Melinyel

Capítulo 20


Elora encarava a janela, observando a neve cair sem muita atenção. Já haviam se passado dois meses desde que Thranduil partira, mas ela ainda não conseguia fechar os olhos sem ver o semblante dele logo antes de virar-lhe as costas.

O frio também não ajudava.

A pouca energia que tinha era gasta no caminhar entre sua vivenda e o grande salão para as refeições, que, graças à Emel, ela agora era proibida de fazer em seu quarto. Emel e Amyna concordaram que essa era a melhor escolha, já que Elora recusou-se a sair por uma semana inteira. Nem mesmo os gêmeos conseguiram levantar o ânimo da menina, que aos poucos sob os olhos de todos estava definhando lentamente.

Nárë ronronou sobre seu estômago e a menina voltou a acariciar o pelo macio por instinto, a raposa era a única que compreendia tudo. A única que Elora podia contar seus mais sombrios medos e suas mais distantes anseios. Gostaria de contar tudo a Emel, ter alguém que realmente pudesse respondê-la de volta com palavras concretas, mas era arriscado demais. Ela já havia percebido como alguns elfos passaram a cochichar sussurros sobre Mirkwood e Thranduil quando ela passava. Elora sentia arrepios toda vez que pensava que Lord Elrond talvez soubesse sobre o beijo dos dois.

Pelos deuses, o que o tio pensaria se soubesse? Certamente ficaria mais desapontado do que já estava, afinal o irmão perdeu a vida por deixar-se levar pelos sentimentos ao invés de permanecer firme aos seus propósitos. Elora grunhiu fechando os olhos e cobrindo-os com as mãos, por que não parava de pensar nisso?

Sentiu o focinho gelado de Nárë tocar seu queixo e abraçou a raposa desejando poder sonhar novamente com Berenna. A mãe certamente lhe forneceria algum conselho valoroso, se não sobre os problemas do coração, sobre os problemas de seus poderes.

Os vasos de terra espalhados pelo quarto evidenciavam para qualquer um que entrava que Elora não estava bem. Não havia um botão, uma semente ou uma cor que fosse no vazio da terra. Elora tentou por dias fazer qualquer coisa crescer mas nada adiantava. Quando alguém indicava o vazio nos potes ela mentia.

A menina pedia a Yavanna que curasse seu coração, lhe desse novamente a luz para fazer o que tanto amava, mas a deusa nunca lhe respondeu. Nos poucos dias em que acordava com disposição e ânimo renovados ela saía escondida até o bosque e forçava-se a comandar a terra até que seus ossos doessem pelo frio, nos demais ela andava pelo quarto remoendo as incertezas e recebendo os carinhos de Nárë.

Duas batidas fortes na porta ressoaram pelo aposento, forçando a menina a levantar a cabeça.

Emel entrou com confiança e altivez sem esperar pela resposta que sabia que não viria. A elfa abriu as portas do armário e retirou um conjunto quente, jogando-os sobre a menina. Nárë guinchou perturbada pela intrusão. Emel já estava separando as botas quando Elora criou coragem para falar.

— Pra que é tudo isso?

— Você vai se levantar, lavar o rosto, vestir roupas que não sejam de dormir e nós duas vamos caminhar pelos pátios apreciando uma tarde amena de inverno. - Emel falou apontando os passos com os dedos. - Depois vamos até o salão principal, onde nos aqueceremos com um delicioso chá e biscoitos quentinhos.

Elora deitou novamente a cabeça, já cansada só de imaginar as atividades, quando sentiu um emaranhado pesado de tecidos atingir seu rosto.

— Pare de jogar roupas em mim. - Resmungou, retirando a capa do rosto.

— Vou parar quando você se levantar. - Emel respondeu com as mãos nos quadris.

Nárë pulou desgostosa para fora do sofá, lançado olhares secos para Emel enquanto de espreguiçava. Elora reuniu as forças e arratou-se até a bacia de água, jogando negligentemente o líquido frio no rosto. Trocou as roupas e deixou a elfa pentear e prender seu cabelo.
Acompanhou sem vontade à elfa para fora do quarto, sendo recebida pela claridade gritante que lhe machucava os olhos. Nárë reclamou, enfiando o focinho sob a capa da menina mas recusou-se a sair do seu lado e voltar para o quarto. Emel acompanhava o ritmo lento e sem vontade de Elora conversando sobre trivialidades do dia-a-dia em Rivendell. Elora participava esporadicamente, quando um ou outro assunto atraíam sua atenção.

