Melodias

Capítulo 1


A carruagem balançava pelo calçamento das ruas de Piltover, se deslocava da Avenida Sideral virando para o sentido do Rio Pilt seguindo pela Avenida Horológica. Dentro da carruagem a jovem de longos cabelos rosa com um grande casaco acinzentado cobrindo seu vestido colorido olhava a paisagem e as sombras que os postes faziam na tranquila noite da cidade do progresso, mesmo cansada se animava a ver a oficina da família ao final da rua enquanto a carruagem diminuiu a velocidade ao para em frente da vitrine ainda iluminada da oficina

— Senhorita — condutor abria porta para o desembarque dando a mão para ajudá-la a descer

— Obrigado — a jovem o pagava com algumas moedas sorrindo para o homem mais velho ao se despedir — tenha uma boa noite

Seraphine entrava na loja trancando a porta atrás dela — pai, cheguei. Você deixou a porta da loja destrancada de novo — esperou a resposta que nunca veio, ela consegue sentir duas melodias distintas junto dela na oficina

Passou pelo balcão pegando algumas correspondências que estavam sobre ele — Pai? — bufou enquanto ia para o quarto no fundo da oficina encontrando o homem ruivo com alguns cabelos grisalhos focado no concerto de um aparelho sonoro, ela ficou escorada na porta o observando até bater forte na madeira da moldura da porta — pai!

— Filha! — homem saltou para trás finalmente percebendo que não estava mais só — como foi a apresentação na ópera querida?

— Foi bem, minha cabeça está começando a doer — olhava a mesa bagunçada da oficina, além dos vários componentes tinham também algumas embalagens de comida — senhor jantou?

— Quem diria que pilts ricos te dariam dor de cabeça — ria sem graça ignorando a pergunta, fazendo a filha apertar a ponte do nariz em frustação

— Vou subir e esquentar a comida — deu um olhar cansado para o pai — se você não subir até eu deitar eu volto e te arrasto pela escada

— Ok querida, não precisa se preocupar — erguia as mãos em sinal de rendição — seu abafador está na mesa

Deixou o pai no quarto dos fundos e foi até o balcão apagando as luzes da oficina antes de subir a escada espiral de metal dourado para o andar superior. Lá em cima acendeu a luz da pequena sala jogando sua bolsa no sofá antes de pegar seu abafador na mesa de café ao lado e colocar em seus ouvidos

— Silêncio enfim — soltou a respiração que não sabia que estava segurando, ficou um tempo de olhos fechados no meio da sala antes de ir para cozinha

Viu o estado de limpeza do lugar e percebeu que nem a assistente de seu pai deve ter conseguido o convencer de subir para comer — um mecânico que só come besteira e uma adolescente que só como besteira, o que eu esperava?

Acendia o fogo e colocava a panela para esquentar, pegou três tigelas e colocava no balcão. Foi até a sala e fechou a porta da sacada, tirou o casaco para pendurar junto do pai no suporte retorcido.

— Acho que já está bom — dizia para si mesma ao tirar a tampa da panela, serviu duas tigelas colocando em uma bandeja de latão e seguiu para o quarto

Empurrou a porta com as costas para entrar no pequeno quarto colorido, no canto se via alguns instrumentos empilhados, pôsteres de artistas antigos pela parede e no seu armário de madeira. Colocou a bandeja na penteadeira cheia de desenhos em sua madeira e abarrotada de coisas encima

— Espero que tenha entrado pela porta dessa vez — se dirigiu ao volume na sua cama debaixo de seus lençóis, enquanto ligava o rádio na sua penteadeira para abafar a conversa

— Não — veio a resposta cantada e abafada pelos lençóis, Seraphine consegui imaginar o sorriso travesso no rosto dela mesmo sem vê-lo

— Vem, eu trouxe comida — no mesmo instante a parte superior do corpo da ocupante da cama saia do meio dos lençóis revelando mulher de longos cabelos azuis trançados e de olhos violetas que esticava os braços para pegar a tigela de comida — você poderia usar a porta, papai nunca notarial você entrando e não chamaria atenção dos vizinhos como uma terrorista procurada escalando minha janela

— Onde fica a graça nisso? — disse entre as colheradas na tigela — viva um pouco passarinho

Sorria para Jinx enquanto comia sua tigela em um ritmo menos frenético — quando algum defensor aparecer na minha porta fazendo perguntas isso vira um problema

— Um sorriso e alguns autógrafos e você resolve isso — desfazia com as mãos terminando com sua tigela

— A menos que seja a defensora especial em seus ataques de ciúmes da xerife — murmurou para si enquanto colocava as tigelas na penteadeira

— Que foi isso? — olhava desconfiada — sem audição mágica aqui

— Nada — ria sem graça escondendo seu rosto envergonhado na porta do armaria enquanto pegava roupa para trocar — enfim, o que te faz vir aqui sujar minha cama com suas botas essa noite?

