com Nagisa-chan?”

“Nagisa...” Foi o suficiente para loira ignorar Homura. “Sim, eu vou...”

Madoka olhou pelo apartamento. “Mas ela não está, está?”

“Ela está na casa do namorado. Ele vai apresentá-la para família dele.”

“E você parece preocupada.” Madoka viu Mami juntar as mãos trêmulas ao peito

“Preocupada?!” A loira rangeu os dentes e sussurrou, se esforçando para não gritar, “Ele sabe de tudo!”

“Nós já conversamos sobre isso.” Madoka gesticulou. “Acalme-se, ele não sabe de tudo.”

“Não importa se ele sabe,” Homura complementou, ainda sem olhar para as outras duas, “se for apenas ele.”

“Nada de ruim aconteceu, Nagisa será mais cautelosa,” Madoka concluiu, “e isso não vai comprometer em nada a minha missão aqui.”

Mami pressionou com mais força as mãos contra o seu peito. “Não é apenas isso...”

Madoka aguardou ela continuar, com ar de curiosidade.

“Quando eu descobri que ela tinha um namorado, eu fui muito duro com ela.” Se lembrando, Mami balançou a cabeça e cobriu parcialmente a face com a mão. “Nagisa nos contou que ele descobriu por acidente, mas eu não acho isso. Eu acredito que ela possa ter revelado para ele em um ato de... de...”

“Rebeldia?” Homura disse.

Mami cobriu ainda mais a face, fechando os olhos. “Eu cometi um erro. Eu achei que estava preparada para cuidar dela, contando com a experiência que eu tive com a Kyouko. Eu até achei que seria mais fácil... mas agora eu penso a todo o momento que ela pode estar mentindo, me odiando pelas costas.”

“Ela jamais faria isso por esse motivo,” Madoka afirmou, “porém por amor... É um forte sentimento, que nos leva a fazer coisas impensáveis.”

Homura olhou para ela.

“Quando ela se deu conta do que estava fazendo, eu estou certa de que ela se sentiu muito mal por estar escondendo isso de ti, mas ela não conseguiu juntar coragem para revelar, pois já era muito tarde...”

Mami gesticulou para que ela parasse. “Eu sei... Eu sei... Mas eu quero dizer que não consigo evitar em pensar assim. Às vezes eu me pergunto se isso vem de mim ou...” Ela suspirou. “... da minha bruxa.”

“Ambas são iguais, então não carregue essa dúvida.”

Ouvindo Madoka falar com tamanha seriedade, Mami comentou, “Madoka-san, você realmente se tornou outra pessoa.”

Com um ar de surpresa, Madoka sorriu. “Eu não me vejo assim. Eu acho que, encontrando com tantas vidas e passados, eu aprendi uma coisa ou outra. Hehe.”

“É hora de ir,” Homura disse.

“Sim,” Madoka concordou, “vamos deixar Mami-san receber a visita dela.”

“Hã? Como você...” Mami olhou para trás, para onde estava a sua mesa de vidro, com duas xícaras e talheres já dispostos.

“É Sasa-chan, não é?”

“Sim, ela disse que viria tomar o café da manhã comigo...” Mami voltou a olhar para Madoka, expressando certa preocupação. “Eu ainda estou surpresa que ela é da Lei dos Ciclos.”

“Uhum.” Madoka sorriu. “Ela foi guiada por mim recentemente e ela não sabe muito ainda.”

“Mesmo assim, eu não entendo o porquê dela esconder isso de mim nos nossos primeiros encontros. Ela até camuflou a fonte da magia.”

Homura comentou, “Apenas porque faz parte da Lei dos Ciclos não significa que é um aliado.”

A imagem de Oriko surgiu na mente de Mami. “Talvez... Mas Sasa-san não compartilhou o motivo de ter feito isso. Se há algo em mim que ela tem medo, eu gostaria de saber.”

“Sasa-chan era uma garota mágica solitária que acreditava apenas em si mesma,” Madoka falou, “ela nunca pôs muita fé em confiar nos outros. É disso que ela deve ter medo.”

... Não pode confiar tão cegamente!...

Das lembranças de Mami, a voz de Sasa ecoou. “Hmmm... Eu devo dar mais tempo para ela, não irei pressioná-la quanto a isso.” Então ela sorriu. “Ela está prestes a chegar. Não querem ficar mais um pouco? Eu posso preparar um pouco mais de chá.”