A menina foi informada que os gêmeos partiram mais cedo naquela manhã para irem a Lothlórien, eles passariam algumas semanas ao lado de Arwen e Galadriel, e Lord Elrond logo receberia uma pequena comitiva vinda de Fornost cujo propósito passou despercebido pela menina. Emel havia adaptado-se muito mais rapidamente do que ela mesma ou qualquer um havia esperado, vivia sempre rodeada de outros elfos, atarefada com afazeres que lhe foram apontados como esposa da mão direita do senhor de Rivendell.
Emel agora era uma senhora de Rivendell, o que lhe dava abertura para puxar devidamente a orelha de Elora. Não que ela não o fizesse antes.

Enquanto outros elfos paravam para trocar palavras amigáveis com ambas, Elora deixou a mente vagar pra mais longe. Talvez devesse ter ido com os gêmeos para Lothlórien, uma viagem deveria lhe fazer bem.

— Não concorda, minha senhora? - Uma elfa sorridente falou e Elora foi tirada de seus devaneios.

— Sinto muito, meus pensamentos estavam em outro lugar. O que dizia? - Elora respondeu.

— Dizia que a chegada de Mithrandir é muito fortuita já que ele conhece Fornost e seu líderes. Talvez lorde Elrond peça que ele permaneça conosco até a comitiva dos homens chegar e...

— Gandalf está aqui? - Elora interrompeu-a, deixando o grupo de elfos surpresos.

— Sim, minha senhora. Ele chegou há um par de horas.

Emel teve que desculpar-se com o grupo quando Elora saiu apressada sem explicações.

A menina correu para os salões, sendo recebida por uma lufada de calor das lareiras acesas. Não demorou para avistar o ponto cinzento aquecendo próximo à uma delas com uma xícara de algo fumegante nas mãos.

— Mithrandir! - Elora chamou-o e correu para abraçá-lo. Sendo recebida por uma risada saudosa.

— Pelos céus, está pálida como mármore criança.

— Confesso que já tive dias melhores. - Elora sentou-se ao lado dele. - O inverno não é muito bom para mim.

— É de se esperar, mas você não está sozinha. Basta um vento mais forte e todas as minhas juntas doem. - Gandalf sacudiu a cabeça de leve, tomando um gole de sua xícara.

Ela não comentou como não acreditava naquilo. Sendo um dos grandes magos, Gandalf não seria afetado pelas dificuldades de uma idade avançada. Elora muito menos acreditava que aquela era sua aparência real.

— Não me leve a mal, estou feliz por vê-lo, mas o que o traz à Rivendell tão repentinamente? Já faz meses que não temos notícias suas. - Elora indagou.

— Uma hora estou aqui, outra hora estou ali. Sempre há o que fazer nesses dias.

Vago como sempre.

— E o que está fazendo neste momento?

— Tomando chá, oras. - O mago sorriu e Elora encarou-o com a sobrancelha erguida, aguardando a resposta completa. Gandalf riu e continuou - Estou indo para Oeste e como já percorri um longo caminho, uma parada era merecida. Principalmente se envolvesse uma lareira e uma cama macia.

— E você os terá, a lareira mais quente e a cama mais macia. - Elora riu de verdade pela primeira vez em semanas.

— Agradecido. - Ele levantou a xícara e piscou-lhe.

Um elfo trouxe outro bule reabastecido e uma bandeja com pães e queijos. Elora agradeceu-o e serviu-se também.

— Me conte criança, como você está?

— Bem. - Elora mordiscou um pedaço de queijo.

— Não me parece muito bem. Há uma sombra em seus olhos.

— Cansaço, provavelmente. Está sendo um longo inverno e parece que a primavera nunca vai chegar.

— Ela sempre chega.

Gandalf a encarava com olhos astutos, mas não insistiu no assunto. Elora baixou os olhos e rodeou sua xícara com as mãos.

— Satisfaça minha curiosidade Mithrandir, para que está indo ao Oeste?

— Uma viagem rotineira. De tempos em tempos é preciso checar algumas coisas para garantir que estão da mesma forma. Além disse gosto de estar sempre em movimento, assim consigo ouvir as notícias antes mesmo de acontecerem. - Deu uma piscadela, tomando outro gole de chá.

