Melancolia

Capítulo único


" Depois de um tempo você percebe a diferença

A sutil diferença entre dar as mãos e acorrentar uma alma.

No começo eu o via apenas como um pirralho irritante, no começo eu não poderia imaginar que algum dia eu realmente o amaria dessa forma.

Mas aconteceu.

Eu o amo e o amo muito. Se algum dia ele fosse embora, eu não sei como superaria. Eu não aguentaria ficar sozinho novamente, não depois de conhecê-lo, não depois de conhecer, de descobrir, o que é ter alguém de verdade.

Você aprende que amar não significa apoiar-se,

E que companhia nem sempre significa segurança.

E começa a aprender que beijos não são contratos

E presentes não são promessas.

No começo eu me apoiei nele, e se for parar para pensar, continuo me apoiando até hoje.

Muitos podem dizer que é um exagero, talvez influência dos romances que escrevo, mas eu não me importo de dizer que ele é minha única razão. Minha razão para acordar, minha razão para sorrir, minha razão para ser feliz. Antes que eu percebesse, sua existência se tornou o sinônimo de felicidade, da minha felicidade.

Sempre que possível eu o abraço, o beijo, o agarro. Muito provavelmente pareço apenas um pervertido me aproveitando de qualquer brecha que surja. Mas a verdade é que o que me impulsiona nessas horas é a insegurança que sinto, e não a confiança que finjo ter.

Eu mesmo acho ridículo me deixar ser dominado dessa forma, mas o medo de algum dia ficar sem ele é maior do que tudo, até mesmo da razão.

Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante,

Com a graça de um adulto e não com a tristeza de um criança.

Ele é a única pessoa que já me viu chorar. Ele é a única pessoa que já chorou por mim.

E esse foi o começo de tudo.

Não, talvez até antes disso. Eu apenas não havia me dado conta.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,

Porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,

E o futuro tem o custume de cair em meio ao vão.

Mesmo que o futuro seja algo incerto e impossível de prever, quando olho para frente, tudo o que vejo é ele.

Ele não esteve em meu passado, e com isso vivi a solidão; ele está no meu presente, e isso é o que o torna maravilhoso e digno de ser vivido; e ele estará em meu futuro, porque sem ele, esse " futuro " será nada mais do que um amontoado de dias tortuosos que terei de suportar sofrivelmente.

É impossível planejar o futuro; desvios existem. Mas eu serei capaz de superá-los, contanto que ele esteja ao meu lado.

Sempre amei escrever, mas tenho consciência de que, de certa forma, desde criança, eu me apoiava na escrita. Minhas histórias eram minha rota de fuga, eu as usava para fugir de minha solidão, do vazio que eu sentia.

Mas agora eu tenho ele.

E eu continuo escrevendo. Não mais como uma fuga, mas sim como o resultado da minha felicidade. Apenas a presença dele me incentiva, me inspira, torna o ato de escreve algo ainda mais maravilhoso do que já é.

Isso porque eu... "

- Usagi-san? - Misaki me chamou entrando no escritório. Quando me viu, parou, meio embaraçado - Ah, desculpe. Você está trabalhando.

- Não, tudo bem - falei guardando a folha em que escrevia e sorri para ele - Ficou com saudades de mim?

Ele corou - Não!... Quer dizer... Ahn...

Levantei e o abracei forte.

- O que foi? - perguntei baixo em seu ouvido.

- Hã... - eu podia sentir ele se esforçando para tentar dizer algo, estando próximos como nós estávamos. Eu adorava saber que era capaz de desconcentrá-lo dessa forma - Jantar... Eu fiz o jantar...

- É mesmo? - desfiz o abraço apenas para beijá-lo - Então vamos comer.

E fomos para a sala.

Mas aquele não parecia ser um jantar normal.

Parecia com os jantares que Misaki só fazia em certas ocasiões especiais... Hoje era uma ocasião especial?

Não conseguia me lembrar se era, então tive de perguntar.

- Algum motivo especial para ter esse jantar hoje?

- N-Não - desta vez eu não entendi porque ele corou - É que...

- É que...? - repeti, esperando a continuação.

- É que você não parece muito bem ultimamente, Usagi-san - ele finalmente falou, tentando esconder o rosto de mim.

E tudo o que eu fiz foi abaraçá-lo novamente, e pude ouvir ele perguntar baixo, com o rosto escondido no meu pescoço, me causando um leve arrepio - Você está bem?

- Obrigado - falei simplesmente.

Não, eu não estava bem ultimamente. Uma onda de melancolia havia me envolvido nos últimos dias, e eu não fazia idéia do porque. O que eu estava escrevendo quando Misaki entrou no quarto era uma tentativa de colocar essa sensação no papel, tentar me aliviar dela.

Mas agora eu percebo que aquelas palavras escritas não eram de todo, necessárias.

Misaki estava preocupado comigo.

Misaki fez aquele jantar para tentar me animar.

E se isso não bastasse para me deixar bem, o que mais deixaria?

" Isso porque eu o amo ".


Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.