Melinyel

Capítulo 02


Elora colocou um pequeno buquet de flores em cima do túmulo da mãe. Ela despedia-se pela última vez enquanto Elrond fazia uma prece em élfico. Em sinal de respeito, todos retiraram seus elmos e pareciam repetir as palavras do lord. Quando o ritual terminou o grupo afastou-se, lhe dando privacidade.

— Venha apenas quando estiver pronta. – Elrond disse juntando-se aos outros.

Ela ajoelhou-se na terra recém mexida, depositou um beijo em seus dedos e os encostou na pedra com o nome da mãe. Fechou os olhos firmemente, reunindo coragem para afastar-se. Quando estava perto de alcançar o tio ela olhou para trás, imaginando sua mãe lhe sorrindo. Sim, apesar de tudo ela estaria com seu pai agora e pelo pouco que ouvira eles se amavam intensamente. No mesmo instante Elora sentiu o coração um pouco mais leve, Berenna não estaria sozinha. Ela tinha o amor de sua vida ao seu lado.

Com esse pensamento a menina caminhou ao encontro de Elrond. Ele a esperava ao lado de Randír. O elfo não disse nada, apenas lhe estendeu as mãos. Elora as segurou, lhe dando um leve aceno com a cabeça indicando que estava bem. Ele retribuiu o movimento e ajudou-a a montar em seu cavalo. Elora sentia-se cada vez mais agradecida por Elrond. Ele respeitou seu desejo em ficar calada, mas permanecia por perto oferecendo o conforto de um rosto conhecido em meio à tantos estranhos.

Todos viajavam em silêncio, indo em direção ao sul. Já era novamente noite quando pararam em uma pequena clareira, o grupo montava as tendas para o acampamento com rapidez. Elora se perguntou se haveria alguma coisa que os elfos não fizessem com graciosidade e agilidade. A menina deixou Randír próximo aos outros cavalos e foi ajudá-los.

— Minha senhora, o que está fazendo? – um dos elfos a alcançou rapidamente.

— Pensei em ajudá-los. – disse temerosa enquanto esticava o tecido em cima de uma das tendas. Estava fazendo algo errado?

— Aprecio seu desejo em ser útil, mas não é necessário que se atarefe. Aqueça-se junto ao fogo e descanse. – o elfo lhe retornou o sorriso gentil.

Elora queria distrair sua mente, mas estava claro que eles não permitiriam que ela realizasse algum trabalho. Estavam tratando-na como uma lady, o pensamento fez a menina rir. Nunca seria uma lady, não possuía os modos, instrução ou a beleza de uma. Caminhando calmamente para a fogueira, surpreendeu-se quando viu Elrond próximo. Ele estava estático, olhando as chamas dançarem, parecia perdido em pensamentos.

— Meu senhor, se importa se me juntar à você? – ela perguntou ansiosa.

Aguardara o dia todo por um momento a sós com o tio. Tinha muitas perguntas, mas não queria fazê-las perto dos outros.

— Claro que não, minha sobrinha. – Ele apontou para um pequeno tronco de árvore e os dois se sentaram.

— Desculpe mas ainda não me acostumei com nosso parentesco.

— Não há do que se desculpar, sua mente foi sobrecarregada hoje. Não é esperado que aprenda a lidar com todas essas informações de uma hora para outra. Talvez seja melhor ir deitar-se, partiremos à primeira luz da manhã. Sua tenda já está à sua disposição.

— Estou com medo de adormecer. – ela disse após um longo silêncio. – Não quero sonhar com minha mãe feliz e ao meu lado, apenas para acordar pela manhã e sofrer novamente com sua morte.

— Então devemos ficar acordados, apreciando as estrelas durante toda a noite.

Elora sorriu com o tio, ele sem dúvidas era uma alma especial. Sentia-se leve ao seu lado, imaginou se o pai teria sido como Elrond, tão sábio e carinhoso em suas palavras.

— Como ele era, o meu pai? – ela perguntou temerosa.

— O que sabe sobre ele?