— Será uma viagem perigosa?

— Gostaria de pensar que não. Mas na minha idade uma pessoa aprende a não desafiar o destino.

— Neste caso gostaria de acompanhá-lo Mithrandir. - Elora pousou a xícara na mesa e empertigou-se. - Se me aceitar, é claro. Não quero ser um incômodo.

Gandalf levou uma das mãos ao queixo, alisando a barba. Ponderando sobre a decisão da menina.

Elora permaneceu em silêncio por dois longos minutos, aguardando o mago. Sim, seria uma boa ideia afastar-se um pouco.

— Pois bem. - Ele bateu de leve as mãos na mesa. - Será bom ter com quem conversar no caminho, a viagem pode ser muito monótona quando podemos contar apenas com nossos pensamentos. - Ele sorriu.

Ela ergueu a mão e o mago a apertou, ainda sorrindo.



.o0o.

Emel não estava feliz.

Elora podia ver na forma como a elfa se movia e forçava os suprimentos dentro da bolsa da menina. Elora e Gandalf partiriam em poucas horas e a elfa ainda não havia aceitado muito bem.

— É loucura! - Emel finalmente vocalizou seus pensamentos, jogando as mãos para o alto. - Não está em condições de fazer uma viagem dessas.

— Sei que minha aparência não ajuda, mas acredite: estou bem. - Elora pegou a capa esverdeada do sofá e sacudiu-a, verificando se ainda havia algum pelo de Nárë pelo tecido.

— E se forem rastreados? Seguidos? Capturados?

— Não é uma viagem perigosa, Emel. Além disso estarei na companhia de Mithrandir.

A elfa sentou-se emburrada na cama, sacudindo de leve a cabeça.

— Já que não consigo fazê-la desistir, pelo menos me prometa que se houver qualquer indicio de perigo você irá para longe. O mago pode ser poderoso, mas não é invencível. - Emel bateu de leve no colchão ao seu lado, Elora sentou-se.

— Prometo. - Elora disse. - Voltarei antes que note minha falta.

— Tem certeza que não quer que eu vá? Posso pedir para outra pessoa cuidar dos preparativos da comitiva.

Elora sacudiu a cabeça.

— Está ansiosa por isso a semanas, já. Não poderia pedir que passasse a outra pessoa. - Elora segurou as mãos da elfa entre as suas. - Já prometi que não correrei nenhum risco de propósito. Vou voltar dentro de alguns dias e aí você poderá me contar tudo sobre a reunião.

— Está bem. - Emel bufou levemente. - Mas me mande notícias. Todos os dias.

— Vou tentar.

Uma batida na porta as avisou que era a hora.

Elora vestiu a capa e Emel a ajudou a carregar as bolsas até Randír, que estava pouco contente de ter que sair de sua baia quentinha e ter que enfiar os cascos na neve acumulada no chão. Elora lhe ofereceu duas maçãs para aplacar seu desânimo.

Quem estava contente com a viagem era Nárë, durante os últimos preparos correu em volta do grupo e rolando na neve.
Elrond veio despedir-se de Gandalf e Elora. Quando a menina foi lhe contar sobre a viagem, o elfo parecia tão contente com sua partida quanto Emel, mas não fez nenhuma objeção.

Os dois primeiros dias de viagem se passaram em uma monotonia constante. Não encontraram com outros viajantes nas estradas e o tempo estava cinzento e parado. Pelo menos a neve havia parado de cair, se houvesse uma tempestade poderiam correr o risco de ficarem ilhados em alguma aldeia, o que, para um mago e uma meia elfa, poderia atrair atenção indesejada.

Por mais que os homens temessem os servos do senhor da escuridão, havia alguns ganancioso o bastante para lhe servirem como informantes. Pelo preço certo, claro.

No caminho Gandalf lhe contou sobre o local para onde iriam, e o que era guardado lá. Elora ficou em silêncio, ouvindo o mago contar em voz baixa sobre os Nazgul, como se o simples fato de falar em alta voz fossem atrair as forças sombrias de Orcs até eles.