— Muita reclamação para uma cama tão ruim — mesmo de costas enquanto trocava o vestido por uma roupa leve para dormir sentia o sorriso provocante

— Deve ser melhor que aquele sofá capenga da sua oficina — sorria com inocência fingida ao se sentar na cama — pela quantidade de vezes que você dorme nessa cama

— Você não reclamou na última vez que estava naquele sofá — Jinx se deleitava com a rapidez que Seraphine ficou vermelha — eu sempre ganho nas provocações pássaro canoro

— Não é justo — voz era um sussurro envergonhado enquanto Jinx se arrastava pela cama abraçando a outra mulher por trás — agora não, tenho que tomar remédio para minha dor de cabeça antes de tirar o abafador e buscar papai lá embaixo

— Você não vai convencer o velhote a subir — a puxou para cama, tirando o abafador antes de ronronar ao pé do ouvido — conheço remédio muito melhor para dor de cabeça

—Jinx — sussurrou o nome dela ao ficar cada vez mais vermelha enquanto a mulher a dominava com sorriso sádico

— Pedindo do jeito que gosto

....

Bela melodia caótica a afastava da escuridão do sono, o ruído do rádio esquecido ecoava em sua volta

— Eu sei, não precisa me dizer sempre que venho aqui — um monólogo murmurado cada vez mais baixo atravessa escuridão — não, não vou atirar nela de novo

Abriu os olhos lentamente, sendo ofuscada pela luz da manhã vinda da janela, piscou algumas vezes vendo a sua volta a bagunça de lençóis e ao seu lado sentada escorada na cabeceira sua visita da noite trança seu longo cabelo azul murmurando respostas trocando olhares acalorados com o vazio entre a cama e armário, sinfonia caótica da zaunita estava ainda mais turbulenta.

Jinx parou seu monólogo e olhou para figura deitada fitando os olhos azuis sonolentos — te acordei?

— Bom dia — se espreguiça também se sentando na cama e bocejou antes de responder — claro que não, muitos anos com sons descontrolados na cabeça, não vai ser uma simples conversa que vai me acordar

Se orientou um momento antes de levantar, notando sua volta sentiu que estavam sozinhas em casa. Foi ao armário procurando o que vestir para o dia, sentindo os olhos lilás cavando sua pele — pode dizer o que vocês estavam discutindo

— Eu sei que eles não existem não precisa se referir a eles — disse com um fantasma de um sorriso no rosto

— Eu sei que não — alisava o vestido primaveril que ia até os joelhos antes de sentar na cama junto dela empurrando ela para o lado — me de o outro lado para trançar

Assim ambas seguiram trançando o longo cabelo azul da mulher mais velha ao som do chiado de uma música baixa no rádio, Seraphine podia ver na sua visão periférica o rosto pensativo de Jinx

— Quer comer alguma coisa antes de sair pela janela para deixar sua marca na cidade do progresso? — disse a última parte impostando a voz imitando um dos discursos do dia do progresso que tinha visto, os olhos violetas brilharam divertidos antes de Jinx gargalhar

— Bem que dizem por aí que impossível não gostar de você pássaro canoro — terminou a trança que trabalhava

— Tenho minhas dúvidas se é isso que dizem por aí — ria sem graça, acelerando seu processo de trançar o cabelo azul — aqui pronto! Vem comer comigo, papai provavelmente foi a confeitaria e sempre demora na conversa quando vai na rua

— Já que insiste tanto, apesar da agenda apertada de hoje fico mais um pouco — se levantou puxando Seraphine para fora do quarto até a cozinha — vamos me alimente

Mulher mais nova riu e pegava uma jarra de suco e alguns pães que seu pai tinha deixado — pelo menos café ele tomou

Colocou tudo que pegou no balcão de madeira que divide a sala da cozinha, imediatamente Jinx começou o ataque a comida — vai com calma

— Achou que estava brincando? — falou entre a mastigação frenética — tenho lugares para estar, caos para criar e uma xerife para irritar

— Assim parece que está fugindo de mim não dos defensores — comia mais regrada enquanto observava divertida

— Se eu fugisse você ainda me encontraria em qualquer buraco dessa cidade — desfez com as mãos, continuando a comer — estão abrindo a porta da loja

— Também ouvi, assistente do papai — terminou o copo de suco recebendo um olhar nada impressionado — que ?

— Diz como se não fosse você que pagasse a pirralha metida a heroína — se levantou esticando as costas antes de ir até Seraphine

— Pássaro canoro — a puxou do banco segurando o rosto agora corado da rosada nas mãos — nos vemos por aí — iniciou ou beijo, Seraphine derreteu nas mãos da zaunita enquanto aprofundaram o lábios uma na outra

Se separaram com pequeno lamento envergonhado da mais baixa — tchau passarinho — abriu a sacada pegou suas armas que aparentemente passaram a noite lá

— Sério que você deixou aí — olhava descrente apesar do rosto corado — vou acabar em Água mansa assim

— Eu te tiro de lá com uma linda explosão — gargalhou antes de pular da sacada e desaparecer na cidade do progresso

Seraphine olhou por um tempo para sacada com sorriso no rosto antes de começar a juntar as coisas no balcão. Logo que colocou as coisas de volta a seus lugares e copos na pia foi em direção a escada para descer a oficina