“Eu não tenho tempo para isso.” Homura abriu a porta para sair.

Madoka olhou para a pressa da outra garota. “Ah... Desculpa, Mami-san, nós vamos pegar o trem para Tóquio essa tarde e ainda temos algumas coisas para fazer.”

“Claro, tenham uma boa viagem.”

Depois de se despedirem de Mami, as duas foram para o elevador. No caminho, Homura novamente removeu os óculos para examiná-los, nisso notou Madoka sorrindo de leve. “O quê?”

A porta do elevador se abriu e havia uma garota, que ficou boquiaberta.

Madoka logo a cumprimentou, “Bom dia, Sasa-chan!”

“Ma... Ma...” Sasa pôs a mão no peito para se recompor. “Madoka-sama, que surpresa...”

Madoka gesticulou, sorrindo. “Não me chame assim.”

Sasa protestou, “Mas é certo, afinal você é a deusa que salvou a minh-” A porta do elevador começou a fechar.

Homura conseguiu impedir com a mão. “Você realmente não tem noção, não é mesmo?”

Após ver a expressão intimidadora daquela garota, Sasa retornou a olhar para Madoka.

Ela havia aberto um sorriso ainda maior.

“Ahh...” Sasa compartilhou o sorriso. “Claro! Madoka-CHAN! Hahahaaa...” E ela deixou elevador, passando entre elas. “Então você veio visitar a sua amiga.”

“Amiga próxima.”

“Amiga próxima, isso!” Sasa deu rápido cutuco em sua própria testa. “Ela está bem?”

Madoka assentiu. “Ela está esperando por ti.”

“Bom saber que a minha amiga, que é a sua amiga próxima, está bem...”

Homura semicerrou o olhar.

Sasa engoliu seco. “T-Tenha uma ótima semana de ouro, Madoka-saCHAAANN!”

Madoka juntou as mãos. “Desejo-lhe os mesmo, Sasa-chan! Wehihi.”

Com Sasa parando em frente da porta do apartamento da Mami, Homura e Madoka entraram no elevador.

Quando a porta se fechou, Homura disse enquanto escondia os óculos em um bolso, “Ela ainda vai ser um problema.”

“Por quê? Está indo tudo bem.” Madoka pressionou o botão no painel para descer.

“Enquanto ela não sabe o que ela realmente é, mas ela vai descobrir, quando corpo dela deformar ou quando um dos lacaios dela aparecer.”

“Isso não será fácil de acontecer.”

Homura franziu a testa com a súbita afirmação da Madoka.

“Você ouviu Mami-san? Ela está preocupada com a maldição dela, está pensando demais sobre isso... Enquanto Sasa-chan sequer sabe que as bruxas vêm das garotas mágicas.”

Mais surpresa, Homura perguntou, “Você já sabia?”

“Não...” Madoka então assentiu para si mesma. “Mas como dizem, ignorância pode ser uma benção.”

“’Pode ser’?” Homura ficou mais séria. “Então ela é um experimento.”

Madoka olhou para ela.

Aquele olhar determinado. O coração de Homura gelou.

“Eu quero que ela viva.”

Era raiva? Era isso que ela podia sentir na voz dela? Homura não estava certa, não tinha mais como pensar sobre isso, apenas em controlar os tremores de seu corpo, em não baixar olhar, nem a cabeça.

Madoka continuava a encará-la.

Por quanto tempo mais?

A porta do elevador se abriu, quebrando aquele momento. Enquanto saía, Madoka continuou, “Ela irá descobrir um dia, mas quando acontecer eu espero que o relacionamento dela com Mami-san tenha amadurecido.”

Homura voltou a respirar, ela nem notara que havia prendido. “Então esse é o plano...” Quando elas chegaram à rua, ela disse, “Agora vamos à farmácia.”

“É sobre o seu coração, não é?”

“Sim.” Homura olhou para o seu próprio peito. “Seus pais não tinham muita idéia da minha condição, mas com eles é diferente.”

“Você se lembra de quais você tomava?”

“Eu fiquei no hospital tempo o bastante para decorá-los.” Homura ficou mais pensativa. “Eu não estou certa quanto à dosagem, mas isso não importa.”