Os nove grandes reis dos homens pensaram somente em poder e riquezas quando foram presenteados com os anéis de poder. Não viram a corda em volta de seus pescoços até que ela já estivesse sufocando-os. Sauron havia brincado com seus desejos, ludibriando-os com coisas brilhantes até que estivessem presos em sua armadilha. Os nove reis transformaram-se em escravos e, eventualmente, seus mais ferozes e mortais tenentes. Após anos sob os efeitos dos anéis, tornaram-se espectros.

Após a queda de seu mestre, os espectros foram presos em locais secretos e é para uma dessas tumbas que estavam se dirigindo agora. Gandalf visitava cada uma delas de tempos em tempos, reforçando os lacres mágicos que prendiam os seres entre suas paredes.
Naquela noite Elora sonhou com mãos fantasmagóricas e olhos vazios encarando-a.

Na manhã do quarto dia chegaram ao pé das colinas de ferro. O lugar era remoto e frio. Não o frio da estação, um frio profundo e arrepiante que fazia Elora querer chorar.

Gandalf não parecia tão afetado pelo ambiente, desmontando do cavalo e caminhando com determinação até estar sob os ramos retorcidos de um salgueiro sem folhas.

A menina olhou ao redor preocupada. Já fazia dois dias que Nárë não se aproximava, mas não podia culpar a raposa por não querer se aproximar do local. Talvez ela tenha ficado em Mirkwood, haviam mais animais para a caça lá. Sentiu um aperto no peito ao lembrar-se dos dias em que passara atravessando a floresta, com medo e expectativa de encontrar algum elfo da patrulha do palácio. Mas não encontraram nenhum, seguiram a trilha mais afastada de Rhasgobel, deixando-os bem longe da corte.

Finalmente tomando coragem, desmontou de Randír e seguiu o mago até a linha de árvores.

— Teremos de ir a pé a partir daqui. - Disse Gandalf, apontando com o nariz para uma estreita estrada de chão entre as paredes de pedra de uma rachadura comprida e retorcida. Elora engoliu a seco. De repente gostaria de ter ouvido Emel e ficado em seu quarto, onde era seguro e quente.

Havia algo terrivelmente errado com aquele lugar e sem a segurança dos seus poderes sentia-se exposta.
Seguiu o mago até pelo caminho estreito, Gandalf respirava pesadamente e haviam gotas de suor em sua testa. Talvez ele também fosse afetado pela energia da passagem.

Depois de alguns minutos de caminhada chegaram à entrada da tumba. Parecia uma espécie de templo abandonado, com uma enorme escadaria subterrânea de pedra desregular. A descida toda fora escura, úmida e mal-cheirosa.

Elora tentava limpar uma teia de aranha dos cabelos quando o mago parou de repente, fazendo-a bater em suas costas. Ia perguntar-lhe o que aconteceu, mas a expressão assombrada dele a fez calar-se. Ela olhou a frente, procurando o que poderia ter causado esse efeito nele mas não havia nada. Somente um corredor sem fim, tão negro quanto o espaço que se encontravam. Gandalf apagou a luz que os guiava e a escuridão os engoliu. Elora prendeu a respiração.

O mago agarrou seu braço e puxou-a para o caminho de que vieram, apertaram o passo ao alcançarem o final da escadaria. Estavam na metade quanto Elora finalmente ouviu o baque seco de ferro contra pedra. Estavam sendo perseguidos.
Forçou o corpo a ir mais rápido, mas não estava em suas melhores condições. Estava sem fôlego e suas pernas doíam.

— Vá para o lago verde próximo a aldeia que passamos, não pare por nada. Irei encontrá-la em seguida.

— Não vou deixá-lo enfrentá-los sozinho.

— Não pretendo enfrentá-los, apenas atrasá-los o suficiente para que consigamos despistá-los. Agora vá! - Gandalf virou-se e correu na direção contrária.

Elora ficou parada, vendo-o afastar-se sem saber o que fazer.

Não podia deixá-lo para trás, mas também não tinha como ajudá-lo se precisasse. Estava fraca e sem seus poderes. Iria somente atrasá-lo, isso se não fizesse com que fossem capturados.

Respirando fundo, começou a subir novamente os degraus. O barulho de passos havia parado quando alcançou o topo da escadaria. Olhou ao redor, cautelosa. Seguiu até a base do caminho a passos largos, mas não deixou de olhar por sobre o ombro ou conferir o caminho a frente antes de uma curva. Se havia uma armadilha lá em baixo, poderiam haver mais orcs ali em cima. Felizmente não cruzou com nenhum. Montou em Randír e saiu em disparada.

