Shinomiya Natsuki e eu frequentávamos a mesma escola, entretanto, salas diferentes, nunca conversamos para dizer a verdade, com certeza ele nem mesmo deve se lembrar de mim. Alguém quase invisível, que se limita a observá-lo, não que precise de muito para nota-lo, já que o mesmo é muito popular.

Sempre gentil, gosta de coisas fofas e pequenas, e incrivelmente talentoso quando se trata de música.

Me sinto uma Stalker.

Quando havia começado a prestar atenção nele? Não sabia, de repente, me vi cercada por ele em meus pensamentos, o que fazer?

Poderia até ouvir os conselhos das minhas amigas, mas... Eu poderia mudar? Ou amanhã eu ainda serei eu mesma?
Distante, insensível e nem um pouquinho fofa.

Não queria dar o braço a torcer, sabia exatamente que eu seria o último tipo de garota que ele gostaria, e mesmo se fosse...

Não conseguirei dizer um “Oi” sem congelar totalmente... Por mais que tente achar uma coragem, em um segundo que penso, sei que ficaria sem assuntos.


E enquanto isso o tempo é levado.

Em breve haverá o tempo de provas, e em vez de pensar em meu futuro, estava apaixonada, pensando em coisas sem cabimento, não me surpreenderia se ficasse sem nada.

~0~0~ Tick Tock. O relógio não para. ~0~0~

Em tempos pensei que ficaria louca, com certeza a escola nunca pareceu tão difícil de ser frequentada mas, como toda paixão, havia conseguido superar, ou conseguia conviver com aqueles loucos sentimentos e controla-los.


Era quase véspera de natal, e finalmente estava conseguindo me erguer novamente. E não era o fato de que estava sozinha que me impediria de comemorar a festa.
Meus pais haviam partido para uma melhor quando era criança, e eles sempre diziam que os espíritos dos mortos ficariam tristes ao verem as pessoas que amam infelizes...

É, eu era uma vítima fácil para a melancolia, mas, esse ano seria diferente! Não ficaria triste, e seria mais um dia comum na minha vida monótona.

Caminhei até a geladeira e vi que estava vazia, havia esquecido de comprar suprimentos de novo?
Claro, havia passado tempo demais pensando em Natsuki que acabei esquecendo do próprio natal.

─ Eu sou um ser humano idiota! – Logo corri, pegando minha carteira, e para fora! Ainda me sentindo uma imbecil por ter esquecido de algo tão importante. Agora teria que enfrentar horas de fila nas lojas, com certeza não havia sido a única que deixou as compras para última hora.

E como esperado, havia sido um verdadeiro sufoco conseguir tudo o que precisava, sufoco seria mesmo levar todas as sacolas para casa. Muito peso, piso muito escorregadio por causa da neve.

Suspirei, apenas de pensar no trabalho. Não, aquela não era hora para melancolia, eu havia decidido voltar a ser eu mesma! Então, sem delongas, peguei grande parte das sacolas, ainda haviam duas para pegar, porém, quando estiquei desajeitadamente a mão para pegá-las, outra mão as seguraram olhei para cima, tomando um dos maiores sustos da minha vida. O alto homem loiro sorria gentilmente, enquanto pegava as duas bolças.

─ Desculpe assustá-la. – A voz suave ecoava como música em seus ouvidos e de música ele entendia. – Uma princesa não deveria carregar tanto peso sozinha. – O que ele havia acabado de dizer? Havia me chamado de “princesa”? Um ogro como eu? Nem conseguia pensar, quanto mais responder, apenas senti meu rosto corar.

Droga!

Pensei ter conseguido controlar meus sentimentos. Claro, havia conseguido controlar meus sentimentos ao olhá-lo de longe, não para olhá-lo à alguns centímetros de distância, ou quando o mesmo falasse comigo, já que nunca acontecia.

Droga! Droga! O que iria fazer?

─ Deixe-me ajuda-la. – Completou, gentilmente.

─ N-não precisa se incomodar... – Tentei dizer com palavras que saiam falhas de minha boca. – Não quero te atrapalhar.

─ Não é um incômodo. – O mesmo acabou pegando mais algumas bolças de minha mão, não consegui fazer nada.

O sol já estava prestes a se pôr, as ruas continuavam cheias de luzes e pessoas. Se pudesse descrever, era como nos meus sonhos, porém, naquele momento era real, era o ‘Shinomiya-Senpai’ (como costumavam chama-lo, como forma de irritação para minha pessoa, que já não aguentava mais tantas garotas com essa mania de chamar a todos os garotos que lhes agradava de “senpai”) ao meu lado, comentando sobre algumas coisas fofas, sim, ele estava puxando assunto comigo, como com qualquer amigo, e apesar de algumas travadas que me aconteciam, eu... Conversei com ele, conversei com o homem pelo qual era apaixonada pela primeira vez em um ano.

Me sentia uma idiota por me sentir assim.

Minha casa não era tão longe de onde estávamos, por segundos gostaria que fosse, o de olhos verdes era um anjo que havia caído do céu, não haveria outra explicação para uma pessoa tão doce e ... Fofa.

Sim, Natsuki era uma perfeita representação de fofura.