Elas caminharam pelas ruas até encontrar um desses estabelecimentos. Era grande, um bom sinal de que os remédios que Homura precisava estariam ali, porém a rua tinha muito movimento.

As duas chegaram perto de um muro. Homura se virou para ele e conjurou uma ampulheta e a deitou sobre a palma da sua mão. O mundo ficou desbotado e sem vida, sem movimento. Ela olhou para o seu objetivo, a farmácia, se sentindo mais segura. No entanto, ao dar o primeiro passo, seu pulso foi segurado.

Era Madoka, as cores mortas sobre a garota imediatamente revitalizando. “Por favor, deixe dinheiro na prateleira.”

Homura assentiu e atravessou a rua entre os veículos paralisados.

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A casa dos Kanames estava barulhenta naquela tarde.

“Está levando bastante roupa? Serão vários dias, hein?”

“Sim.”

“E o celular?”

“No bolso.”

“E o recarregador? Desodorante? Absorvente? Escova de dente?”

“Sim! Sim! Sim!”

Madoka e Junko desceram as escadas, carregando duas malas de viagem cheias. “Ai... Estamos atrasadas?”

“Ainda há tempo.” Homura já aguardava por elas, carregando consigo uma mala mais modesta.

Tomohisa também estava esperando, mais preocupado. “Por que levar tanta coisa? Madoka, você nem sabe se a família dela vai deixar você se hospedar lá. A passagem que havia na carta era para Homura apenas.”

Junko revirou os olhos. “Ah não, não vamos conversar sobre isso de novo.”

“Está tudo bem pai, Homura me disse que eles vão deixar.” Madoka deu uma piscadela para Homura. “Não é?”

A garota com tranças assentiu rapidamente. “É verdade. A casa deles é grande, se eu me lembro.”

Tomohisa e Junko ficaram curiosos com o que ela disse.

Homura abaixou o olhar. “Eles... podem ter feito uma reforma... eu acho...”

Junko balançou a cabeça e sorriu. “Chega. Eu já comprei a passagem para primeira ida da minha filhota para Tóquio! Kuku...”

“É...” Madoka ficou encabulada com a excitação da mãe.

Tomohisa disse, “Eu só me preocupo que isso incomode a família da Homura-san.”

Homura afirmou, “Na verdade eles estarão agradecidos por terem me acolhido por todo esse tempo.”

“Hmmm...” Ele segurou o queixo. “Se eles verem isso como forma de nos retribuir, então estaria tudo bem.”

“Quero ir!”

“Takkun?!” Madoka viu seu irmãozinho pular.

“Quero ir! Quero ver a casa grande da Homuranee!”

Junko semicerrou o olhar. “Você tem que crescer um pouco mais para visitar essa casa ‘grande’.”

“Ei.” Tomohisa segurou o menino excitado. “Esqueceu da partida de beisebol que eu vou te levar?”

“Vai jogar com ele também, pai?” Madoka sorriu.

“Nem dá essa idéia!” Junko exclamou, “não quero depois levar esses dois ao hospital.”

Tomohisa ficou incomodado. “Junko... Eu não sou ruim. Eu jogava no time da faculdade.”

“Você ficava no banco de reserva durante a partida inteira, é isso que você quer dizer.”

Ele fechou os olhos e sorriu. “Faltou-me carisma para convencer o técnico...”

“Uhum...” Junko fez uma cara de que não estava muito convencida e foi em direção a saída da casa. “O trem não vai esperar vocês.”

Depois de se despedirem. Junko levou as garotas até a estação de carro. Sua pilotagem era agressiva, acelerando muito e se aproximando demais dos outros veículos.

Madoka, que estava no banco do carona, ficou apreensiva. “Mãe, nós vamos chegar a tempo, acho que não precisa ter tanta pressa.”

“Eu estou dirigindo normal, são os outros motoristas que resolveram ficar preguiçosos no feriado.” Pelo retrovisor, Junko viu Homura no banco de trás junto com as malas. “Como está a bagagem?”

“Está bem.”

Ela retornou sua atenção para a rua. “Então, Homura-san, vai me contar sobre a sua família? Você sempre manteve isso como um mistério, mas agora vou deixar a minha filha sobre o cuidado deles.”

Homura permaneceu em silêncio.

Madoka comentou, “Eles não devem ser pessoas ruins.”

“Eu não estou insinuando nada,” disse a mãe, “mas eu sei que eles têm uma casa grande. Eles são ricos, Homura-san?”