— Nada. Bom, agora sei que ele era um elfo e seu irmão. Mamãe negava-se a falar qualquer coisa sobre seu passado, inclusive o relacionamento com meu pai.

Elrond suspirou triste, falar sobre o irmão fazia toda a culpa em seu coração movimentar-se. Apesar de não ter participação direta em sua morte, ele nunca deixou de culpar-se por não ter insistido mais em protegê-lo, mesmo contra a vontade de Elros. Poderia ter feito de longe, sem que o irmão percebesse sua interferência de fato, mas ficou magoado com sua recusa e fechou os olhos para seu paradeiro.

— Elros era bravo, corajoso, destemido... E muito teimoso, devo dizer. Éramos gêmeos, sabe. – Elora sorriu, agora sabia como tinha sido o rosto do pai. – Crescemos muito unidos, nossa proximidade era nossa força. Mas... quando chegou o momento em que tínhamos uma escolha a fazer, seguimos caminhos separados.

— Vocês brigaram?

— Talvez, de certo modo. Sou meio-elfo e quando chegou a hora optei por viver minha vida ao lado da raça imortal. Elros, por sua vez, desejou viver como um dos homens normais, mesmo tendo sido agraciado com uma vida muito mais longa ele ainda seria mortal. – Elrond desviou o olhar culpado para as chamas novamente – Não concordava com sua decisão, mas a acatei sem tentar interferir. Apesar da despedida amigável ficamos anos afastados, sentia sua falta mas não queria olhar para ele e ver apenas a sombra de meu irmão. Tive medo de encará-lo e não reconhecê-lo. Um comportamento infantil, claro. Com o passar das décadas acabei procurando-o. Ele tornara-se o primeiro Rei da ilha de Númenor, já estava casado e com uma família formada.

— Família?

— Ele foi casado antes de conhecer sua mãe. Em seu encontro, sua primeira esposa já havia falecido e seus netos já eram homens adultos. Elros apaixonou-se por sua mãe e decidiu que já era hora de conceder o trono para seus herdeiros. Ele então partiu para passar seus últimos anos com Berenna, foi quando o procurei novamente. Esperava que ele fosse voltar para nossa família já que havia se afastado de seu reino, mas ele insistiu que não viveria entre elfos novamente. Desta vez não nos separamos em bons termos. - Elrond entristecia-se a cada palavra, mas continuou sua narrativa - Ele esperava viver por muitos anos ainda ao lado de sua mãe mas... infelizmente ficaram apenas alguns meses juntos.

— Ele adoeceu? Nesta época já devia ter certa idade.

Elrond negou com a cabeça.

— Como o primeiro dos Dúnedain, ele ainda estava desfrutando de sua maturidade. Em sua morte ele tinha apenas quinhentos anos de idade.

— Quinhentos? - Elora assustou-se - Quando disse que ele teria uma vida mais longa não imaginei que tinha sido tanto.

Elrond deu um leve sorriso, achando graça de seu espanto repentino. Tendo uma vida imortal, quinhentos anos lhe parecem como um pequeno punhado de dias. Havia se esquecido como a vida humana é breve e como eles lidam com sua realidade.

— Acredito que ele poderia ter vivido mais tempo ainda por ter sido o Dúnedain original. Seus descendentes perderam um pouco esta habilidade mas ainda vivem bastante, cerca de trezentos anos.

— Isso quer dizer que eu também sou uma Dúnedain?

— Sim, e como sua descendente direta terá uma vida mais longa do que os outros.

Elora parou por um momento, imaginando como seria viver por quinhentos anos. Sim, ela teria tempo de sobra para desbravar cada canto da Terra Média, conhecendo novas culturas e aprendendo sobre tudo o que lhe interessar, mas... todos os que conhecesse morreriam antes dela, com exceção dos elfos que viveriam ainda muitas eras após sua morte.

Pegou-se imaginando o que faria caso se apaixonasse por um homem mortal. Quando chegasse a hora, ela abriria mão de seus anos futuros para não viver sem ele? Será que viria a amar tanto alguém a ponto de oferecer sua própria vida?