Pensando por outro lado, eu, era um bichinho do mato, uma caipira deslocada, ainda não sabia como ele conseguia conversar comigo, ou melhor, como eu estava conseguindo conversar com ele. Nunca gostei de contos de fadas, mas, se pudesse descrevê-lo, seria um príncipe encantado.

Não estou dizendo que ele é perfeito, com certeza tem seus defeitos e erros, mas... Foi assim como estava me sentindo, como “um dia com o príncipe”, apesar de serem alguns minutos.

~0~0~0~0~0~0~0~

Já estávamos em frente à minha casa, entramos, lhe ofereci chá e bolo, uma das poucas coisas que tinham na minha residência. Colocamos as compras em cima da mesa, lhe fiz um chá quente e lhe dei o bolo, aparentemente ele gostou, já que ficou um bom tempo murmurando “tão fofinho”... Tá, doces são o que mais me agradam no mundo, e apesar das minhas roupas pretas, as quais lembravam "o lado negro da força", eu também gostava de coisas coloridas, ao menos quando se tratava de comida.

─ Está ficando tarde... – Comentou o loiro, terminado seu chá, colocando a xícara sobre a pequena mesinha a sua frente. – Eu tenho que voltar para casa agora.

─ Mas, já? – Murmurei em um tom inaudível. – Entendo. Obrigada por tudo, e desculpe por lhe atrapalhar.

─ Não foi um atrapalho, na verdade eu me diverti, e gostei de conversar com você, princesa. – Sorriu gentilmente. Novamente “princesa”, me sinto estranha quando ele me chama assim, eu costumava não gostar de princesas, mas, por algum motivo, quando ele me chamou assim, me senti estranha, eu posso dizer que gostei. Talvez fosse efeito da maldita paixão que tenho por essa criatura...

─ Hey. – Me chamou, fazendo despertar de meus devaneios. ─ Poderia fechar os olhos? – Perguntou, gentilmente, e eu o fiz. Não me perguntem a razão, foi instintiva. Durante alguns segundos, não senti nada, mas, longo senti suas mãos, consideravelmente grandes, mexendo em meus cabelos, o jogando para o lado e o prendendo com algum tipo de fivela. – Pode abrir agora. – Pelo tom suave de sua voz, parecia estar sorrindo.

Fiz o mandado, olhando para um espelho que estava ao meu lado, vendo meu cabelo preso por uma fivela no formato de caveira, com um lanço na cabeça e onde deveria ser seu pescoço. Era tão... Fofo. Corei instantaneamente, de onde Natsuki havia tirado aquilo?

─ Gostou? – Perguntou, um tanto receoso, talvez por minha falta de reação, mas, eu não consegui ter, estava muito surpresa.

─ A-amei... – Disse meio sem voz, provavelmente com a face mais ruborizada. Vendo-o abrir um sorriso, lindo, no seu rosto.

─ Fico feliz. Eu queria te dar um presente, mas não sabia exatamente do que você gostava, já que a gente nunca se falou tanto, mas... Fico realmente muito feliz que tenha gostado.

Estava perplexa com suas palavras, ele... Realmente sabia quem eu era? Sinto minha mente rodar, não sabia o que pensar.

─ O-obrigada... – Sorri um pouco, fazia anos que não era tratada assim, por um segundo achei que meu coração fosse explodir de tão rápido que batia, chegava até a doer.

─ Não precisa agradecer, princesa... Minha família irá viajar para a Itália nesse natal, então, acho que só nos veremos ano que vem, se você for estudar na mesma escola de novo...

─ Vou sim... – Murmurei o mais audível que pude.

─ Ótimo... Até ano que vem, então... – Ele se aproximou repentinamente, me abraçando, eu era consideravelmente menor que ele, o que o fez se curvar um pouco e me fez ficar nas pontas dos pés também... – Feliz Natal. – Sussurrou em meu ouvido, sua voz me pareceu levemente rouca, me fazendo quase atingir um novo tom de vermelho, seguido do beijo que depositou em ambas minhas bochechas, senti que teria um ataque cardíaco, como se estivesse em meio a um terremoto, não havia chão firme abaixo dos meus pés.

Tão rápido quanto me abraçou, me soltou, se dirigindo a saída. Apesar de totalmente tonta e zambeta que havia ficado, consegui acompanha-lo até a saída.

─ Feliz Natal... – Finalmente consegui responder, ainda com voz trêmula, o mesmo sorriu, caminhando pela rua afora. O acompanhei com o olhar até onde pude, depois de fechar a porta, me encostando na mesma, escorregando até o chão, como se meu corpo fosse feito de chumbo. – Eu te amo... – Murmurei as palavras proibidas.

Ficar toda as férias sem ver Natsuki voltou a parecer uma tortura, justo quando havia conseguido me controlar, o mesmo me faz amá-lo mais e mais... Nem deveria me dar esperanças, provavelmente minha vida continuaria a mesma, só que... Com mais confusões em meus sentimentos.

Meus pais que me perdoem, mas... São nessas horas que me deixo mergulhar na melancolia. Ou quem sabe liberá-las de uma vez?

Se realmente pudesse, seria a pessoa mais feliz do mundo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.