Homura falou em voz baixa, “Ele é um empresário...”

“Ele quem? Seu pai?”

Silêncio.

Junko suspirou e virou o volante mais do que precisava, fazendo uma curva fechada. “Ok! E sua mãe? Eu e ela poderíamos ser amigas?”

Homura disse sem hesitar, “Está morta.”

“Oh... Meus pêsames. Isso faz muito tempo? Como ela morreu?”

“Mãe...” Madoka voltou a ficar apreensiva.

Junko deu um rápido olhar de relance para ela e afirmou, “Pessoas morrem. Um dia poderá ser comigo, Madoka. Vocês duas têm idade o bastante para se acostumarem com essa idéia.”

“Assassinato.”

Com a revelação de Homura, Junko parou de olhar para a sua filha, imaginando a face que estava fazendo. “Então... Seria por isso que evita tanto esse assunto. Quem fez isso foi pego? Foi punido?”

“Sim...”

“A justiça foi feita,” Junko continuou, “mas não direi que é justo. Essa é uma perda que muda nossas vidas para sempre.” Então ela sorriu. “O que aconteceria se eu morresse... Acho que eu não precisaria me preocupar muito. Tomohisa não deixaria faltar nada.”

Madoka ficou cabisbaixa. “É... Ele não deixaria.”

“O dinheiro seria o problema. Seu pai teria que vender a casa e arranjar um lugar mais barato.” Junko tirou o pé do acelerador. “Sua faculdade não estaria garantida.”

“Eu tentaria uma bolsa.” Madoka levou as mãos ao peito. “Mas, mãe, isso está ficando um tanto macabro...”

“Kukuahaha... Verdade.” Junko olhou para o retrovisor. “Homura-san, se eu pudesse conversar com a sua mãe, eu diria que você é uma excelente amiga da minha filha.”

Homura desviou olhar e esboçou um movimento dos lábios, mas nada disse.

Elas estacionaram na frente da estação e logo Madoka e Homura estavam segurando as suas bagagens, prontas para embarcar.

Junko respirou fundo. “O que estão esperando? Vocês têm que procurar as suas poltronas. Eu tive sorte de comprar a passagem da poltrona vizinha a da Homura-san.”

Madoka a abraçou.

“Por que tudo isso? Você só vai visitar a casa da sua amiga.”

Madoka perguntou para ela, desconfiada, “Será que sou eu que estou emocionada?”

Junko empurrou sua filha de leve, segurando os ombros. Ela então ergueu as sobrancelhas e abriu bem os olhos. “Eu quero ver as fotos depois.”

“Wehihi. Pode deixar.”

Junko olhou para outra garota. “Homura-san. Eu a deixo contigo.”

Homura assentiu de forma singela.

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Através da janela, Madoka via a paisagem passando velozmente, elas já estavam fora do perímetro urbano de Mitakihara. Um contínuo ruído e os eventuais solavancos lhe fazia lembrar que estava sobre trilhos. O horizonte não dava sinais de que viria mal tempo, como seu pai havia dito. “Eu acho que ainda será dia quando chegarmos a Tóquio.”

Homura estava em sua poltrona com os braços cruzados e olhos fechados, tentando descansar. “Não se preocupe com isso.”

“Vai ter alguém esperando, não é?”

“Eu cuidarei disso.” Ela abriu os olhos e suspirou. “Eu sinto que sua mãe forçou você a vir comigo, pois ela queria saber mais sobre mim.”

“Você me pegou.” Madoka sorriu. “Eu estou em uma missão de espionagem, mas eu queria vir também!”

Homura pressionou os lábios.

Fazendo que Madoka tivesse uma expressão mais preocupada, e disse em uma voz mais suave, “Eu sei que está ansiosa. É muito difícil para você, mas se tem algo que queira me contar sobre a sua família...”

“Madoka...” Homura retirou de seu bolso os óculos vermelho e novamente o examinou.

A garota rosa aguardou, sem fazer um som ou movimento.

Homura lentamente abriu a armação e colocou em seu rosto. “Você tem a esperança que eu possa ser a pessoa que uma vez conheceu?”

Madoka balançou a cabeça e a palavra que proferiu carregava honestidade. “Não.”

Homura olhou para ela.

Com isso, Madoka não pôde conter um sorriso. “Mas você fica bonitinha assim, não pode negar. Wehihi.”