Apesar de já estar na idade para se casar, Elora nunca havia pensado nessa possibilidade. Sempre prezou sua liberdade e nenhum homem de Alórien havia prendido sua atenção, mas desde que a mãe a fizera prometer que não deixaria sua jornada obscurecer sua busca pela verdadeira felicidade surpreendia-se pensando no amor, e se ele estaria realmente em seu destino.

Ela sacudiu de leve a cabeça para afastar os pensamentos, havia assuntos mais urgentes em sua mente. Um dos elfos se aproximou oferecendo o jantar, mas os dois recusaram.

— Então como ele morreu? - A menina voltou novamente sua atenção a Elrond.

— Após nosso último encontro, seus pais partiram para Rohan. Estabeleceram-se em uma cidade próxima e poucos sabiam seu paradeiro, mas ainda sim os rastreadores os encontraram. Quando soube do ocorrido fui procurar Berenna, queria oferecer à mulher que meu irmão amava a proteção que ele negara tão veemente... mas ela não estava mais lá. Agora sei o motivo de sua partida repentina.

— Então... as mesmas criaturas me privaram da presença de ambos. - Elora sentiu a raiva crescer.

— Sua mãe sempre esteve nos planos das sombras e mesmo depois dela afastar-se de Gandalf eles ainda a procuravam.

— Este senhor, Gandalf... ele também é um feiticeiro?

— Gandalf é um mago pertencente a raça dos Maiar. - ele riu ao ver a expressão confusa da sobrinha - Mas vou deixar que ele lhe conte melhor sua origem. Enviarei pela manhã um emissário para achá-lo. Pedirei que ele nos encontre em Lothlórien em um mês.

— Demorará tanto assim para chegarmos a este lugar?

— Precisamos investigar alguns acontecimentos ao sul, perto das terras de East Emnet. Estávamos a caminho de lá quando recebi a mensagem de sua mãe. Infelizmente não posso levá-la com nosso grupo. - Elora sentiu o corpo tenso, não queria ficar sozinha. - A deixarei em Mirkwood, lhe buscarei em algumas semanas. Não tem nada a temer, confio plenamente nos elfos silvestres para protegê-la.

Elora assentiu, decidindo confiar na palavra de Elrond. Afinal, ele não havia lhe dado motivos para fazer o contrário. Notou que o pequeno acampamento ficara mais silencioso. Com exceção dos sentinelas, armados e atentos à qualquer movimento nas redondezas, todos pareciam dormir profundamente.

— Você ainda possui algum contato com os herdeiros de meu pai?

— Apesar da relação cordial que construímos ao longo dos anos, não éramos muito próximos.

— Gostaria de conhecê-los um dia. - Elrond desviou o olhar - Acha que eles não concordariam?

— Infelizmente após a morte do último rei, só há um herdeiro de Gondor e Arnor atualmente... e seu paradeiro é desconhecido. - ele falava baixo como em segredo.

A menina não prolongou o assunto, sabia que o tio não revelaria mais detalhes. Lhe perguntaria novamente em outra ocasião.

Ela suspirou, como teria sido crescer rodeada de parentes? Ter uma família grande, que se reuniria todas as noites para contar histórias após o jantar e primos com os quais brincar e provocar confusões.

— O que a entristece? - o tio a questionou.

— Pensava em como seria crescer em uma grande família. Sempre fomos apenas mamãe e eu para tudo... sentia-me meio sozinha as vezes. Não faço amigos com facilidade.

— Você possui uma grande família agora, e a conhecerá quando chegarmos em Lothlórien e Rivendell.

— Mas são elfos... eles me aceitarão, mesmo eu sendo humana?

— Parte humana, sendo filha de um rei e uma grande feiticeira. Nunca deve se sentir inferior cara sobrinha, é muito poderosa. E sim, tenho certeza que lhe receberão de braços abertos. Principalmente Arwen, minha filha sempre reclamou por ser a única mulher em nossa casa.

— O senhor não é casado? - Elora percebeu o desconforto de Elrond - Perdão, não quis ser intrometida.