Elora acordou com um cutucão em sua bochecha. Havia dormido muito? Abriu os olhos e viu que os primeiros raios de sol pairavam no horizonte. Não dormira muito então, talvez um par de horas. Randír chamou novamente sua atenção. Batia os cascos no chão, ansioso.

Ela afastou-o com a mão e levantou-se bruscamente de seu esconderijo a tempo de ouvir um movimento ao longe. Correu à sela do cavalo, buscando suas adagas dentro da bolsa. Com as armas em punho, plantou os pés do chão e preparou-se para o que estivesse por vir.

Um chapéu cinzento entrou em seu campo de visão e ela relaxou.

O mago estava pálido e fraco, quase deitava-se sobre o pescoço de seu cavalo mas não possuía ferimentos aparentes.

— Mithrandir! - Elora apressou-se para o seu lado, ia ajudá-lo a descer quando ele a parou com um aceno de mão.

— Não há tempo. Precisamos ir logo.

'Ir aonde?' Elora queria perguntar. Gandalf deveria deveria descansar, recuperar as forças e somente então voltar para a estrada. Mas a urgência em sua voz fraca fez com que ela obedecesse.

Viajaram a passo rápido o dia inteiro. Pararam por apenas um momento para comer e deixarem os cavalos descansarem, Elora insistiu que ele precisava de cuidados médicos mas o mago recusou, dizendo que precisava apenas de tempo para recuperar-se.

— Acha que eles ainda estão nos seguindo? - Elora levantou o olhar para o horizonte.

— Não, estamos seguros. Mas não por muito tempo. Temos que chegar a Mirkwood ainda hoje a tarde. - O mago disse levantando-se, ainda um pouco abatido.

Elora não conteve o engasgo.

— Devemos avisar a todos, - o mago continuou sua fala enquanto batia na grossa capa para limpá-la da neve e farelos de pão. - sim. É preciso, o quanto antes.

A menina não tinha certeza se Gandalf estava falando com ela ou consigo mesmo. Mas pouco importava no momento, sua mente já estava vagando longe dali.

— O que você ouviu-os dizer? - Elora perguntou enquanto levantava o pequeno acampamento.

— Um ataque está chegando, um talvez planejado há algum tempo. - Gandalf disse, colocando o chapéu. - Viajaremos primeiro à Mirkwood, lá poderemos enviar mensageiros mais velozes à Lothlórien e Rivendell. Temos que avisar Bard e as cidades próximas, não são o alvo principal mas certamente também serão atingidos. Com um pouco de persuasão podem se juntar a corte de Thranduil para defender o leste... sim, é possível. - o mago divagou novamente. - O mais difícil será conseguir uma audição com Thorin, aquele cabeça dura.

— Por que agora? - Elora atraiu a atenção do mago. - Todos acham que o exército dele ainda está destruído lá nas terras sombrias. Por que atrair tamanha atenção quando poderiam simplesmente continuar a movimentar-se aos poucos? - Montaram novamente nos cavalos.

— Como vamos saber o que se passa dentro dos portões de Barad-Dûr? Mas uma coisa é certa, se os elfos caírem...

— Todos os outros povos se enfraquecerão. - Elora completou.

— Os elfos são grandes aliados, dentro e fora dos campos de batalha. Ficaram entre Sauron e os reinos dos homens durante séculos. - Gandalf seguiu na frente e Elora forçou Randír a acompanhá-lo. - Precisamos nos separar e ganhar tempo. Estamos há apenas um dia de distância da floresta. - Disse pensativo. - Siga para Vale, solicite uma audiência com Bard e peça para que ele chame os líderes das outras cidades próximas. Enquanto isso irei para Mirkwood, quando eu chegar à Valle todos já deverão estar lá. Em seguida irei à Montanha Solitária.

— Os anões não nos ouvirão. - Elora respondeu rapidamente. Não queria voltar pra lá.

Em apenas um relance lembrou-se da dor. Do frio esgueirando-se sob sua pele e lhe roubando todo o calor. Da escuridão sem fim e do silencio imperturbável.

Sentiu a pele arrepiar-se e sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos. Mas mesmo assim, enquanto Randir corria o máximo que podia, Elora sentia o estômago contorcer-se cada vez mais. A bile insistindo em subir-lhe a garganta.