Homura abaixou os olhos e sorriu também, mas era um sorriso cansado, não estava à altura da pessoa que amava.

A paisagem, que quase era rural, aos poucos ficava mais urbanizada. A cada estação que o trem parava, a área com trilhos alargava e havia mais trens passando.

A tarde estava chegando ao fim quando Madoka pôde ter um vislumbre da grande cidade que estavam chegando, uma verdadeira muralha de luz. Um sem fim de prédios e painéis com propagandas banhavam os seus olhos.

O trem começou a desacelerar e uma voz feminina anunciava as instruções pelas caixas de som, deixando claro aonde estavam chegando.

Estação de Tóquio.

“Madoka...” Homura pegou as bagagens.

“Uhum...” Ela recebeu a parte dela.

O trem parou e uma fila se formou para o desembarque.

Homura instruiu, “Fique perto de mim.”

As portas se abriram e uma multidão ocupou a plataforma. As garotas acompanharam o grupo até as escadas. Elas desceram e se encontraram em um labirinto de corredores iluminados e lojas, placas e catracas. Outra voz feminina anunciava as chegadas e partidas enquanto centenas de pessoas cruzavam caminho a todo o momento.

“Nós precisamos descer mais,” Homura disse.

Outro lance de escada e estavam em outro andar lotado de pessoas. Inúmeros sons de conversas e cheiros vinham das lanchonetes.

“Não está com fome, Homura?”

“Não temos tempo.”

Elas chegaram a um imenso saguão circular, onde o teto era um domo a dezenas de metros de altura.

No entanto Homura não estava ali para apreciar a arquitetura. Logo avistou um homem de terno e gravata, segurando um cartaz em seu peito onde estava escrito:

Homura Akemi

Ela gesticulou para Madoka. “Vem.”

Quando homem notou as garotas se aproximarem, ele rapidamente removeu o cartaz e ajeitou a sua postura.

Homura parou na frente dele e aguardou.

Ele então se curvou. “Akemi-sama, eu estou aqui para levá-la. Por favor, me deixe carregar a sua bagagem, você não deve se extenuar mais. Peço desculpas por não termos encontrado você na estação de Mitakihara para evitar esse transtorno.”

Homura pressionou os lábios e fez uma menção com a cabeça. “Ela está comigo. Ela é minha amiga e vai se hospedar conosco.”

O homem olhou para Madoka com ar de surpresa.

A garota sorriu e timidamente acenou.

Então o homem falou para Homura, “Eu terei que comunicá-la.”

Ela desviou o olhar. “Faça isso...”

“Com licença...” O homem se afastou e fez uma chamada de celular.

Madoka chegou mais perto de Homura e sussurrou, “Não se preocupe. Se eles não permitirem, eu tenho dinheiro para comprar uma passagem de volta.” E usou telepatia. [E eu posso manter contato contigo de outras formas.]

Ainda no celular, o homem assentiu. “Sim, uma amiga.”

Homura olhou de relance para ela. “Eles vão deixar.”

O homem desligou celular e retornou. “Está tudo certo. Por favor, me deixe carregar sua bagagem também.”

“Oh...” Madoka sorriu. “Você... não...” Mas então notou Homura olhando intensamente para ela e balançando a cabeça.

“Por favor...” O homem segurou todas as malas, além do cartaz que estava debaixo de seu braço. “Sigam-me.”

Eles deixaram a construção, chegando a um grande pátio. Dali era possível ver a majestosa arquitetura gótica da estação, feita de tijolos vermelhos, cercada por modernos arranha-céus. Com tanta luz, não era possível ver as primeiras estrelas do anoitecer.

Madoka então descobriu para onde eles estavam indo. Um carro preto de modelo popular, indistinguível em relação aos outros que estavam estacionados.

O homem abriu o porta-malas e colocou a bagagem dentro, depois abriu a porta do banco traseiro e fez um gesto para elas entrarem. “Por favor, Akemi-sama e...”

“Madoka Kaname,” ela disse com toda a simpatia, “e você é...”

“Madoka Kaname-san, por favor, entre.”

“Ah.” Ela assentiu e entrou. Homura já estava de cinto de segurança, de braços cruzados, escondendo seu rosto nas sombras.

Logo o homem entrou, deu partida no carro e eles saíram.