— Minha querida Celebrían já partiu para Aman.

— Sinto muito. - Elora murmurou.

— Me reunirei à ela novamente, todos os elfos retornarão à Valinor quando chegar a hora.

— Há quanto tempo ela partiu?

— Quatrocentos e trinta e dois anos. - Elora pode ver toda a saudade e tristeza no rosto do tio.

— Não deve demorar muito mais então. - ela disse solidária.

— Acredito, querida sobrinha, que demorará um pouco mais. Tudo tem seu tempo... ainda temos muito o que fazer antes de partir.

— Arwen é sua única filha? - mudou de assunto.

— Tenho mais dois: Elladan e Elrohir. Arwen é a mais jovem. E tenho você agora, afinal é sangue do meu sangue; e como prometi à sua mãe será tratada como minha filha.

— Farei tudo para ser merecedora de um lugar à sua família. Não tenho palavras para agradecer o carinho e a compreensão que tem me oferecido desde nosso encontro. Não sei como teria passado as últimas horas se não tivessem chegado.

— Sua vida já é um agradecimento Elora. Vejo muito de meu irmão em você e alegra meu coração saber que uma parte tão próxima dele ainda vive, e estará finalmente de volta à nossa casa em Rivendell.

Elora sorriu, sentia-se protegida e verdadeiramente acolhida por Elrond. Encontrou-se ansiosa em conhecer os primos. Ela levantou os olhos ao céu e espantou-se quando percebeu o mesmo clareando calmamente com os primeiros raios de luz pálida da manhã. O tio realmente havia ficado a noite inteira lhe fazendo companhia. Elrond também notou o amanhecer e saiu para organizar os preparativos para a partida. Após o desjejum os elfos passaram a desmontar as tendas com agilidade ainda mais surpreendente, em poucos minutos todos já estavam prontos para seguirem viagem.

O emissário que fora procurar Gandalf saíra mais cedo. Elrond pediu que o grupo fosse na frente e avisou que os alcançaria no dia seguinte. Ele ficou para trás com Elora e mais quatro elfos. Cavalgavam em direção a Mirkwood, a menina não estava mais gostando do silêncio perturbador que reinava no grupo mas não pensava em nenhum tópico interessante para conversar com o arqueiro que ia ao seu lado. Como puxar assunto? Sobre o que elfos gostavam de conversar? Natureza, estrelas e destinos, ou apenas uma alegre conversa sobre os lugares que já visitou?

Ia decidindo-se por perguntar sobre Rivendell quando notou a densa floresta surgindo no horizonte, ela era diferente. Claro, Elora não vira grandes variedades de florestas em sua vida, afinal nunca havia saído de Alórien antes, mas sentia uma energia estranha emanando do bosque.

Elora seguiu perto do grupo, sentindo a brisa fria arrepiar sua pele. Elrond conversava com um elfo de cabelos castanhos que seguia ao seu lado, Elora tentou prestar atenção na conversa. Era errado, mas ela queria distrair-se das árvores nodosas com suas folhas negras. Desistiu após alguns minutos sem entender nada. Se ia morar em Rivendell precisaria aprender a se comunicar com eles naquela língua estranha.

A pequena trilha que seguiam afinou-se e foram obrigados a andar um atrás do outro, aquele não parecia ser um caminho muito usado. Seria um dos caminhos secretos dos elfos? Sua mãe comentara com ela a muitos anos que eles possuíam rotas seguras por toda Terra Média, para fugas e transportes de tesouros. Não devia ter desconfiado da veracidade das palavras da mãe, afinal eles estão aqui há muito tempo e seria mais que natural que conhecessem mais segredos sobre a terra do que os homens.

Sentia um nó crescer no estômago e seus olhos marejarem. Não sabia o porquê de estar naquele estado, mas ver as árvores sem vida a fazia sofrer. Finalmente o caminho abriu-se novamente, nesta parte havia mais luz e o ambiente não parecia tão sombrio, deviam estar chegando. Logo vira uma estrada de pedras que levava a uma grande passagem ao pé da montanha, após atravessarem uma pequena ponte sobre o rio finalmente chegaram à entrada do reino élfico.