No primeiro andar encontrou garota baixa de cabelos loiros esverdeados debruçada sobre uma das mesas passando fiação por conexões de uma pesada jaqueta de aparência emborrachada

— Antes que pergunte patrão me deixou concertar meu equipamento aqui no fim de semana — não tirou nem um pouco da atenção para olhar para piltovense —equipamentos mais precisos e blá blá blá

— Só vim ver como você está — se sentou no banco do caixa ganhando uma visão melhor do trabalho da zaunita

— Eu sei mis simpatia — dava para ver ela revirando os olhos, Seraphine não escondeu a risada pela atitude da mais nova — a pobre alma deve ter feito serviço muito bom essa noite para seu brilho alegre estar dez vezes pior

— Algum dia você vai conseguir fingir que tem algum respeito por mim? — ria apesar de desviar o olhar envergonhado balançando as pernas nervosamente

Parou o uso do pequeno alicate e encenou um sorriso doce — Não!

— Não se pode ter tudo — ria com o desgosto da garota — terça vamos precisar de alguns braços a mais para descarregar no porto, se quiser trazer alguém do seu território, vamos pagar o dia

— Certo, trago alguém — dava um sorriso pequeno olhando para o trabalho na frente dela

— Obrigado, se precisarem de algum — se interrompeu quando ouviu duas melodias vindo na direção da oficina, ganhando um olhar interrogativo da zaunita, antes de se virar para porta da loja — eu e minha boca grande

Chegando na porta da loja vinha seu pai carregando algumas sacolas junto de uma mulher alta de cabelo curto e jaqueta vermelha ajudando o com as sacolas

— Essa é nova — Zeri comentou igualmente chocada, antes de passar pela cantora para abrir a porta e cumprimentar energeticamente — patrão, pensei que não voltava mais

— Zeri, nada disso mocinha. Estava jogando conversa fora no mercado e encontrei a defensora que me ajudou — Zeri arrancou as sacolas da mão do homem e subiu a escada assim que ele terminou de falar

— Só Vi está bem senhor — deixou as sacolas no balcão

— Bem, obrigado por sair do seu caminho para ajudar meu pai — sorria direcionado o assunto para o motivo da executora especial estar na oficina sem uniforme em um domingo

— Na verdade ela já estava vindo para cá filha, ela queria trocar umas palavras com você — homem pegou as sacolas no balcão antes da sua assistente levá-los para cima também — vou guardar as compras, fiquem a vontade para conversar

Homem passou por Zeri que tinha acabado de descer a escada deixando as três no primeiro andar, se seguiu um silêncio estranho seguiu com as duas mulheres de cabelo rosa se olhando sem saber por onde começar

— Pela amor, diz logo o que você quer com a cantora feliz aqui para gente se livrar de você — Zeri ficou escorada no balcão esfregando os dedos

— Zeri! — dava um olhar para mais nova tentando passar a mensagem de "não quero ir para prisão de água mansa com você"

— Ela está certa, vamos direto o assunto — ambas olharam de volta para a mais velha que parecia ligeiramente envergonhada — Queria te pedir um favor

— Um favor? — diziam em uníssono não escondendo a surpresa com Zeri completando — para ela?

— Caramba, e tão difícil acreditar que possa pedir um favor —olhou exasperada para as duas apertando as faixas do braço em um tique nervoso — esperava que eu a prendesse? Por desafinar?

— Bem, desculpe — sorria sem jeito — mas se for algo que eu possa fazer, não vejo porque não te ajudar

Vi soltou um bufo antes de esfregar atrás da cabeça sem graça — pode ser um pouco encima da hora, mas queria que você fosse comigo em um solenidade que inventaram a tarde para a xerife

— Que adorável ela — Zeri zombou agora já tendo voltado sua atenção para a jaqueta experimentando no corpo

— Vai ser uma coisa extremamente chata, cheia de pilts ricos que nos odeiam e que duvido que gostariam de homenagear ela é bem — levantou as sobrancelhas para cantora — Caitlyn e muito sua fã

— Eu vou — sorria para a defensora tensa

— Você sabe que é uma armadilha que sua dona tá fazendo né? — Zeri comentou indiferente — um monte de possíveis culpados juntos de alguma tentativa de se livrar dela além de ser um evento público de pilts ricos, claro que vai ter vandalismo zaunita

— Não sei do que você está falando — dizia indiferente

— Você é ótima mentirosa — fingia estar impressionado

— Pode me esperar de tarde— Seraphine ignorava o olhar de Zeri — xerife Kiramman e uma pessoa que adoro que vou estar mais do que feliz em estar lá

— Obrigado — deu sorriso grato antes de tirar um envelope do bolso da jaqueta — o convite, até mais tarde. E adeus fedelha

— Tchau traíra — Zeri respondeu antes dela passar pela porta — suas motivações são estranhíssimas cantora

— Você ficaria impressionada com elas se descobrisse — começou ir para escada

— Boa tentativa, você quase me fez ter interesse por você — debochou tirando a jaqueta para mais alguns ajustes

Seraphine subiu as escada sorrindo ao pensar que agora tem um belo e caótico compromisso para se arrumar, ela realmente devia aproveitar os fins de semana.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.