Foram logo recebidos por elfos em armaduras e uma elfa de longos cabelos vermelhos e vestes verde-escuras. Elrond pediu que a menina aguardasse com os guardas de Rivendell enquanto ele conversaria com o Rei Thranduil. Elora olhou ao redor admirando o portal de entrada em arcos, que era detalhadamente esculpido com padrões geométricos e folhagens. Os elfos de Rivendell continuavam em guarda ao seu lado.

— Se o interior da caverna acompanhar a beleza deste arco deve ser lindo, não? - ela virou-se comentando com o elfo ao seu lado. Ele olhou para o alto, admirando também os detalhes na madeira.

— Acredito que sim, minha senhora.

— Nunca esteve antes neste reino?

— Não, Lady Elora. Vivi por muitos anos entre Lothlórien e Rivendell.

— E como é Rivendell? - estava curiosa, imaginando se eles também morariam no interior de alguma montanha.

— Me atrevo a dizer que é o lugar mais bonito desta terra.

Elora sorriu, satisfeita com a resposta.

— Desculpe, mas não sei seu nome. - ela virou-se para o resto do grupo – De nenhum de vocês, na verdade.

— Me chamo Aranir. - ele fez uma leve reverência, colocando a mão fechada sobre o peito - E estes são Argalard, Barannir e Nyben.

Conforme os nomes eram falados, os guardas repetiam o gesto de Aranir. Em saudação, fez o mesmo. Elora viu o tio aproximar-se, ele era acompanhado da mesma elfa. Já na entrada da montanha, chamou Elora afastando-a do grupo.

— Já está tudo acertado, você ficará sob os cuidados de Thranduil pelas próximas semanas. - ele abaixou o tom de voz - Devo avisá-la que ele pode ser um tanto... duro com suas palavras. Ele sempre foi assim, mas devo admitir que está pior nos últimos tempos.

— Devo evitá-lo? - ela sussurrou também.

— Não é preciso. O rei tem uma boa alma, apesar de tudo, e confio nele plenamente. Virei buscá-la em três semanas. - Ele a guiou à elfa. - Esta é Tauriel, chefe da guarda de Mirkwood, ela a guiará pelos salões.

— Minha senhora, é um prazer recebê-la. - Tauriel lhe sorriu, apesar de ser sincero não era um sorriso alegre. Elora notou que uma grande tristeza se abatia sobre ela.

Elora ia respondê-la, mas Elrond adiantou-se.

— Precisamos partir agora se quisermos alcançar o grupo na hora combinada. Tenn' enomentielva [até logo]. - Elrond lhe pegou as mãos, despedindo-se.

Elora não compreendeu as palavras, mas percebeu que se tratava de uma despedida. Ela apertou as mãos do tio e voltou-se para o lado de Tauriel enquanto o mesmo montava em seu cavalo.

— Tenham uma boa viagem e retornem em segurança. - Elora gritou para o grupo que já se afastava pela estrada de pedra.

— Por aqui, minha senhora. - Tauriel lhe indicava o caminho com a mão.

— Pode me chamar apenas de Elora, toda essa formalidade de senhora e lady me deixam embaraçada. - Elora confidenciou-lhe.

— Não deveria sentir-se assim, é uma princesa. - Tauriel pareceu surpresa e riu da reação de Elora ao ouvir a palavra. - Mas se prefere, a chamarei apenas pelo nome. E já que não haverá formalidades, me chame de Tauriel.

— Agradeço sinceramente, Tauriel. - ela aliviou-se.

Caminharam alguns metros até chegarem a área principal do reino. Elora maravilhou-se, grandes salões estendiam-se à sua frente. Altos arcos enfeitados sustentavam a estrutura no meio da caverna, pontes e mais caminhos serpenteavam entre espaços harmoniosamente em conjunto ao interior da montanha. Tudo parecia reluzir magicamente, pequenas aberturas traziam a luz quente do sol, cujo brilho era refletido nas quedas d'água espalhadas pelos salões. E no centro, um enorme trono adornado erguia-se imponente.

— Bem vinda aos salões de sua majestade, o Rei Thranduil. – Tauriel falou orgulhosa.

— Não esperava que fosse tão... – Elora estava sem palavras. - Nunca imaginaria que tudo isso estaria dentro da montanha.

— Não estamos apenas no interior da montanha, nosso reino entende-se também pela floresta.

Elora ainda olhava para os lados tentando assimilar todos os detalhes quando Tauriel lhe chamou e recomeçaram a caminhar. Subiram uma enorme escadaria, quando chegaram na ala superior pode ver que o reino da floresta era muito maior do que pensara.

Atravessaram um portal de mármore entrando em um comprido corredor. Um tapete verde musgo estendia-se até o final, onde outra escadaria surgia.

— Estes são os quartos destinados aos convidados do rei. Este será o seu. – Tauriel parou em frente ao último quarto do corredor – Enquanto estiver conosco, uma elfa será designada uma para cuidar de suas necessidades.

Elora assentiu enquanto entrava no espaço. A menina espantou-se com o tamanho do quarto, era muito maior do que seu antigo. Mas apesar do tamanho, o ambiente era muito acolhedor. A cama parecia ser incrivelmente confortável, Elora sentiu todo o cansaço acumulado desabar em seus ombros enquanto sentava-se nela. Ao lado da cama havia uma mesinha com um jarro de flores, um armário estava posicionado próximo à janela, que ocupava toda a parede lhe dando uma vista privilegiada da floresta. Havia outra porta ao fundo, onde Elora julgava ser o banheiro. O ambiente era todo lindamente decorado em tons de prata.

Tauriel despediu-se quando a outra elfa, chamada Emel, chegou ao quarto. Como Tauriel, ela também possuía cabelos vermelhos. Mas Emel parecia ser mais jovem, sorria com mais facilidade e parecia ter energia em abundância. Após as apresentações, as duas conversaram sobre Mirkwood enquanto a elfa colocava os vestidos que trouxera no armário. Para a surpresa de Elora foram muitos, alguns simples e outros com bordados e pedrarias.

— Tem certeza que não quer comer nada, minha senhora? – Emel perguntava pela terceira vez. Ao contrário de Tauriel, ela insistia em lhe chamar de senhora.

— Não estou com fome. Se pudesse apenas dormiria o resto da vida. – jogou-se no colchão macio. – Mas não tenho certeza se conseguirei fechar os olhos nem por dois minutos.

— Se quiser posso lhe fazer um chá, quando o tomo consigo dormir um dia inteiro.

— Acho que precisarei dele sim. – Elora sorriu sem graça.

Emel saiu, prometendo trazer o chá em alguns minutos. Elora aproveitou e foi banhar-se. Imersa na água morna, perguntou-se se o emissário de Elrond já havia achado o mago. Queria conhecê-lo logo, lhe perguntar sobre o tempo que passou com seus pais. Elora olhou para suas mãos levemente enrugadas pela água, sua mãe falara que ela também havia sido abençoada. O que isso queria dizer? Ela também seria uma feiticeira?

Uma leve batida na porta a despertara. Emel entrou no quarto deixando a bandeja com o chá fumegante na mesinha próxima à janela. Em seguida despediu-se, pedindo que a menina a chamasse caso precisasse de algo.

Elora saiu da banheira e colocou a camisola branca que estava estendida sobre sua cama. Bebeu o chá sem se importar com sua temperatura, queria apenas dormir para todas as perguntas sumirem da sua cabeça. Esgueirou-se para debaixo das cobertas, abraçando o travesseiro.

Todos os sentimentos que ela reprimira a atingiram de uma vez; raiva, medo e tristeza machucavam tanto seu coração quanto sua mente. Ela deixou as lágrimas rolarem livres pelo seu rosto enquanto adormecia, aos poucos sendo tomada pela confortável escuridão de uma noite sem sonhos.